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domingo, 12 de maio de 2013

ANTENOR E MURILO DESCUIDADOS


JORNAL A TARDE SÁBADO, 3 DE SETEMBRO DE 1977



Tela de Antenor ,buscando modernidade
Está aberta ao público na Galeria Teresa, na Ladeira da Barra, a exposição de Antenor Lago e Murilo.Sinceramente não me agrada o trabalho de Antenor, que se propõe a realizar uma obra de vanguarda, mas que não passa de um jovem que deseja captar coisas que estão ao seu redor e termina com gestos fragmentados sem uma mensagem maior. O gestual simplesmente não leva a nada. Qualquer pessoa seria artista se ao pegar num pincel ou lápis fosse riscando sem qualquer noção, para ver o que iria dar. O trabalho artístico deve ser acima de tudo consciente.
Acredito na proposta de Antenor Lago. que deseja denunciar as destruições e as poluições que enchem as páginas de jornais e revistas.  Porém, é preciso um certo cuidado na produção de coisas palpáveis, coisas que  traduzam uma mensagem capaz de ser entendida. Gestos e atitudes intimistas dificilmente serão entendíveis, além de colocar em risco uma possível proposta séria. Sei que ele se propõe a uma linguagem contemporânea. As interferências do homem urbano na paisagem, Antenor Lago, tenta demonstrar com seus traços fragmentados. Outra coisa que desejo falar, é que a apropriação de raízes, ossos e outros elementos da natureza e a introdução numa galeria, necessita de uma interferência marcante do artista. A simples colocação de uma raiz no centro de uma sala ou um pedaço de um caqueiro em cima de um osso de baleia pode ser bonito. Mas não traduz muita coisa. O artista tem que trabalhar em cima desses materiais deixando a sua marca, a sua a criação com uma interferência maior. Senão ficará apenas a sensibilidade em selecionar os objetos e nada mais.
Já o Murilo mostra trabalhos com forte dosagem de crítica social representado pela figura de um homem vestido de casaca e os palhacinhos que este manipula dentro de sacos, por trás de uma grade ou mesmo através de cordéis. O artista afirma que antes estava preocupado com o que viria depois da morte, e hoje, com o que está acontecendo. Fala ainda da inconsciência, coisa que percebemos em suas telas. Algumas delas mereciam de Murilo um certo cuidado no acabamento. Isto inclusive já tinha observado quando visitei seu atelier e lhe chamei a atenção. Ao que pude depreender de suas telas e das entrevistas que andou dando por aí está mais preocupado com a conotação política, esquecendo-se da elaboração. É um jovem talentoso, que precisa de certo cuidado para não ser transformado de uma hora para outra numa vedete, como vem acontecendo com dois ou três iniciantes.Aliás, sobre esses, pretendo fazer algumas considerações à medida que orem expondo.

                         CHICO DA SILVA NÃO QUER VOLTAR

O pintor Chico da Silva em atividade
Chico da Silva, o primitivista cearense que ganhou fama em todo o mundo pintando dragões, serpentes, peixes e aves fantásticas, no bairro pobre do Pirambu, em Fortaleza, não quer voltar para sua casa, onde estão seus filhos, Roberto e Francisca, também pintores.
Vou deixar de ser besta, não voltarei mais para a casa que o Governo me deu, no Pirambu. Afinal de contas, o Governo apenas me emprestou uma casa, pois quando eu morrer ela não ficará para os meus filhos. O que eu quero agora, disse, é conseguir dinheiro para construir uma casa própria.
Demonstrando muita disposição, apesar de recentemente ter passado mais de um ano num hospital, tratando-se de uma cirrose hepática, provocada pelo excesso de bebida, Chico da Silva não está mais obedecendo às recomendações médicas de evitar bebidas. Ele mesmo confessa que toma diariamente alguns uísques, mas ressalva: Nunca mais fiquei completamente embriagado.
O primitivista, sempre orientado por um bom parente, o esposo de uma  sobrinha sua, vai pedir ao Secretário de  Cultura, professor Ernando Uchoa Lima, que mande determinar a apreensão de todos os quadros que levam sua assinatura ilegalmente.
Não é possível que os turistas comprem quadros falsos de Chico da Silva. Minha assinatura está falsificada na maioria das telas que está exposta nas galerias dos hotéis, mercados e até por vendedores ambulantes que circulam pelas praias da cidade.
Existe, disse, uma verdadeira indústria montada para faturar em meu nome. Não vejo como acabá-la, mas sinto que as autoridades não ligam para este problema. Estou sendo bastante prejudicado Poe esses falsários que já deveriam estar na cadeia há muito tempo.
Chico da Silva está pintando novamente seus galos, peixes, aves e dragões fantásticos. Os seus traços já não são tão firmes como os de há dez anos passados. Nota-se certa insegurança, mas o seu potencial criativo está ainda em forma.

Naum Gabo em Estocolmo
GABO E O CONSTRUTIVISMO

Naum Gabo, o escultor que deu início ao movimento construtivista na arte, morreu recentemente, vítima de câncer, aos 87 anos.Gabo, nascido na Rússia, naturalizou-se norte-americano em 1952 e viveu muito tempo na Noruega, Alemanha, França e Inglaterra. Foi feito cavaleiro pela rainha Elizabeth em 1971.
Nascido em Briansk, no dia 5 de agosto de 1890, Gabo estudou Filosofia Política, Ciências e Engenharia. Em 1910, foi para Munique, onde tentou estudar medicina na Universidade local.
Foi na Universidade de Munique que encontrou sua vocação estudando História da Arte com uma das maiores autoridades mundiais do assunto, Heinrich Wolffin.
Depois do início  da Primeira Grande Guerra, Gabo emigrou para a Noruega, com seu irmão Antoine, também escultor e fez sua primeira exposição em Oslo, em 1916.
Muitos dizem que Gabo via a arte de uma maneira mais semelhante a do físico ou do engenheiro do que do artista tradicional. Uma vez, ele disse: Não existe matéria morta ou matéria viva. Tudo está vivo.
Gabo e seu irmão voltaram à Rússia depois da revolução bolshevista e lançou seu famoso Manifesto Realista, onde estão as bases da Filosofia Construtivista.
Em 1922, Gabo sentiu que a arte de vanguarda não era compatível com o novo regime russo e mudou-se pára Berlim, onde se tornou uma figura importante na vida cultural da República de Welmar, com Kandinsky, Paul Klee e Walter Gropius.

Escultura de Naum Gabo
Em 1932, Gabo mudou-se para Madri e alguns anos depois para Londres, onde sua influência foi decisiva para o desenvolvimento dos esforços de Bárbara Hepworth e Bem Nicholson na arte.
Gabo chegou aos Estados Unidos em 1946 e, em 1948, foi homenageado com uma exposição retrospectiva no Museu de Arte Moderna. O Construtivismo era reconhecido, então, como um dos mais importantes movimentos artísticos do século.
No entanto, sempre manteve vivos seus laços com a Inglaterra e a Galeria Tate de Londres montou uma grande exposição de seus trabalhos em 1976. Seu último trabalho importante foi uma fonte no Hospital São Tomás, de Londres, inaugurado em outubro do ano passado.
Gabo morava em Middlebury, Conneticut, e era membro da Real Academia Sueca. Deica mulher, Miriam Israels, com quem se casou em 1936, e uma filha, Nina, residente em Londres.

                               PAINEL

MAIS UM ROUBO - Três das maiores obras de arte da Espanha, datadas do início da era medieval avaliadas em vários milhões de dólares, foram roubadas da catedral de Oviedo.

VÂNDALO- Uma cena comum nos grandes museus é a presença de vândalos. Agora em Hannover, Alemanha, dois retratos de Martinho Lutero de autoria de Lucas Cranach, o Velho, um dos maiores pintores renascentistas alemães foram danificados com ácido por um vândalo.O ácido Foi atirado no rosto das figuras de Lutero e sua esposa Catarina Va Borá.

AMERICANOS NA RÚSSIA- O semanário soviético Literaturnaya Gazeta confirma que vários trabalhos de artistas norte-americanos foram censurados pelas autoridades soviéticas por beirarem a pornografia.Um total de 16 livros e revistas dentre os 350 objetos apresentados na exposição foram censurados pelas autoridades soviéticas por beirarem a pornografia.Esta exposição percorrerá diversas cidades soviéticas, e atualmente está em Moscou.

LE DOME- Juraci Crissi, Licurgo, Tadeu Neto e Túlio Oliver estão expondo na Galeria Le Dome, à rua Direita da Piedade 17.

NA TEMPO- Na Galeria de Arte Tempo, no Salvador Praia Hotel, está expondo Jorge Costa Pinto.

ELY BUENO- Na Galeria Cosme Velho, em São Paulo está expondo o artista Ely Bueno, que é uma grande desenhista de categoria internacional. Já tive contato com alguns trabalhos de Ely todos dotados de grande beleza plástica e um traço vigoroso.Já pintou séries de árvores, cães, gatos, e agora mostra uma série de desenhos onde centraliza a figura humana. Como disse Lívio Abramo quando de sua mostra na Galeria Ambiente em 1959 Ely Bueno pertence aquela categoria de artistas que buscam ou encontram no âmago de seu mundo psíquico o motivo a origem de sua própria emoção artística. (Foto)

LYGYA MILTON- Um universo rico em cor e sensibilidade são palavras que usaríamos para escrever ligeiramente a exposição de Lygia Milton, na Galeria do Hotel Merídien. A solidão retratada em toda sua imensidão como a mostrar a presença das individualidades no horizonte.


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