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segunda-feira, 18 de junho de 2012

OS TRÊS GRAVADORES DA FEIRA DO ARTESANATO

Jornal A Tarde, segunda-feira, 7 de maio de 1973.
Texto Reynivaldo Brito

ARTES VISUAIS
Três gravadores estão expondo seus trabalhos todos os domingos na Feira de Artesanato, no Terreiro de Jesus. São homens humildes e de grande talento que fizeram da arte sua forma de vida. Eles convivem em harmonia, sem as tradicionais intrigas, sem participar de “igrejinhas” e outras manifestações condenáveis. Chamam-se: Benedito, soldado de polícia militar, Nivaldo Portela, retocador de fotografia e Wilson Dias Santos, ex-bombeiro de um posto de gasolina. Hoje são gravadores.
Assim, Benedito, Portela e Wilson, utilizando instrumentos primitivos como pedaços de facas, estiletes , goivas e  a madeira, vão esculpindo sem parar.
As igrejas, a capoeira, a gente baiana são transportados com grande beleza por esses três artistas que são os principais responsáveis pelo não desaparecimento da Feira do Artesanato. Todos que se dirigem aos domingos para o Terreiro de Jesus sentem o impacto do colorido de seus detalhes e percebem quanto eles influem para a permanência da feira.

                                            O SOLDADO


O soldado Benedito Crispiniano Bonfim, ou simplesmente Bené, tem 32 anos de idade e trabalha como barbeiro em sua corporação.
Mas o seu grande sonho é a arte plástica. Ele reside na invasão do Calabar e como é de origem humilde seus trabalhos estão sempre ligados à sua gente. È o vendedor de peixe, a baiana do acarajé, o capoeirista que são transportados com toda sua força para a madeira. ( Foto ao lado)
Os detalhes são o forte de Bené. As igrejas são retratadas nos mínimos detalhes.
Seus trabalhos são disputados pelos freqüentadores da Feira de Artesanato pela pureza de seu estilo simples e real. Bené nunca freqüentou uma Escola de Belas Artes e ninguém nunca lhe ensinou como pegar em um pincel. Tudo que faz é por instinto e talento. As igrejas, o casario, as pessoas são captadas pela sensibilidade aguçada deste soldado que prefere um pincel ao fuzil. Sua produção é grande e seus trabalhos sem compromisso de escolas estão sendo adquiridos e levados por turistas para os quatro cantos do País e até mesmo para o exterior.

                                RETOCADOR DE FOTOGRAFIAS

Já Nivaldo Portela Silva, de 20 anos, que assina seus trabalhos com o nome de Portela, foi cabeleleiro e retocador de fotografias. Hoje, gravador de grande talento, está voltado com toda sua juventude para a criação. Seus trabalhos são de um colorido vivo como as coisas do mundo tropical que o cercam. Escolheu a capoeira em seus vários movimentos como o tema principal de sua atual fase. Assim transporta para a madeira esta luta de uma raça a que muito devemos. Portela é negro e orgulha-se de sua raça com toda a expressão que capta.
“Escolhi a capoeira por está diretamente ligada a ela.Meus ancestrais sempre jogaram capoeira. Desde menino que via os meus parentes mais antigos lutarem capoeira no Nordeste de Amaralina inexplicavelmente, a capoeira ficou gravada dentro de mim. Sempre que pegava num lápis imaginava desenhar uma cena de capoeira. Desenvolvo, minhas pesquisas sozinho e nunca tive ajuda de ninguém. ’
 A capoeira é uma luta muito rápida e é preciso que a gente preste muita atenção para fixar os golpes e retratá-los na maneira com todo o seu movimento.´
Os trabalhos de Portela diferem dos demais por terem um desenho mais apurado e uma movimentação estudada. Ele concebe ainda criações abstratas de grande beleza. È sem dúvida, um artista nato e à medida que for pintando certamente irá aprimorando seu traço, que já é firme. As cores amarelo, azul e preto são as mais constantes em seus trabalhos.

                                        O BOMBEIRO
O ex-bombeiro, hoje mais conhecido por frentista, Wilson Dias Santos, de 22 anos de idade, também como seus colegas nunca freqüentou qualquer escola. Disse que “tudo que eu faço é de cabeça.Comecei construindo pequenos barcos e aos domingos me dirigia para os jardins públicos para colocá-los nos pequenos lagos e ficava horas e horas observando-os a navegar e quando notava alguma deficiência voltava para casa para melhorar o trabalho.
Em seguida, passei a fazer algumas esculturas, porém desisti e hoje estou voltado para as gravuras. O que eu gosto, realmente, de fazer na vida é entalhar. Passo a maior parte do tempo sentado em minha casa procurando criar alguma coisa de novo. O meu forte é fazer esculturas em tacos de pisos. Creio que já vendi umas 250 esculturas pequenas em tacos. Agora estou entalhando em pedaços de compensados.”
Wilson, que já foi bombeiro de posto de gasolina e ajudante de pedreiro (seu pai é pedreiro de profissão), abandonou tudo e voltou-se para a arte. Estudou apenas até o 5º ano primário e hoje em seu atelier, no Nordeste de Amaralina, continua criando sem parar.













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