GERAÇÃO 70
Primeira mostra
OS EMERGENTES
"Uma das metas da Fundação Cultural para a área de artes plásticas é propiciar exposições em seu espaço, dando prioridade a mostras coletivas e individuais de artistas emergentes da Bahia.
Estas exposições serão sempre escolhidas dentro de critérios pré-estabelecidos e sem nenhuma espécie de paternalismo.
Torna-se inevitável o surgimento de novos artistas e a conquista de espaços no meio cultural.
Os emergentes trazem sempre diversas propostas dentro da contemporaneidade de novas linguagens.
Os artistas que não se renovam que se repetem com as mesmas cansativas formas são certamente ultrapassados pelos novos.
Ao contrário, artistas de gerações anteriores que constantemente se renovam, preocupados com contemporaneidade e seriedade de sua obra, e que não fazem concessões, estão sempre em evidência, respeitados pela crítica profissional e pelo público culto e informado.
Isto acontece no mundo, e na Bahia não poderia ser diferente.
Portanto, vejo com muito contentamento esta exposição, cuja curadoria coube ao crítico Reynivaldo Brito, porque ela apresenta alguns artistas da Geração 70 que vêm se firmando graças à seriedade das suas propostas.
Não só estes dez escolhidos nesta primeira exposição, mas inúmeros outros desta mesma Geração 70, de anteriores e de novíssimos, estão com os seus espaços assegurados no mundo artístico e cultural.
Os dez artistas componentes desta exposição são todos experientes, tendo em seus currículos mostras individuais e coletivas, participação em salões e bienais, possuindo premiações e significativas referências críticas.
Estes artistas não formam nenhum grupo. Cada um tem a sua proposta e o que os une, são várias afinidades e a luta já vitoriosa pela divulgação e reconhecimento dos seus respectivos trabalhos. "Heitor Reis – Diretor do Demap
A MARCA DE UMA GERAÇÃO
"Esta é a Geração 70 que desponta como uma força inovadora nas artes plásticas baianas. Integra esta geração uma plêiade de artistas provindos dos mais variados estamentos sociais, inclusive alguns originários de outros estados, mas que aqui encontraram o local ideal para o crescimento e enriquecimento de suas obras. São artistas que trabalham com aquele afã da profissionalização, e que levam a sério aquilo que se propõem a realizar. É verdade que a aparência, por vezes descontraída de alguns pode soar falsamente como uma tendência irresponsável. Porém, é uma questão óptica distorcida porque a realidade é bem outra, e a prova maior desta minha afirmação são os frutos agora expostos à apreciação pública, nesta primeira mostra da Geração 70.
Alguns estranharam a expressão Geração 70, tendo em vista um movimento que ganhou corpo e notoriedade nacional a partir do Rio de Janeiro, intitulado Geração 80. A estes respondo que bem antes do surgimento deste movimento carioca, na minha coluna Artes Visuais, que publico desde 1970, todas as segundas-feiras em A Tarde, já chamava estes artistas de integrantes da Geração 70. Uma coincidência que não desmerece porque entendo, que mesmo que não houvesse este antecedente, é apenas mais um rótulo para que possa limitar o espaço no qual desejo me fixar.
Venho, juntamente com Ivo Vellame, acompanhando com vivo interesse, há vários anos, o surgimento, o crescimento e o amadurecimento de cada um desses artistas. São poucos aqueles com os quais não tive uma ligação profissional mais profunda. Mas, que agora, integrados, tendemos a fortalecer nosso entrosamento em benefício da própria arte baiana. Divergências e eqüidistâncias sempre vão existir porque fazem parte do próprio comportamento humano. No entanto, tenho certeza que serão bem menores a partir de agora entre os integrantes deste grupo.
A maioria participou dos salões universitários que foram tão importantes para que eles despontassem no cenário das artes baianas. Estes salões, dos quais fui jurado, eram magistralmente organizados por Ivo Vellame. Acabaram-se os salões, e eles passaram a participar de coletivas e, em seguida, de individuais, e agora estão aqui reunidos para mostrar aonde chegaram com suas formas, técnicas e composições. Cada um com seu estilo, sua marca registrada, que começa a ser identificado através dos elementos que formam suas obras." Reynivaldo Brito
Vamos falar ligeiramente de cada um
ASTOR LIMA – freqüentou os ateliês de Mário Cravo, de Arlindo Gomes e Sérgio Sampaio.É o único escultor do grupo e considero seus trabalhos de sucata de ferro, especialmente a série “ Alados” , como uma das melhores coisas que apareceram ultimamente na escultura baiana. Seus pássaros metálicos nos dão àquela sensação de inconformismo, tão marcante entre os artistas. E, suas flores de sucata parecem ter vida. Elas balançam ao sabor dos ventos.
BEL BORBA – Conheci-o ainda garoto trabalhando na garagem de sua casa no Canela. Eram apenas experiências e curiosidades. A arte falou mais alto e, hoje, Bel nos apresenta uma arte com uma linguagem contemporânea, que pode figurar nas paredes de galerias de qualquer metrópole. As transparências e a pujança das figuras criadas por Bel são suficientes para demonstrar o seu talento.
CHICO DIABO - o homem do cachimbo. Uma figura que é reconhecida de longe, e que teve uma presença marcante no “Etsedron”, atuando em três bienais, sendo que em 1973 o grupo obteve o Prêmio Governador do Estado. Deixando este grupo integrou um outro, de igual importância, o “Posição”, composto por Eckemberg, Juraci Dórea, Sônia Rangel, Zélia Maria e Carlos Petrovich.
FLORIVAL OLIVEIRA – Participou de quase todos os salões universitários. Em 1981 do IV Salão Nacional, no Rio de Janeiro, além de supervisionar as oficinas do MAMB.
FRED SCHAEPPI – Começou trabalhando com incrustações de massas em suas telas, enaltecendo o relevo. Evoluiu, e hoje nos apresenta um trabalho apurado em forma e técnica, a ponto de calar aqueles que duvidavam do seu talento. Realizou uma Via Sacra na capela do Mosteiro Cistenciense em Jequitibá, município de Mundo Novo quem reputo como um dos murais mais significativos da arte baiana.
GUACHE MARQUES – Formado em Artes Plásticas, integrou os salões universitários e o Nordestino.è um excelente ilustrador.
JUSTINO MARINHO – Valoriza o desenho. Teve uma fase ligada ao engajamento político social e atualmente gravita com suavidade entre suas baronesas e madames nos salões empoados. Sua obra tem influências da art nouveau e egípcia.
MASO – é paulista de nascimento, mas aqui está desde 62 e foi aqui que começou a trabalhar. Sua obra hiper-realista chega em determinados momentos a confundir os desavisados como sendo uma fotografia. Agora ele está trabalhando com o branco conseguindo os volumes e as formas com uma única cor.
u a trabalhar; tive oportunidade de participar de júris nos quais sempre teve sua obra reconhecida. Já realizou alguns trabalhos integrados com dança e música. É um dos mais criativos desta Geração 70.
ZIVÉ GIUDICE – É o “ anjo” rebelde. Traz no próprio sangue o temperamento inquieto do italiano. Preocupado com o comportamento humano e com os mecanismos de dominação. Suas figuras disformes revelam exatamente este lado antropofágico, centro de sua inquietação. Polêmico e contestador têm como uma de suas metas a valorização do papel como suporte de arte.
Evidente, que aqui estão apenas algumas rápidas palavras sobre cada artista. Rápidas como pinceladas que não definem as formas. Deixo para o leitor e o espectador desta exposição à oportunidade de complementá-las com o universo de suas informações e o calor de suas emoções
Reynivaldo Brito - Curador
GERAÇÃO ANOS 70
" Porque apostei neles, nos jovens artistas que realmente representam a Geração 70 e continua de forma inabalável neste propósito, aceitei o convite do crítico de arte Reynivaldo Brito, para colaborar com algumas sugestões no que diz respeito à organização desta coletiva. A minha colaboração mais significativa foi a apresentação de alguns nomes, que considero dos mais representativos da Geração 70 para o evento. Igualmente, lembrei da oportunidade e importância desta iniciativa. A responsabilidade da escolha de dez artistas, que figuram nesta mostra, coube evidentemente ao curador da exposição e foi publicamente assumida por ele.
Fazem parte desta primeira mostra da Geração 70 os artistas Bel Borba, Murilo, Zivé Giudice, Guache, Maso, Astor Lima, Chico Diabo, Fred Schaeppi, Florival Oliveira e Justino Marinho. É preciso lembrar que o curador foi limitado por razões de economia a convocar um grupo de dez. Mas, não devemos esquecer que a falta de verbas para eventos culturais, especialmente, para as artes plásticas baianas é uma praxe. Há de se esperar uma segunda exposição.
É fato conhecido que no correr dos anos 70, surgiram muitas dezenas de artistas e a exposição Cadastro em 79, misto de arte e desastre, serviu para documentar desenfreada proliferação de artistas. Os valores que representam uma geração resultam de um processo rigoroso de triagem. É muito cedo para se identificar os seus representantes definitivos, por mais que sejamos possuidores de uma intuição certeira de escolha. Há sempre possibilidades de enganos. Entretanto, não nos custa reconhecer que alguns estão fora de compasso, não apresentam em suas obras,m o m´~inimo de contemporaneidade, de atual, descompassados totalmente, em relação àqueles para os quais a arte é uma justificativa de vida e, talentosos, garantiram uma nova figuração entre nós, por lhes servir de base e não desconhecimento do que se produziu desde os primeiros dias do nosso modernismo. Esta Geração 70, que vi nascer na Escola de Belas Artes, foi ampliada por outros artistas não pertencentes a Escola. Geração de jovens tecidos de talento e garra, a confrontar os seus trabalhos nos vitoriosos Salões Universitários, no âmbito dos Festivais de Arte. Geração de artistas capazes de se renovarem, não em ritmo lento, porque a refletir o momento. Geração de artistas contestadores, repugnados com a modorra provinciana. Estimulada por Wilson Rocha, Matilde Matos, Reynivaldo Brito, Juarez Paraíso, Jacy Brito, teve esta Geração 70 o aval
do saudoso Clarival do prado Valadares., Estou convencido de que os seus valores querem ser um elo,entre outros, na evolução da arte baiana e brasileira. E serão."
Ivo Vellame
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