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sábado, 27 de julho de 2024

JOSILTOM TONM E SEU MUNDO ESCULTÓRICO

Josiltom Tonm envolvido por suas
belas esculturas
 no seu ateliê.
O
s galeristas, marchands, colecionadores, e outros atores culturais precisam prestar mais atenção no conjunto da obra escultórica do artista Josiltom Tonm que há mais de meio século vem criando seus entalhes e esculturas em madeiras e pedras diversas com muita qualidade técnica, leveza e  delicadeza que o transporta para o campo do lirismo. Ele vive sozinho, quase como um ermitão em sua casa-ateliê, na Rua Carinhanha, no bairro do Pernambués, em Salvador, onde suas esculturas estão arrumadas em prateleiras, nas paredes e algumas dependuradas. Não se apresenta como deveria nas redes sociais para mostrar suas obras, e assim pessoas que comercializam e gostam de arte tomariam conhecimento e passariam a procurá-lo. Também notei quando ficou diante de mim que sua conversa não flui no primeiro momento com muita facilidade, embora no decorrer de nosso encontro ele discorreu com inteligência sobre sua obra. Quando senti seu retraimento brincando falei. “Ficou travado?” Ele tomou aquele choque e continuei perguntando e provocando até que foi falando do seu processo de criação e passou até se queixar das dificuldades em mostrar o seu trabalho. Esta entrevista foi possível porque o procurei através uma lembrança de sua colega de profissão a competente Lygia Aguiar. Posso afirmar que Josiltom Tonm é um  escultor que pode mostrar suas obras em qualquer museu daqui e do exterior pela qualidade da técnica, pelo uso correto dos materiais que usa como suporte para se expressar, pela qualidade e inventividade do design moderno e da leveza de suas peças. Está aí uma boa sugestão de se promover uma exposição retrospectiva dos cinquenta anos de arte do Josiltom Tonm para que seja apeciada parte de sua produção pelos que gostam de arte e em particular de esculturas.

Escultura em madeira , datada de 2013.
O seu nome de batismo é Josilton Ribeiro Nunes, assim mesmo com n no final do primeiro nome, e  escolheu assinar suas obras Josiltom Tonm, por isto que encontramos nos textos escritos sobre ele diferenças na maneira como passou a ser  identificado. Ele nasceu em Alagoinhas em oito de dezembro de 1951 e é filho do ferroviário João de Deus Nunes e Zilta Ribeiro Nunes. Fez seu curso primário e até o segundo ginasial no Ginásio de Alagoinhas. Em seguida veio para Salvador  concluindo o segundo grau no Colégio Estadual João Florêncio Gomes, no bairro da Ribeira, em Salvador-Ba. Em 1976 prestou vestibular para a Escola de Belas Artes, e não estudou o suficiente para ser aprovado e terminou sendo selecionado na segunda opção que era Ciências Contábeis. Chegou a cursar apenas dois meses porque ali não era realmente a sua praia, como se diz no popular. Quando vieram para Salvador o Josilton e sua família foram morar no subúrbio de Paripe. Estava com dezenove anos de idade e foi lá que viu pela primeira vez um entalhe. Ele não se recorda exatamente onde estava o entalhe, mas foi a partir daí que passou a se interessar e a fazer seus primeiros entalhes. Depois numa evolução natural chegou às  esculturas de madeiras e  pedras.

Escultura sem título de Josiltom .
Conheço desde os anos 70 o artista Josiltom Tonm que me procurou na redação do jornal A Tarde com alguns entalhes de uma exposição que iria fazer na Galeria da Associação Cultural Brasil-Estados Unidos - ACBEU, no Corredor da Vitória, no ano de 1977. Era um total de dezesseis entalhes e quatro esculturas que o então jovem artista ia mostrar ao público baiano. Nesta época Salvador tinha várias galerias e outros espaços onde os artistas podiam expor suas obras e o movimento de pessoas nos vernissages era expressivo. As galerias imprimiam catálogos, às vezes simples, outras mais caprichados, dependia do patrocinador que também oferecia um coquetel. Existiam umas tribos já conhecidas que não perdiam um vernissage onde eram servidas bebidas e salgadinhos à vontade, e distribuídos gratuitamente os catálogos para todos os presentes. Era um bom programa para quem não tinha grana para gastar na noite baianae gostava de arte. Depois foi escasseando e os coquetéis passaram a ter apenas prosecco de péssima qualidade e nada de salgadinhos, até que também quase desapareceram.

Duas esculturas onde Josiltom usa varetas
de vários tamanhos e tipos de madeira para
construir suas obras.
Foi nesta época então que registrei na coluna Artes Visuais a sua exposição. Era um iniciante que começava a dar os primeiros passos. Mostrei a necessidade de continuar esculpindo , trabalhando e estudando. O tempo passou, e, de repente, ele volta para mostrar-me seus novos entalhes. Fiquei surpreso com o crescimento do artista que trabalhou com formas abstratas e algumas formas insinuavam os corpos sensuais de mulheres. Veio e trouxe algumas considerações pessoais sobre o trabalho que estava realizando, no contato diário com as madeiras, que prefiro transcrever na íntegra para que vocês tomem conhecimento que não é mais um entalhador sem consciência que faz a coisa por instinto. Ele possuía informações, as quais usou com muita propriedade. Vejamos:

Aqui vemos um bela escultura feita de
calcita ,em posições diferentes. Destaco
a forma e a cor de mel desta obra . A
pedra veio da Cidade de Santa Luz-Ba.
Na arte de entalhar, e nela venho me expressando, através de desenhos exercitados onde, às vezes, consigo com alguns traços, focalizar instantes que de imediato interpreto, sinto, desde já a possibilidade de o desenho ser transformado em entalhe. Quanto ao sentido do meu trabalho, onde se desenvolve o problema vida-vidências o ritmo que está presente nas formas orgânicas da natureza; a simetria que aparece de um modo inconsciente; a proporção, principalmente, quanto à característica tensão entre o homem e o material que ele trabalha, são elementos que podem surgir formando um equilíbrio quase constante. Independente da figura global que é um desdobramento ou um amontoado de outras figuras que muitas vezes, olhadas de outro ângulo, tem o conteúdo alterado, podendo então se notar o significado da simplificação da figura como preocupação primordial.”

Era, portanto, o esforço e um sentimento do jovem artista em expressar através

O artista não costuma colocar títulos em
suas obras.Deixa ao critério do espectador
viajar em seu universo onírico. Esta 
escultura feita em madeira e mármore
do Espírito Santo lembra um animal.
de palavras este universo e momentos mágicos da criação onde o criador está diante do suporte que pode ser uma tábua,  tronco de madeira ou um bloco de pedra, todos de tamanhos variáveis os quais  vão se transformar numa obra de arte. Pode parecer fácil para alguns, mas com certeza não é, porque são sentimentos quase indescritíveis, são sentimentos em outra dimensão onde os neurônios estão trabalhando muitas vezes calmamente noutras em ebulição e aí vão surgindo os talhos, os cortes e no caso da pintura as cores mais fortes ou mais claras, os espaços a serem  preenchidos e novos desafios surgindo durante o processo de esculpir, pintar ou desenhar. Um talho forte ou uma composição formal harmoniosa
caracterizam o trabalho de Josiltom que está expondo na Galeria ACBEU. Uma obra criativa e cuidadosa onde aparecem totens geometrizados completamente originais. As figurações sugerem através das formas geométricas rostos e coisas, mas não existe qualquer semelhança com totens produzidos por artistas populares africanos.

O toque pessoal é presença no trabalho deste jovem artista. Ainda cheio de interrogações, em busca de respostas para tudo, Josiltom vai falando do seu trabalho e das dificuldades que enfrenta para prosseguir o seu caminho, que certamente será coroado de êxitos. Percebo a sua tendência para a escultura, inclusive ele está mostrando quatro, mas ainda não representa um trabalho mais acurado e definitivo. Quanto aos entalhes são de boa qualidade e as tonalidades suaves dão um contraste harmonioso ao conjunto. Suas peças, todas apresentando uma tendência geometrizante, não são repetitivas, o que demonstra sua capacidade criativa. Acredito em Josiltom e desejo acompanhar de perto o seu trabalho.”

                                                   OPINIÕES

Escultura em madeira de
1978, sem título. Lembra 
os abraços fraternos.
C
omo escreveu a Sofia Olszewski numa das exposições do Josiltom Tonm "A escultura é um objeto tridimensional que exige do observador uma contemplação de todos os ângulos para apreciação do todo. Nesse caso, o todo são peças grandes, sólidas e simples que incluem o discurso a própria essência da pedra. De acabamento polido, refletem o exterior e mantém a figura oculta da pedra. A abstração não significa ausência, mas a deliberada retirada do Tema para que este não interfira na contemplação do espectador".

Em junho de 2001 levado por sua filha Kadi o saudoso escultor Mário Cavo Jr. esteve visitando a casa-ateliê de Josiltom Tonm quando escreveu que o artista estava seguro do que fazia e de sua habilidade em trabalhar com a calcita (carbonato de cálcio cristalizado), cujos trabalhos que produziu apresentou no foyer da Casa do Comércio. O experiente Mário Cravo Jr. disse que "A calcita é um minério muito resistente e difícil a penetração de ponteiros e abrasivos, seu polimento é lento e o domínio das formas é exaustivo e laborioso. A cor de mel com rajadas cremes amarelados tem a magia do jade e madrepérola, é translúcido, porém até certo nível. Os trabalhos apresentados tem duas vertentes: levemente penetrados e os vazados (perfurados). Além do total controle das esculturas sob o aspecto das formas, o escultor apresenta uma série homogênea e coesa de trabalhos, com variáveis limitados nas soluções de tratamento de superfície, e que empresta ao grupo de esculturas "unidade", raro de ser encontrada em exposições de objetos tridimensionais. De que me é dado conhecer até o presente momento, aqui em Salvador, é Josilton uma poderosa revelação de criatividade, no sentido construtivo e inventivo. Seu ateliê merece ser conhecido pelos que gostam das artes visuais".
Esta potente escultura ilustrou 
a capa do catálogo da exposição
na ACBEU, em 2013.

Também o saudoso Edson Calmon escreveu em 2004: O escultor e a pedra: O secreto de um é o silêncio do outro. A solidez de um é o possível dos dois. O silêncio, a pedra, e lá está o escultor, fica dias seguidos, às vezes parado, imóvel, em frente à pedra. Escuta o seu silêncio, desliza o olhar pela sua forma curva, sensual e forte. Espera do ângulo, o momento ângulo, o escultor faz um corte, às vezes raso, outros profundos, o corte. Assim dirigido, o bloco compacto permite que o espaço penetre. Não raro o corte permite que outra massa venha a agregar à primeira. Assim também acontece com as peças em madeira e em cimento. Dessa maneira surge a inusitada arquitetura". 

                                                EXPOSIÇÕES

Escultura em mármore branco, de 2004.
INDIVIDUAIS - Fez muitas exposições individuais e coletivas e recebeu algumas premiações durante sua trajetória artística. Vejamos: 1974 – Exposição na Biblioteca Central dos Barris, em Salvador-Ba; 1975 – F.E.P.A., Alagoinhas-Ba; 1977 – Entalhes e esculturas na Galeria ACBEU, Salvador-Ba ; 1978 -Esculturas  na Galeria Cañizares, Salvador-Ba ;  Museu da Cidade do Salvador-Ba; 1979 – Gabinete Português de Leitura, Salvador-Ba; Museu Regional de Feira de Santana-Ba; 1980 – Restaurante Natural, Rio de Janeiro-RJ; 1981 – Galeria da Aliança Francesa, Salvador-Bahia; 1982  - Exposição no Instituto Cultural Brasil Alemanha- ICBA, Salvador-Ba; 1983 – F.E.P.A, Alagoinhas-Ba, Montagem de Duas Propostas; Agreste ou Vamos para a Terra III na Revivênciado Símbolo e Arte Hidrofílica , Uma Solução Aquosa para Uma Questão Urbana; Galeria de Arte do SESI, São Paulo-SP; 1984 – Montagem da proposta: O Canteiro Circular e a Cerimônia Final;  Itaú Galeria de Arte, Brasília-DF; 1985 -  Exposição na F.E.P.A – Alagoinhas-Ba; 1986 – Exposição na Prefeitura Municipal de Irará-Ba; 1987 – Exposição no foyer do Teatro Castro Alves, Salvador-Ba; 1989 – Mostra na Casa da Cultura Galeno D’Avelirio , Cruz das Almas-Ba ;  Exposição no Centro de Cultura Ceciliano de Carvalho, Senhor do Bonfim-Ba; 1990 – Exposição no Centro 
Os entalhes marcaram o
início da carreira .
de Cultura de Alagoinhas-Ba; 1993 – Exposição de Esculturas nno foyer do Cine-Teatro Casa do Comércio, Salvador-Ba; 1994 – Exposição na Casa de Chá Engenho Velho, Alagoinhas-Ba; 1995 – Exposição no Restaurante Grão de Arroz, Salvador-Ba; 1996 – Exposição no foyer do Cine-Teatro Casa do Comércio, Salvador-Ba; 1997 – Nova exposição no Restaurante Grão de Arroz, Salvador-Ba; 1998 – Exposição do Póstudo Restaurante, Salvador-Ba; 1999 – Exposição no Teatro dos XIII, Salvador-Ba; 2000 -Exposição no All Home Design Decorações – Esculturas Aéreas, Salvador-Ba; Mostra na Galeria Pedro Arcanjo, Série Barcos, Salvador-Ba; 2001 retorna a expor no foyer do Cine-Teatro Casa do Comércio com a mostra Vazados, Esculturas e Objetos em Calcita, Salvador-Ba; 2002 – Exposição Cabeças e Máscaras, na Galeria do SEBRAE, Salvador-Ba; 2003 – Exposição no Ateliê do Atrista – Relevos em Madeira e Pedra, Salvador-Bahia; 2004 – Exposição Esculturas em Mármore, no Museu Geológico da Bahia, Salvador-Ba; Exposição de Esculturas em Madeira e Pedra, na Bahia Home Decorações, Salvador-Ba; 2007 – Exposição Esculturas Aéreas, Salvador-Ba; 2009 – Exposição A Casa, Feira de Santana-Ba; 2014 – Exposição O Tempo é Yang , Esculturas em Relevos e Madeira; Exposição Esculturas na Galeria ACBEU, Salvador-Ba  e em 2016 – Exposição O Caracol de Clarysse e a Gangorra Rasteira, Salvador-Ba.


COLETIVAS1973 – I Feiram, Alagoinhas-Ba; 1976 – Galeria Cañizares,
Escultura em granito.
Veja a forma e as 
nuances de cores 
 da obra de Josiltom.

Salvador-Ba ; 1978 – Exposição Confronto de Esculturas da Bahia, Galeria O Cavalete, Salvador-Ba; I Semana de Arte de Alagoinhas-Ba; I Salão da FUMCISA no Museu de Arte da Bahia, Salvador-Ba; III Feira de Arte, Galeria O Cavalete; 1979 – I Festival de Arte de Itapuã, Salvador-Ba; Exposição Cadastro, Museu de Arte Moderna da Bahia; F.E.P.A, Alagoinhas-Ba; Exposição Galeria Orixás Center, Salvador-Ba; 1980 – Exposição Proposta no Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador-Ba; III Encontro de Cultura de Alagoinhas-Ba; 1981 – Exposição Projeto II na F.E.P.A, Alagoinhas-Ba; I Encontro de Artistas Plásticos do Nordeste, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador-Ba; Exposição no Museu do Recolhimento dos Humildes, Santo Amaro da Purificação-Ba; 1982 – IV Salão de Artes Plásticas de Alagoinhas-Ba; I Festival Interiorano de Arte, Alagoinhas-Ba; 1983 – Participa da Execução do Altar e Púlpito em Pedra, da Catedral de Alagoinhas-Ba; Exposição na SATE Galeria de Arte, Alagoinhas – Ba; 1985 – Exposição Álbum de Gravuras e Poesias, na SATE Galeria de Arte; Exposição de Outono, na SATE Galeria de Arte , Alagoinhas-Ba; 1986 – Exposição Interferências: Fotografias e Esculturas, SATE Galeria de Arte, Alagoinhas-Ba;
Uma bela escultura em mármore onde 
o artista demonstra sensibilidade e
controle do uso  do material.

 IX Salão Nacional de Artes Plásticas, Recife-PE; 1987 – Exposição Escultura na Praça, Alagoinhas-Ba; 1988 – Exposição Projeto Verão, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador-Ba ; 1991 – Exposição no Idearium, Barra Grande, Salvador-Ba ; Centro Cultural de Alagoinhas- Ba; 1993 – II Bienal do Recôncavo, São Félix-Ba; FCBA – IV Salão Regional de Artes Plásticas de Alagoinhas, quando recebeu o Primeiro Prêmio de Escultura; 1998 – IV Bienal do Recôncavo, São Félix-Ba; 2006 – Exposição Natureza Reverenciada – Galeria de Arte do EBEC, Salvador-Ba ; 2012 – XI Bienal do Recôncavo, quando ganhou o Prêmio Aquisição, São Félix-Ba; 2014 – Exposição Circuito das Artes, Galeria Aliança Francesa, Salvador-Ba ; Exposição Bahia Contemporânea, Roberto Alban Galeria de Arte; 2015 – Exposição Triangulação – Circuito das Artes, no Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador-Ba ; 2016 – Exposição Acervo da ACBEU em comemoração aos 75 anos, Galeria ACBEU, Salvador-Ba.


sábado, 20 de julho de 2024

MURILO O CONTADOR DE HISTÓRIAS DA CONDIÇÃO HUMANA

Murilo retocando uma tela no 
 ateliê na Av. Vasco da Gama.
O artista Murilo Ribeiro desde que iniciou a pintar vem contando suas histórias focadas na condição humana daquelas pessoas que sofrem, fazem as outras pessoas rir e também de personagens de romances que leu de autoria  dos escritores  Hermann Hesse, de Ernest Hemingway, dentre outros,  também vultos da História que deixaram suas marcas por seus feitos. Por trás do pintor se esconde um cineasta que no pequeno espaço de uma tela vai resumindo histórias que dariam para fazer documentários ou mesmo roteiros de filmes de longa-metragem. Cada tela lembra   uma cena, take ou tomada de um filme. Ele tem a percepção de criar a ambientação, os figurinos, os coadjuvantes e assim constrói sua pintura como se fosse uma testemunha disposta e revelar todos os detalhes e segredos e o comportamento daquelas pessoas que participaram da história. Murilo Ribeiro se considera um contador de histórias . Nos anos que passou lidando com alunos, e com seus colegas no museu que dirigiu por dezesseis anos e nas fazendas que teve ao longo dos anos sempre estava atento ao que se passava ao seu redor para captar as histórias da gente simples que lida com o gado e a terra, a cultura  e de quem mais lhe chamar a atenção. Tive a oportunidade de ver de perto o seu cuidado ao pintar um novo quadro. O Murilo Ribeiro trabalha preparando a tela em várias camadas de tinta e cola, e vai observando o que cada camada pode lhe oferecer para pintar uma nova história. Quase sempre aparecem formas e manchas que sugerem uma figura humana ou mesmo de um animal doméstico, a cobertura de um circo, um carrossel, um personagem de um romance que leu e lhe marcou, e assim ele começa a estruturar a sua nova obra sempre prevalecendo a figuração em seu estilo expressionista com uma explosão de belas cores.

Obra "O Alegre Entardecer no Morro das
Umbaranas.

O Antônio Murilo de Lemos Ribeiro ou simplesmente Murilo Ribeiro nasceu na bela Penedo, no estado de Alagoas, em vinte e seis de fevereiro de 1955, cidade que fica às margens do Rio São Francisco e que tem uma história rica. Seu avô Anfrísio Freire Ribeiro era médico e teve um total de 23 filhos e pertencia a elite cultural e econômica da cidade.  É filho de Antônio Lessa Ribeiro e Glória Maria de Lemos Ribeiro e seus pais vieram para cá a fundaram a fábrica de Linhos Nossa Senhora de Fátima, no bairro da Ribeira. Foi durante o  governo do general Juraci Magalhães, e a propaganda da indústria dizia que o governador vestia Linhos Fátima. Durante as férias o jovem Murilo sempre retornava para Penedo onde tinha suas amizades e parentes mais próximos, portanto nunca perdeu as suas raízes de homem do interior. Aqui morava no Chame-Chame e depois na Rua 8 de Dezembro, no bairro da Barra. Foi estudar o pré-primário até o segundo ano no Colégio Sacramentinas, que depois se transformou em colégio só de meninas, que fica no bairro do Garcia, em Salvador, próximo ao Colégio Antônio Vieira para onde ele foi transferido logo depois. Quando o padre Silvino, que era do Vieira, foi ser diretor do Instituto Social da Bahia - ISBA, no bairro de Ondina, seus pais os transferiram para lá por ser bem mais perto de onde moravam. O ISBA era considerado um dos melhores colégios de Salvador e foi fechado permanentemente em 20 de outubro de 2020,  sua sede está sendo demolida. Ao concluir o seu curso colegial fez vestibular em 1974 para a Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia – EBA, iniciando o curso no ano seguinte. 

"Violência", pintura de 1977.
Lá se entrosou facilmente com seus colegas e passou a vivenciar o movimento artístico e cultural que nesta época era efervescente em Salvador. No ano 2000 resolveu também estudar Filosofia e fez vestibular onde cursou por dois anos. Mas, devido a necessidade de trabalhar deixou a Filosofia e foi para o mercado de trabalho. Abriu o seu ateliê no Pelourinho, Centro Histórico de Salvador, onde permaneceu por doze anos, mas houve um período que a área perdeu o seu glamour porque os governos que se sucederam não tiveram a mesma política de preservação do patrimônio histórico dos anteriores e a área virou foco de marginais,  mal policiada,  o patrimônio se deteriorando. Hoje, está retomando aos poucos o seu antigo glamour, porém ainda com muitos problemas a serem resolvidos, principalmente a falta de conservação e a presença de marginais ligados ao tráfico de entorpecentes, além dos vendedores de quinquilharias abordando com agressividade os turistas.
O Murilo Ribeiro é de temperamento calmo, mas gosta de trabalhar e disse que nesses anos de profissão já pintou cerca de oito mil quadros, na época do Pelourinho vendeu muitos deles para turistas nacionais e estrangeiros. Disse que desde criança sempre foi um menino retraído e que aos treze anos de idade já pintava e vendeu seu primeiro quadro para Amauri Delavine Bueno. O comprador  era de Curitiba e a obra intitulada O Ridículo da Vida estava exposta  numa galeria f na Ladeira da Barra, mas ele não lembra o nome. A galeria pertencia a Antônio Saback,conhecido por Tonho Saback, irmão de Zito Saback proprietário da Bahiart
"Um Sonâmbulo Vai ao Circo Numa Noite
de Lua Minguante"
.
 Galeria, no Rio de Janeiro, que fez grandes mostras de arte de pintores famosos. A obra era sobre o universo de idiotas de uma aldeia.O Murilo conseguiu vender por CR$175,00. Portanto, já demonstrou com a sua primeira venda que o caminho a seguir era mesmo o das artes plásticas. Fez uma mostra no Clube Bahiano de Thenis, chamada o Universo da Aldeia, lembra que o tio José Lessa Ribeiro contribuiu para adaptar o espaço para que ele
pudesse expor e as colunistas July Isensée, pelo jornal A Tarde, e a Sylvia Quadros, que era médica e colunista social do jornal Tribuna da Bahia ajudaram muito na divulgação de sua exposição. Citou também o professor Ivo Vellame “que foi sempre um grande incentivador da minha obra e de muitos outros artistas jovens da Bahia”. Em seguida fez uma exposição na Galeria Anarte de July Isensée e Graça Coelho, que funcionava no shopping Iguatemi. Lembra que a duas exposições foram bem sucedidas e que vendeu muitas obras. Assim sua carreira artística começou a andar com mais velocidade e também passou a visitar os ateliês de Mirabeau Sampaio, de Emanoel Araújo e de outros artistas que já eram famosos na Bahia. Lembrou que nos anos 70 e 80 Salvador tinha um movimento artístico e cultural intenso com a presença de muitas galerias de arte e outros espaços onde os artistas mostravam suas obras. Disse que naquele tempo era muito mais fácil expor pela presença de muitas galerias e até mesmo as empresas patrocinavam os coquetéis, os catálogos e tinha também uma boa presença de visitantes. Falou de Jacy Brito, proprietária da Galeria O Cavalete, que funcionou por muitos anos no Rio Vermelho. Para Murilo Ribeiro a Jacy Brito “além de uma excelente galerista era uma pessoa diferenciada e quando entregávamos as obras ela já adiantava 50% do valor. Era uma verdadeira mãe para os novos artistas que começavam a se estabelecer no mercado.” Disse também que o Dimitri Ganzelevitch, tinha uma pequena galeria no Mercado Modelo e conseguia comercializar pelo preço praticado nas demais galerias e vendia especialmente para turistas americanos e europeus. Ele foi um dos participantes da Exposição Geração 70, que organizei com muito sucesso no Museu de Arte da Bahia, em 1985.

"O Vendedor de Algodão Doce".

O artista Murilo Ribeiro trabalhou doze anos seguidos no Teatro Castro Alves, oito anos na Escola Técnica Federal ensinando arte e durante dezesseis anos à frente do Museu Rodin, que foi extinto e transformado no mambembe Museu de Arte Contemporânea, que é um espaço totalmente inadequado para este fim. Fez questão de salientar que nunca usou o cargo de diretor do museu para seu proveito pessoal, trabalhou sempre focado em servir a arte e aos baianos. “Fizemos boas exposições, inclusive muitas com catálogos. Trabalhei com um grupo de pessoas jovens competentes e dispostos a servir. Foi, portanto, uma experiência enriquecedora. Hoje estou  completamente voltado para o meu trabalho de pintor e tenho  como preocupação e foco principal o ser humano, as relações amorosas, filosóficas, de poder e conflitos. Trabalhei muito este universo do Cordel, do Nordeste, dentro das séries porque gosto muito de terra, de bichos. Eu sou um dos poucos artistas que tem o privilégio de estar aposentado”. 

Quanto à sua arte sempre trabalhou com séries definidas onde conta suas histórias e fez muitos figurinos e cenários para o teatro e espetáculos de dança, como por exemplo a primeira versão do Saltimbancos, aqui na Bahia. Trabalhou também com Lia Robatto e outros diretores de espetáculos de dança e teatro como o grupo Trancham. Ele entende que hoje não apenas na Bahia, mas também no Brasil não vivemos um momento profícuo nas artes e na cultura. “Acho que estamos assistindo um empobrecimento na cultura de modo geral em nosso país e particularmente na Bahia”. Disse que até mesmo no exterior está havendo um nivelamento por baixo e mesmo o cinema, a dança, as artes visuais não vemos grandes nomes no mundo inteiro. Ressaltou que não é saudosismo e sim uma simples contestação de uma realidade que nos deixa tristes. O seu projeto futuro é ainda deixar um livro sobre seu trabalho, mesmo que tenha que bancar. Eu ganhei alguns editais como dos Correios e da Caixa, mas hoje está mais difícil “Não sei como vou viabilizar, mas pretendo lançar um livro contando e registrando a trajetória de minha obra”, finalizou Murilo Ribeiro.  

                                                         OPINIÕES

"Fuga Para o Outro Lado da Terra".
Escreveu o professor da Escola de Belas Artes, Luiz Alberto Ribeiro Freire que o “Murilo Ribeiro compõe suas crônicas como um pintor cordelista, herdeiro que é da cultura do sertão são franciscanos, nascido na bela e histórica cidade alagoana de Penedo, da qual nunca se apartou, mesmo tendo se transferido com pouca idade para Salvador. Acresceu à cultura de sua terra natal, a cultura de Salvador, de épocas que a capital espelhava a cultura tradicional do recôncavo nas suas praças, ruas e feiras. Expandiu o conhecimento das várias baianidades viajando pelo território extenso do estado. Inventa histórias, reinterpreta, satiriza, ironiza e faz trocadilhos com figuras e pinturas famosas. Para desenvolver esses enredos, o pintor parte de um fundo abstrato e diz ser induzido por essas formas aleatórias, mas, certamente, sua mente vai elaborando o ambiente, as figuras e seus gestuais, configuradas em tons quentes, fortes e contrastantes. Tonalidades que nos remete aos “fauves” e, muito mais aos expressionistas....”

"Dança em Casa de Dona Mindú".
Também escreveu o restaurador de obras de arte José Dirson Argolo: “O que surpreende e encanta o espectador é o lirismo, a alegria quase infantil que emana de suas telas, o domínio extraordinário da cor e da forma, a liberdade absoluta de criar e de expor com tanta inventividade e poesia tudo o que lhe vem à mente. Nada o detém, Murilo não está preso a dogmatismos, a modismos, à preocupação com o mercado de arte... Seu compromisso é com a sua arte, resultado de suas vivências e leituras, retratando, com raro senso de humor, as alegrias e as dores do povo nordestino. Não podemos esquecer também de que a cor, na maioria das vezes vibrantes e contrastantes, além das texturas, são uma marca de sua expressividade. Nascido na histórica cidade de Penedo, Alagoas, às margens no Rio São Francisco, cedo seu olhar foi seduzido pelas formas sinuosas do barroco, presentes em várias igrejas e no casario colonial da cidade natal, olhar este ampliado com a sua vinda para Salvador, capital do barroco brasileiro. A influência desse estilo está presente nas cenas dramáticas, teatrais e, principalmente, no horror ao vazio, tal como nos cenários de óperas, que influenciaram o nascimento do barroco. Sua obra transmite alegria, humanidade, vida enfim. Ele acredita e aposta no ser humano. Suas composições, dotadas de excelência na comunicação com o público, nos envolve com sua aura de encantamento e romantismo” ...

                                                EXPOSIÇÕES

 "Os Náufragos", integrou a mostra no MAB
onde foram expostas  setenta obras
.
Em 1970 – Começa a pintar (autodidata); 1975 – Inicia Curso de Artes Plásticas na Escola de Belas Artes da UFBA; 1989 – Passa a residir na Chapada Diamantina. Cidade de Morro do Chapéu; 1992 –Retorna a Salvador; 1993 e 1994 – Viaja por todo o Estado da Bahia, conhecendo todas as regiões e seus diversos aspectos. 1997 – Inaugura ateliê e espaço para exposição permanente no Pelourinho – Salvador – BA; 2001 –Inicia curso de Licenciatura e Bacharelado em Filosofia na UFBA; 2015 –Começa a criar esculturas. Personagens da pintura.

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS1976 – 1a Exposição Série “Universo da Aldeia” – Clube Baiano de Tênis –Salvador – BA; 1977 - Galeria Expo – Matex – João Pessoa – PB; 1978 – Série “Lavagem Cerebral” – Teresa Galeria de Arte – Salvador – BA. 1982  – Série “Casa” – Galeria Funarte Macunaíma – Rio de Janeiro – RJ; – Exposição de Guaches na Galeria Aliança Francesa – Salvador – BA; Exposição Projeto:Um Homem sem casa é um espantalho - 1ª Etapa: Museu de Arte Moderna

"Os Cavaleiros do Apocalipse segundo
 Motorista do Táxi".
 da Bahia (MAM) – 2a Etapa: Foyer do Teatro Castro Alves; 1985 - Série “Astronautas Nordestinos” – Galeria O Cavalete – Salvador – BA; – Série “Lar Doce Lar” – Museu de Arte da Bahia (MAB) – Salvador – BA; 1992 - Museu de Arte de São Paulo (MASP) – São Paulo – SP; 1998 – Série “A Barca dos Homens” – Hotel Sofitel Quatro Rodas – Galeria Prova do Artista – Salvador – BA; 1999 – Exposição no Espaço Allan Haagensen – Genebra – Suíça; – Série “Brasil Brasileiro” – Galerie da Alliance Française – Paris – França; 2000 – “A Cidade da Bahia – Cenas de Romance de Jorge Amado” – Fundação Casa de Jorge Amado –Salvador – BA; 2004 – “Brasil Brasileiro” – Canning Centre – Londres – Inglaterra; – Série “Dona Flor” – FundHouse ação Casa de Jorge Amado - Jockey Club de São Paulo – SP; 2006 – Exposição no Hotel Sofitel Quatro Rodas – Galeria Prova do Artista – Salvador – BA. 2008 – “As cores dessa cidade” – Centro Cultural Correios – Salvador - BA. 2010 – “Brièves Histories Brasilienes” – Alliance Française Paris –França. 2010 – “A Cidade e sua Cor” – Espaço Cultural Caixa Econômica – Salvador B; 2022 – Murilo Ribeiro. Um contador de histórias. Série Eu nasci há dez mil anos atrás –Museu de Arte da Bahia.

                                                             PRINCIPAIS MOSTRAS COLETIVAS

Obra em execução onde vemos mais de
uma das camadas que Murilo trabalha
 até criar uma nova história.
1976 – Bienal Nacional de São Paulo – SP. 1977 – Exposição Centenário da Escola de Belas Artes – Museu de Arte Moderna – Salvador – BA. 1978 – “Arte Bahia Hoje” – Galeria de Arte Global – São Paulo – SP; Museu Nacional de Belas Artes – Rio de Janeiro – RJ; Museu de Arte Moderna – Salvador – BA – Recife – PE; João Pessoa – PB; Cuiabá – MT; Belo Horizonte – MG; Brasília – DF; Florianópolis – SC; Goiânia – GO; Porto Alegre – RS; Aracaju – SE; Curitiba – PR. 1979 – “Cinco Artistas Baianos” – Centro de Artes Homero Massena – Vitória – ES; Artes Plásticas Universitária Hoje – Salvador – BA; Exposição “Cadastro” – Museu de Arte Moderna – Salvador – BA. 1980 – Exposição “Proposta” – Museu de Arte Moderna (MAM) – Salvador – BA; “Agora Mostra Quatro” – Museu de Arte Moderna (MAM) – Salvador – BA. 1983 – “Artistas Contemporâneos da Bahia” – Museu de Arte Contemporânea de São Paulo – SP. 1985 – “Geração 70” – 1a mostra – Museu de Arte Moderna (MAM) – Salvador – BA; Exposição “Artistas do Galpão” - Galeria Múltiplos – Salvador – BA; Exposição Mab Galeria de Arte – Salvador – BA; Exposição Galeria O Cavalete – Salvador – BA; Exposição com Bel Borba – Galeria Múltiplos – Salvador – BA. 1986 – Exposição Época Galeria de Arte – Salvador – BA; Exposição “Baianos em Brasília” – Casa da Manchete – PRONAV/LBA – Brasília – DF; Exposição Convencional Internacional IBM – Centro de Convenções – Salvador – BA; Exposição “Castro Alves e a Geração 70” – Teatro Castro Alves – Salvador - BA. 1987 – Projeto Ambiental “E o lixo dançou” – Foyer do Teatro Castro Alves TCA – Salvador – BA; Exposição Galeria Raimundo Oliveira – Feira de Santana – BA; Mural de rua – Bairro do Rio Vermelho – Salvador – BA; Exposição de Artistas Baianos – IBC – Salvador – BA. 1989 – Exposição Projeto Nordeste – Fortaleza – CE – Maceió – AL
Obra O Espantalho, de 1979.

– João Pessoa – PB – Recife – PE - Salvador – BA. 1995 – Exposição de Artistas Baianos – Fundação Casa de Jorge Amado – Salvador – BA. 1996 – III Salão MAM Bahia – Museu de Arte Moderna – Série “Investigação sobre um estranho crime ocorrido em Alagoas” – Salvador – BA. 1997 – Exposição Comemorativa 150 anos do Poeta Castro Alves –Teatro Castro Alves (TCA) – Salvador – BA; Exposição “Músicos da Bahia” – Galeria Prova do Artista/Hotel Sofitel Quatro Rodas; Exposição “Artistas Contemporâneos da Bahia” – Centro Hispano 20 – Organizado pelo Museu de Arte Moderna da Bahia, Barcelona – Espanha. 1998 – “Tropicália 30 anos” – Museu de Arte Moderna (MAM) – Salvador – BA; Exposição no Museu Geológico da Bahia sobre o tema “A Bagagem”. 2007 – Fórum Mundial de Arte e Identidade Cultural – Astana – Cazaquistão. 2013 – Exposição 50 anos de Arte na Bahia – Caixa Cultural Salvador - 2016 – Exposição Santa ceia – Convento do Carmo – 2016 – Exposição Coletiva 40 anos de Linguagem Contemporânea no MAM-BA. – 2017 – Exposição AGOSTO DAS ARTES – Museu de Arte Moderna da Bahia - Exposição Revisitando Paris – Ateliê Leonel Mattos Salvador Shopping. - 2018 - AGOSTO DAS ARTES - Museu Palacete das Artes – 2019 –AGOSTO DAS ARTES – Museu Palacete das Artes. – EXPOSIÇÃO OS 7 SANTOS DE TERESA - Casa de Teresa; 2020 – AGOSTO DAS ARTES – EXPOSIÇÃO VIRTUAL

                              ATUAÇÃO COMO CENÓGRAFO E FIGURINISTA

Aqui a obra "O Velho e o Mar", inspirado 
no romance de Ernest Hemingway.
1977 – Peça teatral infantil “Os Saltimbancos” – Teatro Castro Alves (TCA) – Salvador BA; Espetáculo público de dança “Ao Pé do Caboclo” – Praça 2 de Julho – Salvador BA; Dança “Lavagem Cerebral” – I Concurso Nacional de Dança; 1978 – “Mobil-iz- ação” – Espetáculo itinerante de dança – Teatro Castro Alves – Salvador – BA; Espetáculo “Dança?” – Museu de Arte Moderna (MAM); Dança “Faça do seu coração uma bandeira” – II Concurso Nacional de Dança; 1979 – Espetáculo “Sina” – Teatro Castro Alves (TCA) – Salvador – BA; Dança “D. Quixote” – III Concurso Nacional de Dança – Teatro Santo Antônio – Salvador – BA;  1980 – Espetáculo “Cara Mais Cara” – Teatro do Instituto Cultural Brasil e Alemanha (ICBA) – Salvador – BA; 1987 – Cenografia da peça teatral “Cemitério de Anjinhos” – Sala do Coro do Teatro Castro Alves (TCA) – Salvador – BA ;  1998 – Criação de material promocional do musical “Tabaris” – cartazes, outdoor, folders e outros.

                                                                           PAINÉIS

"O Dia que Dom Quixote  enfrentou o
generalíssimo Franco em defesa do
poeta Federico Garcia Lorca".
Em 1978 – Painel na Escola de Odontologia da UFBA – Salvador – BA (destruído).1985 – Executa diversos painéis em vias públicas – Salvador – BA; Painel para a Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia – Salvador-BA; 1987 – Painel no Terminal Turístico da Navegação Baiana – BA (destruído); 1995 – Série de sete painéis para o Espaço Cultural Usina – Salvador – BA; 1998 – Realiza painel no Porto de Salvador – CODEBA;  2000 – Painel no Centro de Recursos Ambientais – CRA – Salvador – BA ; 2016 – Alegria de Viver – IBR.

                                             PARTICIPAÇÃO EM LIVROS

Livro “Brasília – Patrimônio Cultural da Humanidade” – Editora Spalla – Patrocinado pela Caixa Econômica Federal; Livro “Arte Contemporânea das Alagoas” – Patrocinado pela Salgema – 1989; Livro “Outras Cores” – Claudius Portugal – Fundação Casa de Jorge Amado – Salvador – Bahia – Patrocinado pela Telebahia – 1992; Livro “Castro Alves” – Comemorativo de 150 anos do poeta – Patrocinado pela Construtora Odebrecht, Banco do Brasil e F.C.E.B.A.; Verbete em inúmeros dicionários nacionais e internacionais de artes plásticas; Ilustrações para o livro “Revolução dos Alfaiates” (Para o Governo do Estado da Bahia) – 1998; Agenda comemorativa dos 450 anos da cidade de Salvador – 1999; Cem artistas plásticos da Bahia – 1999; Ilustração do livro do escritor Jorge Amado “Cinco histórias” – Fundação Casa de Jorge Amado – Salvador – BA - 2013 – Livro “ 50 anos de Arte na Bahia “ de Matilde Matos; – Livro Água reflexos na Arte da Bahia de Matilde Matos .

                                                       PRÊMIOS DIVERSOS

"O Povo do Circo e o Céu Estrelado".
Em 1997 – PrêmioJoão Francisco Lopes Rodrigues” – I Salão Nordestino de Artes Plásticas – Salvador – BA; Menção Honrosa no Salão de Artes Plásticas no VI Festival de Arte de São Cristóvão – SE; Primeiro Prêmio de Pintura no II Salão Nacional Universitário de Artes Plásticas – João Pessoa – PB; 1978 – Menção Especial com trabalho de Arte Integrada “Brota uma Cidade” – I Salão Universitário Baiano de Artes Plásticas; Primeiro Prêmio “Horácio Hora” – Salão de Artes Plásticas do VII Festival de Artes de São Cristóvão – SE; Prêmio de Pintura Salão Nacional Universitário de Artes Plásticas Vitória – ES; 1979 – Prêmio Especial de Pintura no VI Salão Nacional Universitário de Artes Plásticas – Florianópolis – SC; 1981 – Prêmio Concurso de Projeto do Museu de Arte Moderna da Bahia; 1985 – Prêmio Metanor / Copenor Destaque Artista – Patrocínio anual em diversos eventos; ; 1998 – Um dos vencedores do Concurso Público para a realização de painel sobre o tema “Salvador Porto e Mar” organizado pela CODEBA 2019 - CONCURSO PROJETO COWPARADE SALVADOR - projeto selecionado e realizado .

PROPOSTA DE PROJETOS

1997 – “A cor dessa Cidade” – Projeto de Galeria e Ateliê itinerantes pelos quatro cantos de Salvador; – Oficinas de Pintura a serem realizadas em hospitais psiquiátricos com internos; – Proposta de extensão para a Escola de Belas Artes da UFBA.

                                 
                  ATIVIDADES COM OUTROS VÍNCULOS

Obra "Cavaleiros entrando na Cidade".
De 1980 a 1984 – Professor da Escola Técnica Federal da Bahia – Arte Integrada a Educação – Atividade exercida até pedir demissão em 31/03/84; 1980 a 1989 – Técnico de Nível Superior – Atividades Culturais – da Fundação Cultural do Estado da Bahia; 1980 a 1987 – Teatro Castro Alves – coordenando eventos, publicações e exposições (mais de 600 atividades durante o período); 1987 a 1989 – Coordena a Divisão de Museus e Artes Plásticas na Fundação Cultural do Estado da Bahia (Atividade exercida até pedir demissão em 01/12/89); 1990 a 1992 – Dedica-se a atividades empresariais e artísticas no interior da Bahia – Região da Chapada Diamantina; 1992 a 1994 – Coordena pré-campanha e campanha para o Governo do Estado na área de viagens, eventos e de Marketing Político; 1994 a 1996 – Atividades com Marketing Político e campanha para Prefeituras diversas – Eleições 1996 ; 1997 – Assessoria ao Centro de Recursos Ambientais (CRA) na área de publicações, promoções, etc. 2007 a 2023– Curador e Diretor do Museu Palacete das Artes  em Salvador BA.

 

 

 

sábado, 13 de julho de 2024

SUZART A EXPRESSÃO DA CRIATIVIDADE ESPONTÂNEA

Suzart em seu ateliê pintando  modelo vivo.
A força da arte se manisfesta de várias formas e muitas vezes brota em ambientes que normalmente não seriam propícios ou esperados por aqueles que têm seus pensamentos e ideias preconcebidos. É esta mágica que envolve a criação, e a arte é essencialmente o momento em que o ser humano parte para conceber algo novo, algo que sai das suas entranhas envolvido nos conhecimentos e visões que adquiriu através do tempo. A liberdade de criar é o combustível e por ela sempre teremos que lutar para que cada ser humano, e em particular cada brasileiro, expresse livremente seus sentimentos neste momento sublime ato de criar e se expressar sem a preocupação de ser impedido pelo preconceito de outrem ou pela força do Estado. O artista que vou falar hoje é um criador nato, um libertário porque aprendeu quase sozinho a desenhar e pintar e hoje continua transitando livremente em várias técnicas com a maior espontaneidade. Desde criança que pinta e até expôs suas primeiras obras na cidade de Cachoeira-Ba ao lado do competente e na época já com idade avançada o Dante Lamartine, recentemente falecido. Seu nome de batismo é Valdiney Souza Suzart, nascido em dez de janeiro de 1967, na cidade de Feira de Santana, mas que foi criado entre as cidades de São Félix, Cachoeira e Muritiba, todos municípios baianos. Atualmente mora na cidade de Muritiba e de lá através as redes sociais mostra ao mundo sua arte assinando Suzart, o nome artístico que escolheu para identificar a autoria de suas obras nos vários estilos que as cria.

Obras surrealistas de sua autoria .
Sua família é formada por muitos policiais militares e civis e seu pai foi delegado de polícia em alguns municípios do Recôncavo baiano e ao se aposentar foi ser o chefe de segurança na Barragem Pedra do Cavalo, que reserva água para ser redistribuída pela Embasa para Salvador e várias outras cidades. O Suzart fez seu curso primário e primeiro ano ginasial no Colégio Estadual de Cachoeira e terminou o ginásio no Colégio Estadual João Batista Pereira Fraga, em Muritiba. Lembra que na sua adolescência gostava muito de jogar bola na rua e que fez sua primeira exposição de desenhos na escola onde estudava, e logo depois fez a segunda na Praça do Cinema, em Cachoeira, juntamente com o Dante Lamartine e outros artistas. Sua primeira individual foi na sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, também em Cachoeira.

                                           APRENDEU SOZINHO 

Quatro cartuns onde sobressai  o seu 
traço inconfundível.
É um autodidata não frequentou a Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, e nem mesmo os cursos livres nas Oficinas de Expressão Artística do Museu de Arte Moderna da Bahia ou em outro qualquer lugar, e lembra que começou mesmo a pintar em 1981. Sua arte brotou livre, e posso afirmar que tem um desenho de alto nível, com um traço que o identifica. Foi seu pai que era policial que comprou um cavalete, tintas e pincéis quando percebeu que seu filho ainda criança tinha uma tendência natural para a arte. Seus pais Valdomiro Suzart e sua mãe Dima Souza Suzart naturalmente tinham a preocupação com o futuro do filho e sempre o incentivaram a ter uma profissão paralela. Na época fazer concurso para o Banco do Brasil ou Petrobras eram algumas das boas opções para àqueles que não foram estudar numa faculdade. Mas, de nada adiantou porque o Suzart não perdeu o foco e só queria continuar pintando e melhorando a qualidade de sua arte.

Mas, com o decorrer dos anos o menino pintava cada vez mais, inicialmente com uma tendência a fazer obras surrealistas e hoje Suzart pode pintar uma paisagem em estilo tradicional como criar obras em outros estilos diferenciados. Mas, o que ele demonstra força é no seu desenho de traços finos e elegantes e nas pinturas com arabescos. Disse que as obras que lhe dão mais trabalho são aquelas onde ele pinta as figuras envolvidas em arabescos e que pode até levar mais de um mês para terminar uma delas. Ele também faz cartum, ilustração de livros, gravuras, pinturas e charges. Tem uma facilidade incrível em desenhar e mais recentemente está fazendo umas aguadas. São pinturas onde o artista mistura em diversas quantidades de água ou álcool uma tinta e dilui em intensidades de cor e assim surgem várias tonalidades no papel ou em outro suporte. As tonalidades aparecem mais espessas que as da aquarela.

Obra com a imagem envolvida em
 arabescos que dá mais trabalho.
Suzart vai ao ateliê todos os dias. Chega pela manhã, sai para almoçar e retorna para continuar. Disse que às vezes vai até aos sábados e domingos vai trabalhar no seu ateliê, principalmente quando tem um trabalho sob encomenda para entregar. Vive exclusivamente da sua arte, e embora more na vila que foi edificada quando da construção da Barragem do Cavalo, para os funcionários, em Muritiba, mantém regularmente publicações nas redes sociais. Procurou aprender ao longo dos anos várias técnicas para expressar a sua arte e tem consciência da necessidade de valorizar cada vez mais o seu trabalho. “Não quero vender por vender a qualquer preço, tenho clientes que colecionam a minha arte e até já vendi para vários países. Porém, como vivo da arte às vezes posso ser obrigado a vender uma obra por um preço mais acessível já que preciso sobreviver e a dispensa de minha casa não pode ficar vazia”, confessou Suzart. Falou ainda que muitas vezes pode  estar sem entusiasmo para continuar criando suas obras em determinado estilo, por exemplo quando está pintando com elementos do surrealismo, ele muda para o figurativo ou expressionismo e assim vai diversificando sua forma de criar.  Atualmente está trabalhando numa obra de tamanho considerado grande para uma cliente que vem de Portugal para buscar a obra. Afirmou que não tem trabalhado com galeristas porque eles querem colocar preços bem abaixo dos que normalmente pratica junto aos colecionadores e clientes. Também  que não "adianta vender muito a qualquer preço, tenho que valorizar o meu trabalho."  Lembrou por exemplo que toda família de classe média de Cachoeira e outras cidades possuem uma obra Dante Lamartine, mas que ele sempre viveu em dificuldades. Eu tenho dois autorretratos que ele fez quando tinha vinte e nove anos de idade e que o  Cicinho que começou a pintar e ser reconhecido depois dos  70 anos de idade, quando estava aposentado da Leste Brasileiro, onde trabalhou por longos anos.  

Cartazes de exposições e  foto de
exposição no exterior.
Foi premiado na V Bienal do Recôncavo com uma instalação feita com seis panelas que recolheu em casa e com seus amigos e vizinhos que denominou As Marias. Segundo Pedro Archanjo, diretor do Centro Cultural Dannemann na época  o artista “indicou a trajetória para a elaboração de um discurso estético contemporâneo, nos possibilitando acreditar que estamos contribuindo com a articulação de fragmentos para a construção de uma linguagem cultural, visceralmente regional, não regionalista, que nos permite dialogar com o universal a partir de uma linguagem própria”. O Suzart recolheu essas panelas, de alumínio e apenas uma de aço inoxidável e deu uns cortes com um formão e os transformou em objetos de arte. Ele disse “tive um trabalho danado para cortar a de aço inoxidável com o formão. Não queria cortar numa serralharia. Os cortes tinham que sair imprecisos e irregulares”. Com esta premiação o Suzart foi para Berlim onde expôs e participou de um Workshop, depois foi para Dakar, Ghana e Miami mostrando a sua arte.

Mulher Negra com símbolos do candomblé.
A viagem que fez para os Estados Unidos  aconteceu por acaso. Ele estava em Cachoeira  na Fundação Hansen Bahia quando apareceu por lá um professor Jean Muteba que estava organizando um encontro internacional e o convidou para participar do African Diáspora Identities (Identidades da Diáspora Africana) em 2005 na Flórida, nos Estados Unidos. Ele inclusive na primeira oportunidade lhe perguntou por quê tinha escolhido ele já que era um homem branco e o congresso era sobre a arte negra. Segundo o artista o autor do convite disse exatamente porque você faz uma arte com influência e simbolismos africanos e não uma arte tradicional. Em Berlim, na Alemanha, participou juntamente com vários artistas africanos do IntrAfrica + África Meets South-América Meets Europe com Olu Amoda, da Nigéria; Kossi Assou, do Togo; Salif Youssouf Diabagaté, de Elfendeinküste; Akwele Suma Glory, de Ghana; Sidy Seck, do Senegal, Jean-Marc Siangue, de Kameron; Valdiney Souza Suzart, Brasilien e Werner Reister, da Alemanha.

                                            EXPOSIÇÕES E PREMIAÇÕES

Obra feita em 2003 no workshop,
em Berlim, na Alemanha.

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS1994 - Centro Cultural DANNEMANN, São Felix – Bahia ; 1997 - Museu de Arte Contemporânea ((MAC), Feira de Santana – Bahia ; 2000- Casa da Cultura Galeno Dr. Ávelírio, Cruz das Almas – Bahia; Fundação Museu HANSEN da Bahia, Cachoeira- Bahia; Espaço Calasans Neto, Teatro Jorge Amado, Salvador – Bahia; 2001 - Instituto Cultural Brasileiro na Alemanha (ICBRA), Berlin; O Pouso da Palavra galeria, Cachoeira-Bahia; 2005 - Grahan Center Art University, Miami – EUA;  2012 - Caixa Cultural Salvador-Salvador-Bahia; Caixa Cultural São Paulo-São Paulo; 2014- O Pouso da Palavra Galeria, Cachoeira-Bahia.

EXPOSIÇÕES COLETIVAS1989 - Panorama Galeria de Arte, Salvador- Bahia; 1984,1987 e 1989 - Museu SPHAN Pró – Memória, Cachoeira- Bahia ; 1998 - Museu de Arte Contemporânea (MAC), Feira de Santana- Bahia; 1998 e 1999 -Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural (IPAC), Cachoeira – Bahia; 1999 -Associação Cultural Brasil – Estados Unidos (ACBEU), Salvador – Bahia ; 2003 - Goethe Institut, Berlim – Alemanha ; 2004-Ghana-Africa; Senegal-África; 2005 - Camarões-África; 2006 -Centro Cultural Correios – Salvador-Bahia; 2007 - Kfua Galeria- Cachoeira-Bahia; 2008 -Café e Arte; 2010 - Pouso da Palavra-Cachoeira -Bahia; 2011 - Sobrado Arte Design-Salvador-Bahia; 2013, 2014 e 2015 ,2016,2017 e 2018 - Pouso da Palavra, Cachoeira-Bahia .

Suzart no ateliê após concluir obra.
SELECIONADO: 1981 - I Bienal do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann, São Félix- Bahia; 1993 - II Bienal do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann, São Félix –Bahia; 1998 - IV Bienal do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann, São Félix- Bahia; 1999 - Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, Feira de Santana- Bahia; 2000- V Bienal do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann, São Félix-Bahia; 2002 - VI Bienal do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann, São Félix – Bahia.

PREMIAÇÕES1998 - Prêmio Destaque Especial do Júri – IV Bienal do Recôncavo; 1999 - Menção Honrosa - Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia; 2000 - Grande Prêmio Viagem à Europa – V Bienal do Recôncavo.

PARTICIPAÇÃO2003 - Workshop INTRAFRIKA+ em Berlim, Alemanha.