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José Ignácio com esculturas de pequeno porte na sua exposição. |
Foi num ambiente de contemplação e emoção que
visitei a exposição Desperta, Ferro! do escultor José Ignácio que está aberta
ao público no Museu de Arte da Bahia, no Corredor da Vitória, até o dia 21 de dezembro
próximo. É um despertar da criação de engrenagens grandiosas e estranhas se agrupando e transformando em obras de arte que encantam, entusiasmam e nos
fazem pensar sobre a capacidade criativa infinita do ser humano. São vinte e
duas esculturas, algumas de tamanhos acima de dois metros que teimam em mexer
com os sentimentos mais profundos, mais nobres. Parece que o título Desperta,
Ferro! está lhe convocando para uma batalha de arte onde você tem a
possibilidade de apreciar a beleza e a grandeza em cada obra. Diz Alana
Silveira no texto que apresenta a exposição que este “era o grito catalão entoado
ante as batalhas medievais que ocorriam na região do Mediterrâneo. Os
combatentes riscavam as lâminas de suas espadas contra as pedras em seu chamado
pela força do metal frente ao perigo”.
Ao lado de José Ignácio pude sentir que ele se
emociona quando começa a falar diante de cada uma de suas obras. Tinha estado
com o escultor em junho de 2024 quando estava começando a montar a sua Iemanjá, agora
exposta com toda sua exuberância, feita de engrenagens, pedra e madeira. Vi seus
esboços e sua busca por formas e encaixes de suas
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Iemanjá que levou mais de um ano para ser concluída e que ele diz ter vivido uma experiência espiritual. |
esculturas. Um verdadeiro
quebra cabeças porque cada porca, cada pedaço de ferro com suas formas variadas
têm que se encaixar e combinar com a visão do artista. Daí vêm os cortes, as
soldas e o descarte até que tudo funcione dentro de uma composição lógica, harmônica e que
tenha beleza. Agora a vejo pronta, e de tanto trabalhar na sua criação disse
que estava em seu ateliê que fica na encosta da Gamboa de Baixo quando sentiu que uma
luz muito forte iluminou a sua Iemanjá como se uma entidade estivesse ali
falando com ele. José Ignácio fala de uma forma quase poética e cheio de emoção
deste momento mágico que teria vivenciado. Acreditem ou não, cabe aos
espiritualistas explicarem este fenômeno que afirma ter experimentado.
O artista é uma pessoa de grande sensibilidade,
arquiteto construtor e já morou em alguns países da América do Sul porque seu
pai trabalhava numa multinacional e sempre estava mudando de país. Seus pais
eram cubanos e segundo José Ignácio “por um acidente geográfico eu nasci no
Chile.” Lembrou que muitos de seus patrícios se dizem descendentes de alemães e
que normalmente não são bem humorados. Ele que chegou por aqui em 2018
sentiu-se mais confortável para viver e criar. Antes pintava, e foi na Bahia
que começou a fazer suas esculturas que hoje são reconhecidas em várias partes
deste país e até lá fora. É um apaixonado pela música e pela poesia dos grandes
poetas cubanos, chilenos, espanhóis e outros latinos, e de quando em vez envia
para seus amigos gravação de um poema ou de um pequeno texto literário. Também
gosta de ler sobre a História Universal a exemplo dos feitos dos hispânicos na
era medieval.
SEU MUNDO
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| Obra Princesa de Daomé. |
Quando lhe perguntei quantas esculturas estão expostas
ele passou a contar, e encontrou vinte e duas no salão. Encontramos outra na entrada onde estão
expostas as demais. Em seguida mostrou uma bala de canhão, encrustada numa
escultura e noutra uma peça que parece com dois chifres de um animal, que era
de uma máquina de padaria. Também vi pedaços de tubulações oriundos da
indústria petroquímica, engrenagens e chapas de todos os formatos e espessuras.
“Esta é a segunda linguagem do ferro, devem existir mais umas catorze”, disse
imediatamente o José Ignácio ao olhar uma escultura feita com vários pedaços de
grossos tubos semicirculares, que lembram pernas de um animal rastejante.
Também disse ser importante colocar nomes nas esculturas, como por exemplo, o
nome que deu a uma delas chamando de A Cabeça de João Evangelista. “Isto dá luz à obra, é um segundo motor”, adianta José Ignácio.
Suas esculturas além das peças de ferro e aço
que compra nos ferros velhos da Cidade ele recolheu algumas pedras na beira da
praia próxima ao seu ateliê, e troncos de árvores, e todos estes elementos incorpora nas suas obras. A gente quando olha suas esculturas pensa no trabalho
hercúleo que o artista teve para montar cada uma . Todas as peças estão à mostra permitindo que observemos como foram montadas e tudo com proporcionalidade. Disse o escultor que muitas vezes durante a montagem de
suas obras vai deixando algumas peças de lado, e que depois as reencontra e
algumas passam a ser esculturas independentes. Agora está fazendo esculturas menores que são mais fáceis de serem comercializadas no mercado de
arte.
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Obra Culhão de Boi, lembra um animal que rasteja. |
Suas esculturas lembram totens, divindades,
cangaceiros, soldados medievais e bichos que rastejam. Esta sua produção escultórica
permite várias interpretações em busca do entendimento das obras como se fosse
um jogo lúdico libertário muito estimulante e gratificante. É impossível ficar inerte
diante de uma escultura de José Ignácio sem a pessoa imaginar que não tenha
alguma aparência com algo que já viu ou imaginou. Portanto, esta sua combinação
de intuição pessoal e sua expertise de arquiteto construtor permite a ele criar
estas esculturas maravilhosas, e nos brindar com estes momentos de encantamento
prazeroso enquanto as observamos. Você está convidado a visitar a exposição de
José Ignácio no MAB, e tenho certeza que sairá de lá com a sensação que viveu
momentos de contemplação da força do metal e a leveza da criação. Vai vivenciar
momentos mágicos entre as entidades, personagens e bichos que ele criou.
A obra criada com material perene. O ferro sempre presente nas atividades humanas, e na arte, mostra sua beleza e durabilidade.
ResponderExcluirA obra criada com material perene. O ferro sempre presente nas atividades humanas, e na arte, mostra sua beleza e durabilidade.
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