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domingo, 6 de janeiro de 2013

CINCO ARGENTINOS EXPONDO NO MAM/BA - 23 DE MARÇO DE 1980


JORNAL A TARDE DOMINGO, 23 DE MARÇO DE 1980

CINCO ARGENTINOS EXPONDO NO MAM / BA

A partir de um trabalho grupal, funcionando como um mecanismo sem restrições, respeitando basicamente a liberdade de cada um, Carlos Mendes de Faísca, David Burin, Hugo Grinback, Alberto Martins e Marcelo Elola, artistas argentinos que integram o Grupo Cronos estão expondo suas obras em desenho a lápis, acrílico, esculturas, fotografias, no Museu de Arte Moderna da Bahia até o dia 06 de abril, em promoção da Fundação Cultural.
Essa exposição é o resultado de um trabalho de pesquisa começado na Argentina onde durante alguns anos os artistas desenvolveram e aprimoraram suas técnicas. Não puderam, no entanto, dar continuidade aos seus trabalhos devido à falta de apoio dos órgãos oficiais, galerias, entidades acadêmicas que controlam a expressão artística e cultural aquele país. Principalmente enfatizam eles por se tratarem de artistas “jovens” e “sem nome” e, principalmente, por não encontrarem espaço da seriedade dos seus trabalhos, e transformando-os em marginais da arte e da sociedade.
A partir da necessidade de buscar apoio para mostrar seus trabalhos em outros países decidiram viajar ao Brasil, “ onde nos deram a possibilidade de finalmente mostrar nossos trabalhos, transformados ocultos como um contrabando precioso durante quase dois anos” como declaram os componentes do grupo.
Como alunos da Escola de Belas Artes de La Plata (Faculdade de Artes Plásticas) as dificuldades continuaram, não sendo respeitada a criatividade dos artistas já que o objetivo dessa faculdade “não era a produção de artistas e sim, a formação de professores de pintura.
Apesar das dificuldades o Grupo Cronos sobreviveu e afirma que: “Se há uma ideia em que todos concordamos é a de que toda arte é a afirmação mais evidente da liberdade do homem”. A partir desse conceito houve uma evolução em comum, por exemplo, Carlos desenha em lápis sobre os temas “cotidianos” e pessoais como o vampirismo.
Influenciado pela corrente geométrica, Marcelo executa trabalhos em acrílico usando aerógrafo. É ele quem controla o equilíbrio e a cor dos trabalhos do grupo.
Os trabalhos de fotografias de Hugo tem uma linguagem direta e paisagista, onde o retratismo adquire um toque de mesura e discrição nos exaltados espíritos dos demais componentes do grupo.
Alberto e David trabalham com fotografia experimental, montagens, técnicas mistas tentando misturar o elemento objetivo dado pelo registro mecânico da realidade através da câmera. Com o elemento subjetivo denotado pelo desenho, o eco aleatório e pessoal tenta-se incorporar à fotografia básica. Buscam também uma realidade mágica para servir de contra-ataque ao cotidiano e lamentam sempre que em quase todos seus “truques mágicos” não saiam tão bem quanto esperam. Continuam trabalhando para que um dia ao abrirem a máquina para retirar o filme “apareça por fim um coelho”.
Declaram ainda “que essa exposição pode ser o início de um intercâmbio cultural entre nossos países para colaborar com a integração regional a que estaria destinada o nosso continente”.

                     A ARTE ATUAL DE A.L.M. ANDRADE

Uma das obras expostas por Almandrade
O Sacrifício do Sentido é título da exposição do artista plástico contemporâneo e arquiteto Antônio Luiz M. Andrade (Almandrade), na Capela do Solar do Unhão - Museu de Arte Moderna da Bahia, de 25 de março a 9 de abril. Nessa mostra está materializadas as principais preocupações da arte contemporânea, talvez por isso possa causar um certo espanto ao público ou mesmo as pessoas ligadas diretamente ao meio da arte. Pois não existe nada para o deleite estético e sim problemas resultante de pesquisas de um artista preocupado em transformar a linguagem da arte e sua política, essas coisas expostas impulsionam o raciocínio e remetem a uma discussão mais séria sobre o conceito e a função da arte na sociedade, e mais ainda a instituição/arte.
O Sacrifício do Sentido não se pretende, segundo o artista, “ a uma falsa politização imediata tão presente na mentalidade pouco inteligente de muitos fazedores de arte”. Esta exposição reclama uma abertura para se experimentar a linguagem e denunciar o poder dos signos, principal base de sustentação deste tipo de sociedade. O que pensam os artistas e críticos baianos da estratégia deste artista?
Nesta hora vale a pena ressaltar a iniciativa de uma instituição como o MAMB em promover uma exposição como essa, do mais radical artista contemporâneo da Bahia.
Antes de mais nada qualquer manifestação de arte contemporânea, exige-se um entendimento da teoria da arte e da história, além de contatos com outros repertórios. Como se relaciona o sistema/arte com o restante da sociedade, daí vem o rótulo de difícil e hermética para a arte experimental.
Na exposição de Andrade, não exista nada para o divertimento do olhar, somente gestos que levam o espectador a um espaço de saber.
Mas o que é esta arte, e a produção contemporânea de maneira geral? Num texto deste artista, sobre a arte dos anos 70, publicado num suplemento especial de um jornal local, o artista responde muito bem a pergunta.- “A arte dos anos 70, bem menos explosiva que as vanguardas dos anos anteriores, é mais um gesto mental, um meio de conhecimento específico, rompe definitivamente com os limites enunciados pela estética, para assumir uma posição crítica de si mesma.
O objetivo/arte como é entendido até então como produto de uma técnica manual e retiniana, é questionado e esta hipótese desprezada. A arte é um campo de saber tal qual a física, a matemática, a lógica, a biologia, etc, se estende agora e se investiga um sistema/arte e sua função no universo social a partir da formalização de seu discurso, fundamentado em bases técnicas...”’
Na arte de Andrade, ó belo é causador de estranhezas, de problemas para o espectador resolvê-los ou não. O importante é abrir possibilidades de leituras do real, tanto da arte como social, contra uma aparente política que limita o espectador a um universo de signos fácil, onde a ideologia se esconde.
Isto é um procedimento materialista e consciente na arte, sempre provocado por poucos artistas em toda a história da arte.

     EDSOLEDA EXPONDO EM VITÓRIA DA CONQUISTA

Um evento cultural pouco comum às cidades do interior teve início esta semana, quando a pintora Edsoleda Santos inaugurou a Galeria Geraldo Rocha - Atelier de Iniciação Artística, em Vitória da Conquista, a exposição Bahia Luz e Mistérios, com a colaboração da Fundação Cultural do Estado da Bahia.
Natural de Salvador, Edsoleda Santos é diplomada em Escultura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, tendo ainda diploma em Licenciatura em Desenho, obtido na mesma unidade. È detentora do Prêmio Estadual de Desenho, da I Bienal de Artes Plásticas Bahia/1966, do III Prêmio de Desenho do Salão de Vitória, Espírito Santo, obtido em 1968 e do Prêmio Isenção de Júri na II Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia, em 68, além de outros.
Expôs individualmente na Galeria Convivium (1965 e 66), no Museu de Arte Moderna da Bahia, na Galeria de Arte da Bahia, participando de diversas coletivas, dentre as quais os II e III Salão de Arte Moderna do Distrito Federal, da Exposição Coletiva de Artistas Baianos, no Instituto Cultural Brasil-Alemanha, do Festival de Caribe e da mostra de artistas baianos no Rio Grande do Sul.
Num depoimento sobre artista, Jorge Amado escreveu no livro Bahia de Todos os Santos: “ Edsoleda, forte ou frágil, piscando no chão ou estendida nos céus, nas nuvens, levada pelo vento?
Moça desenhista, é da estripe dos mestres, para termo de comparação faz-se necessário buscar os maiores, falar em Carybé, em Juarez Paraíso, em Floriano Teixeira. De súbito, explode em cores, numa invenção onírica que participa do desenho animado, da ficção, de uma verdade que transpõe os limites do habitual para romper-se em lua marítima e misteriosa onde nascem sereias em atos de amor”.

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