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Fory em seu ateliê esculpindo entidade de matriz africana. |
escultor Fory é um artista
autodidata da cidade de Cachoeira, Bahia, que tem se destacado no cenário das
artes visuais com suas esculturas de madeira de mulheres e orixás. Na conversa
que tivemos por telefone lembrou que seu pai Wandercock do Nascimento era um
ex-combatente das Forças Expedicionárias Brasileiras e por ter sofrido com os
horrores da guerra não queria que nenhum dos nove filhos seguisse a carreira
militar. Foi então que ia colocando cada filho numa tenda ou oficina para que
aprendesse uma profissão. O Fory inicialmente ainda criança foi para uma
pequena marcenaria de um vizinho onde realizava pequenos serviços como varrer a
tenda, pegar ferramentas para o mestre e até mesmo comprar ou levar alguma
coisa para um cliente. Lá também aprendeu a fazer miniaturas de móveis. Quando
tinha por volta de quinze anos certo dia no início dos anos 70 surgiu na rua
onde morava uma barbearia-ateliê de Boaventura da Silva Filho, famoso escultor
da cidade conhecido por Louco, e seu irmão Clovis Cardoso Silva que também
esculpia quando não estavam cortando cabelo ou fazendo a barba de algum
cliente.
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Bela escultura Bocas. Vemos que aproveitou as formas de uma árvore. |
Procurou se aproximar e assim começou lixando as obras dos escultores,
e aos poucos observando o modo deles esculpirem até que surgiram suas primeiras
incursões pela arte da escultura. Disse que seus primeiros trabalhos foram
entalhes de placas, e à medida que ia dominando as ferramentas apareceram
naturalmente as primeiras peças tridimensionais ou sejam as esculturas. Uma de
suas características herdadas do seu mestre Louco é de aproveitar as formas, os
veios, as reentrâncias e saliências das madeiras que adquire para fazer a sua
arte. Até mesmo a maneira de assinar as peças inicialmente ele se inspirou no
Louco que assinava Louco B.S.F, ou seja, o nome artístico e as primeira letras
do nome e sobrenome. O Fory passou a assinar Fory C.A.N. Com o passar do tempo
abandonou esta forma de assinar as suas obras e passou a grafar somente Fory, que é um
apelido que foi criado por seus irmãos.
Começou a vender as suas peças
através de Louco na barraca Iansã de Oxóssi, do seu Carlinhos, que ficava no
Mercado Modelo, local de grande afluência de turistas.
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Esculturas Ela, Yayá, Deusa e Dançarinas. |
Disse Fory que este
senhor por muitos anos trabalhava vendendo com exclusividade as esculturas de Louco
e quando completou dezoito anos ele mesmo levava as suas esculturas para o seu
Carlinhos vender. As esculturas eram de ceias de Cristo e os vários Orixás que esculpia.
Naquela época o Mercado Modelo tinha um bom movimento de público e suas peças
eram facilmente comercializadas. Com o passar do tempo adquiriu mais
informações, conheceu outros escultores e foi mudando à sua maneira de esculpir
até chegar nas mulheres curvilíneas e estilosas que esculpe atualmente, e os Orixás que faz procurando manter o seu estilo próprio. Desde os anos 80 que seu
ateliê funciona na Rua 13 de Maio, no Centro Histórico da cidade de Cachoeira,
Bahia, onde faz suas esculturas. Atualmente reside num sítio nas redondezas da cidade, e
disse que também lá tem um ateliê, e quando não está na cidade costuma esculpir
também no sítio.
TRAJETÓRIA
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Os Remanescentes onde destacamos as formas e o acabamento das obras. |
Seu nome de batismo é Carlos
Alberto Dias do Nascimento, filho do ex-combatente Wandercock do Nascimento e Zélia
Dias do Nascimento. Fez o primário na Escola Ana Nery e o ensino médio no Colégio
Estadual de Cachoeira, ambas instituições públicas. Com o término da Guerra seu
pai retornou à Cachoeira, e foi nomeado para trabalhar como ferroviário da Leste
Brasileira passando a se preocupar em colocar cada filho para aprender uma
atividade profissional.
Hoje Fory é um artista conhecido
e envolvido com seus colegas “brasileiros e afro-americanos que lutam por seus
direitos e espaços na sociedade e na arte”, escreveu sua esposa a jornalista
Alzira Costa. Diz ainda que
“suas obras carregam personalidades e identidade, distinguidas pelas
formas rebuscadas e fino acabamento. São obras inspiradas em divindades do
panteão africano, figuras femeninas, nas manifestações populares do Recôncavo e
livres criações seguindo as linhas do formato da madeira. A arte de Fory
dialoga com o contemporâneo e a tradição sem perder as suas raízes.”
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Cabeça do Guerreiro Celestial. |
Ele tem um
filho que reside na cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos onde trabalha numa grande casa de espetáculos. Revelou que quase todos os anos vai para lá
onde costuma passar até seis meses e que já mantém um bom relacionamento principalmente com a comunidade
afro-americana . Sempre está comercializando suas esculturas, especialmente
àquelas que representam Orixás e outras manifestações religiosas e culturais de
raiz africana. Já expôs inclusive em Nova Iorque em 1986, juntamente com outros
artistas baianos.
Quanto ao seu
apelido inicialmente dado por seus irmãos era Forifa, depois passou para Fori, e ele adotou o nome artístico de Fory com o y. Contam
uma versão, que não é verdadeira, que o apelido teria sido inspirado num famoso
lutador chamado de Forforifa. Acontece que fui pesquisar e nada encontrei sobre
esse enigmático lutador. Voltei ao Fory para saber. Inicialmente, ele não
lembrava, e terminou por dizer que esta estória teria sido cunhada por uma pesquisadora dinamarquesa. Quando
indaguei a razão ele não soube explicar. Portanto, é mais correto afirmar que o
apelido surgiu em casa entre seus irmãos.
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Escultura de Xangô Jovem. |
Escreveu a
professora Suzane Pinho Pêpe que em 1986 ele “participou da III Conferência
Mundial dos Orixás, Tradição e Cultura, em Nova Iorque, que reuniu
representantes do mundo “Atlântico Negro” – Caribe, Brasil, África e EUA –
lugares das “diásporas negras” e lhe proporcionou a troca de experiência com
artistas de outros países. Essa exposição de arte, que integrou o grande
evento, aconteceu no Aaron Davis Hall, da Universidade no Halley. Na mesma
ocasião, Fory proferiu uma palestra sobre os orixás, no Caribe Cultural Centre “.
Entre suas obras mais
significativas estão a escultura Rastafari datada de 1983 homenageando o famoso
cantor de reggae Bob Marley e o Ferreiro Celestial que foi feita
utilizando pregos, correntes, formões, chaves de fenda e outras ferramentas inspirada
nos seus ancestrais ferreiros que se manifestam nos terreiros da região como
Ogum (Iorubá) e Gun (Fon.). Ligado às suas tradições ele frequenta o terreiro
de Yiê Oyó Mecê Alaketu Axé Ogum ,na cidade de Governador Mangabeira, que é
dirigido pelo babalorixá Leopoldo Silvério da Rocha desde 1963. Voltando às suas esculturas vemos que estiliza a figura humana e mesmo nas representações como das mulheres da Irmandade da Boa Morte, dos tocadores de atabaques e de outros instrumentos, e até das entidades religiosas da matriz africana ele sempre está esculpindo-os de forma elegante e apresentam algum erotismo em suas formas.
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS
Em 1984
– Cachoeira-BA – Individual, Exposição de Fory, na Galeria da
Sphan/Pró-Memória; 1986 – Cachoeira-BA – Individual, Exposição
de Fory. Sobrado na Rua Ana Néry, n. 23; 1988 – Cachoeira-BA –
Individual, Omo-Ebora no Ateliê de Fory Nascimento; Morro de São Paulo-BA –
Individual, no Hotel Villegaignon; 2010 – Morro de São Paulo-BA –
Individual, na Galeria do Hotel Portaló.
Participações em Salões, Bienais e coletivas:
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O Orixá Oluadé, obra de Fory. |
Em 1978
– Salvador-BA. Mostra de Arte Popular na Aliança Francesa da Bahia – 1 –
Cachoeira-BA, na Aliança Francesa; 1984 – Cachoeira-BA.
Exposição Coletiva, no SPHAN; Salvador-BA – Pré-Bienal de Cultura Afro, no
Museu Afro-Brasileiro (UFBA); 1984/1985 – Salvador-BA – Bienal de Cultura Afro, no Museu Afro-Brasileiro (UFBA); 1986
– Salvador-BA – Cachoeira e seus Artistas, no Solar do Ferrão; Nova
Iorque-EUA – Exposição na III Conferência Mundial dos Orixás, Tradição e
Cultura, no Aaron Davis Hall; 1987
– Cachoeira-BA – Exposição em Homenagem a Tamba e Bolão, no SPHAN; Salvador,
BA – I Bienal de Arte Negra, no Museu de Arte da Bahia (promovido pelo Núcleo
Cultura Afro-Brasileiro ; 1991 – Cachoeira-BA –
Exposição Coletiva, na I Semana de Arte e Cultura, na Galeria do IPAC- Organização:
AAACC e Casa do Benin; São Félix-BA – I Bienal do Recôncavo, na Fundação
Dannemann; 1992 – Cachoeira-BA – II Bienal de
Cultura e Arte Negra, realizada em Salvador, com extensão em Cachoeira, Organização:
Núcleo Cultural Afro-Brasileiro, AAACC e IPAC, na Galeria do IPAC; 1995 –
Cachoeira- BA – Exposição Coletiva de Artes Plásticas, promovida pela
AAACC, na Sede do IPHAN; 2000 – Salvador-BA –
Exposição Coletiva de Artistas Regionais, na Galeria SEBRAE; 2002 –
Cachoeira-BA – Cachoeira na Ótica dos Artistas Plásticos Cachoeiranos,
na Câmara Municipal; 2005 – Cachoeira-BA – Exposição
Coletiva, na Galeria do IPAC; 2006/2007 – São Félix-BA – VIII Bienal do Recôncavo, na Fundação Dannemann; 2009
– Salvador-BA – “Cidade Histórica, uma Cachoeira de Emoções”, no
Instituto Mauá, no Pelourinho; 2012 – Cachoeira-BA –
Exposição Coletiva Escultores de Cachoeira, no Espaço Cultural Fundação Hansen
Bahia.
Um grande talento. Parabéns Reynivaldo
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