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sábado, 13 de maio de 2023

A FORÇA DA GRAVURA DE TEREZINHA DUMÊT

Dumêt  mostra  díptico de sua
autoria impresso em tecido.
 Acostumado a entrevistar pessoas de todos os tipos, culturas, afazeres, de perfis religiosos e ideológicos dos mais variados segmentos da sociedade desta vez fui ao encontro de uma artista da segunda geração dos grandes nomes da Gravura na Bahia. Trata-se de Terezinha Safe Dumêt ou simplesmente Terezinha Dumêt. Marcamos nosso encontro em seu apartamento no bairro da Federação, e lá estava ela uma senhorinha de pequena estatura, calma e meiga, rodeada de suas gravuras que transmitem energia, uma força que aparentemente destoa da pessoa que estava diante de mim. Esta senhorinha de setenta e dois  anos de idade já criou obras que merecem ser observadas e valorizadas pela qualidade intrínseca das composições resultado dos sulcos firmes que ela faz nas matrizes de madeira utilizando suas ferramentas de gravadora. São obras que trazem formas geométricas e silhuetas de figuras humanas. Muitas delas são apresentadas em trípticos ou dípticos, repetindo as mesmas imagens ou com pequenas variações. A maioria concebidas em suportes verticalizados, impressos em panos ou papéis especiais, utilizando duas ou no máximo três cores. São formas geométricas superpostas, que se cruzam e permitem uma transparência de qualidade. 

Passou grande parte de sua vida na Escola de Belas Artes da UFBA onde se formou em Artes Plásticas e depois se envolveu em outras atividades, concluiu o Mestrado em Artes Plásticas, em 1995. Fez curso de Especialização em Geometria de Representação e Desenho Técnico, Exerceu a função de professora de Desenho de Observação, Expressão Tridimensional e Gravura de 1974 à 1999, na Eba. e em seguida fez concurso para titular e continuou ministrando suas aulas até a aposentadoria. No seu trabalho do Mestrado defendeu a tese Homem versus Homem e apresentou uma série de vinte xilogravuras, dez objetos e uma instalação. O tema do seu trabalho foca no homem moderno que vive estressado com sua luta para sobreviver num ambiente competitivo e muitas vezes desproporcional. Preocupada com a resistência do suporte que iria utilizar para apresentar suas manifestações artísticas escolheu o tecido ou invés do papel devido à grande umidade que existe em Salvador. Utilizou para construir seus objetos as matrizes em madeira, que recortou, pintaram e assim surgiram obras bidimensionais. Já a instalação mostrava o isolamento social e a degradação do homem.

                                                                          QUEM É 

As imagens de Terezinha em três  momentos
na Escola de Belas Artes e em foto recente
.
A artista Terezinha Safe Dumêt é filha da libanesa Jage Safe Dumêt e do paulista Antônio Salomão Dumêt e nasceu 4 de junho de 1945, na cidade de Juazeiro, na Bahia, onde seu pai era comerciante e tinha um bazar chamado de Bazar Royal que vendia os mais variados produtos. Lembra bem que ele comercializava muitos brinquedos e que durante sua infância ela e seus irmãos ganharam várias bonecas e carrinhos e outros brinquedos da época.

Depois seu pai resolveu vir morar em Salvador e um tio passou a cuidar do Bazar Royal, enquanto ele comandava seus negócios de um escritório que abriu num daqueles casarões coloniais próximo da igreja Nossa Senhora da Conceição da Praia. Foi aí que seus pais a matricularam no Colégio das Mercês, que funciona na Avenida Sete de Setembro, e posteriormente foi estudar no Instituto Normal Isaias Alves, no bairro do Barbalho, ambos em Salvador. 

Logo que terminou seu curso de Magistério foi trabalhar no Banco Mercantil de Minas Gerais que tinha uma agência na zona do Comércio, na chamada Cidade Baixa, em Salvador. Mas, sua vontade de fazer arte não desapareceu. Foi assim que resolveu fazer o vestibular para a Escola de Belas Artes, sendo aprovada e passou a frequentar as aulas ainda no antigo prédio da instituição que ficava na Rua 28 de Setembro, em pleno Centro Histórico de Salvador. Sabemos que posteriormente a EBA funcionou provisoriamente no Museu de Arte Sacra até se transferir para onde se encontra até hoje no prédio que antes era ocupado pela Faculdade de Geologia. 

Três belas gravuras de sua autoria onde 
destaco a força das imagens e a transparência.

Passou a se interessar pela gravura de sua convivência com Edison da Luz, Hilda de Oliveira, Vera Lima, Sônia Sacramento, Denise Pitágoras e outras. Disse que nunca teve um ateliê próprio. Depois que se casou sempre morou em apartamentos o que a impediu de ter uma prensa para imprimir suas gravuras. Hoje é divorciada e tem dois filhos adultos, inclusive um deles mora com ela. 

Foi assim que passou a frequentar ateliês de outros artistas que possuíam prensas como o de Edison da Luz, Juarez Paraíso e principalmente faz suas impressões na Escola de Belas Artes. 

Lembrou que graças a boa vontade do Eduardo França dos Reis, o Duda, ela imprimia juntamente com ele suas gravuras. "Também nos ajudava indo comprar tintas e madeira para fazermos nossas matrizes. Era uma boa convivência. Sem e ajuda dele a gente não conseguia imprimir. Ele sempre estava ali imprimindo, aprendendo e trocando experiências com os alunos e professores", disse Terezinha Dumêt.

                                                        EXPOSIÇÕES REALIZADAS 

Terezinha imprimindo suas gravuras com Duda.
 Exposição de Arte Universitária, em Belo Horizonte, Minas Gerais em 1969;  I Exposição Feminina de Artes Plásticas da Bahia, UFBA, em 1969; II Salão Nacional de Artes plásticas no Ceará, 1969; Exposição Individual no Instituto Cultural Brasil Alemanha - ICBA, 1970; Prévia da Pré-Bienal do Nordeste, Recife , em 1970; I Salão dos Novos Artistas do Nordeste, Prêmio Menção Honrosa, 1971; 1º Festival Aberto Firmino Rocha, em Itabuna, 1971; Exposição Coletiva Gravadores da Bahia, Galeria de Arte da Bahia, 1971; Exposição de Artistas Plásticos da Bahia, Clube de Engenharia, 1972; Exposição de Gravadores Baianos, em Aracaju, Sergipe, 1073; Exposição de Gravadores com Homenagem a Sônia Sacramento, na Galeria Cañizares, 1973; Participação na lª Exposição - JUBS dos XXIV Jogos Universitários Brasileiros, em Belém do Pará, 1973; 1ª Feira Gravura Coperarte - ICBA, em 1975; Exposição de Festival de Arte Contemporânea da Bahia , na EBA, em 1975; 36 Artistas Brasileiros na Galeria Amanda Costa Pinto, em Cachoeira, Bahia, 1975. Recentemente participou da Exposição A Gravura na Bahia a partir da EBA/UFBA que reuniu mais de duzentas gravuras de vários artistas, realizada em março de 2023, na Galeria Cañizares. Desenvolveu pesquisa no campo híbrido na gravura sobre madeira “buscando um sentido humano nos gestos artísticos. Seu trabalho caracteriza-se pela crítica à sociedade de consumo e ao caos urbano. Pretende através da arte uma melhor reflexão sobre as relações sociais contemporâneas".

                                            SUA PRODUÇÃO

Foto  1. Vemos um objeto composto de formas
individuais pintadas na madeira e depois 
 juntadas. Foto 2. Xilogravura verticalizada
.
Falando sobre seu trabalho a sua colega Selma Fraga Costa, também professora da EBA, disse “Tratemos aqui das qualidades e características específicas da gravura, que põe em evidência o seu trabalho, ligando as exigências peculiares da técnica. O desenho para a gravura é concebido com mais profundidade, Terezinha utilizou com maestria a angulosidade e a rigidez das formas. A matriz foi impressa sobre o tecido, o que permitiu maior extensão de superfície, a exploração expressiva de suas tramas e maior brilho das cores, sem descaracterizar a gravura. As formas geométricas, superpostas na composição, exploram as transparências, o quadrado, o círculo e o triângulo, elementos plásticos fundamentais, simbolizam a matéria, o sentimento e o intelecto, forças básicas da criação.”

 

19 comentários:

  1. Ivo Neto Artes
    Minha querida professora da EBA UFBA 👏👏👏

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  2. Maria Adelaide Dantas Costa Cruz
    👏👏👏👏👏👏👏👏👏

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  3. Domingos Dantas Brito
    Muito interessante o trabalho dela.

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  4. Severina Ferreira Severina Ferreira
    É um trabalho interessante, deveria ter um espaço nos shoppings para os artistas mostrarem os seus trabalhos, para que as pessoas possam apreciar.

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  5. Iara Brito
    ❤👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼☝️

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  6. Leonel R. Mattos
    Que registro maravilhoso Reynivaldo, é um resgate e valorização a nossa história. Parabéns

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  7. Teresinha Nogueira
    Que artista maravilhosa, lindo seu trabalho

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  8. Edsoleda Santos
    Muito Forte a série de gravuras de Terezinha Dumet

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  9. Janete Maria Dos Reis
    Amiga de infância belo trabalho

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  10. Graça Gama
    Parabéns amigo e querido conterrâneo. Belo registro resgatando a arte baiana

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  11. Cristina Valença Salles Vita
    Parabéns! Linda homenagem!

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  12. Selma Costa
    Terezinha Dumêt,uma das grandes gravadoras da Escola Baiana de Gravura,culta,modesta, inteligente.

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