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domingo, 27 de janeiro de 2013

DEPÓSITOS DE ARTE - 20 DE OUTUBRO DE 1980


JORNAL A TARDE,SALVADOR,  20 DE OUTUBRO DE 1980

            DEPÓSITOS DE ARTE
É hora de chamar atenção para o descaso que vivem nossos museus de Norte a Sul do Brasil, com poucas e honrosas exceções. Na maioria das vezes são verdadeiros depósitos de quadros e objetos envelhecidos pelo tempo, empoeirados e mal cuidados. Seus funcionários nada sabem informar e quase sempre mostram-se mal humorados, sob a alegação de quem ganha pouco. Sempre recebem pequenas dotações oficiais que lhes garantem uma difícil sobrevivência. Sobrevivem ao invés de promoverem a cultura. Vegetam pelos canais da burocracia e também deixam simplesmente, que seus diretores e outros funcionários menos graduados recebam os míseros cruzeiros de seus salários irreais. Ao lado deste quadro triste, encontramos pessoas incompetentes dirigindo-os. Encontramos pessoas completamente alheias ao sentido moderno de museu, que deve ser uma instituição viva onde palpitem os elementos significativos da cultura. Aqui o burocrata quase nada faz. Cruza os braços pela sua incompetência diante das dificuldades, ao invés de enfrentá-las. Estive recentemente nos Estados Unidos visitando vários museus nas capitais e em cidades do interior. Confesso que fiquei impressionado pelo trabalho de seus diretores; de centenas de voluntários que trabalham de graça pelas instituições e também pela atividade desenvolvida. Lá (e não cá) os museus faturam, arrecadam dinheiro com venda de livros de Arte, reproduções, catálogos e de vários objetos artísticos.
Alguns deles têm restaurantes e bares que exploram um número certo de contribuintes, quer sejam pessoas jurídicas ou físicas; incentivam as doações e até fazem excursões culturais para o exterior. Parece que isto só acontece nas grandes cidades americanas.
Não, também nas cidades de porte médio. Lá cobram ingresso para as pessoas visitarem os acervos e fazem exposições importantes.
Aqui quase nada acontece. Quando acontece uma grandiosa exposição (casos raros) é promovida por embaixadas, consulados ou instituições estrangeiras. Os nossos diretores de museus só sabem gastar. Esquecem a palavra arrecadar. Ficam esperando as míseras dotações oficiais. Não têm imaginação.
São burocratas, que serveriam melhor se lhes fossem dados carimbos de repartições públicas mas de pouco movimento.
É preciso agitar, como dizem os jovens.
É preciso criatividade para se dirigir. É hora de descruzar os braços e realizar alguma coisa.
Garanto que a maioria, ao terminar a gestão, quando for fazer os tais relatórios vai ter que inventar serviço, porque o que realizou foi pouco e insignificante. É preciso também não expor qualquer coisa, a exemplo do Museu de Arte da Bahia, que realiza esta pobre exposição de jovens artistas de Joinville, ou exposições como a tal “Cadastro”, de triste memória, realizada pelo Museu de Arte Moderna, que agora, além de depósito, é arquivo de artista. Está cadastrando ou arquivando...

Uma expressiva obra do artista Zivé Giudice
     PRÊMIO   DIVIDIDO                     
                      
Obra do artista Murilo que foi um dos premiados
Murilo e Zivé são dois bons artistas baianos. Jovens ainda, eles vêm acumulando prêmios e continuam trabalhando em busca de novas formas de se expressar. Inconformados e com boa técnica, realizam individualmente uma obra digna de registro. Agora, ganharam novo prêmio. Empataram e o prêmio foi dividido no V Salão Universitário Nacional de Artes Plásticas, que está aberto ao público no foyer do Teatro Castro Alves.

Alguns inconformados estão falando aos redemoinhos que os prêmios do salão “saíram pros mesmos”. É uma inverdade. Muitos jovens e desconhecidos foram premiados. Mas, certamente outros já conhecidos e talentosos não podiam ficar de fora pela qualidade da obra que ostentam. O mais é a falta do que fazer e visão retorcida das coisas. É hora de aplaudir os premiados e não procurar confundir com blá blá blá que ninguém entende ou citar autores que não nos interessam.


                          
CRIANÇAS VÃO BRINCAR DE PINTAR NA CAIXA D’ÁGUA

Uma tarde de emoção viveram dezenas de crianças que participaram de uma promoção especial promovida pela Fundação Cultural do Estado, buscando a realidade cultural de cada bairro. A primeira experiência, no último dia 10, no Nordeste de Amaralina, e a próxima será no dia 25, na Caixa D’Água.
O barro é a essência de Maragogipinho
As crianças, atraídas para participar do projeto, receberam tintas, papéis, barro de Maragogipinho, água, pincéis e lápis e, sentados no chão pintaram e moldaram objetos de todos os tipos e formas. Um deles, Fernando, fez uma cobra fina, que segundo explicou, “é para comer as formigas e baratas que tem lá em casa”, outros fizeram mesas, árvores de Natal, chapéus de mexicanos e bonecas. As meninas ficaram deslumbradas com os materiais e gritavam e riam a valer, principalmente quando um colega fez um microfone vermelho “para poder cantar, pois serei igual a Sidney Magal”. Este desejo é de José, de apenas três anos de idade, e nunca havia pegado em barro.
FESTA CONTINUOU
A festa continuou por mais algumas horas e muitas aproveitaram para pintar o próprio cenário onde estavam, reunidas, ou sejam os coqueiros e o mar azul.
Algumas crianças nem andavam com desenvoltura, outras, envergonhadas com a estranha presença dos organizadores, ficavam cabisbaixas. Outras, andavam de um lado para outro levando os pincéis entre as pequenas mãozinhas sujas. Delinearam gravuras rústicas e nomes e recados de amiguinhos, a exemplo de Joana que escreveu com grandes e grossas letras vermelhas “Quero uma boneca grande e loura, do meu tamanho, e um vestido de bolinha para minha mãe”.
Houve choro, também.
Choro, quando um garotinho reclamava; “Roubaram meu barro que ia fazer uma máquina de escrever e mandar uma carta para “Batman” vir matar um morcego que aparece lá em casa toda a noite”, queixava-se Pedro de seis anos, da escola de “Tia Alice”.
No final da tarde todos queriam saber quando a equipe voltaria ao Nordeste de Amaralina para realizar novas brincadeiras.
IDENTIDADE CULTURAL
“Nosso objetivo é a aproximação direta com a comunidade, atendendo ás carências e dificuldades da mesma, agilizando uma programação cultural dentro das escolas e grupos interessados em cada bairro”, afirma Cristina Mendonça, coordenadora do grupo de trabalho responsável pela Dinamização Cultural nos bairros e de escolas atingidos pelo Prodasec e desenvolvimento pela Fundação Cultural do Estado-SEC. O programa é dividido em três etapas: estudos, buscando o conhecimento da realidade cultural de cada bairro, produção e difusão cultural e desenvolvimento de recursos humanos para ação comunitária. Estão sendo feitos contatos nos bairros do Cabula, Alagados, Caixa d’Àgua e Nordeste de Amaralina. No bairro do Cabula será apresentado o filme  A Grande Feira, no Nordeste de Amaralina está sendo desenvolvido um trabalho com bonecos. O próximo encontro será na Caixa D’Água, dia 25 de outubro.
Dessa forma, as crianças que deixaram os coqueirais do Nordeste de Amaralina catando e dançando ao som do violão de Leila Gaetha, que brincaram com barro orientados por Maria Betânia Vargas, com o grupo de trabalho da Fundação Cultural, formado por Sue Ribeiro, Lúcia Mascarenhas, Osmária Ferreira, Isabel Gouveia e Cristina Mendonça e com a equipe integrante do programa Museu/Escola/Comunidade.


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