Jacy Britto a grande incentivadora da arte baiana. |
Hoje vou falar aqui de uma figura emblemática da arte baiana que foi a galerista Jacy Britto, que com sua Galeria O Cavalete , fundada em 1971, localizada no bairro do Rio Vermelho e depois em Ondina. Durante anos a fio promoveu e ajudou jovens artistas a se firmarem no mercado de arte. Lembro de sua figura pequena e forte com um cigarro eternamente entre os dedos procurando dar atenção a todos que chegavam para participar da abertura de uma nova exposição. Ela promovia anualmente uma Feira de Arte e expunha os quadros e esculturas no jardim defronte a sua galeria reunindo obras de artistas que expuseram na mesma durante aquele ano e também outros que democraticamente queriam se inscrever. A primeira Feira de Arte foi realizada em 1976.
Jacy não era uma simples galerista que comercializava obras de arte, e sim uma pessoa antenada que orientava os artistas, ajudava a selecionar as obras a serem expostas e mostrava caminhos a seguir. Enfim, fazia também o importante papel de educadora, inclusive dirimindo possíveis atritos entre os artistas seus amigos.
Jacy não era uma simples galerista que comercializava obras de arte, e sim uma pessoa antenada que orientava os artistas, ajudava a selecionar as obras a serem expostas e mostrava caminhos a seguir. Enfim, fazia também o importante papel de educadora, inclusive dirimindo possíveis atritos entre os artistas seus amigos.
Convite da II Feira de Arte em dezembro de 1977. |
Enfrentou com determinação durante anos as dificuldades impostas pelo incipiente mercado de arte baiano , com seus altos e baixos. Sempre com um sorriso nos lábios a querida Jacy acolhia a todos com o seu carinho quase maternal. Vi muitos artistas que hoje seguem suas carreiras vitoriosas sendo acolhidos por Jacy, que muitas vezes comprava seus quadros a fim de garantir-lhes a sobrevivência, mesmo estando o mercado em momentos de recessão.
Sérgio Velloso, Chico Diabo Jacy Britto , Liane Katsuki e Justino Marinho. |
As pessoas ficavam preocupadas com a própria sobrevivência , e como a arte não é um produto de primeira necessidade, deixavam logo de adquirir obras de arte. Assim muitas galerias fecharam suas portas, e a Jacy Britto continuava firme no seu propósito de lançar novos artistas e de comercializar arte.
Jacy Britto faleceu no ano passado no dia 8 de maio. Não fui ao seu sepultamento porque estava ausente de Salvador , e lamento não estar presente para prestar-lhe a última homenagem, o que agora faço aqui para que fique registrado o nome desta figura ímpar, que tanto fez pela arte da Bahia.
DEPOIMENTOS :
Juarez Paraíso - " O universo das galerias de arte ultrapassa os limites de sua função comercial e alcança a esfera da educação artística. O surgimento da arte moderna na Bahia, nos anos 40,contou apenas com alguns espaços expositivos e uma única galeria de arte , a Galeria Oxumaré, que funcionava no mesmo prédio do então Hotel Plaza , na Vitória. Nos anos sessenta , surgiram duas importantes galerias a Quirino e a Convivium. Mas, nos anos setenta , um dos destaques coube à Galeria O Cavalete, de Jacy Britto , Dona Jacy, como era melhor chamada. Estimada por todos os artistas, a sua educação e gentileza, a distinguia como uma verdadeira dama das artes plásticas. Dedicada principalmente aos artistas baianos , foram centenas de exposições de artistas já consagrados , mas principalmente de artistas jovens, emergentes ou não. As exposições eram sempre bem preparadas e bastante concorridas , devido a dedicação e o profissionalismo de Dona Jacy. E lá estiveram de Mário Cravo Jr. à maioria dos artistas da década de 70."
O mestre Juarez Paraíso |
Leonel Brayner |
Leonel Mattos |
Zivé Giudice |
Zivé Giudice - "A atividade de galerista e marchand, quando exercida com a nobreza, generosidade, acuidade conceitual e senso crítico como o fazia Jacy Britto, proprietária da Galeria O Cavalete, contribui não só para a ativação do mercado de arte, mas, sobretudo, participa do processo civilizatório, quando divulga e oferece ao público, a produção de seus artistas. Jacy sem perder o senso crítico , foi uma espécie de mãezona dessa geração. Generosa, apaziguadora, mediava sempre os conflitos de ordem estético e conceitual. A Galeria O Cavalete , durante as décadas de 70 e 80 protagonizou as mais conceituadas exposições de arte contemporânea, de artistas baianos e brasileiros. Figura extraordinária."
O artista Almandrade |
Sérgio Velloso |
Sérgio Velloso - "Jacy Britto, a querida amiga e proprietária da galeria O Cavalete reduto artístico e cultural da cidade nos anos 70 /80 foi uma mulher à frente de seu tempo. De personalidade forte, sensibilidade aguçada, livre de preconceitos, de grande conhecimento artístico e conduta singular na direção de sua famosa casa de arte, como marchand competente e exigente na qualidade dos trabalhos que ali seriam expostos. Não distinguia na maneira de acolher e no trato, os grandes expoentes das artes plásticas , ou os novos talentos que ela sabiamente identificava e lançava no mercado com o seu incentivo e respaldo . Impossível separar a profissional competente do ser humano especial que habitava naquela figura tão elegante e tão simples na sua maneira educada e delicada de tratar a todos, sem distinção. Os almoços que ela promovia aos sábados em sua residência , reunindo os amigos para celebrar a vida com arte e alegria , foram momentos marcantes na vida de todos que tiveram a oportunidade de desfrutar daquelas reuniões inesquecíveis sempre homenageando um artista da cidade ou personalidades de fora, de passagem por Salvador. O mundo mudou. O mercado de arte tomou novos rumos e formas, assim muitos não entenderão o sentimento e sensação de que nada será como antes, para quem teve a honra e o privilégio de conviver e trabalhar com figura única e brilhante como
Jacy. !"
Justino Marinho |
Justino Marinho - "Conheci Jacy Britto na segunda metade dos anos 1970. Era uma pessoa maravilhosa um ser humano sensacional. Mãe de 6 filhos, e também uma espécie de mãe de dezenas de artistas. Uma pessoa muito importante na minha vida. Foi um marco nas artes da Bahia. Promoveu muitos jovens e realizou grandes exposições. A Galeria O Cavalete funcionou no Rio Vermelho e depois em Ondina. Fiz uma exposição na galeria em 1985.Foi através de Jacy que conheci vários artistas. O então desconhecido pintor Aurelino era assíduo frequentador da galeria, e foi Jacy uma das pessoas que comprou seus primeiros trabalhos e iniciou a sua divulgação. Uma curiosidade: Acreditem ou não, a Janis Joplin e o roqueiro Sergei almoçaram com a turma na casa de Jacy, num dia de sábado. Muitas outras figuras importantes também almoçaram conosco".
reynivaldobritoartesvisuais.blogspot.com
A pesar de que naquele momento eu ainda nao fosse profesionalnente conhecida,tive o prazer e orgulho de ser amiga de Jacy Brito e expor no Cavalete.
ResponderExcluirJacy Brito era un ser muito especial. Uma grande amiga dos artistas,'ajudando - nos por amor a Arte.
ExcluirEla foi um passo adiante na Arte em Salvador. Muito obrigada Reynivaldo por escrever este belo e emocionante artigo
Como filha me sinto orgulhosa e agradecida a todos envolvidos
ResponderExcluirQue linda e merecida homenagem. Parabéns!
ResponderExcluirCristiana Britto - Reynivaldo , estou emocionada e agradecida. Você foi a primeira pessoas que prestou uma homenagem depois que minha mãe se foi.
ResponderExcluirDomingos Leoneli - "Muito comovente para mim e para minhas irmãs, Vera, Margareth,Cristiana, Maria Clara e meu irmão Carlito, a leitura da excelente matéria feita por Reynivaldo Brito sobre nossa mãe Jacy.
ResponderExcluirCom um excelente texto, o jornalista Reynivaldo Brito que é também um dos mais importantes críticos de arte da Bahia, registra a importância de Jacy Britto e da Galeria o Cavalete para as artes plásticas nas décadas de 70 e 80. Principalmente realça o seu papel de apoiadora dos jovens artistas plásticos. Mais do que uma dona de galeria, Jacy foi um incentivadora das artes na Bahia. A matéria traz também emocionantes testemunhos de alguns dos mais relevantes artistas plásticos da Bahia como Juarez Paraíso,Leonel Brayner, Leonel Mattos, Zivé Giudice, Almandrade, Sérgio Velloso e Justino Marinho. Obrigado Reynivaldo do fundo de nossos corações.