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sábado, 15 de maio de 2021

EMÍDIO MAGALHÃES E A PLACIDEZ DE SUA OBRA

O mestre Emídio Magalhães numa exposição .

Era uma tarde qualquer no meio de uma semana  quando telefonei para Emídio Magalhães, professor  aposentado da Escola de Belas Artes e um dos  grandes retratistas que a Bahia já conheceu.  Acertamos a entrevista  para o dia seguinte, e lá fui  encontrá-lo . Me recebeu com um sorriso cheio de  placidez e sabedoria. Os cabelos brancos  e  mostrando uma calma fruto da sabedoria e da   existência que nos presenteou com belas obras . Sua  casa tinha uma vista privilegiada para o mar em  plena  Enseada dos Tanheiros, no bairro da Ribeira,  próxima ao prédio onde funciona a Sorveteria da Ribeira, tão conhecida e procurada pelos baianos.Anos depois, soube que adquirira  uma nova moradia  e com sua família foram morar pras bandas da orla marítima. Comprou novos materiais de pintura e estava com muitos projetos e vontade de pintar. Mas, não conseguiu realizar o seu sonho. Foi fazer  a uma cirurgia de catarata dos dois olhos simultaneamente e ficou totalmente cego . Deixou mais esta lição. Não faça cirurgia de seus olhos dos dois ao mesmo tempo. Emídio Magalhães Lima  nasceu no ano de 1905 e faleceu em 1990.

                                                             SUA TRAJETÓRIA
O famoso retrato do
reitor Edgard Santos
 No ano de 1930 ele concluiu o Curso de Pintura na Escola de Belas Artes e   participou do concurso para professor adjunto de Desenho, da Escola Técnica   da Bahia, tendo sido aprovado e exercido a função durante dois anos. Em  1932  ganhou o Prêmio Caminhoá , com direito a uma viagem para estudar na   Europa, porém, o Governo da Bahia de então não liberou os recursos para que   pudesse seguir viagem. 
 Já em 1939 recebeu a Medalha de Bronze, no Salão Nacional de Belas Artes,   e  a partir daí foi premiado com medalhas em quase todas as suas   participações  em salões. Em 1950 ganhou a Medalha de Prata com a obra   "Retrato de Devesa", no Salão Paulista de Belas Artes.
 Em 1953 ocupou o cargo interino de professor de Desenho Ornamental, na Escola Técnica, de Belo Horizonte, função que exerceu até 1957, quando foi convidado pelo então diretor da Escola de Belas Artes da UFba para ministrar, como professor contratado as aulas  no Curso de Pintura. Foi um dos grandes sucessores do mestre Presciliano Silva.Como bom retratista que era pintou o reitor Edgard Santos, os professores da Faculdade de Medicina da Bahia Arestides Novis,  Antônio Luiz Cavalcanti de Albuquerque de Barros Barros , Eduardo Diniz Gonçalves e Eduardo Albertazzi Diniz Gonçalves. Em 1957 recebeu a Medalha de Ouro no Salão Baiano de Belas Artes . 
Baiana de Acarajé de
da minha coleção
.
 Em 1961 seguiu a carreira de docente como professor da Escola de Belas  Artes, da qual foi diretor a partir de 1967. Talvez sua produção artística seja  um pouco limitada diante do seu grande talento porque ele se envolveu em  várias transferências de local e decisões administrativas relevantes para o  futuro da EBA, tomando parte também de decisões administrativas relevantes  Em 1963 recebeu a Medalha de Ouro, no Salão Nacional de Belas Artes,vencendo vários de seus colegas , inclusive o seu mestre Presciliano Silva.
 Participou nos anos 1939,43,44,49 e 51 do Salão Nacional de Belas Artes,  no  Rio de Janeiro. Nos anos 1949 e 50 do Salão Paulista de Belas Artes. Em  1959 da exposição Um Século da Pintura Brasileira, no Museu de Belas  Artes,  do Rio de Janeiro. Em 1957 do Salão Nacional de Belas Artes, em  Salvador. Nos anos 1967,69,70 e 76 de mostras na Panorama Galeria de Arte, em Salvador, da qual era o Patrono, segundo informa a artista e galerista Anna Georgina. No ano 2000 foi postumamente homenageado com uma exposição  100 Anos de Emidio Magalhães , na Galeria Cañizares, da Universidade Federal da Bahia. 
Publico aqui um texto escrito em 2007 por Juarez Paraíso sobre o professor Emidio Magalhães, onde ele ressalta as suas qualidades artísticas e também o seu jeito simples de ser. 
      O título do texto é O   Mestre Emidio Magalhães. Vejamos:
Vaqueiro de Couraça
 "Conheci o Mestre Emidio Magalhães logo após a aposentadoria de   Presciliano Silva, quando ocupou o seu lugar no ensino da cadeira de   Pintura.  Fui seu aluno durante três anos e cultivamos uma preciosa e   duradoura amizade. Pintou o meu retrato, “de corpo inteiro”, obra premiada   no Salão Nacional de Belas Artes, o qual eu tive o prazer de oferecer para o   acervo da Escola de Belas Artes, em 1997. Fui seu aluno durante a década de   1950, ao lado de Sante Scaldaferri, Riolan Coutinho, Mercedes Kruschewski,   Yêdamaria, Augusto Bandeira e tantos outros de tão prezada memória. Dos   grandes mestres da Academia, Jair Brandão, Mendonça Filho, Alberto   Valença e Ismael de Barros, Emidio Magalhães era o mais modesto, mas não menos talentoso. Dotado de uma excepcional habilidade e domínio técnico na área da pintura realista, dispensava o emprego tradicional do desenho como suporte para a realização de suas pinturas, principalmente com o gênero de retratos que oferece enorme grau de dificuldades. Atacava diretamente a tela com o seu pincel carregado de tinta, com golpes certeiros, sempre precedido de intensa concentração. Pintou inúmeros retratos, para vários particulares e instituições, sempre buscando “o caráter psicológico” do
Nu feminino 
acervo EBA.
 retratado, independentemente do seu  caráter físico, o que sempre conseguiu com  sucesso e extraordinária riqueza plástica.  Dentre outros, extraordinário exemplo é o  retrato do Reitor Edgard Santos, que se  encontra na Reitoria da UFBA. Conhecido e respeitado nacionalmente ,  Emidio  Magalhães foi bem sucedido nas exposições e salões nos quais apresentou os  seus  trabalhos, sendo premiado várias vezes no Salão Nacional de Belas Artes.  Comprometido com as causas sociais, sempre passou para os seus alunos a sua  necessidade de expressar   respeito pela vida e pelas pessoas mais simples, através da  arte da pintura. O seu “realismo social” está bem expresso em pinturas como “O  Bebedor de Pinga”, “Baiana do Acarajé de Saia Rosa” e o “Vaqueiro das Ilusões”. A  fatura pictórica de Emidio Magalhães é caracterizada pela pincelada “gorda”, carregada de tinta, ao contrario das pinceladas curtas e econômicas de Presciliano ou Valença. A sua pincelada não indica apenas a cor local, pois imprime também a energia da ação exercida pelo artista em busca do movimento mais expressivo no modelado dos planos anatômicos, o que enriquece o seu Realismo honesto e sem truques, aumentando a importância artística dos seus retratos, superando os limites da simples fotografia dos seus modelos."



24 comentários:

  1. Se ele produziu nem tão extensa obra, sua biografia deixa claro que o excelente pintor, sobretudo retratista Emiídio Magalhães foi bem atuante e colaborativo para a arte da pintura.

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  2. A quebra da ilusão em Emídio Magalhães: magia, traço, cor e técnica.

    Como descrever os detalhes da alma, quando parecem tão infinitos, por meio de expressões faciais permitidas pelo desenho seguro, tornados possível pela cor. Está nos olhos a janela da alma?

    Não, é muito mais que isto, Emídio Magalhães em seu oficio de pintor e desenhista aprisionou em retratos a alma, o caráter e o pensamento de seus contemporâneos, seus retratos são perpetuações continuadas de vida daqueles que se dispuseram a serem filtrados por sua retina e reconstruídos por sua hábil mão.

    Não se pode negar em seu trabalho um que de melancolia, que por sua vez remete a um sentimento triste de nostalgia.

    Amigos, parentes e pessoas ilustres, vivem hoje em sua obra pictórica, obra esta de cunho realista academicista, com suaves toques de modernidade equilibrados num classicismo de outrora.

    Emídio Magalhães ,nascido em Salvador em 1905, foi aluno da Escola de Belas Artes da Bahia de 1926- 1931, como seu mestre Prescíliano Silva tornou-se retratista maior, pintor e desenhista, partindo do Impressionismo numa fase inicial de sua carreira, enveredando pelo pontilhismo mais tarde.

    Artista premiado, foi professor em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, na EBa Ufba lecionou, onde posteriormente veio a torna-se diretor, morreu em Salvador em 1990.

    Emídio fixou em imagens de grande sensibilidade e valor, hábitos regionais como o fez nas baiana de acarajé seus tabuleiros e vestimentas características. Sua paisagem retrata paisagens e tipos humanos com marcante expressividade.

    Em sua imensa galeria fulguram nus que evocam a obra de Gauguin, retratos de jovens ,adultos e anciãos, onde lhes são conferidos personalidade e vida própria, sem esquecer da intensidade psicológica de seus auto-retratos, marinhas intimistas, e paisagens com ascendência na técnica pictórica do empaste espatulado de Cézanne, pintor impressionista.

    Nesta exposição que acontece na EBA UFBA na Galeria Canizares em comemoração aos seus centenário, formam reunidos retratos, paisagens ,nus, marinhas e auto-retratos.Em sua grande maioria retratos convencionais donde alguns destes com ecos cézannianos como se faz no retrato do escultor e amigo Ismael de Barros, ou mesmo o Barroco de Franz Halls, evocado na pincelada de seu bebedor de pinga com ares de esboço.

    Seus nus remontam a estética Pós-impressionista de Paul Gauguin em sua Taitianas, assim como suas paisagens contém laivos impressionista que faz o expectador se reportar a Pissarro dado sua fragmentalidade na pincelada.

    Com isto a Bahia está a altura dos grandes centros artísticos do mundo, na figura saudosa do mestre Emídio Magalhães, caracterizando aspectos plásticos relacionando-os a todos os gêneros das artes visuais ,sobressaindo-se em todos com o mesmo apuro técnico e maestria.

    Certamente este já é parte importante das referências icônicas de nosso imaginário, por sua pluralidade de gênero e grandeza quantitativa na produção plástico-visual do último século.

    Sendo assim entendemos que a expressão dos sentimentos deve ser o objetivo central de sua arte.

    Por: Ed Carlos Alves de Santana

    Formando em Artes Plásticas pela EBA UFBA
    Ter, 02/10/2007

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  3. Ed Carlos Alves Santana
    Este texto escrevi a pedido de Rosana Baltiere, curadora da Exposição de Emídio em 2007

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  4. Anna Georgina Rocha Cardoso
    Ficou muito boa a sua reportagem.
    Essa foto foi tirada por mim, na varanda da Panorama Galeria de Arte, no Garcia em 1967.

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  5. Severina Ferreira Severina Ferreira
    É uma paisagem linda,pena que não saiu colorida, parabéns pelo seu trabalho, é um trabalho muito bonito.

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  6. Maria Das Graças Santana
    Linda pintura do Emílio, a baiana, o vaqueiro Seu trabalho Reynivaldo é muito lindo e importante resgata o trabalho dos antigos pintores. Parabéns!

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  7. Liane Katsuki
    Emidio Magalhães foi un grande ser humano e excelente professor.
    Tenho o orgulho de ter sido sua aluna na Escola da UFBA

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  8. Ivo Neto
    Parabéns amigo Reynivaldo Brito o professor Emídio Magalhães foi um dos mestres da pintura do meu.pai artista plástico Ivan Lopes.

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  9. Geraldo Leony Machado
    Avô de Paulo Roberto Vicente Lima, meu genro.

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  10. Domingos Brito
    Essas pessoas que passaram e fizeram parte das belas artes é que são verdadeiras celebridades.

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  11. Raimundo Vasconcelos
    Grande Mestre, a mão segurava um pincel que nem uma pluma, planando sobre telas... Fantástico!

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  12. Maria Adair
    Foi meu professor na Escola de Belas Artes

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  13. Jodevania Alves
    Bravo! Excelente trabalho em contar histórias e imortalizar grandes artistas.

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  14. Therezinha Carvalho
    Através destes textos nós leitores do blog e seguidores desta página, estamos conhecendo os grandes artistas plásticos baianos. A cada semana , mais um talento é apresentado.
    Os mais antigos, como também os mais novos, cada um com sua história de vida, suas obras e suas especialidades .
    Com certeza para que estes textos cheguem até nós, para cada vez mais enriquecer os nossos conhecimentos, deve ser trabalhoso para o autor. Pois, para que tudo isto aconteça deve haver uma pesquisa cuidadosa e assim apresentar esta riqueza de detalhes importantes da vida de cada artista.

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  15. Vera Spínola
    Através do blog tenho conhecido personagens do mundo artístico da Bahia através de textos acessíveis de leitura bem agradável. Utilizei depoimentos de Emídio Magalhães no livro de minha autoria Conversando com a Pintura de Alberto Valença...obrigada Reynivaldo Brito

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