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sábado, 8 de novembro de 2025

DAVID GLAT DIVIDIDO ENTRE A FOTOGRAFIA E OS BRINQUEDOS POPULARES

David em seu ambiente entre livros,
fotos, obras de arte e brinquedos
.
Durante décadas o fotógrafo carioca David Glat trilhou pelo caminho da fotografia publicitária, e a partir de 1991 passou também a trabalhar como designer gráfico, tendo realizado mais de cinquenta capas de LPs, CDs e DVDs e a partir de 2003 a se dedicar aos seus trabalhos autorais mais ligados à arte. Começou aos vinte anos de idade a colecionar brinquedos populares do Brasil e hoje tem uma vasta e importante coleção que soma mais de três mil brinquedos  produzidos por artesãos e artistas populares de várias partes do Brasil, principalmente das regiões Norte e Nordeste. Esta prevalência das duas regiões deve-se segundo diz o colecionador porque os brinquedos populares estão diretamente ligados à pobreza , condição econômica de seus usuários e criadores. O brinquedo popular surge inicialmente como uma necessidade de alguém criar um brinquedo para que as suas crianças possam brincar porque os  industrializados eram inacessíveis a esta gente que mora neste Brasil profundo. O primeiro brinquedo que comprou foi numa feira livre na cidade de Taubaté, em São Paulo. Era um carrossel feito de cerâmica, e o barro nem era cozido direito e com a força centrífuga, porque ele girava, e o tempo o carrossel  esfarelou, e não pode ser consertado. Hoje beirando aos oitenta anos de idade ele está catalogando e digitalizando todos os brinquedos, e seu sonho ainda não se realizou que é a criação de um Museu do Brinquedo Popular Brasileiro. Disse estar disposto a cooperar de todas as formas possíveis para que seu sonho se torne realidade e que seus brinquedos possam ser vistos por um maior número de crianças e adultos possíveis. Já fez algumas tentativas, inclusive se dispondo a fazer uma doação desde que todas as peças sejam reunidas num só lugar. Portanto, está aí uma boa oportunidade dos órgãos culturais do Estado ou a Prefeitura Municipal  a assumir este papel importante de criar o Museu do Brinquedo Popular  porque o valor das peças criadas por importantes artesãos e artistas populares de vários recantos deste país são de inestimável valor cultural e artístico. Seria mais uma importante atração turística para nossa Cidade.

 David Glat  mostra Pérolas Imperfeitas. Distorce 
a imagem propositadamente com movimentos e 
velocidade do clic, criando nova imagem artística.

Ele chegou à Bahia em 1976 e lembra que era o tempo da foto perfeita que fazia através de máquinas analógicas com a técnica e  sensibilidade do fotógrafo. Os equipamentos foram ficando cada vez mais sofisticados até chegarem as máquinas digitais possibilitando a fazer fotos em velocidades cada vez maiores. Também surgiram os programas de melhoria das fotos como o Photoshop, e em seguida os celulares com câmeras que vem melhorando de qualidade a cada novo modelo. Hoje muita gente fotografa, mas continua a existir diferenças primordiais entre o profissional e os milhares de amadores que se arvoram a fotógrafos. Voltando ao David Glat ele lembrou que aqui chegando viu que nossa Cidade era uma festa. Quando chegou aqui , lembrou que tinha um restaurante  no lado direito da Rua Carlos Gomes,   que funcionava num sobrado no segundo andar e servia  uma carne de sol maravilhosa. Era o restaurante do Bio, que servia essas comidas pesadas como mocotó, sarapatel, dobradinha, maniçoba, xinxim de bofe ,dentre outras  e tinha uma carne de sol maravilhosa. Sendo um jovem de menor idade pode frequentar as boites XK, que ficava no Corredor da Vitória, o Anjo Azul, na Rua do Cabeça, e a Boite Cloc, na 
David Glat brincando com um Mamulengo da 
coleção  de 3.500 brinquedos populares.
Avenida Contorno, e também participaram de muitas festas populares. Ele veio com um primo e um amigo e ficaram por aqui uns quinze dias. Retornaram ao Rio de Janeiro, e finalmente em 1976 ele resolveu vir definitivamente, aqui constituiu família e tem duas filhas adultas. Trabalhou muito em campanhas políticas fotografando os candidatos quer seja nas eleições majoritárias como também em outras campanhas e fez muitas fotos de indústrias, estabelecimentos comerciais, de objetos e pessoas. Já fez exposições de fotografias aqui e em outros estados e também de seus brinquedos populares, inclusive uma no Museu Afro Brasil, em São Paulo, a convite do então diretor da entidade Emanoel Araújo, qual permaneceu durante oito meses, tendo uma visitação expressiva.

                                            TRAJETÓRIA

Foto do Largo do Pelourinho feita analogicamente com  máquina rotativa de 360 º graus alterando a velocidade e fazendo movimentos controlados para
 distorcer  a imagem, resultando em pérolas fotográficas únicas.




O David Glat nasceu em vinte e nove de maio de 1946 na cidade do Rio de Janeiro, filho de judeus poloneses que chegaram ao Brasil fugindo do horror da Segunda Guerra Mundial. Seu pai Lejzor Glat era comerciante de tecidos na Rua da Alfândega e sua mãe Faiga Glat, dona de casa. Disse que começou fotografando seus familiares com uma velha máquina que pertencia ao seu pai, e depois vieram os amigos, os vizinhos e terminou entrando para o mercado publicitário porque naquela época remunerava melhor os fotógrafos. “Hoje quem melhor remunera são as fotos de casamentos. Na minha época não eram tão valorizados. Tem umas figuras que hoje tem reconhecimento nacional”, disse David Glat. E continuou , já a fotografia publicitária você consegue fazer vários efeitos no
Photoshop. Ninguém mais precisa daquela foto, por exemplo de uma garrafa de
cerveja suada. Consegue tudo através de um programa no computador. Por isto
que deixei a fotografia de lado, porque não mais compensa”.  Falou do seu estúdio que tinha no bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, antes de vir para a Bahia. Nunca trabalhou em jornais e revistas. E fez uma revelação interessante. “Cada fotógrafo sente a sua manhã. Eu não tinha aquele speed de fotografar um fato, como um acidente ou coisa que acontecesse repentinamente. Preferia ficar observando, já o fotógrafo de jornal instantaneamente ele aciona o seu equipamento. Depois eu me cobrava poderia ter feito uma foto única. Mas, nunca foi a minha praia. Minhas fotos não são instantâneas, são estudadas, a luz tem que estar dentro da técnica, é a busca da foto perfeita. Fiquei no Rio de Janeiro dos vinte e um anos até os trinta trabalhando em fotografia." Sua infância foi no bairro do Estácio, morou também na Tijuca. Seus pais queriam que ele estudasse engenharia. Mas, ele resolveu fazer o curso Clássico ao invés do Científico que era para quem queria estudar engenharia ou medicina, e o clássico para quem escolhesse estudar depois as Ciências
Humanas. “Já comecei contrariando meus pais. Estudava no Colégio            Israelita Brasileiro A Liessen Scholem Aleichem,

Exposição Deu a Louca nos Livros, na 22 ª
Bienal do Livro ,em São Paulo, 2012
.
 que era para judeus. Nunca fiz faculdade, mas sempre li muito, e meu interesse era pelas artes “, informou David Glat. Passei depois a fazer fotografias para indústrias metalúrgicas e moveleiras, e um dia me apareceu um cliente que era de uma distribuidora da Petrobras. Lá comecei a fazer trabalhos fotográficos para publicidade porque o pessoal da distribuidora gostou muito das minhas fotos e me recomendou a agência que atendia eles que queria que eu fizesse as fotos. Eram anúncios impressos e começou a atender outras agências, inclusive a fotografar candidatos durante o período eleitoral. Isto foi no início da década de setenta. Ai já fazia algumas viagens pelos interiores do Estados do Rio de Janeiro, Minas e São Paulo, e Espírito Santo e quando viajava sempre procurar conhecer os artesões dos lugares e começou a adquirir brinquedos populares. O curioso é que o David Glat nunca brincou quando crianças com nenhum brinquedo popular. Todos que brincou eram industrializados. "Minha paixão começou pela arte popular, simples, rústicas. Mas, nas viagens conheci os brinquedos populares nas feiras livres e nos mercados do interior e fiquei encantado com o lado criativo e lúdico. Quando vim pra Bahia aí  enlouqueci porque o brinquedo popular é filho direto da pobreza. O menino precisa brincar não tem dinheiro para comprar um brinquedo industrializado e vai o pai e faz o carrinho de lata, bonecas de pano."

Quatro dos 3.500 brinquedos da coleção.
Na Bahia encontrei muitos brinquedos, mas atualmente a Bahia está mais ligada à África. E um estado muito grande e não tem muita ligação cultural com o interior. A cultura que se valoriza hoje aqui é a cultura da África e não a nordestina, do interior. Quem manda na cultura da Bahia é Salvador e o Recôncavo. O interior só é lembrado no São João. Só que o interior não é só isto, tem uma riqueza cultural imensa que é preciso valorizar. Eu viajei muito pelo interior da Bahia e de outros estados nordestinos e pude ver que Pernambuco e Paraíba valorizam muito os artistas populares, e também em Alagoas que aqui na Bahia. Com o passar do tempo minha coleção foi crescendo e foi tomando consciência da sua importância cultural e por isto preciso mostrar cada vez mais a um número maior de pessoas. Aí passei a dedicar meu tempo e meu dinheiro com isto. Ao mesmo tempo eu viajava para fotografar principalmente nas campanhas políticas. Devo ter hoje uns três mil e quinhentos brinquedos dos principais artesãos e artistas populares do país, principalmente do Norte e Nordeste, lembrou que em Abaetetuba está localizada no estado do Pará a população do município é de 159.080 habitantes, e tem um polo de brinquedos muito importante."

Exposição dos brinquedos populares de David
Glat no Museu Afro Brasil, em São Paulo.
Lembrou David Glat que fez várias capas de cds e dvds um maior número para a
Timbalada juntamente com Ray Vianna e que algumas foram até premiadas aqui e também nacionalmente.  Fez também para Chiclete com Banana, Pimenta Nativa, Netinho dentre outros. Outros artistas passaram a lhe procurar. Até que no ano 2000 acabou o boom do Axé Music e deixou de fazer as capas. Hoje ninguém quer mais cds porque tem tudo nas plataformas. Estão valorizando os LPS, mas a maioria das pessoas está aderindo aos spotify da vida.

Em 2010 ele fez uma exposição de suas fotografias no Teatro Castro Alves onde focou no patrimônio histórico e arquitetônico da cidade do Salvador, e a propósito escreveu David Glat “captado por um determinado olhar muito particular é o ponto de partida deste trabalho. Desconstruindo a imagem convencional e institucionalizada deste patrimônio, a proposta foi praticar um exercício barroco por meio de uma linguagem visual contemporânea. Imagens com movimento, opulência das formas, vitalidade, tensão, efeitos ilusionistas, monumentalidade, assimetria, emocional, sensualidade, predomínio da curva, da contracurva e do retorcido, estas são algumas das características mais marcantes do estilo barroco, e também as marcas visuais deste trabalho”.

Sanfoneiro cego esmolando na 
escadaria da igreja do Passo.
Em 2012 / 2013 expôs cerca de mil brinquedos no Museu de Arte da Bahia na mostra Brinquedos que Moram nos Sonhos – O Brinquedo Popular Brasileiro, quando Sylvia Athayde era diretora do MAB. Coube ao artista Joãozito fazer toda a cenografia e a curadoria foi do próprio David Glat. Na ocasião ele escreveu para o catálogo que “sou um fotógrafo apaixonado por arte popular, especialmente pelo segmento brinquedos. Desde os meus 20 anos no exercício da profissão, eu viajava bastante pelo interior, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste, e aproveitava para pesquisar conhecer os artistas populares das cidadezinhas.... Quando, no início de 2010, Emanoel Araújo esteve em minha casa e conheceu a coleção, ficou encantado e decretou: vou expor a tua coleção no Museu Afro Brasil. Argumentei que a coleção era muito particular, incompleta e exclusivamente constituída por objetos de meu interesse pessoal – só tinha brinquedos de menino. De fato, não tinha casinhas, nem mobília, nem bonecas e nem outros diversos itens que fazem parte do universo infantil feminino. Então ele concluiu: Complete a tua coleção!” Viajei muito e adquiri muitas peças e assim em 2011 foi inaugurada a mostra Brincar com Arte que ficou durante oito meses com grande número de visitantes.

                                                              EXPOSICÕES 

Capa da mostra no TCA onde vemos 
o icônico Forte de São Marcelo
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INDIVIDUAIS - Em 2003 - Soterurbanoramas, no foyer do Teatro Castro Alves. no Circuito de Arte do V Mercado Cultural. 2007 Foto - instalação "Torta Xadrez Il', na Galeria do Conselho de Cultura do Estado da Bahia, dentro do agosto da Fotografia. 2009 "Pérolas Imperfeitas" no Museu de Arte Moderna da Bahia.

COLETIVAS - Em 1978 a 1984 - "Salão Fotobahia". no foyer do Teatro Castro Alves e no Museu de Arte da Bahia .1986 - "Fotógrafos em 20 Anos" no Núcleo de Arte do Desenbanco. 1994 - "1° Salão de Arte do MAM 1995 e 1996 - "Mostras da Fotografia Contemporânea Baiana" no MAM. 1999 - "450 Motivos Para Amar Salvador" no Instituto Geográfico Bahia. 2006 - "A História da Fotografia na Bahia" no MAM; "13° Salão de Arte do MAM". 2007 - "TCA 40 Anos" no fover do Teatro Castro Alves . 2009 - “Circuito das Artes" no Palacete das Artes Rodin Bahia; “Sensível Contemporâneo". na Escola de Belas Artes da UFBA, na Semana França-Brasil e   "2.234" no Casarão de Santo Antônio Além do Carmo. 

 

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