Novembro de 2003
Texto Reynivaldo Brito
Estamos vivendo um momento muito
difícil em todo o mundo, fruto da globalização de um sistema financeiro que
deixa milhões de pessoas na exclusão social. O nosso país particularmente,
sempre um emergente que insiste em seguir os mandamentos colonialistas, é um
dos que mais registram esta exclusão. Mas dentro deste mesmo país, que exclui
milhões de seus filhos, temos alguns momentos de alegria com o nosso futebol
vencedor, com a melhoria de um índice qualquer que mede o desenvolvimento e,
principalmente, com sua arte pulsante, seja na música popular, nas artes
visuais, no teatro, no cinema, seja em outras manifestações populares. Ao olhar
as obras dos artistas brasileiros, especialmente dos baianos, reacende a minha
esperança, não a esperança guiada por uma estrela cadente, mas na criatividade
do artista brasileiro, que ainda não foi descoberto pelos grandes mercados
desta globalização.
Tenho acompanhado de perto alguns
deles. Vejo e sinto as inúmeras dificuldades, que se manifestam nas mínimas
coisas, como na falta de dinheiro para comprar suporte para registrar a sua
criatividade. Com o empobrecimento da classe média, os compradores sumiram. Mas
os artistas resistem e produzem suas obras, mesmo não tendo para quem comercializar.
Faço estas considerações com o simples intuito de lembrar às pessoas como é
difícil fazer arte aqui, pois os incentivos quase inexistem. E chego até a Bel
Borba, que vi começar fazendo seus primeiros desenhos em pedaços de papel, numa
pequena garagem da casa de seus pais no bairro do Canela. Enxerguei juntamente
com o saudoso Ivo Vellame, a sua potencialidade criativa e acreditei no seu crescimento, na sua
explosão. Não deu outra.
Aí está Bel Borba já apresentando
os seus primeiros cabelos brancos, mostrando para todos nós que a quietude não
é seu forte.
Ele saiu das galerias e museus e
ganhou as ruas. Com cacos de ladrilhos coloriu paredes, barrancos, casas de
burguesias e levou seus animais para hospitais e todos os lugares possíveis. Em
Portugal, criou numa esquina uns quebra-molas com a figura de homem estendido
com os braços abertos. Agora reencontro o artista trabalhando em 21 pinturas em
acrílica sobre telas de 1,70 x 1,40 inspiradas nas fotos que o inesquecível
etnólogo e fotógrafo francês Pierre Verger produziu desde seu desembarque em
Salvador, nos idos de 1946. Notamos uma verdadeira transposição de momentos e
flagrantes da vida da gente e da paisagem baianas numa releitura de fotografias
para a pintura em acrílica numa linguagem contemporânea. Este é o Bel que nos
encanta e que consegue manter viva a nossa esperança, com a sua arte vigorosa e
popular.
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