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sexta-feira, 26 de julho de 2013

PAINÉIS DE GILSON RODRIGUES

JORNAL A TARDE ,SALVADOR, SÁBADO, 19 DE AGOSTO DE 1978



Um dos artistas de maior talento na Bahia é sem dúvida Gilson Rodrigues.Conheço-o desde a adolescência quando estudávamos no Liceu Salesiano.Sempre teve uma tendência indomável para a arte. Agora reencontro Gilson despontando com seu talento cheio de vida e vontade de criar. Sim de criar, mas de inovar. Suas almofadas, suas serigrafias, bicos-de-pena e telas  a óleo espalhadas nos quatro cantos da velha Bahia e também fora daqui, já nos garante falar de uma produção regular, variada e de qualidade. Agora Gilson Rodrigues aparece com dois grandes murais executados para uma secretaria da cidade de Camaçari. Dois murais onde trata do problema da gente humilde, dos oprimidos, com suas latas d’água nas cabeças, suas violas em frente aos barracos, os aglomerados de crianças famintas. Uma montagem do dia-a-dia deste Brasil grande e cheio de contrastes. Não apenas do contraste das belezas naturais ou de climas, mas dos contrastes ligados a má distribuição de renda, a falta de saneamento básico, de habitação e muitos outros problemas vividos pelas populações humildes. Espero que esses dois murais sirvam de fortificante para que os técnicos desta secretaria de Camaçari pensem nesses milhares de oprimidos, e que a frieza de seus gabinetes não o levem a articular teorias sem uma possível frutificação na prática.
Os murais de Gilson Rodrigues não denunciam coisa alguma. Apenas mostram uma realidade que outros procuram esconder, prestando um serviço à nação.

PEDRO WEINGÄRTNER E A SIMPLICIDADE  DA SUA OBRA  

Esta obra acima Ceifa, pintada na Itália em 1903, nos levaria a deduzir que o pintor estivesse buscando um caráter de naturalidade em sua pintura, quer pelo tema, quer pelo tratamento dado a ele, não fosse a composição a nos indicar um estudo calculado da ocupação da tela. Ao reproduzir uma cena do dia-a-dia no campo, o pintor localiza no centro da tela o conjunto de animais, conferindo por este recurso uma certa estabilidade aos cavalos que o camponês tenta disciplinar. O artista dispõe as figuras humanas trabalhando na terra entre a massa escura mais densa e movimentada do grupo de cavalos e o repouso da paisagem.
Executando-se o grupo dos cavalos, a luminosidade se faz presente entre ocres, castanhos, brancos, azuis e verdes.
A observação direta do real em Weingärtner se traduz numa linguagem cuja característica fundamental é o registro descritivo dos fatos, quase totalmente destituído de interpretação.
Com mais atenção, pode-se observar que as figuras, recebendo cuidado especial do pincel, são tratados de maneira distinta, do restante da tela, como se estivessem montadas sobre a paisagem. Disto resulta uma sensação de artificialidade, pois não se integram plasticamente ao fundo.
A pouca desenvoltura que encontramos em Weingärtner no tratamento destas figuras é proveniente da sua formação acadêmica. Desde 1880, realizou estudos na Real Academia de Belas Artes de Berlim e em 1882 em Paris com Adolphe Bouguereau.
Continuou seus estudos na Itália em função de uma bolsa recebida em 1884 por D. Pedro II. A partir de 1886 circulou entre Roma, Paris, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, participante de exposições coletivas e individuais, vindo fixar residência definitiva no Rio Grande do Sul em 1920.
No Brasil, dedicar-se-ia em particular a registrar cenas de costumes da Serra Gaúcha, tendo retratado sua paisagem, o elemento humano e sua vida diária.

  CONCURSO NIKON 78 PARA FOTÓGRAFOS 

Até o dia 31 de outubro você poderá enviar suas fotos para o 10º Concurso Internacional de Fotografia Nikon 78, que é aberto a todo fotográfico amador ou profissional, de qualquer parte do mundo, exceto os residentes no Japão. Porém as fotografias já publicadas ou aquelas que já aceitas ou submetidas para breve publicação não são elegíveis. No caso de descobrir-se posteriormente que um vencedor tenha vedado o regulamento, a Nikon tomará suas devidas providências.
Você poderá encaminhar no máximo cinco fotografias em cada categoria, sempre acompanhadas do formulário de participação, devidamente preenchido.
O concurso está dividido em categorias. Categoria A, Preto e Branco: deverão ser  em ampliações com tamanhos variando de 20 a 25 cm até 28X36 cm, sem montagens. No verso de cada foto, deverão constar nome completo do participante, endereço e título da fotografia. A Categoria B, Colorido: a) slides montados com moldura de papelão, deverá constar o nome completo de participantes e ponto vermelho, em cada slide indicando a posição, b) fotografias coloridas, sem montagem, deverão ser ampliadas em tamanhos não inferiores a 20 a 25 cm, podendo ser maiores que esta medida até 28 a 36cm, também deverá ser anotado no verso o nome do participante, endereço e título da foto.
Para enviar a foto deverá o volume ser endereçado à Nippon Kogaku K.K., no Brasil, T. Tanaka e Cia. Ltda, Rua Martim Francisco, 428 Sta. Cecília Caixa Postal, 5988, São Paulo.
As fotos serão escolhidas por um júri composto de  convidados da Nikon e sua decisão é absoluta e final. Em fevereiro do próximo ano será anunciado o resultado do concurso, e cada vencedor brasileiro será notificado pessoalmente, por correspondência de T. Tanaka e Cia. Ltda.
Todas as fotos vencedoras serão publicadas no álbum Nikon Photo Contest International Anual 1978/79, que será enviado diretamente do Japão, via marítima, a todos os participantes que tiveram preenchido o cupom de solicitação.
Quanto aos vencedores, inclusive menção honrosa, serão convidados a apresentar os negativos originais não duplicatas antes de receber os prêmios. Quem não o fizer será desclassificado. Os negativos originais, não duplicatas antes de receber os prêmios. Quem não o fizer será desclassificado. Os negativos originais serão devolvidos após verificação de autenticidade. Os vencedores brasileiros receberão os prêmios em T. Tanaka, em São Paulo.
As fotografias ampliadas não serão devolvidas aos participantes. Somente serão devolvidos, através de correio, registrado, os slides não premiados e cuja devolução for solicitada através de cupon de solicitação para devolução de slides.
Também já está presente a censura. Veja a nota que está anexada ao Regulamento do Concurso: Todas as fotografias que contrariem às regras de censura do governo japonês, serão devolvidas a T. Tanaka pelo próprio órgão censor fotografias de nus artísticos, independentes da qualidade técnica, desde que mostrem pelos públicos habitualmente não são aceitos pela censura japonesa.

LÁ E CÁ

Recebo um recorte do Diário de Notícias, de Lisboa, onde consta uma crítica da Manuela Azevedo que transcrevo na íntegra:
Coisa linda, coisa caipira...
Jorge Amado em diálogo com Calasans Neto.
Foi um encontro festivo aquele do português e brasileiro, na sala do rés-do-chão da Biblioteca Nacional. Encontro festivo porque, além de todos os outros, estava Jorge Amado; além de todos os menos, estava Calasans Neto, o autor das belas ilustrações das famosas páginas do autor de tantas obras de arte, o autor da Gabriela Cravo e Canela a do Globo é minha neta diz, aludindo à telenovela, que pôs doido meio-mundo português...
Bom amigo do meu amigo, Jorge Amado veio só matar saudades àqueles que, sempre em Portugal, o vêem partir com pena.
Veio também apresentar, com redundâncias, gaoneras e outras sortes ou faenas e elogios aquele diz ter feito a fama dos seus livros - o Calasans Neto - coisa que, naturalmente, naquele referido encontro fez rir os amigos do artista e do escritor sem esquecer o dito citado.
Calasans Neto, com maravilhosa coragem, superou a adversidade, tal como sucedeu com Toulouse-Lautrec. Na arte, não se refugiou: completou-se. E hoje é um grande artista gravador, justamente apontado por Jorge Amado como um dos maiores do Brasil do seu tempo. As xilogravuras que traz à Biblioteca Nacional de Lisboa o atestam. Gravura em madeira, duramente trabalhada, é a sua opção e dela nos dá conta nesta exposição Calasans Neto. Embora o seu curriculum fale das atividades de cenógrafo do expositor, a verdade é que, nesta oposição, nada traz à memória a espectacularidade e a superficialidade da cenografia. Pelo contrário, as xilogravuras de Calasans Neto tem uma delicadeza poética, que é a melhor forma de o artista desvendar a sua sensibilidade e o seu interiorismo.
Assim, nas gravuras de Calasans, claras, com largas manchas brancas, há golfinhos, cisnes,espécies piscicolas ondulantes a cortar a crista das ondas e até pequenos cetáceos comungando da fraternidade universal sonhada por Noé, ao lado de cabrinhas monteses, que se  existem tão idilicamente, é porque se refugiaram de nossos olhos na imaginação de Calasans. Aliás, as gravuras deste excelente artista possuem alguma coisa de pintura rupestre, de volumes sabiamente equilibrados com os espaços, numa composição perfeitamente ordenada.
Sem uma identidade titulada, ou legendada, a exposição fala discretamente à sensibilidade do observador. A matéria é rica o tema enriquece-se.
Deste nos fala uma personagem de Jorge Amado, com uma cabras, um sol azul e uma lua negra. Tudo num fundo branco, vagante, porque vagueira a matéria como fogo-fátuo.
E tudo com um sorriso ingênuo de menino de engenho mesmo quando o mar fica longe dos campos da cana doce...
Preciosa iconografia está, sendo pena que os símbolos que ela representa deixem a imaginação do observador trabalhar tanto, que até é possível pensar em artes de magia e em quejandas crendices e artes negras. Não fora aquela pomba disputando à de Picasso um espaço em céu sem nuvens que nos liberta, e outra seria a sorte do espírito humano, enredado não ditas artes ocultas invocações por Calasans Neto!
Coisa linda, coisa caipira mesmo, não é? M.A.

  DESAPARECE MAIS UM MURAL EM NOSSA CIDADE 

Com a mudança da Galeria O Cavalete um mural de autoria de J. Cunha teve que ser apagado ou melhor encoberto por uma camada de tinta branca porque ninguém sabe o destino que será dado à casa onde funcionava aquela galeria. O certo é que estamos assistindo em Salvador o desaparecimento de murais, a exemplo de alguns de autoria de Carlos Bastos. Somado ao desaparecimento de murais está o descaso que muitos deles são relegados.
Aliás, as obras expostas nas praças e hall de edifícios não estão merecendo, infelizmente, um tratamento correto por parte dos administradores e desses imóveis. Com a mudança da Galeria  O Cavalete para outra casa, também no bairro do Rio Vermelho, só temos a lamentar realmente é o desaparecimento do mural, já que Jaci ocupará um imóvel maior e mais confortável para realização de suas exposições.Na foto o artista Chico Diabo cobre o mural com uma camada de tinta branca. Uma pena!

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