REVISTA NEON MAIO 1999
Texto Reynivaldo Brito
“ Saúdo seu talento, seu poder de invenção, sua coragem que o liberta do lugar-cömum em que naufragam ( por pouco tempo) tantos jovens de sua geração. Como não há improviso em sua obra tão singular, você veio para ficar. E já entrou, com sua própria dignidade, pela porta principal da Artes Brasileira. bravo! "São Paulo , 11 de dezembro de 1985. Olney Kruse.
Inicio com este artigo uma série que pretendo escrever sobre os artistas baianos.Escolhi Leonel Mattos por enxergar nele qualidades artísticas e pessoais, que podem servir de exemplo para os acomodados.Este baiano de Coaraci, onde nasceu em 1955, já aos 15 anos despertou para as artes e quatro anos depois participou de uma exposição coletiva no “ O Candeeiro.” Daí vieram várias outras exposições individuais e coletivas.
Pintou um mural na ponte de atracação de Mar Grande e demonstrando seu interesse de levar a arte até o povo desenvolveu alguns projetos com os presidiários, na Casa de Detenção: no Instituto de Cegos, sanatórios e praças públicas entre elas o Campo Grande e Piedade. Mais recentemente fez uma interferência na igreja de Mont Serrat, na Cidade Baixa, onde reside e participa de todos os movimentos de revitalização do bairro.Esta interferência na igreja foi uma denúncia contra o abandono a que foi relegada.
Atualmente Leonel juntamente com um grupo de artistas vem pintando vários murais em bairros diferentes da Cidade. Um presente valioso que os artistas estão dando aos baianos nos seus 450 anos de Salvador. Já concluíram murais: na Avenida Contorno, Boca do Rio, Garibaldi, Vasco da Gama, colocando também versos de poetas baianos.
Transferiu-se para São Paulo em 1984, sendo bem recebido pela crítica e saiu-se vencedor do II Prêmio Pirelli, no Museu de Arte de São Paulo-Masp.Lá participou de importantes mostras de artes plásticas e foi presença na mídia nacional.
Retornou a Salvador alguns anos depois e desde então vem agitando o mercado de artes com suas idéias aglutinadoras.Entre 1987 e 1989 participa do projeto “Extremos”, exposição itinerante que reuniu quatro artistas e percorreu várias cidades e capitais do país.
Inconformado com a mortandade das árvores em Salvador transformou-as em esculturas coloridas. Uns burocratas municipais não entenderam sua mensagem e destruíram a maioria. De 1994 para cá, juntou-se a Tatau criando o Movimento de Arte Contemporânea, reunindo depois outros artistas com um único ideal que é a criação e a arte pública.
APROXIMAÇÃO
Desde 1984 que o artista vem buscando uma maior aproximação com o público.Lembro que colocava o cavalete na rua e chamava as pessoas que passavam para pintar com ele. A maioria desses passantes anônimos nunca tinha visto de perto um pincel e uma tela.
Inconformado foi buscar a participação de presidiários e deficientes visuais.Leonel quer acabar com este isolamento, com o enclausuramento que a obra de arte vem sofrendo, resultando na sua elitização.O artista quer estar perto do povo, da sua origem, de onde ele veio.
Obra "O sonho de um nativo",datada de 1983, quando morou em Itaparica. ( foto)
Chegou a fazer um velório da Praça da Piedade, chamando a atenção da população ao problema da AIDS.Era um grande caixão de defunto e dentro dele algumas esculturas em forma de pênis, vaginas e seringas.
Em abril do ano passado fez uma instalação na Galeria ACBEU, na Vitória. “Gaveta de Memórias”, reunindo 27 anos de arte. Forrou o espaço com cartazes, cópias de reportagens em jornais e revistas sobre sua trajetória pictórica; fotografias, enfim tudo que dizia respeito ao registro de seu trabalho.
Conversando com Leonel Mattos notamos que é um artista inquieto, ansioso por realizar embora, suas obras nos transmitam uma sensação de busca e comtemplação.
As figuras e formas criadas por ele são personalizadas, você as identifica facilmente. É de Leonel! Mas, não se repetem, têm apenas características que nos permitem identifica-las com seu ator.
Sou entusiasmado com a obra de Leonel Mattos, e evidente com as de outros artistas como Washington Sales, Leonardo Alencar, Fernando Pinto, e especialmente o pessoal da Geração70, cujos integrantes ainda quero vê-los reunidos numa nova mostra para que possamos apreciar a evolução.
É sempre perigoso quando a gente cita alguns nomes, mas certamente outros merecem destaque.
Voltando a Leonel escrevi em abril de 1987, lá se vão 12 anos, no catálogo de sua exposição na saudosa Galeria " O Cavalete", o seguinte: “ vejo na obra de Leonel Mattos o desfilar de signos, que traduzidos são mensagens do inconsciente de um jovem artista inquieto que explode em criatividade.
Sua arte reflete exatamente uma personalidade que está sempre perscrutando, sempre com os olhos abertos em busca de novas formas de expressão. Agora, o homem é o centro de suas atenções, resultado de sua permanência numa grande metrópole, onde enfrenta a escravidão imposta pela modernidade.
“O buzinar dos carros, o som das portas do metrô fechando e abrindo sem parar, no atravessar do sinal luminoso e nas letras de néon ou eletrônicas que anunciam os produtos mais variados, até mesmo o aluguel de corpos que se desnudam e se dão por alguns instantes, estão refletidos na arte de Leonel Mattos”.
“ O vigor das cores e da própria ocupação dos espaços vem ao encontro de seu lado emocional impulsivo”.
Hoje o Leonel continua com o mesmo pique, a mesma ansiedade, a mesma disposição em levar a arte ao povo. É preciso incentivá-lo para que este talento inato possa realizar cada vez mais, deixando para a posteridade uma obra digna de registro.
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