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sexta-feira, 5 de junho de 2020

JACY BRITTO UMA INCENTIVADORA DA ARTE

Jacy Britto a grande incentivadora
 da arte baiana.
Hoje vou falar aqui de uma figura emblemática da arte baiana que foi a galerista Jacy Britto, que com sua Galeria O Cavalete , fundada em 1971, localizada no bairro do Rio Vermelho e depois em Ondina. Durante anos a fio promoveu e ajudou jovens artistas a se firmarem no mercado de arte. Lembro de sua figura pequena e forte com um cigarro eternamente entre os dedos procurando dar atenção a todos que chegavam para participar da abertura de uma nova exposição. Ela promovia anualmente uma Feira de Arte e expunha os quadros e esculturas no jardim defronte a sua galeria reunindo obras de artistas que expuseram na mesma durante aquele ano e também outros que democraticamente queriam se inscrever. A primeira Feira de Arte foi realizada em 1976.
Jacy não era uma simples galerista que comercializava obras de arte, e sim uma pessoa antenada que orientava os artistas, ajudava a selecionar as obras a serem expostas e mostrava caminhos a seguir. Enfim, fazia também o importante papel de educadora, inclusive dirimindo possíveis atritos entre os artistas seus amigos. 
Convite da II Feira de Arte
em dezembro de 1977.
Lembro de algumas exposições promovidas por Jacy Britto  entre elas a  do  italiano Antonello L'abbate em 1974; do artista e poeta pernambucano Augusto Rodrigues em 1975; Adelson do Prado e J. Cunha   em 1975;do  feirense  Carlo Barbosa em 1976; Carl Brussel , Leonel Brayner e dos escultores Tati Moreno e Margareth Moura todos em 1977; Gilberto Salvador em 1978; Carlos Bastos em 1979;em 1983 ela promoveu uma exposição coletiva chamada Papel reunindo vários artistas entre eles o Almandrade ;Claudio Tozzi em 1984, além de uma coletiva reunindo  12 artistas para comemorar os 13 anos de fundação da galeria chamada "Rio-Bahia nas Águas das Artes", entre eles Justino Marinho , Zivé Giudice, Bel Borba , Anísio Dantas , Chico Diabo e  Jadir Freire ; Asênsio em 1985; Lígia Milton em 1986;Aprígio em 1987; Mário Cravo e Caetano Dias em 1989, dentre muitas outras.
Enfrentou com determinação durante anos as dificuldades impostas pelo incipiente mercado de arte baiano , com seus altos e baixos. Sempre com um sorriso nos lábios a querida Jacy acolhia a todos com o seu carinho quase maternal. Vi muitos artistas que hoje seguem suas carreiras vitoriosas sendo acolhidos por Jacy, que muitas vezes comprava seus quadros a fim de garantir-lhes a sobrevivência, mesmo estando o mercado em momentos de recessão. 
 Sérgio Velloso, Chico Diabo  Jacy Britto , 
Liane Katsuki e Justino Marinho. 
É importante lembrar o contexto quando  nosso país passou  durante os anos que se seguiram à chamada abertura democrática a conviver  com vários planos econômicos e  inflação galopante. Muitos destes planos foram catastróficos para a economia do país , e assim piorava o mercado de arte.
As pessoas ficavam preocupadas com a própria sobrevivência , e como a arte não é um produto de primeira necessidade, deixavam logo de adquirir obras de arte. Assim muitas galerias fecharam suas portas, e a Jacy Britto continuava firme no seu propósito de lançar novos artistas e de comercializar arte.
Jacy Britto faleceu no ano passado no dia 8 de maio. Não fui ao seu sepultamento porque estava ausente de Salvador , e lamento não estar presente para prestar-lhe a última homenagem, o que agora faço aqui para que fique registrado o nome desta figura ímpar, que tanto fez pela arte da Bahia.

DEPOIMENTOS :

O mestre Juarez Paraíso
Juarez Paraíso - " O universo das galerias de arte ultrapassa os limites de sua função comercial e alcança a esfera da educação artística. O surgimento da arte moderna na Bahia, nos anos 40,contou apenas com alguns espaços expositivos e uma única galeria de arte , a Galeria Oxumaré, que funcionava no mesmo prédio do então Hotel Plaza , na Vitória. Nos anos sessenta , surgiram duas importantes galerias a Quirino e a Convivium. Mas, nos anos setenta , um dos destaques coube à Galeria O Cavalete, de Jacy Britto   , Dona Jacy, como era melhor chamada. Estimada por todos os artistas, a sua educação e gentileza, a distinguia como uma verdadeira dama das artes plásticas. Dedicada principalmente aos artistas baianos , foram centenas de exposições de artistas já consagrados , mas principalmente de artistas jovens, emergentes ou não. As exposições eram sempre bem preparadas e bastante concorridas , devido a dedicação e o profissionalismo de Dona Jacy. E lá estiveram de Mário Cravo Jr.  à maioria dos artistas da década de 70."

Leonel Brayner 
Leonel Brayner - "Minha primeira exposição em Salvador foi em 1977 na Galeria O Cavalete de Jacy Brito. Ela  não era apenas uma galerista e marchand, mas sobretudo uma apaixonada pelas artes e pelos artistas. Além de prestigiar seus trabalhos criava uma amizade quase maternal com todos eles. Certamente eu não seria o pintor que hoje sou se não tivesse tido o apoio e amizade de Jacy em meus primeiros dias nesta abençoada terra de Nosso Senhor do Bonfim. Jamais a esquecerei."
Leonel Mattos
Leonel Mattos - "Uma grande marchand, incentivadora e gostava de reunir os artistas todas as tardes na sua galeria. Realizei três exposições individuais na Galeria O Cavalete  e numa delas Jacy adquiriu todos os quadros, com o objetivo de ajudar a seguir o meu caminho. Entendo que a Bahia deve uma justa homenagem dando um nome de uma rua a Jacy Britto ou de um espaço cultural. Os baianos precisam valorizar mais seus verdadeiros valores ",
Zivé Giudice 

Zivé Giudice - "A atividade de galerista e marchand, quando exercida com a nobreza, generosidade, acuidade conceitual e senso crítico como o fazia Jacy Britto, proprietária da Galeria O Cavalete, contribui não só para a ativação do mercado de arte, mas, sobretudo, participa do processo civilizatório, quando divulga e oferece ao público, a produção de seus artistas. Jacy sem perder o senso crítico , foi uma espécie de mãezona dessa geração. Generosa, apaziguadora, mediava sempre os conflitos de ordem estético e conceitual. A Galeria  O Cavalete , durante as décadas de 70 e 80 protagonizou as mais conceituadas exposições de arte contemporânea, de artistas baianos e brasileiros. Figura extraordinária."
O artista Almandrade
Almandrade - "Comecei a frequentar a Galeria O Cavalete em meados da década de 1970, a galerista Jacy Britto sempre foi receptiva com os artistas emergentes e cedeu seu espaço para as nossas primeiras exposições no mercado de arte. Muitos dos artistas surgidos nos anos 70 participaram de exposições na Galeria O Cavalete, eu mesmo participei de algumas coletivas entre o final de 1970 e a década de 80. Jacy Britto com sua generosidade manteve a galeria à disposição de nossos projetos e deu uma contribuição e incentivo na renovação do cenário de Artes Plásticas na Cidade do Salvador."


Sérgio Velloso
Sérgio Velloso - "Jacy Britto, a querida amiga e proprietária da galeria O Cavalete reduto artístico e cultural da cidade nos anos 70 /80 foi uma mulher à frente de seu tempo. De personalidade forte, sensibilidade aguçada, livre de preconceitos, de grande conhecimento artístico e conduta singular na direção de sua famosa casa de arte, como marchand competente e exigente na qualidade dos trabalhos que ali seriam expostos. Não distinguia na maneira de acolher e no trato, os grandes expoentes das artes plásticas , ou os novos talentos que ela sabiamente identificava e lançava no mercado com o seu incentivo e respaldo . Impossível separar a profissional competente  do ser humano especial que habitava naquela figura tão elegante e tão simples na sua maneira educada e delicada de tratar a todos, sem distinção. Os almoços  que ela promovia aos sábados em sua residência , reunindo os amigos para celebrar a vida com arte e alegria , foram momentos marcantes na vida de todos que tiveram a oportunidade de desfrutar daquelas reuniões inesquecíveis sempre homenageando um artista da cidade ou personalidades de fora, de passagem por Salvador. O mundo mudou. O mercado de arte tomou novos rumos e formas, assim muitos não entenderão o sentimento e sensação de que nada será como antes, para quem teve a honra e o privilégio de conviver e trabalhar com figura única e brilhante como
 Jacy. !" 
Justino Marinho
Justino Marinho - "Conheci Jacy Britto na segunda metade dos anos 1970. Era uma pessoa maravilhosa  um ser humano sensacional. Mãe de 6 filhos, e também uma espécie de mãe de dezenas de artistas. Uma pessoa muito importante na minha vida. Foi um marco nas artes da Bahia. Promoveu muitos jovens e realizou grandes exposições. A Galeria O Cavalete funcionou no Rio Vermelho e depois em Ondina. Fiz uma exposição na galeria em 1985.Foi através de Jacy que conheci vários artistas. O então desconhecido pintor Aurelino era assíduo frequentador da galeria,  e foi Jacy uma das pessoas que comprou  seus primeiros trabalhos e iniciou a sua divulgação. Uma curiosidade: Acreditem ou não,  a Janis Joplin e o roqueiro Sergei almoçaram com a turma na casa de Jacy, num dia de sábado. Muitas outras figuras importantes  também almoçaram conosco". 
reynivaldobritoartesvisuais.blogspot.com




6 comentários:

  1. A pesar de que naquele momento eu ainda nao fosse profesionalnente conhecida,tive o prazer e orgulho de ser amiga de Jacy Brito e expor no Cavalete.

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    1. Jacy Brito era un ser muito especial. Uma grande amiga dos artistas,'ajudando - nos por amor a Arte.
      Ela foi um passo adiante na Arte em Salvador. Muito obrigada Reynivaldo por escrever este belo e emocionante artigo

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  2. Como filha me sinto orgulhosa e agradecida a todos envolvidos

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  3. Que linda e merecida homenagem. Parabéns!

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  4. Cristiana Britto - Reynivaldo , estou emocionada e agradecida. Você foi a primeira pessoas que prestou uma homenagem depois que minha mãe se foi.

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  5. Domingos Leoneli - "Muito comovente para mim e para minhas irmãs, Vera, Margareth,Cristiana, Maria Clara e meu irmão Carlito, a leitura da excelente matéria feita por Reynivaldo Brito sobre nossa mãe Jacy.
    Com um excelente texto, o jornalista Reynivaldo Brito que é também um dos mais importantes críticos de arte da Bahia, registra a importância de Jacy Britto e da Galeria o Cavalete para as artes plásticas nas décadas de 70 e 80. Principalmente realça o seu papel de apoiadora dos jovens artistas plásticos. Mais do que uma dona de galeria, Jacy foi um incentivadora das artes na Bahia. A matéria traz também emocionantes testemunhos de alguns dos mais relevantes artistas plásticos da Bahia como Juarez Paraíso,Leonel Brayner, Leonel Mattos, Zivé Giudice, Almandrade, Sérgio Velloso e Justino Marinho. Obrigado Reynivaldo do fundo de nossos corações.

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