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quinta-feira, 25 de junho de 2020

IVO VELLAME E SEU ENTUSIASMO PELOS NOVOS TALENTOS

Ivo Vellame, (primeiro à direita)
À  esquerda vemos  Reynivaldo Brito,o Reitor da Ufba,
  professor Luis Fernando Macedo Costa. Não consegui
identificar os demais que aparecem na foto.
Conheci Ivo Vellame no Colégio Salesiano  , localizado no bairro de Nazaré, em Salvador, Bahia ,  nos idos dos anos 50 quando era um dos internos da chamada divisão dos Menores. Existiam três divisões a dos Menores, Médios e Maiores. Esta separação era feita pelos padres salesianos com o objetivo de evitar conflitos , hoje conhecidos por buillyngs ,que acontecem durante o relacionamento entre  crianças e adolescentes. 
Ivo Vellame, aos 30 anos.
O professor Ivo Vellame ensinava no curso ginasial as disciplinas História e Geografia. Sempre entusiasmado por tudo que fazia, lembro do seu  esforço em transmitir conhecimentos a mim e meus colegas, a maioria de origem do interior do Estado. Não éramos muito estudiosos e disciplinados, embora o Salesiano primasse por uma disciplina rígida , fora dos padrões de hoje.
Depois fui encontrá-lo como professor de História da Arte, da Escola de Belas Artes, da UFBA, onde chegou a ser seu Diretor, além de Pró-reitor de Graduação da Universidade Federal da Bahia. Nesta ocasião trabalhava no jornal A Tarde e o professor Ivo com seu entusiasmo natural , sempre trazia um aluno ou um novo talento que  entendia  merecer incentivo. 
Certa vez me levou durante uma tarde ensolarada  para conhecer um jovem que trabalhava com spray  e aerógrafo na garagem de sua casa, no bairro do Canela. Confesso que naquele instante não saí muito entusiasmado pelo que vi. Porém, o entusiasmo de meu ex-professor, e então  amigo Ivo era tanto, que resolvi ficar calado. Tomei as anotações necessárias e fiz um pequeno texto para a minha coluna de Artes Visuais. O Professor Ivo estava certo. Atualmente este jovem, que tateava os seus primeiros passos, foi estudar na Escola de Belas Artes, e é um dos mais talentosos artistas da sua geração.
Participei como jurado de vários Salões Universitários que  promovia, bem como  de outros eventos que ocorreram nos anos 70 e 80. Sempre estávamos conversando através do telefone  ou em  encontros casuais. Mesmo àqueles que tiveram pouco contato pessoal com Ivo Vellame puderam ver sua atuação em seus escritos nos catálogos de exposições e mesmo nas reportagens de jornais e revistas.
Ivo Vellame era  um desses personagens envolvidos com a Arte feita na Bahia , a qual  não cansava de procurar maneiras de incentivar. Sabemos que este segmento cultural transita num ambiente de  divergência e concorrência , onde grupos se estabelecem naturalmente  por afinidades filosóficas, ideológicas e conceituais. Muitas vezes esses grupos são antagônicos e se repelem. O professor Ivo com seu jeito singular conseguia transitar entre esses grupos sempre procurando uma participação mais abrangente e democrática . Nasceu em 2 de janeiro de 1930 e faleceu aos 65 anos de idade, em 16 de agosto de 1995.

DEPOIMENTOS - 
Malba ,  viúva de Ivo Vellame
Malba Vellame - " É fácil falar sobre Ivo Vellame, professor, Diretor da Escola de Belas Artes, Pró-Reitor e Crítico de Arte reconhecido nacionalmente. Um estudioso e dedicado às Artes Plásticas. Suas aulas eram apaixonantes porque ele prendia a atenção pela maneira de dissertar a matéria e por sua empolgação, que contaminava os ouvintes. Eu mesma fui sua aluna na Belas Artes, depois de casada,  e posso atestar o que digo.
Contribuiu de modo intenso na formação dos artistas das gerações das décadas de 70 e 80 como Zivé, Murilo, Guache Marques, Bel Borba e tantos outros. Foi um excelente pai e um ótimo avô. Era alegre e gostava de dançar o que fazíamos na Boite Kirsch, no Ondina Apart Hotel, e de frequentar o  Bar Canoa, no então Hotel Meridian. Nasceu no dia 2 de janeiro de 1930 e faleceu em 16 de agosto de 1995 aos 65 anos de idade, e tinha  muita vida para viver".

Professor Juarez Paraíso

Juarez Paraíso - "Ivo Vellame era professor no Ginásio Baiano de Ensino, dirigido pelo notável educador Hugo Balthazar da Silveira. Ivo ensinava História e eu Trabalhos Manuais e Desenho, no curso noturno. Dos nossos constantes encontros e conversas, nasceu uma sólida amizade. Ivo Vellame era também funcionário do Centro de Estudos Afro-Orientais criado em 1959, por Agostinho da Silva, no reitorado de Edgard Santos. Disse-me que, por motivos pessoais, estava se desligando do CEAO, ocasião na qual o convidei para ensinar na Escola de Belas Artes. Como seria apenas uma transferência, e pela confiança nas minhas escolhas, o Diretor da escola, o professor e pintor Mendonça Filho, atendeu ao meu pedido. Eram tempos dos anos de 1960, quando a Escola estava abandonando as antigas metodologias do realismo-acadêmico e adotando novas teorias e práticas criativas. A cadeira de História da Arte era ensinada pelo notável professor Conceição Menezes, e, como não havia disponibilidade imediata, Ivo ficou como meu assistente da Cadeira de Modelo Vivo. Ficou encarregado de organizar uma pequena biblioteca com livros referentes a presença do modelo vivo no desenho e na pintura. Mas foi um mero pretexto para a sua presença na Escola, que se concretizou definitiva, até o seu falecimento.  Neste interregno, sua presença tornou-se importante, imprescindível, não só para a Escola, como Diretor (1976-1980) e professor de História da Arte, mas também para o cenário artístico baiano, como Crítico de Arte. Ocupou uma importante função no Departamento Cultural da UFBA, foi responsável pelo Salão Nordestino de Artes Plásticas, Salões Universitários de Artes Plásticas e Visuais, 1° Feira de Arte Experimental, e muitos outros importantes acontecimentos. Fui brindado com uma crítica sua sobre os meus trabalhos de Arte."


Fernando Freitas Pinto-" Ivo Vellame foi um importante professor, historiador da Arte Contemporânea,  da Escola de Belas Artes, Critico de Arte e Pró- Reitor de Graduação da Universidade Federal da Bahia.
Tive o privilégio da sua amizade e de vivenciar   a sua cátedra .Escrevia com inteligência e fluência nas avaliações e valorizações das Artes Plásticas e Visuais, nos contextos da estética, técnica, historicidade, ideia criativa e beleza. Temas esses que também geravam boas discussões que deixaram saudade!!
Tenho dois belos escritos de sua autoria que fazem parte da minha memória artística e guardo também boas recordações e lembranças de sua amizade.
Ivo, faleceu em 1995, aos 65 anos , deixando um legado de sabedoria, intelecto e amor à família, a Arte e a Cultura." 
Na foto vemos da direita para esquerda Ivo, sua esposa Malba, Graça Bittencourt e Fernando Freitas Pinto.

Bel Borba - "Nosso saudoso Ivo Vellame foi meu professor de História, no colégio Antônio Vieira,
O artista Bell Borba
quando eu tinha 12 anos de idade. Só nos reencontramos quando  me visitou no atelier do Canela, seis anos depois, e na ocasião me fez o convite para uma exposição individual na Galeria Cañizares , da Escola de Belas Artes da UFBA. Exposição essa que seria o meu primeiro vernissage em 1975.
Por diversas vezes o professor Ivo  fez a defesa de artistas baianos no início de suas carreiras estimulando, promovendo e premiando jovens talentos aqui, e em diversos outros estados do Brasil.
Durante muitos anos Ivo Vellame  acompanhou minha produção com seu olhar experiente, análise e crítica construtiva. Foi muito importante para me situar no início da minha carreira,  principalmente graças a ele  voltei minha atenção para fora da Bahia, e comecei a participar os salões nacionais, em diversos estados do Brasil, e até fora do país , conquistando destaque e prêmios ."
O artista Zivé Giudice 

Zivé Giudice - "Um diretor e professor comprometido conceitualmente com a Escola de Belas Artes e um democrata. Quando cheguei à Escola , na década de 70, dois professores, de pronto, mantive um permanente diálogo; Juarez Paraíso e Ivo Vellame. Os dois representavam de modo efetivo, uma ideia de contemporaneidade da instituição, na construção de um currículo que incorporasse o pensamento e os conceitos contemporâneos das  artes plásticas. Ivo era um incansável na articulação com outros centros acadêmicos e com a própria UFBA, representada pela  Coordenação de Extensão, para a consolidação dos Salões Universitários. Logrou êxito nos seus pleitos. Salvador sediou importantes salões durante sua gestão. Na segunda metade dos anos 70, tivemos a ideia de criarmos um atelier coletivo num dos galpões, o Nº 9, depois do expediente das aulas. Fui conversar com Ivo Vellame para que autorizasse o acesso à Escola. Estávamos em pleno governo militar, e como se sabe, estudantes reunidos fora do período de aula, era terminantemente proibido. Ivo, com seu espírito democrata, fazendo advertência para não nos excedermos, liberou. Nesse galpão se originou, por afinidades conceituais, e por afeto, o que se conhece como Geração 70. Ivo Vellame, deu um fundamental contribuição à EBA, administrativa e conceitualmente falando."


Caetano Dias - " Cursei Letras na UCSAL e não Artes Plásticas na EBA, uma pena porque  perdi a oportunidade de ter ampliado as minhas possibilidades de percepção e compreensão do universo da arte com pessoa tão positiva, cordial e de grande sensibilidade, especialmente no campo das artes visuais.  Mesmo nos poucos  momentos de convivência com ele na EBA, ousaria dizer que  foi uma bússola na minha vida artística, por tanta franqueza, empatia e saber. 
Esses instantes foram de  fundamentais ensinamentos, e também na leitura de seus escritos que balizaram o meu percurso artístico, poderia afirmar que cursei a Escola de Belas Artes em brevíssimos pontos de generosidade com o grande mestre." A foto ao lado o autorretrato do artista




3 comentários:

  1. Malba Vellame - Reynivaldo muito obrigada pelo artigo, ficou ótimo como tudo que escreve.Um grande abraço da sua amiga.

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  2. Teresinha Carvalho: Muito bom conhecer a história de pessoas que contribuíram ou ainda contribuem para o desenvolvimento da cultura , e da arte baiana .
    Pelo que estou conhecendo agora , o professor Ivo Vellame , pessoa que contribuiu não só para a educação , não foi só como um professor , mas contribuiu bastante também para o desenvolvimento da arte , e da cultura baiana ; foi historiador , ainda crítico de artes , bastante conhecido no meio artístico .
    Deixou um grande legado cultural , grandes lembranças na memória dos seus alunos , e admiradores das artes , conforme depoimentos importantes .
    Continuo achando quanto é relevante ter conhecimento das histórias de vida destas pessoas .
    O texto está muito rico em informações sobre a vida do professor Ivo Vellame .
    Que outros artigos deste nível possam ser escritos e divulgados para nós , tão carentes de cultura.

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