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sábado, 22 de março de 2025

LITTUSILVA PINTA E ESTUDA A INFLUÊNCIA INDÍGENA NA CULTURA

O artista Littusilva pintando em seu ateliê.
Vamos conhecer mais um   pouco da obra e a trajetória do artista Littusilva, residente na cidade de Alagoinhas-BA. Ele vem quase diariamente postando uma nova obra no Instagram para deleite de seus seguidores. É um artista visual criativo e de muitas habilidades. Já projetou e até construiu casas residenciais, clínicas médicas, igrejas e móveis. É pintor, desenhista, escultor, e ativista cultural há mais de cinquenta anos integrado com a cultura da cidade onde nasceu e vive até hoje. Desde 2001 vem questionando a identidade sociocultural de sua cidade enaltecendo a herança antropológica e cultural deixada pelos índios tupis e falando da miscigenação das culturas indígenas e africanas. Para ele muitos dos elementos culturais atribuídos aos africanos em sua região são na realidade de origem indígenas. O Littusilva escreveu um livro chamado África Tupi que publicará em breve defendendo esta tese.

Quatro obras com a temática indígena
feitas em técnica mista sobre papel.
Sua produção artística atual reflete esta preocupação com as culturas indígena e africana e ele vem criando uma série de obras trazendo nos seus traços livres e em cores muitas vezes de tonalidades fortes figuras dessa iconografia. São homens e mulheres em seus afazeres, principalmente indígenas com suas ferramentas e símbolos sagrados  dentro da visão contemporânea do artista. Tomei conhecimento da sua obra através dessas postagens que me chamaram a atenção pela qualidade e temática. Ao manter contato com Littusilva imediatamente se estabeleceu uma empatia e conversamos sobre sua rica trajetória de um artista que vem lutando para sobreviver de sua arte com dignidade numa cidade do interior baiano. Sou do interior e sei que não é fácil viver de arte, porque as demandas são limitadas, e o artista precisa se prover de recursos para continuar criando. Hoje as redes sociais, com a sua visibilidade e abrangência ajudam, mas nem tanto. Muitas vezes a contemplação e o gostar de uma obra de arte postada nas redes sociais para por ali mesmo, não avança para uma negociação.

                                                         LEMBRANÇAS

"Mulheres de Lagoinha", obras de Littusilva.
O Littusilva desde criança está envolvido com a arte e este despertar se fortaleceu quando no curso ginasial num trabalho de escola desenhou uma versão do Homem Universal, de Leonardo Da Vinci, acrescentando elementos sensuais. Isto despertou o interesse de professores e alunos de sua escola. Aos treze anos de idade seu pai que era maçom comprou um cavalete, papeis, telas e tintas, e lhe presenteou. Também lhe deu uma tarefa que foi pintar símbolos da maçonaria para serem colocados nas paredes da loja maçônica que fundou em Alagoinhas.
Seu pai José Cornélio Ramos era um artesão que fabricava sapatos sob encomenda para seus conterrâneos. Naquela época muitos dos sapatos usados no interior eram fabricados nas próprias comunidades por hábeis artesãos. E o Cornélio fazia além de sapatos, sandálias, chinelos, cinturões e outros objetos de couro. Já sua mãe Maria José da Silva Ramos era dona de casa e quando jovem pertenceu a juventude do Partido Comunista da Cidade de Alagoinhas. Naquela época as ferrovias estavam em pleno desenvolvimento no Brasil e por lá transitavam vários trens e haviam muitos ferroviários. É possível que esta militância seja resultado da atividade sindical na região. Brincando o Littusilva disse que sua mãe “era a único xamã comunista que conheci”. Isto porque a d. Maria José colocava cartas de Tarô e praticava outras atividades ligadas à espiritualidade.
Foto I - Casa residencial. Foto 2 - Clínica
médica ; Foto 3 - Catedral de Santo
Antônio, com a fachada projetada por
Littus . No  ano passado foi reformada
 perdendo sua identidade cultural.
O Littusilva é autodidata nas artes visuais, porém concluiu o curso de Técnico em  
Arquitetura, no Centro Integrado Luiz Navarro de Brito, em Alagoinhas, que funcionou de 1968 a 1979. Foi o primeiro curso secundário da cidade e sua turma de Técnica em Arquitetura foi a primeira e única. Neste Centro foram implantados os cursos ginasial e colegial, além dos cursos técnicos. Seu objetivo era ser um arquiteto, mas este sonho se realizou posteriormente com a formatura de uma filha que é arquiteta. Devido ao curso de Técnico em Arquitetura foi trabalhar no escritório do arquiteto Gildo Improta, que projetou muitos imóveis em Alagoinhas, e depois se transferiu para outra cidade. O Littusilva   se destacou desenhando projetos no escritória do professor Gildo Improta  e na ausência do seu empregador passou a fazer seus próprios projetos. Fez também o curso de design na EBADE – Escola Baiana de Arte e Decoração. Aos vinte e cinco anos criou uma construtora e passou a projetar e construir casas residenciais, clínicas e até reforma de igrejas. Disse que até a catedral de Santo Antônio, de Alagoinhas, ganhou uma identidade arquitetônica própria e lá fez um grande painel de concreto. Mas, o atual bispo resolveu reformular e a identidade sumiu, ficando apenas o painel que representa o santo casamenteiro conduzindo a comunidade. Nesta catedral tem também um grande galo feito de bronze de autoria de Mário Cravo Júnior. Littusilva disse que o galo está voltado para a antiga casa dos pais do escultor. Segundo ele o pai de Mário Cravo foi prefeito da Cidade, e Mário teria ficado por lá parte da sua infância.  O Mário Cravo Júnior  o presenteou com um livro alemão de arquitetura, que foi importante para fazer seus projetos arquitetônicos, e guarda até hoje. Quando projetava e construía casas e outros imóveis notou que havia dificuldade em mobiliar as casas e outras construções modernas por falta de móveis compatíveis.

Móveis projetados e feitos na marcenaria
de Littusilva.
Aconteceu que diante das constantes crises da economia brasileira sua construtora foi afetada e decidiu fechar e se dedicar inicialmente a desenhar móveis. Em seguida montou uma marcenaria especializada na fabricação de móveis modernos e chegou a ter mais de quarenta funcionários. A clientela era das classes média e alta e muito exigentes, e ele procurava cada vez mais aprimorar seus móveis. Porém, sabem que o empreendedorismo não é o forte dos artistas. Foi se chateando com fornecedores, clientes e com a burocracia estatal terminando por fechar sua marcenaria. O Littusilva confessa que formou muitos mestres de marcenaria que hoje estão trabalhando em suas oficinas atendendo sua clientela. Nesta época da marcenaria havia ainda em Alagoinhas muitos bons funileiros e outros profissionais que trabalhavam na estrada de ferro. Ele afirmou também que este período coincidiu com seu divórcio da mãe dos seus três filhos, e que hoje sua ex-mulher e filhos residem em Minas Gerais onde são instrutores de yoga. Declarou que também chegou a praticar e ensinar yoga. Diante desses fatos aos quarenta e sete anos desistiu definitivamente de ser empresário e passou a se dedicar à sua arte. Disse que foi e ainda é um grande desafio para ele. Atualmente pinta e desenha diariamente em seu ateliê e que também é um militante cultural muito ativo. Nesta sua militância confessa que após realizar o movimento etnoarqueológico na sua região conseguiu catalogar vários objetos materiais e imateriais marcantes do modo de sentir e pensar dos povos tradicionais caiçaras.

                                     PINTURA

Observem a leveza do traço e a composição
equilibrada nas figuras que ele pinta.
Sua pintura tem uma figuração,composição e colorido diferenciados. Seus traços são livres e cntornam parcialmente as figuras que desenha e pinta. Reconhece que pode ter sido influenciado por importantes pintores inclusive Carybé, o próprio Mário Cravo Júnior, com quem teve uma boa aproximação, mas que atualmente gosta muito do trabalho do pintor paulista Paulo Sayeg.  Ele se refere ao Paulo Eduardo Sayeg,  nascido em 1960, em São Paulo, e é pintor e desenhista. Porém, enfatiza que hoje tem sua própria linguagem artística e que “não quero desenhar simplesmente o ser humano. Desenho dentro de uma visão e todo o conjunto cultural de uma ancestralidade e conto histórias através dos meus desenhos e pinturas. Extraio da minha memória as figuras dos índios tupinambás, dos vaqueiros que rompem a caatinga em busca de uma rês perdida, e assim vou celebrando e homenageando a nossa gente. Este imaginário e símbolos precisam ser preservados e sempre lembrados porque nós descendemos e também dependemos deles.” E continuou: “Pra mim a arte é o silêncio visível. Procuro trazer para o campo da observação com poesia. Minha arte é uma expressão do silêncio fora das gavetas, algo que provoca no outro uma inquietação."

                                                      QUEM É

Totens que criou nas ruas de Alagoinhas.
Seu nome de batismo é Joselito 
da Silva Ramos, nasceu em treze de fevereiro de 1953, na cidade de Alagoinhas, interior da Bahia. É filho de José Cornélio Ramos e Maria José da Silva Ramos. Poetizando disse que enquanto nascia “o apito longo do trem anunciava partida. E o caboclo de olhos azuis, o sapateiro poeta, partia. Deixava esperança e medo na futura Casa Deyse, senti o cheiro da alfazema e ouvi o som do acordeon. Um grito sussurrado: É Homem! Nasci na oficina do sapateiro poeta, na cama do belo xamã comunista.”

Conta que sua infância “foi numa rua de areia branca, perto de tudo: das dores, ao lado da Delegacia; dos prazeres, à direita, com as doces mulheres da vida; das fantasias, na esquina, o Parque de diversões; e da sobrevivência, em frente, o Mercado das Carnes. Aprendi a acreditar em cegonhas, Papai Noel e em Homens Santos. Pintei o belo, desenhei sonhos. Vi a morte e seus mistérios, vi o som e a cor do tempo… Só não vi a cegonha, nem o Papai Noel e nem os Homens Santos. Hoje, escrevo, desenho, pinto e modelo peças mensageiras da minha África Tupi, como Littusilva.” Hoje ocupa uma cadeira na Academia de Artes e Letras de Alagoinhas.

Escolhendo objetos de fibras para a Feira
de Arte Popular que criou na sua cidade.
Criou uma Feira de Arte Popular, em Alagoinhas, para expor os trabalhos dos artesãos locais. Afirmou que foi muito difícil porque tanto o Instituto Mauá e o SEBRAE não lhes ajudaram nesta empreitada respondendo que Alagoinhas não tinha uma identidade cultural peculiar. Foi diante desta negativa que decidiu pesquisar nas feiras livres e na zona rural do município e recolher os objetos que fabricavam, os costumes, os símbolos culturais e religiosos. Com ajuda do Laguna Shopping conseguiu reunir objetos e informações e montou a Feira de Arte Popular.  Dai em diante não parou de estudar essas manifestações procurando mostrar que Alagoinhas tem sim, sua identidade cultural. Expôs muitos objetos, culinária e informações que hoje lhe permitem destacar a presença indígena nesses objetos e simbologias resistentes, muitos dos quais atribuídos de origem africana, quando na realidade são indígenas que se miscigenaram com a cultura dos africanos que aqui aportaram e se espalharam por todo interior do país.

                   ATIVIDADES E EXPOSIÇÕES

Instalações em cerâmica
e um caçuá feito de cipós.
Em 1972 - Conclui Curso Técnico de Arquitetura, No Centro Integrado  Estadual Luiz Navarro de Brito – ALAGOINHAS; 1973 - FEIRAM- Feira dos Municípios - Primeira exposição individual: Alagoinhas – Bahia – Brasil; 1983 - Conclui Curso de Design de Interiores na Escola Baiana de Decoração - EBADE- Salvador;  1985 a 1996 - Torna responsável do Asilo de Velhos Bezerra de Meneses como voluntário em Alagoinhas ; 1988 - Participa do curso de Yoga - extensão - Universidade Católica da Bahia; 1989 - Funda em Alagoinhas primeiro Núcleo de Yôga;  1999 - Coordena a primeira Campanha da Caminha da Paz em Alagoinhas a convite da Câmara de Vereadores;  2001 – Participa da coordenação de implantação da Escola de Pais do Brasil – EPB- em Alagoinhas; 2015 - Publicações na revista Ponto de Mutação do curso, Pós Critica de Cultura- Uneb ; 1978 a 80 - Coordena os primeiros Salões de Artes Plásticas de Alagoinhas - Na Faculdade de Professores de Alagoinhas.( Semana de Arte e cultura de Alagoinhas); 2001 – Torna-se membro da Academia de Letras e Arte de Alagoinhas - Funda o Ateliê Coletivo Waka, no Centro de Cultura de Alagoinhas. – Núcleo de Pesquisa da Identidade Cultural De Alagoinhas; 2006 - Participa do Salão Regional de Artes Visuais– Alagoinhas e Ganha o Prêmio de Destaque; 2008 - Participa do Salão Regional de Artes Visuais do Interior da Bahia como homenageado pelas pesquisas realizadas e pelo conjunto das obras. -Um dos trabalhos é a identidade Visual de 2009 dos Salões Regionais de Artes Visuais da Bahia; Participa da Bienal do Recôncavo da Bahia em S. Félix ; Curador e Organizador da exposição Coletiva de Artes Visuais na inauguração da Galeria de Arte Mário Cravo, na sede da FIGAM, em Alagoinhas; 2012 - Curador e Organizador do Encontro Mítico - Coletiva de Artes Visuais no Centro de Cultura de Alagoinhas;  2014- Coordena o Movimento dos Artistas Plásticos de Alagoinhas - MAPA ; Curador e Organizador da Exposição Coletiva de Artes Visuais - o Meu Quintal, no Centro de Cultura de Alagoinhas; Curador e Coordenador da
 Littusilva durante a nossa
conversa sobre sua trajetória.

Intervenção Artística do MAPA no CCA : Os Saberes do Meu Quintal; Coordenador e Curador da Ocupação Artística no Antigo Matadouro, Anexo do Centro de Cultura de Alagoinhas, com a denominação de Casa do Boi Encantado, em parceria com o MAM na Terceira Bienal da Bahia;
2015 – Através  a Galeria d’Arte Associazione Culturale da Itália, participa da Biennale dei Castelli dela Gera d’Adda; 2016 – Na Casa do Comércio em Salvador expõe na Coletiva de Artes Visuais “Outubro Rosa”; 2017 - Participa na Anjos Art. Gallery da exposição coletiva “Encontro de Tons ”;  2018 - passa a assinar como Littusilva e participa do Le Carrousel Du Louvre; 2019 - Exposição individual - Galeria Gotelib, Shopping Cassino Atlântico, Rio de Janeiro;  Expõe no  Salão de Arte Contemporânea Internacional em Maceió - AL, como convidado especial;  2022 – Recebe o Titulo Doutor Honoris Causa – Faculdade de Formação Brasileira e Internacional de Capelania.
 Este curso de Capelania prepara profissionais para oferecer assistência espiritual, conforto emocional e suporte moral às pessoas.


sábado, 15 de março de 2025

RENER RAMA FAZ UMA IMERSÃO NO UNIVERSO DAS CORES

 Rener Rama trabalhando num  ensaio
em busca de novas tonalidades de cores.
Estive observando o atual processo criativo do artista Rener Rama em seu ateliê no bairro dos Barris, em Salvador, na sua busca contínua por uma pintura que se caracteriza pela contemporaneidade .Ele busca a amplitude da cor em todo o espaço da tela ou do papel através das constantes camadas de tintas que vão se sucedendo e se misturando em degradés quase imperceptíveis.  Está fazendo vários ensaios em  pequenos formatos no papel e presenciei o artista pintando um desses cartões. As pinceladas são rápidas e em seguida vai espalhando freneticamente  a tinta guache de várias cores em camadas que se misturam até formar uma cor na tonalidade que lhe agrade. O resultado é sempre surpreendente, imprevisível.  Ele disse que a tinta guache quase não respeita o seu comando e esta dificuldade o estimula a buscar  ainda o que deseja.Tudo é feito rapidamente porque a tinta guache que usa em seu estado pastoso seca rapidamente e Rener precisa encontrar uma tonalidade que seja abrangente em todo o espaço que está usando para pintar. Com a tinta acrílica deve ser quase mesma coisa principalmente porque costuma trabalhar com grandes telas e precisa espalhar a tinta em largos  espaços. A tinta acrílica é melhor para sobrepor camadas de tinta e a  secagem também se dá em pequeno espaço de tempo. Confesso que é preciso olhar e olhar com satisfação esses espaços mágicos  coloridos criados por Rener Rama os 
As obras de Rener Rama merecem uma
observação atenta e  reflexão sobre
o que estamos vendo, 2023.
quais nos transmitem energia e vibração. Ficamos procurando pequenas nuances de cor e vamos sendo tomados de alegria nesta contemplação. É como se a gente estivesse olhando um céu sem estrelas e começássemos a catar alguma estrela, e no final descobrimos que quase não há estrelas, e tampouco nuances de cor nas telas coloridas do artista. Elas têm sim, uma vibração, energia  e um encantamento próprios que nos transportam para o mundo mágico da pintura pela pintura. A pintura de Rener Rama tem o dom da simplicidade, e é muito difícil fazer o simples.

Evidente que estamos diante da produção de um artista  fortemente influenciado pelo
minimalismo, que é um movimento artístico surgido nos Estados Unidos nas décadas de 50/60 caracterizado por esta abordagem que valoriza a simplicidade e o essencial. Temos artistas minimalistas na arquitetura, na literatura, no design, e até na tecnologia.  Nos ensaios que vem fazendo, e já somam perto de quatrocentos, todos estão numerados e alguns trazem ainda quantas camadas de tinta ele usou para chegar naquela tonalidade de cor. Durante nossa conversa disse que adotou quatro princípios orientadores no seu processo criativo : continuidade, maciez gradual, diversidade cromática e intensidade cromática. Chegou a enviar para uma galeria paulista um pequeno texto com estas explicações técnicas sobre como vem trabalhando nestes ensaios. Vejamos:
Antes Rener Rama criava  obras com 
figuras, as quais foram se diluindo até
desaparecerem ao aprimorar a 
sua técnica pictórica.

Continuidade - Chamo de continuidade aquele efeito visual em que cada parte do espaço é interligada a outra sem qualquer tipo de divisão ou interrupção nesse fluxo de espaço, fluxo espacial que é simultaneamente fluxo cromático. A ideia de fluxo me interessa na medida em que nos convida a uma experiência contemplativa extrema, quando a pintura opera como suspensão da experiência do mundo, oferecendo-se em seu lugar como experiência festiva, prazerosa, plenificadora.” Quando ele fala em  plenificadora refere-se a pleno, completo.

Maciez Gradualé um efeito visual em que a passagem de uma cor para outra é  operada com a máxima gradação e suavidade, construindo, assim, uma extensão em que se opera o degradê de cores . Simultaneamente, o gerenciamento do tamanho da extensão que este terá no espaço geral da pintura. Com tal gerenciamento, produzo inúmeros e diferentes tamanhos e intensidades de degradês. Sem sair do mesmo conceito operacional (maciez em gradiente), produzo diferentes combinações de degradês.”

O artista é um pesquisador incansável em
busca de uma pintura contemporânea que
lhe satisfaça em toda a sua plenitude.
 
Diversidade Cromática : “ é a utilização de grande quantidade de cores que, mesmo com sua variedade, convergem para o estabelecimento de um matiz predominante, valorizando a produção de uma sensação de continuidade espacial.”

Intensidade Cromática : “Chamo de intensidade cromática a elevação da cor a sua máxima saturação por meio do uso de cores puras, combinadas com operações de contraste simultâneo, modulação tonal e expansão da cor em grandes áreas no espaço total da pintura.

                                                        SUA TRAJETÓRIA

Disse que trabalha com arte desde a infância e “sempre interessado em aperfeiçoar suas possibilidades expressivas e formais.”  Mas, na  virada da década de 80/90  iniciou profissionalmente após ser impactado por artistas como Anselm Kiefer, Sandro Chia e Daniel Senise  passou a pintar enquanto fazia o curso de Artes Plásticas, além de participar de salões e mostras individuais e coletivas. Fez o Mestrado na EBA em 2001 quando deu início a uma fase conceitual e tecnicamente mais embasada em sua obra. Disse ainda que segue “essencialmente na pintura, sempre curioso e interessado nas possibilidades expressivas dessa linguagem no contexto da subjetividade contemporânea”.

Obras da exposição A Nova Mão Afro-
Brasileira, no Museu Afro-Brasil
em São Paulo, 2018.
 Investiga e desenvolve  especialmente a partir de 2000, uma pintura focada em questões do espaço que submete a processos de minimização da fatura, suavização de polaridades e mistura da cor com o próprio espaço da obra. Trabalha como uma espécie de franco pintor, buscando instaurar pelo próprio fazer da pintura, um campo pictórico com o sentido de totalidade e expansão . Produz na busca de um resultado em que o espaço e a cor possam ser contemplados como uma mesma realidade. As pinturas a partir de 2023  representam uma importante consolidação do que tem investigado nos últimos 24 anos.

Vemos aí a variedade de tonalidades
de cores em degradés com suavidade.
Ensaios feitos em pastel seco sobre papel.
Sendo um  artista, especialmente interessado em pintura, disse que foi influenciado incialmente por sua mãe e avós que foram muito criativos sempre construindo, brinquedos com recicláveis, pedra e outras coisa e às vezes sem nome, mas que lhe impactavam por suas cores. “Depois de uma adolescência introspectiva e mergulhado em muitas leituras, incluindo o cromatismo, para mim, impactante dos quadrinhos da Disney, cheguei às influências mais fundamentais na minha obra, nessa fase, paralelamente ao curso de artes plásticas," lembrou Rener. Em seguida destacou, “as vertentes pictóricas me influenciaram: a primeira influência vem de artistas que me despertaram para o sonho de uma pintura densa, enérgica e com ênfase na exploração da amplidão espacial. Cito então, Sandro Chia, Sante Scaldaferri, Jackson Pollock, Anselm Kiefer, Daniel Senise e Iberê Camargo. A outra vertente de influência me levou primeiro a um mergulho no cromatismo e depois à relativização daquele sonho inicial por uma densidade pictórica. Falo então de Mark Rothko, Yves Klein, Ianelli, Volpi, e os minimalistas Donald Judd e Dan Flavin.”

                                                 QUEM É

O artista Rener Rama mostrando  obra
de sua autoria inserida num livro.
O Rener José Ramos Anselmo nasceu em seis de março de 1968, em Serrinha, interior da Bahia. É filho do ex-funcionário do Banco do Brasil Valmir José Anselmo e de d. Maria Helena Ramos Anselmo, tem mais dois irmãos. Estudou na Escola  Tio Patinhas, Escola Paroquial de Serrinha e na Escola André Negreiros até a quinta série quando seu pai foi transferido para Salvador, e vieram morar na Rua Bernardo Catharino, no bairro da Barra. Aqui foi matriculado na Escola Oswaldo Valente, que funcionava na Rua Presidente Kennedy, na Barra, e que hoje não mais existe. A seguir foi estudar no Colégio Sartre, da Barra, onde concluiu o ginásio e o colegial.

Falando de sua infância lembrou que desenhava muito e que seus pais e tios sempre o presenteavam com cadernos de desenho , lápis de cor e tintas . Enquanto seus amigos iam jogar bola ele preferia ficar em casa desenhando e tocando violão e guitarra. Mas, aos dezoito anos achou que a música ia lhe aprisionar largou os instrumentos musicais e foi fazer o vestibular para engenharia elétrica. Não foi aprovado, e logo depois decidiu fazer vestibular para as Artes Plásticas, sendo aprovado. Posterioemente  fez concurso e foi aprovado para trabalhar no Banco do Brasil, onde ficou quatro anos, teve que trancar a matrícula na EBA em 1993. Quando quatro anos depois o banco lançou o Programa de Demissão Voluntária-PDV ele saiu do banco, e foi se dedicar exclusivamente às artes visuais retornando em 1997 para a Escola de Belas Artes, concluindo o curso no ano 2000. Fez a pós-graduação e logo depois o Mestrado em Artes Visuais, quando apresentou seu trabalho com o título:  Há Pintura: O Espaço Pictórico como Instauração Poética e Advento do Visivo, sendo  aprovado com distinção.

Obra que integrou a Exposição Tropicália-30 Anos
no MAM-BA. 
Hoje vive exclusivamente de sua arte . Lembrou que estava fazendo uma exposição com Zau Pimentel, na Acbeu  em 1991 , e o Sante Scaldaferri foi ver as obras expostas. Ele gostou e o Rener Rama foi surpreendido com  um telefonema de Sante Scaldaferri que lhe declarou ter gostado das suas pinturas e lhe convidou a ir à sua casa em Itapuã. Para Rener Rama foi uma tarde inesquecível e conversaram muito sobre pintura . Recordou  que em certo momento Sante lhe disse: "Pintura não é desenho", quase um princípio, e pensa até hoje o que é pintura, e o que pode ser pintura? É uma reflexão e lhe locomove muito dentro da pintura, e vê como uma linguagem inesgotável. Tem uns quatro anos que vem dando valor a pintura pela pintura e a figuração foi naturalmente desaparecendo de suas obras. Hoje diluiu completamente a figuração pela própria linguagem pictórica e está decidido  a continuar nesta caminhada.

Não é uma pintura monocromátrica, fez questão de ressaltar, embora muitos podem se confudir que ali tem apenas uma cor. São camadas de cores que resultaram naquela tonalidade.  Ele disse que do ponto de vista do mercado a pintura que faz atualmente ainda é uma incógnita

Ilustração  para o livro de poemas de
Alex Rocha, Esperando a Madrugada,
 que fez em 2018.
tem gente que gosta da figuração.Talvez   não entendem e nem conseguem fazer  um comentário , uma leitura desta nova pintura que estou fazendo. À esta altura não consigo voltar à figuração. Disse que o Emanoel Araújo ao conversar com ele disse que “é um milagre você estar fazendo este tipo de pintura neste meio local .”  No entanto Rener Rama acredita que "pode ser difícil, mas deve ter um nicho, deve existir pessoas que compreendem e gostam deste estilo de pintura. Vou aqui fazendo minhas obras e este degradê que venho fazendo quero encontrar um ponto mais sofisticado, e em algum momento desses ensaios onde estou usando o guache sobre papel vou voltar para o acrílica e pintar minhas telas."

Outra boa lembrança foi sua convivência com o artista Joãozito Pereira, (faleceu em 2017),  que foi seu colega na Escola de Belas Artes, e na época trocavam  experiências. Quando foi fazer o Mestrado reencontrou o Joãozito na Eba, e ele disse: " O que está fazendo aqui?", como se eu não tivesse mais nada a aprender ali. Ele era dessas tiradas, e foi um artista  que sempre queria mais, buscar mais, ousar mais. Nunca estava conformado com o que fazia, e isto me incentivou a buscar sempre mais. Chegamos a ter um ateliê no Pelourinho e disse que o Joãozito sempre pensava grande."

                                                              REFERÊNCIAS

Obra Estado de Bem-Estar, de 1998.
SAJA – Veja  parte de um texto escrito pelo professor e filósofo Saja em 1998 falando  de Rener Rama: sobre as obras apresentadas na exposição Fiat Lux: “O trabalho apresentado aqui por Rener Rama é, sem dúvida, uma contribuição ao conhecimento da face deste homem, e isso é muito bom! Essa é a sua contemporaneidade: não apenas uma bolação acrobática de novas formas, novas disposições, novas – já tão velhas – invenções técnicas, mas um compromisso efetivo com o futuro do homem e do mundo. Em Fiat Lux, o que se encontra é mais uma promessa, um tempo para sempre adiado de luz que, paradoxalmente, é toda aqui e para sempre agora. Vejo que ele trabalha com este ser que ainda virá, um homem do amanhã, sem em nada perder da sua mais cotidiana cotidianidade... o homem será amanhã o que conseguir ser hoje – como está dito no provérbio asteca: A terra será o que são os seus homens!"

MATILDE MATOS – escreveu em 1998 na mostra da Galeria Acbeu:“A pintura de Rener Rama é daquelas que a gente não esquece, facilmente reconhecível entre a leva de artistas surgidos nos libertários anos 90, que tendem a trocar Arte por Cultura quando não por decoração. É raro o artista desta geração que busca desenvolver o meio que ele próprio escolheu – a pintura – cujo avanço pode ou não coincidir com o andamento fugaz da cultura popular orientada pela mídia do nosso tempo. Evidentemente a facilidade deste apelo atrai os artistas. Rener também se utiliza da liberdade pós-moderna, mas busca a qualidade artística numa abstração fluida, instável, volátil, onde a referência figurativa é quase completamente apagada. Em alguns quadros desta mostra usa o objeto minimalista como ponto de referência, enquanto amplia o campo abstrato em torno dele. Pode contrastar o mesmo objeto sobre o preto e o branco, trabalhando em ambos a atmosfera de luz ".

RISOLETA CÓRDULA - publicado no catálogo da exposição (coletiva) Bahia à Paris: Arts Plastiques D’aujourd’hui, na Galerie Leonardo, Paris,1998: “O sentido de harmonia, o uso adequado do espaço e o tratamento requintado do suporte são características primordiais do trabalho de Rener Rama. Utilizando a espessura da tela e as cores em todo o seu impacto, o artista cria grandes espaços com impressionante contraste de sombra e luz, cenários para estranhas figuras isoladas símbolos do seu universo onírico."  Risoleta Córdola, 1998(Membro da Associação Internacional de Críticos de Arte - France)

EDUARDO EVANGELISTA- publicado no catálogo da exposição Natureza (duo Rener Rama e Zau Seabra) na galeria ACBEU, Salvador-BA, 1991 : {...} “Rener Rama revela um trabalho singular e bastante amadurecido, embora seja esta uma fase que está trabalhando há apenas um ano. Seu “Leit motiv” é o ser humano na sua consciência plena de SER, mostrando e mostrado na sua essência. Afigura humana é, portanto, uma constante em seu trabalho e o tratamento pictórico alia requinte técnico e liberdade formal. Gestos largos fazendo a sua forma se reportar, mantidas as necessárias distâncias, às de Iberê Camargo e Paulo Sayeg, em que o fundo faz figura, demonstrando, talvez, uma denúncia das contradições e, certamente, um apelo ao pensamento e à ação. Seu tratamento formal mantém o referencial com seus ulteriores trabalhos a nanquim, onde explorava com acerto e muito bem os efeitos do preto-branco, criando zonas de tratamento que faziam surgir os elementos e as figuras do próprio suporte. Nisto, segue Darel e o faz muito bem. Segundo depoimento do próprio artista, não se trata de retratar nem o pranto nem a alegria, mas captar o todo sem outras emoções que não as estéticas.”

Capa do catálogo da exposição Fiat Luz, 1998.

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS 

2010 -Exposição retrospectiva – Evento comemorativo dos 14 anos do Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira – Feira de Santana - Ba ; 2008 - Pessoas e Bolas – Galeria do Conselho – Salvador-BA ; 2003 - Há Pintura – Galeria ACBEU Salvador-BA ; 2000 - Fiat Lux – Galeria SESC PAULISTA – São Paulo-SP; deZENhos – Galeria Moacir Moreno, Theatro XVIII – Salvador-BA ; 1998 - Os Universais – Galeria ACBEU Salvador-BA; Fiat Lux– MAM – Salvador-BA ; 1994 -Coração - My Heart - Love - No Chance – Galeria ACBEU – Salvador-BA;  1988 - Arame Farpado – Escola de Belas Artes,da UFBA – Salvador-BA.

EXPOSIÇÕES COLETIVASEm 2013 - A Nova Mão Afro-brasileira - Museu Afro Brasil - São Paulo - Sp ; 50 anos de arte na Bahia - Caixa Cultural - Salvador - Ba; 2010 - Novas aquisições do Museu de Arte Moderna da Bahia - Salvador – Ba ; Circuito das artes - Palacete das Artes -Museu Rodin - Salvador-BA; Panorama ; 2010 – Mostra de Fotografia – Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira – Feira de Santana-Ba ; 2009 - Exposição 2.234 – Casarão,Largo de Santo Antonio a Carmo – Salvador -Ba ; 2008 - 15º Salão da Bahia – MAM – Salvador-BA ; 2007 - XIII Salão Unama de Pequenos Formatos - Galeria Graça Landeira - Belém-PA ; Salões Regionais de Artes Visuais da Bahia – Juazeiro-BA ; Afetos Roubados no Tempo – Caixa Cultural – Salvador-BA ; 2006 VIII Bienal do Recôncavo – São Felix-BA; Guardares - 15º Encontro Nacional da Anpap - arte: Limites e Contaminações – Galeria Cañizares – Salvador-BA; 25 Artistas Baianos - 25 anos Galeria Solar do Ferrão – Solar do Ferrão – Salvador-BA; Afetos Roubados no Tempo - Espaço Eugénie Villien na Faculdade Santa Marcelina – São Paulo-SP; 2005 - Volta a São Paulo em Mais de 80 Malas – Museu de Arte e Cultura de Caraguatatuba – SP; Art For Today – Galeria ACBEU Salvador-BA ; 2004 - Uma Viagem de 450 anos – Sesc Pompéia – São Paulo-SP; Acervo da ACBEU - Museu
Regional de Arte da UEFS – Feira de Santana-BA ; 2002 - VI Bienal do Recôncavo – São Felix-BA; Arte Arte Salvador – Museu da Cidade (inauguração) – Salvador-BA ; 
Art For Sale – Galeria ACBEU Salvador/BA; 2001 - Exposição Comemorativa dos 125 Anos da Escola de Belas Artes – Conjunto Cultural dos Correios – Salvador-BA ; Pintura em Gestos de Paz – Conjunto Cultural da Caixa – Salvador/BA ; 2000 - 8º Salão de Artes Plásticas de Rondônia – Porto Velho-RO ; V Bienal do Recôncavo – São Felix-BA ; 25 Anos da Galeria ACBEU – Salvador-BA ; 1999 - 100 Artistas Plásticos da Bahia – Museu de Arte Sacra – Salvador/BA; Salão Regional de Juazeiro – Juazeiro - BA; Arte Arte Salvador – Memorial de Curitiba – Curitiba-PR ; 1º Exposição Leilão de Arte GACC – MAM – Salvador-BA ; 1998 - Tropicália 30 Anos – MAM – Salvador-BA ; IV Bienal do Recôncavo – São Felix-BA; Projeto Salvador Arte-Arte 450 anos – MAM – Salvador-BA ; Bahia a Paris – Arts Plastiques d’aujourd’hui – Galerie Leonardo – Paris-França;  1997 - Um Brinde ao Café – Cafeliê – Salvador-BA ; 1996 - 150 Anos da Cia. dos Portos da Bahia – Salvador-BA Banco de Talentos –Memorial da América Latina – São Paulo-SP ;1995 - III Bienal do Recôncavo – São Felix-BA ; II Salão da Bahia – MAM – Salvador-BA ; 

Obra em acrílica sobre tela . A vibração
da cor encanta a espectadora, 2023.
1994 - I Salão da Bahia – MAM – Salvador-BA ; Banco de Talentos – Memorial da América Latina – São Paulo-SP ; 1993 - II Bienal do Recôncavo – São Felix-BA ; 3ª Exposição de Arte dos Alunos e Funcionários da ACBEU – Galeria ACBEU – Salvador-Ba; 1992 - Exposição/Workshop com Luís Paulo Baravelli – MAM – Salvador-BA ; Encontro de Artistas Plásticos no Passeio Público do Palácio da Aclamação (Dia Internacional do Teatro) –promovido pelo Teatro Castro Alves – Salvador-Ba; 1991 Natureza – Galeria ACBEU – Salvador-BA ; Salão Treze – Biblioteca Central dos Barris – Salvador-BA ; I Bienal do Recôncavo – São Felix-BA ; 1990 - 27 Anos da Galeria Treze – SESC-SENAC – Salvador-BA ; 1989 - GA8889 – Teatro Castro Alves – Salvador-BA; 2º Salão Baiano de Artes Plásticas – MAM – Salvador-BA ; 1988 - 25 anos da Galeria Treze – Teatro Castro Alves – Salvador-BA ; Salão Universitário de Artes Visuais – Teatro Castro Alves – Salvador-BA ; MAM (Museu de Arte Moderna)

PRÊMIOS : 2008 - 15º Salão da Bahia – MAM – Salvador-BA ; 2007 - Salões Regionais de Artes Visuais da Bahia – Juazeiro-BA ; Prêmio Matilde Matos – Edital de Montagem de Exposição – Salvador-BA ; 2000 - 8º Salão de Artes Plásticas de Rondônia – Porto Velho-RO; Prêmio V Bienal do Recôncavo – São Felix-BA – Menção Honrosa; 1996 - 150 Anos da Cia. dos Portos da Bahia – Salvador-BA – Prêmio (pintura) ; 1995 -  III Bienal do Recôncavo – São Félix-BA – Prêmio ; 1992 -  Concurso de Mural para a Escola de Belas Artes – Salvador-BA – Prêmio ; 1991 -  Salão Treze – Biblioteca Central dos Barris – Salvador-BA – Prêmio; 1990 -  Concurso de Mural para a Escola de Belas Artes – Salvador-BA – Menção Honrosa ; 1988 - 25 Anos da Galeria Treze – Teatro Castro Alves – Salvador-BA – Menção Honrosa.

OBRAS EM ACERVOS : Museu Afro Brasil ; Museu de Arte contemporânea da Bahia ; Museu de Arte Moderna da Bahia ; Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira ; Centro Universitário de Cultura e Arte ; Prefeitura Municipal de Salvador; Galeria Sesc Paulista ; Galeria Sesc Pompéia ; Coleção Antônio Gatto ;Theatro XVIII ; Associação Cultural Brasil-Estados Unidos – ACBEU; Coleção Sante Scaldaferri e  Centro Cultural Danneman.


sábado, 8 de março de 2025

ANJOS BALDIOS POVOAM O MUNDO VISUAL DE NELSON MAGALHÃES

O pintor Nelson Magalhães no seu ateliê
trabalhando, em março 2025.
O artista Nelson Magalhães Filho é pintor, cineasta e poeta. Está presente nas redes sociais principalmente no Instagram onde publica as obras que revelam a sua atual produção artística. Mas, afirmou que anda recluso ultimamente e preferiu que enviasse as perguntas para elaboração deste texto através do e-mail. Confesso que esta é a primeira entrevista que faço  usando esta ferramenta porque sempre prefiro o tête-à-tête com o artista, porque a conversa é franca e as perguntas vão surgindo enriquecendo o texto que vou escrever a seguir. Mas, não consegui uma entrevista presencial ou mesmo através de vídeo com o Nelson Magalhães. O curioso é que o Nelson além de ser formado desde 1983 pela Escola de Belas Artes, da UFBA, é bacharel em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia -UFRB, desde 2019.  Já fez cinco vídeos que estão à disposição no You Tube, portanto é um artista que vive envolvido com as imagens. Outra curiosidade é que  seu e-mail traz as palavras anjos baldios conjugadas .  Segundo o dicionário, baldio é um substantivo masculino que significa terreno abandonado. E a origem da palavra baldio deriva do árabe "bátil", que significa "inútil, vão". E nos primeiros escritos que me encaminhou leio este poema que traduzem um pouco, e são reveladores do que nos espera.      Anjobaldio – 
Obra da série Diário da Peste, 2022.
Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade / e nos dentes postos sobre a mesa / como um escapulário tua lascívia eu pressinto. / Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso. / Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores / como se não fosse coberto pela escuridão. /Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim / e a captura de insetos do inferno em teus cabelos. / Em inquietude, me preparo para a dor.”

Como diz  a sua colega Lígia Aguiar, o Nelson Magalhães “tem o figurativo como base do seu trabalho, porém o desconstrói com largas pinceladas e fortes cores o que evidencia as formas abstratas e também matéricas, o que resulta num trabalho único, autoral o que lhe identifica”. Examinando as obras que ele publica nas redes sociais a grande maioria tem rostos que revelam também algo de atormentado nas imagens que restam dessas pinceladas e riscos que ele dá freneticamente para conseguir a desconstrução das figuras. Dizem que as obras de arte refletem sempre os momentos que os artistas estão vivendo. Não sei até que ponto isto pode ser verdadeiro, e se as obras recentes refletem este momento criativo de Nelson Magalhães. O que posso afirmar é que as imagens são fortes e nos levam a refletir sobre muitas coisas, enquanto as observamos. São bem construídas e que não passam imperceptíveis no rolo compressor de milhares de informações que as redes sociais nos mostram a cada instante. Lembrei do período que o pintor gaúcho Iberê Camargo permaneceu preso por tentar defender uma mulher que estava sendo agredida e terminou cometendo um crime, sendo condenado e  preso. As obras que fez neste período têm a dramaticidade e alguma semelhança com algumas criadas por Nelson Magalhães.
Obra da série Bestunto Vazio, 2024,
técnica mista sobre papel.

                               QUEM É

O artista Nelson Magalhães Filho nasceu em trinta de julho de 1958 na cidade Cruz das Almas, interior da Bahia. Filho de  Nelson Magalhães foi funcionário do IPEAL e depois da Embrapa e sua mãe Teresinha Santana Magalhães, costureira. Herdou o dom artístico de seu avô paterno e de seu pai que eram cronistas e também poetas. Lembra que estudou na Escola Landulfo Alves e também na Escola Comendador Themístocles e que sua professora Margarida Elói adotou um livro de histórias e fábulas fantásticas que lhe impressionaram muito na adolescência. Quando estudava no Colégio Cruz das Almas ganhou uma coletânea dos livros de Edgard Allan Poe, “como o aluno mais assíduo da biblioteca”. Em seguida foi estudar no Colégio Alberto Torres, antigo CEAT. Juntamente com seu amigo e colega Welligton Sá fundaram um jornal chamado de Reflexos de Universos, que era rodado num velho mimeógrafo a óleo,  que existe como revista até hoje.  Quando veio para Salvador cursou a Escola Técnica Federal da Bahia, no bairro do Barbalho. 

Nelson na Escola de Belas Artes,
no ano de 2010.
Para ele a arte sempre foi “uma necessidade essencial e que teve uma infância povoada de fantasmas, acredito que a vida se mistura à ficção, e a imaginação surge a partir do desejo, do anseio de relembrar”. Também que a região de Cruz das Almas onde reside é carregada, segundo ele, de uma ancestralidade fantástica. Passava sempre suas férias na roça de seus avós maternos, e também em São Félix e Cachoeira, com os avós paternos. Em Cruz das Almas havia um cinema perto da casa onde morava e passou a adolescência vendo filmes todos os sábados à noite, e às vezes também aos domingos e quartas-feiras. “Ficava arrebatado com aquela feitiçaria extraordinária. Era o Cine Ópera, que resistiu até o final da década de 80. Depois veio o Cine Glória que também foi muito importante para despertar minha sensibilidade pela arte e da construção de minha cinefilia. Ali assisti todos os gêneros de filmes como os westerns spaghettis dirigido pelo italiano Sérgio Leone, com Clint Eastwood; Gandhi em 1982, com Richard Attenborough; O Exorcista em 1973, com William Friedkin; diversos dráculas com o ator Christopher Lee, e também a trilogia Mad Mix, em 1979, dirigida por George Miller.” Nesta época o Nelson Magalhães lia os livros de Edgard Allan Poe e sentia um fascínio especial por filmes de terror.  Seu pai escrevia crônicas para um jornal local e em sua casa havia uma estante com muitos livros “que também me deixavam fascinado, daí pode ter sido minhas referências para gostar de escrever e desenhar", disse o artista. Lembrou também que começou a pintar com um velho mestre chamado de Seo Zeca Salomão, que lhe apresentou à Van Gogh e o incentivou muito a fazer a Escola de Belas Artes. Neste tempo o Nelson Magalhães lia muito História em Quadrinhos e reuniu as pinturas que fez e foi expor na sede da Lyra Guarani, que é a filarmônica local da cidade onde mora até hoje. Nesta época recebeu um violão de presente do pai e também passou a se interessar pela música.

                                                       PAIXÃO PELO CINEMA

Ao concluir o curso de Eletrotécnica na Escola Técnica Federal entrou para a Escola de Belas Artes no início da década de 80. Classifica sua presença na EBA “como maravilhosa, tive colegas muitos talentosos. Meus professores eram os melhores Juarez Paraíso, Ailton Lima, que me ensinou as técnicas de pastel seco e oleoso, a Mercedes Kruschewisky, Márcia Magno, Ana Maria Vilar, professora de Teoria e Técnica de Pintura, com ela aprendi a trabalhar com aquarela, guache, nanquim e colagem. Lembrou ainda dos professores Carlos Eduardo da Rocha, Sônia Rangel, Yêdamaria, dentre outros. Mas, quem o influenciou foi a professora Graça Ramos, e disse que “devo a ela quase tudo que aprendi em pintura e com as aulas de Integração Artística. No meu curso de Artes Plásticas tinha uma turma que era formada por alunos de Belas Artes e das Escolasde Teatro , Música e Dança, e estudávamos Desenho e Plástica, Música, Dança e Teatro”.
Capas dos livros de poemas de 
sua autoria.

O Nelson Magalhães gostava muito desta integração e foi justamente por causa dessas aulas que passou a se interessar por cinema e teatro. Ele concluiu o seu curso de graduação em 1983. Foi quando já iniciou umas incursões pela videoarte e passou a realizar curtas bem pessoais de cunho experimental, tentando hibridizar as linguagens e os gêneros cinematográficos. Para ele “fazer cinema veio então de uma necessidade interior muito forte, que foi viabilizado pela implantação da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB . Falou ainda que  o advento das novas tecnologias, as câmeras digitais e a realização da edição em softwares de fácil acesso, apresentaram mais mecanismos de manipulação e facilidade de se arquitetar e reproduzir um discurso cinematográfico. Concluiu sua graduação  em Cinema e Audiovisual em 2019 pela UFRB. Para ele "um curso maravilhoso, um dos melhores do Brasil. Dentre tantos, os professores Marcelo Matos e Angelita Bogado foram importantíssimos no meu exercício sobre a linguagem cinematográfica.” Disse ainda que durante sua estadia no curso de Cinema (no CAHL) sempre preferiu escrever roteiros mais poéticos, como aconteceu em
Série Diário da Peste, 40.
Técnica nanquim sobre papel.
vários curtas produzidos ao longo do curso de Cinema. Em Cadet Blues de 04'23, datado de 2012, ele filmou  um homem torturado que vagueia por passagens áridas sob um sol dilacerante, enquanto um blues incisivo vai destroçando sua própria aparição. O curta recebeu Menção Honrosa no XV Festival Nacional 5 Minutos – 2012 - Salvador-BA. Também teve Menção Honrosa no I Cine Virada Cultural, no I Festival Interno de Cinema e Audiovisual da UFRB – 2012 – Cachoeira-BA. Em 2018 finalizou Malvir de 24’22. Malvir mostra um senhor das cobiças esmagadoras que está sempre sentado nas margens de um rio de barro negro. Mas, suas primeiras paixões cinematográficas ocorreram justamente quando ainda estudava em Salvador-BA. "Nas aulas de Estética, do Professor Saja, na Faculdade de Ciências Humanas da UFBA, fui apresentado ao cinema de arte, ao cinema de autor. Ali conheci a poesia de Rimbaud, a Literatura de Borges, Cortázar, Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Juan Rulfo; a Filosofia de Friedrich Nietzsche, os escritores da geração beat, o Cinema de David Lynch, Wim Wenders, Píer Paolo Pasolini, Werner Herzog, Rainer Werner Fassbinder, Godard, Luís Buñuel e Lima Júnior, dentre outros. Também era frequentador assíduo da Sala Walter da Silveira, pois na época morava na casa de minha tia Olga Magalhães, no bairro dos  Barris, em Salvador, e o cinema do ICBA no Corredor da Vitória. Ali assisti inúmeros clássicos do cinema alemão e do cinema russo; filmes do Andrei Tarkovski, Serguei Eisenstein, dentre outros.”

                              PRÊMIOS E PARTICIPAÇÕES

Na Escola de Belas Artes da UFBA foi Professor Substituto de Pintura I e II de 2004-2006 e  2008 a 2010. Aproveitou para cursar como aluno ouvinte a disciplina Produção e Análise da Imagem, na EBA, sob a orientação do professor Taygoara Aguiar e juntos realizaram o curta metragem Samael , que teve também a participação da artista plástica e fotógrafa Karla Rúbia. Com pinturas e vídeos foi premiado várias vezes nas Bienais do Recôncavo no Centro Cultural Dannemann e nos Salões Regionais de Artes Visuais - FUNCEB. Em 1999 ganhou o Prêmio Copene, atual Braskem, de Cultura e Arte. Participou de diversas mostras individuais e coletivas em vários estados do Brasil, na Espanha - Segóvia, Barcelona, Málaga, Valladolid e Nova York (EUA). Ganhou o Edital Portas Abertas para as Artes Visuais 2009 (Funceb).

Obra em acrílica sobre tela da série
Anjos Sobre o Recôncavo, ano 2008.
Afirmou Nelson Magalhães que “a arte sempre esteve em minha vida desde a adolescência. Num catálogo da minha Exposição Anjos Baldios em 2010, na Galeria do Conselho Estadual de Cultura da Bahia, a professora de História da Arte da EBA/UFBA, Alejandra Hernández Muñoz, curadora, arquiteta, mestre em Desenho Urbano e doutora em Urbanismo pelo PPGAU/UFBA, escreveu sobre minhas pinturas: A atopia dos anjos baldios: um olhar sobre as pinturas de Nelson Magalhães Filho. Neste texto ela reflete que no momento contemporâneo nossa percepção é bombardeada pelo imediatismo das imagens eletrônicas, e nossas emoções são manipuladas pelos efeitos especiais e nossa capacidade crítica é anestesiada pelo acúmulo de informações.

Entretanto, uma leitura transversal do conjunto dessas pinturas permite a apreensão de algo maior, que transcende o âmbito de cada tela. Não se trata de um “fio condutor” ou de uma narrativa, porém, da constituição de uma realidade atópica. A palavra atopia designa algo extraordinário, estranho ou, até absurdo, sem a negação dos topos (lugar em grego) como a palavra utopia, forjada por Thomas Morus no início do século XVI, que significa “lugar inexistente” ou aquilo que “não se encontra em lugar nenhum”. Das pinturas de Nelson emerge um lugar. O conjunto das telas revelam essa atopia, falam de algo que, embora desafie nossa lógica, existe. Invertendo a ideia de representação, numa operação do avesso do olhar, na melhor tradição expressionista, o artista desencava desse lugar atópico uma fauna misteriosa de figuras que emergem do acúmulo de pinceladas e que não descrevem nenhuma realidade aparente. São anjos baldios, quase ubíquos, definidos pelas camadas de tinta e intangíveis além do suporte da tela (MUNÕZ).”

                                   O INTERIOR

Ateliê do Nelson Magalhães em
sua casa , Cruz das Almas-Ba.
Decidiu morar no interior onde disse ter sempre residência fixa em Cruz das Almas, interior da Bahia, e que  as viagens são curtas em relação a Salvador, "mas definitivamente resolvi ficar aqui logo depois que terminei meu contrato de Professor Substituto de Pintura na EBA, em 2010. Nessa época cheguei até a cursar algumas disciplinas, como aluno especial, do Mestrado em Artes visuais da UFBA, porém não quis mais continuar pra valer. De vez em quando ia pra Salvador me reciclar e frequentei algumas oficinas como -Processos Contemporâneos - no MAM, Solar do Unhão, com o Professor Caetano Dias, que também foi fundamental nos seus ensinamentos sobre o que acontece na arte contemporânea."

Nos anos 90 fez parte de uma banda pós-punk instrumental, a Cabaret Neopatético, com Graça de Sena, que também é a atriz, e Beto Rebelde, influenciada pelo Velvet Underground, Tom Waits, Nick Cave,  dentre outros. "Tocava uma guitarra meio performática e recitávamos nossos poemas durante as apresentações. Fiz também muito teatro e escrevi alguns textos que foram encenados no Teatro do Porão, da Casa da Cultura Galeno d’Avelírio, Cruz das Almas, BA. Escrevi quatro livros de poemas, dentre eles Cachorro Rabugento Morto em Noite Chuvosa (2010)."

                                 GALERIAS  DESINTERESSADAS

Frame do filme Cadet Blues,de 2012,
de Nelson Magalhães.
O artista Nelson Magalhães relatou que no tempo que morou em Salvador frequentava e deixou catálogo e currículo em algumas galerias, mas nenhuma se interessou por seu trabalho. “Como sou mais um artista outsider, minha arte vive à margem das galerias e do circuito de arte já faz tempo. De forma que não estou inserido no mercado e nem faço ideia como isso funciona. Claro que gostaria de ter uma galeria que me representasse. "A gente nunca está satisfeito, não é? Agradeço muito ao Aldo Tripodi, Reynivaldo Brito, Graça Ramos, Justino Marinho, Eduardo Evangelista, Matilde Mattos, Fernando Oberlaender, dentre outros, que sempre divulgaram meu trabalho nos jornais e revistas. Também sou muito grato a Galeria ACBEU que me acolheu em várias exposições individuais e coletivas, principalmente nas coordenações de Dilson Midlej e Stella Carrozzo. Hoje tenho casa própria, de vez em quando dou aulas particulares de pintura, vendo algum trabalho e vamos vivendo. Sou casado com uma pedagoga, a professora da rede pública, tenho 3 filhos, 2 netos e uma neta.”

Obra Anjos Sobre o Recôncavo 2, 2008.
 Confessa que seu processo criativo é muito caótico, já que não tem uma disciplina rígida, embora está diariamente  no seu ateliê  que disse ser  um pequeno quarto que fica aqui mesmo no fundo de minha casa, para pra ler, escrever, desenhar, pintar ou estudar guitarra. Não acredito em inspiração." 
Geralmente trabalha em séries, seja em papeis diversos, papelão ou telas, que ele mesmo prepara. Pinta várias delas ao mesmo tempo. Usa muita técnica mista, fica sempre experimentando com aquarela, lápis, carvão, nanquim, guache, acrílica, pastéis secos e oleosos. Praticamente já não usa tinta a óleo. 
O artista que mais lhe influenciou foi Van Gogh. Depois veio o fauvismo, o expressionismo alemão principalmente Ernst Ludwig Kirchner, Picasso, Modigliani, Soutine, Rouault, Egon Schiele. Mais tarde ficou fascinado pelo Grupo COBRA., Iberê Camargo, Art Brut (Jean Dubuffet), neoexpressionismo de Georg Baselitz, Willem de Kooning, o expressionismo abstrato e Basquiat. Atualmente quem mais lhe influencia é Francis Bacon.

 Citou  Nelson Magalhães que "tem uma coisa que o Miró falava que adoro até hoje: “Quanto mais envelheço, mais me torno louco ou agressivo, ou mau, como queiram...” Na verdade eu nunca saberia dar uma explicação convincente para o meu trabalho. Francis Bacon dizia que “as coisas parecem cruéis na arte porque a realidade é cruel. Talvez seja por isso que tanta gente gosta de abstração na arte. Porque você não pode ser cruel no abstrato... Eu procuro dar sensações sem a chatice da transmissão... a única coisa que faço é tirar as imagens do meu sistema nervoso tão bem quanto possa. Não sei o que metade delas quer dizer. Não estou dizendo nada nem sei se alguém consegue dizer alguma coisa à outra pessoa. Não tenho ideia do que os outros artistas possam querer dizer...”

Obra da Série Diário da Peste.
“Embora  tenha algumas séries mais narrativas, acredito que muita coisa vem do  inconsciente mesmo. Sou meio anárquico e com a idade vou ficando mais arredio. Assim, figuras se misturam com formas abstratas, às vezes orgânicas, matéricas, sem um pensamento prévio. Muita coisa vem do acaso mesmo. O mundo hoje é um caos, e o cotidiano é assombroso e turbulento, mesmo em cidades pequenas do interior. Então nesses tempos sombrios prefiro ficar mais recluso mesmo.”
Também revelou que não “tenho temas preferidos, mas a figura humana está bem enraizada em mim. Às vezes pinto só paisagens- ainda que bastante abstraídas- outras vezes faço figuras inspiradas na arte infantil - fiz muitas pinturas inspiradas nos desenhos de meus filhos-, na arte dos “loucos”, na arte bruta, e nisso que os críticos chamam de “Bad Painting”.Continuando disse  “sempre gostei de técnicas mistas, a experimentação é essencial para um artista. Já misturei arenoso (barro) com cola e outros pigmentos naturais, café com aquarela, lápis de cor, bico de pena, acrílica com betume da Judeia, areias diversas com resina acrílica e verniz, etc.

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS – Em 1974 - Cruz das Almas, BA -  na Filarmônica Lira Guarany; 1987 – Salvador, BA – Individual,  Desenhos e Pinturas, na Panorama Galeria de Arte; 1993  – Salvador, BA, na Galeria ACBEU; 1996 – Salvador, BA, na Galeria ACBEU; 1999 – Maragojipe, BA –na Casa da Cultura de Maragojipe; Salvador, BA –Prêmio Copene de Cultura e Arte (atual BRASKEM), Área de Exposições ACBEU Magalhães Netto; 2010 – Salvador, BA – Anjos Baldios, na Galeria do Conselho Estadual de Cultura; 2000 – Salvador, BA –Tauromáquina, Feira Cultural em homenagem à Espanha, no Shopping Piedade; Maragojipe, BA, na Casa da Cultura de Maragojipe.

Obra da série Bestunto Vadio , técnica
mista sobre papel, 2024.
SALÕES , BIENAIS E COLETIVAS – Em 1984 – Cachoeira, BA – Coletiva Verão / 84, no Museu Regional da SPHAN / Pró-Memória; 1986 – Salvador-BA – Coletiva – Mostra Baiana de Artes Plásticas, no Teatro Castro Alves; Cruz das Almas-BA – Coletiva, na Biblioteca Municipal de Cruz das Almas ; 1987 – Conceição do Almeida-BA – Expoart Recôncavo, na Biblioteca Pública Geraldo Coni Caldas; Conceição do Almeida-BA – Coletiva, na Arteviva Maristela Menezes, na Galeria de Arte; Salvador-BA – Exposição de Artes da Bahia, no Gabinete Português de Leitura, por ocasião da visita do Presidente de Portugal, Dr. Mário Soares; Cruz das Almas-BA – I Mostra de Artes Plásticas, na Fundação Cultural Galeno d’ Avelírio; 1988 – Cruz das Almas-BA – II Mostra de Artes Plásticas, na Fundação Cultural Galeno d’ Avelírio; 1990 – Cruz das Almas-BA – III Mostra de Artes Plásticas, na Fundação Cultural Galeno d Avelírio; Cruz das Almas- BA – Coletiva, na Fundação Cultural Galeno d’ Avelírio; São Félix-BA – Artistas do Recôncavo, na Casa da Cultura Américo Simas,  por ocasião do Centenário de São Félix; 1991- São Félix-BA – I Bienal do Recôncavo, no Centro Cultural Dannemann; Salvador-BA – Exposição de Artistas Premiados e Convidados da I Bienal do Recôncavo, na Fundação Gregório de Mattos; 1992 – Cruz das Almas-BA – V Mostra de Artes Plásticas. Fundação Cultural Galeno d’ Avelírio; São Félix-BA – Exposição Coletiva, no Centro Cultural Dannemann, por ocasião do show Verdesurbanos, com Tetê Espíndola e Itamar Assumpção; 1993 – São Félix-BA – II Bienal do Recôncavo, no Centro Cultural Dannemann; 1994 – São Félix, BA – Coletiva. Modernidade, no Centro Cultural Dannemann; Cruz das Almas- BA – Coletiva, no Shopping Avenida; São Félix-BA – Coletiva, no Centro Cultural Dannemann;  1995  – São Félix-BA – III Bienal do Recôncavo, no Centro Cultural Dannemann;  Feira de Santana-BA – XI Salão regional de Artes Plásticas da Bahia, no Centro de Cultura Amélio Amorim; 1996 -  Cruz das Almas-BA – Coletiva, na Fundação Cultural Galeno d’Avelírio;  1997 – Valença-BA – XX Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, no Centro
Nelson no ateliê, em 2025.

de Cultura Olívia Barradas; Porto Seguro-BA – XIX Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, no Centro de Cultura de Porto Seguro; Feira de Santana-BA – XVIII Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, no Centro de Cultura Amélio Amorim ; Juazeiro-BA – XV Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, no Centro de Cultura João Gilberto ; Exposição Coletiva de Artes Plásticas do Festival de Artes do Recôncavo, promovido pela Escola de Belas Artes – UFBA (em comemoração aos seus 120 anos) e  pela Fundação Museu Hansen Bahia ; Alagoinhas-BA – XXI Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, no Centro de Cultura de Alagoinhas ;   Salvador-BA – Coletiva, no Clube Baiano de Tênis; Vitória da Conquista-BA – XVI Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, no Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima; Itabuna-BA – XVII Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, no Centro de Cultura Adonias Filho ; 1998 – São Félix-BA – IV Bienal do Recôncavo, no Centro Cultural Dannemann; Salvador-BA – Pintores e Escultores da Cachoeira, na Galeria Solar do Ferrão ;  Cachoeira-BA – Artistas Regionais, na Fundação Hansen Bahia ;  Itaparica-BA – XXII Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, na Biblioteca Juracy Magalhães Jr;  Salvador-BA – Artistas Premiados dos Salões Regionais de Artes da Bahia; Coletiva, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM – BA); São Félix-BA – IV Bienal do Recôncavo, no Centro Cultural Dannemann; Aracaju, SE – XIII Salão de Artes Plásticas de Aracaju, na Galeria de Arte Florival Santos, no Centro de Cultura e Arte; Salvador-BA – Coletiva, na Galeria ACBEU; Brasília-DF – Coletiva – Mostra de Artes Plásticas Bahia – Nordeste – Brasil, no Espaço Cultural da Câmara dos Deputados – DF; Salvador-BA – Coletiva, na  Galeria Solar do Ferrão ; Feira de Santana-BA – Recôncavo Contemporâneo, no Museu de Arte Contemporânea; Cachoeira-BA – Artistas Regionais, na Fundação Hansen Bahia; São Félix-BA – Recôncavo Contemporâneo, no Centro Cultural Dannemann; 1999- Salvador-BA – Coletiva, na Galeria ACBEU; Salvador-BA – Coletiva,  no Solar do Ferrão; Itabuna-BA – XXIV Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, no Centro de Cultura Adonias Filho;  Salvador-BA – Exposição de Leilão Cooperarte, no Tropical Hotel da Bahia; 2000 – Salvador-BA – Jovens Artistas Baianos Mostra Acervo ACBEU, na Galeria ACBEU; Salvador-BA –  Projeto Mural e Praça das Apas de Artistas Plásticos Baianos, no Centro de Recursos Ambientais (CRA); Salvador-BA – Exposições Comemorativas dos 25 anos da Galeria ACBEU, na Galeria ACBEU; 2001 – Salvador-BA -  + 100 Artistas Plásticos da Bahia, no Museu de Arte Sacra; 2002 – São Félix- BA – VI Bienal do Recôncavo, no Centro Cultural Dannemann; 2006 – Conceição do Almeida-BA – Coletiva, no Colégio Sérgio Carneiro; São Félix-BA – VIII Bienal do Recôncavo, no Centro Cultural Dannemann; 2008 – São Félix-BA – XIX Bienal do Recôncavo, no Centro Cultural Dannemann;  Salvador, BA. Long Trip for Beautiful Global Village Long Journey for the Beautiful Earth, na Escola de Belas Artes (UFBA). (Participação de artistas brasileiros, coreanos, americanos, russos e noruegueses); Cruz das Almas-BA – Coletiva, na Casa da Cultura Galeno d´Avelírio; 2009 – Salvador-BA – Doce de Santo, durante o XVIII Encontro Nacional da ANPAP, na Sala Juarez Paraíso, da Escola de Belas Artes da UFBA; Salvador-BA – Doce de Santo, na Galeria ACBEU; Cruz das Almas-BA – Instalações, na Casa da Cultura Galeno d´Avelírio.

Foto 1 - Obra Sonho I, premiada em 1991
 na I Bienal do Recôncavo,técnica mista
sobre madeira. Foto 2 - Obra A Morte
Diante da  Lua, premiada  no Salão
Regional de Artes Plásticas, em Itabuna.



Premiações:Em 1991São Félix- BA – Prêmio Aquisição, na I Bienal do Recôncavo, no Centro Cultural Dannemann; 1993 – São Félix-BA – Menção Especial, na II Bienal do Recôncavo, no Centro Cultural Dannemann; 1995 – São Félix-BA – Prêmio Emilie Najar Leusen: Artista Destaque da Região do Recôncavo, na III Bienal do Recôncavo, no Centro Cultural Dannemann; Feira de Santana-BA – Prêmio Destaque Especial do Júri, no XI Salão Regional de Artes Plásticas. Centro de Cultura Amélio Amorim. Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB); 1997 – Vitória da Conquista-BA – Prêmio Destaque Especial do Júri, no XVI Salão Regional de Artes Plásticas, Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima. (FUNCEB); Itabuna-Ba – Prêmio Agnaldo Siri Azevedo 2º lugar no Centro de Cultura Adonias Filho, no XVII Salão Regional de Artes Plásticas, (FUNCEB); 1999 – Salvador-BA – Prêmio COPENE de Cultura e Arte (atual BRASKEM), no ACBEU; Itabuna-BA – Menção Honrosa. XXIV Salão Regional de Artes Plásticas, no Centro de Cultura Adonias Filho); 2004 – São Félix-BA – Prêmio Emilie Najar Leusen: Artista Destaque da Região do Recôncavo, na VII Bienal do Recôncavo. Centro Cultural Dannemann ;  Itabuna-BA – Menção Honrosa, no Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, no Centro de Cultura Adonias Filho; 2010 – Salvador, BA – Projeto da Exposição Individual Anjos Baldios, contemplado no Edital Portas Abertas para as Artes Visuais, promovido pela Fundação Cultural do Estado da Bahia – FUNCEB.

Principais Filmes Curta-Metragem: Em 2008 - Cachorro Raabugento - Morto em Noites de Frio. Direção de Nelson Magalhães Filho e Priscila Pimentel, 5’21”; Inominável, Poema, Imagens, Direção e Edição de Nelson Magalhães Filho, 5’ e Taturanas, Direção de Nelson Magalhães Filho, 7’; 2010 - Dolls Angels. Direção de Nelson Magalhães Filho, 5’6”; 2012 - Cadet  Blues. Direção de Nelson Magalhães Filho.  Cruz das Almas, BA, 4’23”.