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domingo, 19 de maio de 2013

DUAS GALERIAS NA CIDADE


JORNAL A TARDE SÁBADO 29 DE OUTUBRO DE 1977

            

Faz algum tempo que venho falando sobre a necessidade de novas galerias de arte em Salvador. Por várias vezes mostrei a necessidade de um certo cuidado na comercialização de um quadro, uma escultura ou outro qualquer objeto de arte, isto porque arte não pode ser comercializada como acontece com um quilo de açúcar ou uma vara de pão. É preciso critérios e cuidados desde a escolha do objeto a ser vendido, os métodos de venda e os compradores, para não acontecer o caso de um famoso tapeceiro que preferiu ter seu trabalho de volta do que no piso da mansão de uma madame. Explico: a madame perguntou ao artista se não podia usar o tapete no chão. Este caso serve apenas para ilustrar um dos elementos importantes na comercialização.
Mas fico satisfeito quando vejo que pessoas estão enxergando a necessidade de investir em galerias. Em selecionar o acervo a ser comercializado, em selecionar as pessoas que devem frequentar estas casas. Não uma seleção discriminatória do ponto de vista econômico ou social, porém uma seleção do ponto de vista da capacidade de entendimento de uma obra de arte. Falo das galerias Grossman e Teresa. Uma já em perfeito funcionamento com uma importante exposição coletiva reunindo trabalhos de boa qualidade Carybé, Fernando Coelho, Emanoel Araújo, Mário Cravo Jr., Tati Moreno, Calasans Neto, Cardoso e Silva e muitos outros. Já a Galeria Teresa está em fase final de instalação. Na conversa que mantive com os proprietários dessa galeria durante a exposição de Sante Scaldaferri fiquei sabendo que ali serão desenvolvidas outras atividades, todas ligadas à arte. Um setor de molduras, livrarias, salão para encontro dos artistas e conferências, etc. Farão parte integrante de um conjunto em harmonia  com o velho e bonito casario colonial do Largo da Mariquita, no bairro do Rio Vermelho.
Quanto a Galeria Grossman está instalada no Orixás Center, um ponto central e logo na entrada daquele centro comercial. Embora não dispunha de grandes espaços Leo soube aproveitar a sala criando um local apropriado para o escritório e o acervo.
Espero que estes dois empresários que entram com muita vontade e firmeza na comercialização da arte, tenham o sucesso total em benefício dos próprios artistas. Quanto aos demais proprietários de galerias em Salvador devo dizer que precisam olhar com carinho , objetividade e visão desses empresários e, assim partam para remodelação e melhoria de suas casas. Salvador já comportou galerias de melhor porte.

  REBOLO NA PINACOTECA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Uma bela paisagem rural pintada por Rebolo
Rebolo Gonsales, Francisco (São Paulo, 1902 ) está com alguns trabalhos da Pinacoteca do Estado de São Paulo.A paisagem é motivo privilegiado na sua obra, desde os inícios de seu trabalho com o pintor de cavalete, quando vinha de uma experiência de pintor-decorador de edifícios. Data dessa época seu estabelecimento no Santa Helena, local que daria nome ao núcleo de artistas paulistas consolidadores do modernismo nas décadas de 30 e 40, os quais entre as várias afinidades como as de suas origem, mostravam interesse pela paisagem suburbana.

Rebolo em plena ação
O Morumbi, que em 1946, era um ponto distante da cidade com o campo, mais campo do que cidade, interessaria Rebolo. Optava o artista pela passagem humilde. De lá anotava uma singela ocupação do território natural pelo homem. Escolhi o pobre na vegetação e o simples no gesto de ocupação. De sua aproximação com a natureza jamais prevaleceu a ordem natural. É o homem que domina o terreno numa relação tão íntima, como aquela que se estabelece com um quintal.É o artista que domestica a paisagem. Nenhum detalhe exterior o dispersa. Simplifica a figura a partir da cor organiza zonas. Constrói matrizes, neutraliza as cores, acinzentando-as, buscando uma unidade capaz de envolver todo o quadro. Entre a aclimatação dos neutros, a maior pureza cromática de um azul, como o da janela, se torna quase irreal, e remete á realidade do pigmento na tela. Já anotara Sérgio Millet em 1943 com quem Rebolo tinha uma casa no Morumbi como os meios tons os cinzas, os terras, a ausência de exotismo e decorativismo correspondem a paisagem paulista. O artista participaria ativamente da vida artística desde a década de 30, expondo nos Salões de Belas Artes, nos Salões de Maio e nas mostras da Família Artística Paulista, integrado que estava no projeto de sedimentação da linguagem moderna entre nós. ( Faleceu em 10 de julho de 1980)

                 JOSILTON NA GALERIA ACBEU

Um talho forte e uma composição formal harmoniosa caracterizam o trabalho de Josilton que está expondo na Galeria Acbeu.
Uma obra criativa e cuidadosa onde aparecem totens geometrizados completamente originais. As figurações sugerem através das formas geométricas rostos e coisas, mas não existe qualquer semelhança com totens produzidos por artistas populares africanos.
O toque pessoal é presença no trabalho deste jovem artista. Ainda cheio de interrogações, em busca de respostas para tudo, Josilton vai falando do seu trabalho e das dificuldades que enfrenta para prosseguir o seu caminho, que certamente será coroado de êxitos.
Percebo a sua tendência para a escultura, inclusive ele está mostrando quatro, mas ainda não representa um trabalho mais acurado e definitivo. Quanto aos entalhes são de boa qualidade e as tonalidades suaves dão um contraste harmonioso ao conjunto. Suas peças, todas apresentando uma tendência geometrizante, não são repetitivas, o que demonstra sua capacidade criativa. Acredito em Josilton e desejo acompanhar de perto o seu trabalho.

                O TAPECEIRO JUAREZ MARANHÃO NO MÉRIDIEN

A Galeria de Arte do Hotel Méridien apresenta uma mostra das tapeçarias de Juarez Maranhão. Um trabalho calcado no folclore baiano e também nos personagens dos romances de Jorge Amado. Talvez a vizinhança do artista com o escritor levou a retratar os personagens através dos complicados pontos da arte de tapeçaria e assim surgiram os tapetes O Perfume de Gabriela, Os desejos de Gabriela e uma série deles. Juarez é um artista preocupado em melhorar a qualidade de seus tapetes. Confesso que Juarez consegue captar a atmosfera tropical da Bahia e cria composições de grande beleza visual. Seus tapetes não são modernos a ponto de apresentar uma superfície saliente e mesmo a presença de adereços como vem ocorrendo com vários artistas que trabalham na tapeçaria. Essas, hoje não são aceitos. Mas de qualquer sorte os tapetes de Juarez Maranhão são inconfundíveis e dizem muito da Bahia.


                  PAINEL

CORREÇÃO - na semana passada fiz uma crítica á atitude insólita de Frans Krajcberg que retirou as obras da Bienal paulista e no texto saíram duas incorreções.Evidente ,que são erros gráficos. Primeiro, a palavra insubordinação saiu grafada errada e a última frase do comentário foi cortada e ficou sem sentido. Eu dizia As pessoas que defendem a necessidade de premiação de um grupo brasileiro, é uma posição discriminatória porque trata-se de uma bienal internacional.

PROCESSADAS - Dedham, Massachusetts, Quatro pessoas entre elas um vendedor de objetos de arte, estão sendo processadas por seu envolvimento num roubo de quadros, gravações e litografias, alguns de Picasso e Renoir, num valor de ...60.000 dólares 916 mil e 500 cruzeiros. O caso foi descoberto quase acidentalmente, quando se investigava um roubo artístico de maior valor.
As 13 obras de arte foram furtadas em novembro do ano passado, da residência de Paul Scriberg, em Soutboro.Dois dos suspeitos, Richard J. O’Neil, de 35 anos, e Harvey D. Doren, de 44 anos, foram presos em sua casas. O comerciante de arte Shirley Machinest foi colocado a disposição das autoridades, assim que voltou de Nova Iorque.
O advogado do condado informou que o processo é um sub-produto da investigação feita pelo FBI no caso do roubo de obras de arte num valor de 380 mil dólares 5 milhões, 804 mil e 500 cruzeiros efetuado na residência do reitor da Universidade de Harvard, Derek Bok, há dois anos.
O FBI confirmou que agentes clandestinos haviam comprado as obras de Scriberg durante o transcorrer da investigação. Três dos quadros são de Picasso e dois de Renoir, segundo um porta-voz policial.

RAG EM VALENÇA - o marchand Roberto Araújo vai inaugurar no próximo dia 10, uma exposição coletiva, reunindo dezenas de artistas na cidade de Valença.Uma iniciativa que merece aplausos e ajuda de todos aqueles que gostam das artes visuais. É hora de realizar exposições interior do Estado, para que as estampas coloridas de cópias de trabalhos artísticos sejam substituídas por verdadeiras obras de arte. Roberto conseguiu reunir obras de Hansen Bahia, Oscar Caetano, Juarez Paraíso, Edison da Luz, Calasans Neto, Esse Pimenta, Joselito Duque, J. Arthur e muitos outros.

KANTOR NO RIO- o incansável Kantor estava expondo no Rio, na Galeria César Acha, nove óleos, 29 pasteis e nove desenhos, todos sobre a temática carioca. Assim Kantor retrata a Cidade Maravilhosa, seus morros com as favelas em contraste com os grandes edifícios, os pontos turísticos como Santa Teresa, o Concorvado e outros. Kantor é um sentimentalista. Esteve em Salvador pintando suas praias, seus velhos casarões, as igrejas e as mulatas, depois de 20 anos de ausência.

ESTUDANTES -  Foi realizada uma exposição de trabalhos artísticos dos alunos da Escola Polivalente de Amaralina, localizada no Alto das Ubaranas, Nordeste.
Já o Núcleo do Complexo Escolar Paulo Américo de Oliveira, da rede estadual de ensino, na Rua Visconde Pedra Branca, no Bonfim, está realizando uma exposição objetivando desenvolver o potencial artístico dos seus alunos.
Os trabalhos em óleo, colagem, bico de pena, montagem, conta com a participação de 17 estudantes das 6ª., 7ª e 8ª. Séries, estão na entrada do colégio e podem ser visitadas das 8 às 12, das 14 ás 18 e das 19 ás 22:30, até o dia 19 de novembro.
Por outro lado, alunos do Paulo Américo, Centro Integrado Luiz Viana, Severino Vieira, Manoel Devoto e Eduardo Mamede, estão expondo seus trabalhos no Museu de Arte Sacra, dentro do programa de integração Museu-Escola.
O Complexo Escolar Paulo Américo de Oliveira, inaugurado em abril de 1968, tem 20 salas de aula, auditório, quadro de esportes, Biblioteca, além de outras dependências, 2.400 alunos sob a direção da professora Ruth Tourinho Dantas e ainda departamentos de Educação Artística, Educação Física, Ciências, Matemática, Estudos Sociais, Comunicação e Expressão.
Aberta ao público pela manhã e á tarde na biblioteca da escola, a exposição, coordenada pelas professoras da área, apresenta quadros, colagens, entalhes, artes práticas bordados, casas... utilizando as alunos nos seus trabalhos, as mais variadas técnicas e materiais.

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