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sábado, 6 de dezembro de 2025

MIRABEAU SAMPAIO VIVEU ENTRE AS SANTAS

 Mirabeau Sampaio em seu ateliê com telas de
 suas santas . Foto de Maria Sampaio, 1985.
 
Escreveu o romancista baiano  Jorge Amado:  “Mirabeau pastoreia as santas pelas ruas e ladeiras da Bahia, pelo céu e pelo mar - leva-as em visitação”. Este foi o jeito terno do grande escritor baiano falar da ligação de seu amigo com o imaginário sacro, e em particular com as santas, já que a maioria de suas obras é de pinturas retratando  santas que estão solenemente vigilantes protegendo os baianos do alto dos belos altares de nossas igrejas barrocas. Em outro trecho do escrito datado de 1982 Jorge Amado finaliza: “Ai, Mirabeau Sampaio! Quanta beleza antiga, quanta formosura e fantasia brotam de teus pincéis nesse atelier onde as santas renascem do barro, da pedra e da madeira, no milagre da tua criação!”  Estes dois pequenos trechos que transcrevo fazem parte de um texto que está transcrito no catálogo da exposição Mirabeau de Todos os Santos aberta ao público até o final de dezembro, no Museu da Misericórdia, integrante do conjunto arquitetônico da Santa Casa da Misericórdia, no Centro Histórico de Salvador. Além de você apreciar os desenhos, as esculturas e as pinturas icônicas de Mirabeau Sampaio  terá oportunidade de conhecer imagens do século XVII que eram colecionadas pelo artista, visitar a igreja, a sacristia, o pátio interno e próprio Museu.

Nossa Senhora da Conceição,1974,
acrílica e folha de ouro sobre tela.
O artista José Mirabeau Sampaio, mais conhecido por Mirabeau Sampaio (1911-1993) era médico e tinha consultório num dos prédios da Rua Chile, empresário - herdeiro da Casa Stela, loja e fábrica de sapatos, e foi professor da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia.  Pertencia ao grupo de artistas e intelectuais que frequentava o círculo de Jorge Amado e tem uma presença marcante na arte baiana do século XX. Para você ter uma ideia desta amizade eles foram colegas quando estudaram no Colégio Antônio Vieira nos anos 20 e mantiveram esta amizade até a morte. Mirabeau é personagem em pelo menos dois romances do grande escritor baiano, em Dona Flor e Seus Dois Maridos, de 1966, onde surge como o Zé Sampaio, marido de d. Norma, sua esposa na vida real, e o casal é vizinho do personagem principal. Já no romance o Sumiço da Santa, de 1988, é um colecionador de imagens sacras. Seu gosto pela arte vem desde a infância quando fazia enfeites para as festas de Santo Antônio e ao  ingressar na Faculdade de Medicina gostava de fazer caricaturas de seus professores. Chegou a frequentar a Escola de Belas Artes e tomou cursos com os mestres Mendonça Filho e Alberto Valença. Porém, foi com o encontro e depois a forte amizade com Mário Cravo Júnior que mudou o seu olhar para a arte moderna e passou a fazer esculturas em madeira, sendo premiado no I Salão de Artes  da Bahia com a escultura em madeira Pietá, que integra esta exposição do Museu da Misericórdia.

                                                       TRAJETÓRIA

Santa Luzia, acrílica e folha de 
ouro sobre tela, de 1970.
A curadora da exposição Simone Trindade destaca que “seu encontro com a arte foi ainda na infância, por volta dos doze anos, um chamado através da arte do belenismo, do sagrado em manifestação popular.” Num depoimento transcrito no catálogo o artista Mirabeau Sampaio revela: “Meu padrinho, que era guarda-livros – hoje se chama contador – tinha muito jeito pra pintura. Naquele tempo, se fazia presépio na cidade toda. Então, a cada ano, ele armava um, pintava uma manjedoura, os reis magos, Maria e José, etc. Então, aos meus olhos, aquele homem, a quem eu queria tanto bem, criava na parede um mundo fantástico, uma maravilha. Então assim que ele saía, eu corria para o papel, começava a desenhar como se continuasse a beleza que ele acabava de criar”.

O Mirabeau Sampaio nos anos 40 começou a desenhar a carvão e bico de pena, em seguida após o encontro com Mário Cravo Júnior passou a trabalhar com esculturas em madeira, sendo premiado   em 1956. Porém, em 1970 inicia sua carreira de pintor usando tinta acrílica sobre folha de ouro e prata, inspirado nos mestres do período bizantino criando suas imagens barrocas principalmente das santas. O mesmo Jorge Amado falou de sua preferência em pintar santas ao invés de santos, chamando-o de “O Pastor de Santas”. Para a curadora Simone Trindade: “Entre o sagrado e o profano, Mirabeau Sampaio nos legou uma obra de beleza encantadora. Aqui, cada exemplar selecionado fala não apenas da fé e da arte, mas também da alegria e da poesia que habitam a alma da Bahia, testemunhos da maestria de Mirabeau de Todos os Santos”.

                                                      CRONOLOGIA E PRINCIPAIS EXPOSIÇÕES 

Pietá, escultura  premiada com
 Medalha de Ouro, no Salão 
Baiano de Belas Artes,  1956.
Em 1911-  nasceu José Mirabeau Sampaio em Salvador, Bahia, em 18 novembro filho de Arthur de Almeida Sampaio e Maria Izabel Sampaio. 1920 -  iniciou os estudos primários e preparatórios no Colégio Antônio Vieira. No final da década de 1920, passa pela Escola de Belas Artes.1934 - foi graduado pela Faculdade de Medicina da Bahia. Na década de 1940 assume a direção da Fábrica de Calçados Stela e da loja onde permaneceu durante quarenta anos.1945 - casa-se com Norma Paternostro Guimarães. 1950 -frequenta o estúdio de Mário Cravo Júnior, retomando suas atividades artísticas, participando do grupo formado, dentre outros, por Mário Cravo, Carybé e Jenner Augusto.1956 - recebeu a Medalha de Ouro / Escultura do I Salão de Artes da Bahia com a escultura em madeira Pietá.1959 - Recebe Grande Medalha de Prata / Escultura do VIII Salão Paulista de Arte Moderna. 1960 - Realiza exposições individuais a partir deste ano, inicialmente com desenhos de bico de pena, depois pintura acrílica sobre tela e por fim flores, bichos e as sempre presentes santas folheadas a ouro e prata. Médico da Saúde Pública até os anos 1960, quando é 
Capa do  catálogo da exposição
no Museu da Misericórdia, 2025
.
indicado como executor do projeto do Museu de Arte Moderna da Bahia, durante as obras de recuperação do Solar do Unhão.1960 a 1970 - Professor da Escola de Belas Artes por notório saber. 1980 - A partir de deste ano dedica-se exclusivamente às artes plásticas, participando eventualmente de exposições coletivas. Possui obras em museus e coleções particulares no Brasil e no exterior, a exemplo de Oscar Niemeyer, Giovana Bonino e Walter Moreira Sales.1993 - Falece no dia 7 de janeiro. 2010 - Inauguração em 14 de outubro da sala da Coleção de Arte Sacra Mirabeau Sampaio, patrocinada pela Organização Odebrecht, Salvador-BA. 2011 - Exposição do Centenário de Mirabeau no Museu de Arte Sacra da UFBA. 2025 - Exposição de Mirabeau no Museu da Misericórdia, Salvador-BA.

sábado, 29 de novembro de 2025

ZÉ DE ROCHA EXPÕE A VIOLÊNCIA QUE NOS ATORMENTA

Zé de Rocha desenhando com areia - 
Sand Motion , no seu ateliê.
Desde a sua infância que Zé de Rocha vive envolvido com desenho copiando os  personagens  das histórias em quadrinhos e depois passou a receber orientação de seu conterrâneo o pintor expressionista Nelson Magalhães, que ele chama de Nelsinho. Surgiram suas pinturas densas cheias de grossas camadas de tintas num colorido forte e com muita expressividade. A busca foi tomando outros rumos e hoje transita em meio a traços e manchas criando imagens que impactam o apreciador de suas obras. Está  implícita em sua arte a capacidade de nos apresentar a violência que vem escalando em todo o mundo, e o artista diz claramente num texto que escreveu para uma exposição na Caixa Cultural, em Salvador, que não se trata apenas de ilustrar a violência, mas de encontrar uma tensão que se revela através das imagens que cria. Ele acredita que essas imagens de carros destruídos no trânsito, de pessoas vítimas da brutalidade humana, das mãos queimadas na guerra de espadas são reveladoras do que ocorre com a humanidade. É bom lembrar que desde os tempos imemoriais o ser humano vem mostrando este seu lado violento, e nos tempos da barbárie ainda eram bem piores que os de hoje. Também, ao lado do criador de traços e manchas impactantes tem um músico que toca acordeon com tanta sensibilidade quanto o artista visual ao fazer os seus desenhos. O Zé de Rocha é natural de Cruz das Almas, doutor em Artes Plásticas, pela Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, e atualmente professor de Desenho, da Escola de Belas Artes. Portanto, vive dividido entre o magistério e seu ateliê no Jardim Brasil, e quando o tempo lhe permite toca seu acordeom. Já participou de várias exposições individuais e coletivas, salões e bienais ,sendo  premiado em alguns desses eventos.

Neste autorretrato vemos seu grito contra
 a violência
. Desenho em carvão sobre papel.
Vemos que o artista visual Zé de Rocha está focado na criação de imagens que revelam e discutem a violência urbana que nos cerca, quer estejamos numa metrópole ou mesmo numa cidade do interior.  O risco sempre vai estar presente. O substantivo risco na nossa língua portuguesa tem significado “de perigo ou a possibilidade de perigo, mas também pode ser entendido como prejuízo ou insucesso em um projeto. De forma mais técnica, pode ser a probabilidade de um evento incerto acontecer. Em alguns contextos, como no de arte, refere-se também a desenho, traço ou esboço.” Na obra de Zé de Rocha temos o risco, o traço elaborado e as manchas feitos por um artista contemporâneo. Ele é consciente da sua inserção neste mundo onde vivemos caminhando numa linha tênue enfrentando os riscos e desafios de uma sociedade competitiva, individualista, e também com seus bolsões de violência que se manifestam no trânsito desenfreado e nas reações insanas de grupos de pessoas que vivem mergulhadas na criminalidade.

                                        IMPORTÂNCIA DO DESENHO

Neste desenho de um ônibus sinistrado,
feito com carvão, vemos o nível de
dificuldade e sua habilidade na execução.
Entendo que o desenho é a base sólida de um bom artista. Para que você cresça profissionalmente como artista visual é preciso que tenha como base um desenho apurado, e a partir daí poderá chegar a uma infinidade de possibilidades de distorcer as imagens, reduzir, aumentar, incorporar outros elementos, dentre outras formas de se expressar. E o Zé de Rocha é um excepcional desenhista. O texto escrito pela artista Rosa Gabriella de Castro Gonçalves, no livro Carvão, organizado por Ricardo Bezerra, ela escreveu: “É no desenho (disegno) que a arte se legitima enquanto unificado, prática nobre e conhecimento intelectual, demonstrando domínio conceitual sobre a forma e a composição. No Renascimento, quando as artes visuais almejaram ser consideradas artes liberais, deixando a condição de mera técnica, foi o desenho, enquanto atividade mental, que tornou isso possível. Esta passagem foi registrada por Vasari, que estipulou que as artes – arquitetura, escultura e pintura – não deveriam ser denominadas simplesmente artes, mas artes do desenho”. Rosa Gabriella é graduada em Comunicação Visual e doutora em Filosofia pela Universidade Estadual de São Paulo -USP. Já o Vasari que ela cita trata-se de “Giorgio Vasari (1511-1574) foi um pintor, arquiteto e biógrafo italiano, produziu suas obras na fase mais tardia do Renascimento. Tornou-se famoso ao escrever biografias dos artistas da Renascença italiana, que se tornaram essenciais para a história desse período.” Wikipedia.

Trabalhando com espada para desenhar sobre
uma lona . Antes ele faz uma base para a lona
suportar o fogo  e as fagulhas.
O artista José Raimundo Magalhães Rocha,o Zé de Rocha nasceu em sete de janeiro de 1979 na cidade de Cruz das Almas, interior da Bahia, filho de Raimundo Alcides da Rocha e d. Nelma Maria Magalhães Rocha. Estudou o primário da Escola Mônica e Cebolinha, e o ginásio e colegial no  Colégio Cruz das Almas, que não mais existe.  Disse que quando decidiu vir para Salvador fazer o vestibular sua mãe foi clara ao recomendar que fizesse numa universidade pública tendo em vista as dificuldades que enfrentavam depois do trágico falecimento do seu pai. Foi assim que ao terminar o segundo grau prestou vestibular para a Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, em 1996, e após ser graduado cursou o Mestrado e em seguida o Doutorado. Porém, as coisas não aconteceram normalmente porque depois de três anos estudando a graduação passou a questionar se deveria seguir sua carreira, achava que a vida de artista é muito complicada e preocupado com a sobrevivência resolveu abandonar o curso. Disse que nesta época já participava dos salões regionais entre os quais o de Jequié, Juazeiro, Alagoinhas, Feira de Santana, e chegou a ganhar prêmios. Sua decepção era com o curso e frustração com as perspectivas que imaginou quando saiu de Cruz das Almas. Fez outro vestibular e foi estudar Design, na UNEB, imaginou que aí seria mais fácil a sua sobrevivência. Depois descobriu que não, abandonou o curso e passou a trabalhar com música tocando o seu acordeon em bandas, saiu em turnê, viajou com os cantores Xangai e Ferreti. Em 2004 sentiu falta da EBA e do convívio com os colegas retornando com o objetivo de terminar o curso. “Voltei mais amadurecido e a partir do meu retorno o trabalho foi crescendo e descobri que meu fazer artístico era muito gráfico. As linhas, traços e manchas em preto e branco me satisfazem”, disse Zé de Rocha.

                                                        TRAJETÓRIA E INCENTIVOS

Pintura da época que estudou
 com  Nelson Magalhães.
Se o artista Nelson Magalhães o incentivou muito no início de sua busca em Cruz das Almas, na Escola de Belas Artes durante as aulas de pintura foi a professora Sônia Rangel, que fez este papel. Ela falou sobre o processo criativo e do encontro da maneira pessoal de trabalhar.  A partir daí passou a enveredar pelas questões gráficas. Fez muitas serigrafias, inclusive ganhou um prêmio na Bienal do Recôncavo, e este prêmio possibilitou viajar em 2009 para Milão, onde fui orientado durante quatro meses pelo professor, crítico de arte e curador Antonio d’Avossa, na “Accademia di Belle Arti di Brera, em Milão, Itália, que é uma renomada instituição pública de ensino superior em artes. Fundada em 1776 pela Imperatriz Maria Teresa da Áustria. Hoje a Accademia compartilha o seu prédio principal com a Pinacoteca di Brera, o principal museu de arte de Milão. A Accademia oferece formação em diversas áreas criativas, como pintura, escultura, fotografia, vídeo e artes gráficas. 

Brincante ou espadeiro 
com sua vestimenta na
Guerra de Espadas.
O Zé de Rocha falou durante nossa conversa que “nunca tinha viajado para fora, e pode visitar museus e tentou mostrar sua arte na Itália, mas não obteve sucesso. Encontrou alguns músicos brasileiros e se apresentou em shows em cidades italianas tocando seu acordeon. Ao retornar passou a se interessar em desenhar carros destruídos, pneus esgarçados, mãos sangrando. Pegava as imagens nos jornais, e depois visitava o pátio do Detran para ver e fotografar os carros sinistrados. Confessa que até hoje para na estrada para fotografar acidentes com vistas a desenhar. A fotografia aprendeu na EBA com o professor Edgar Oliva e que tem um bom arquivo fotográfico de carros sinistrados. Estuda os contrastes, os detalhes retratando dentro da sua visão artística utilizando o carvão e outras técnicas. “Passei a me aplicar mais ao Desenho”, e destacou a importância das aulas com o professor Onias Camardelli, e de suas pesquisas pessoais que faz sobre Desenho e a arte contemporânea. “Saí do carvão, durante o mestrado e fui pro fogo”, adiantou.

                                                  MAGISTÉRIO

O magistério não estava nos seus planos, mas aconteceu e vem exercendo com empenho e alegria  apresentando e debatendo com seus alunos as questões da arte e todos os aspectos que a envolvem. Sempre busca encontrar formas de motivação de seus alunos, fugindo do formato tradicional do ensino teórico. Atualmente introduziu m suas aulas o trabalho de criação utilizando a areia. É o processo criativo conhecido por Sand Animation, em português é animação de areia que “é uma forma de animação em que imagens são criadas manipulando areia sob uma fonte de luz que fica dentro de uma caixa de madeira especial e filmadas quadro a quadro. O processo é uma técnica de stop motion, onde o

Carro sinistrado da Série Risco, 2015.
animador faz pequenas mudanças na areia e fotografa após cada alteração para criar uma sequência de movimento.
“O artista precursor desta técnica de arte foi o húngaro Ferenc Cakó. Ele se graduou no College for Creative Arts em 1973 e fez animação  nessa época. Seu primeiro sucesso foi em 1982 e em 1989 foi nomeado artista da República Popular da Hungria. Durante a entrevista Zé de Rocha criou algumas imagens usando esta técnica em seu ateliê e tive a oportunidade também de mexer na areia, e posso assegurar que é uma forma estimulante de criação. As imagens mudam em segundos a depender dos movimentos que você faz com os dedos ou mesmo usando algum instrumento. A areia utilizada é bem fina, quase uma poeira, e segundo Zé de Rocha só encontrada aqui no Brasil em poucos locais.

                                                             EXPERIÊNCIA COM O FOGO

Como ele nasceu na cidade de Cruz das Almas, que tem uma tradição centenária durante os festejos juninos da prática da Guerra das Espadas o Zé de Rocha desde cedo participava das batalhas com seus amigos. Eles chamam de brincantes e mostrou algumas marcas, pequenas é verdade, resultado de queimaduras com as espadas. Na exposição

Desenho em carvão do chão de uma rua de
Cruz das Almas durante Guerra das Espadas.
que fez em 2015 chamada de Há Risco o artista apresentou vários desenhos feitos com carvão sobre papel e tela com os carros sinistrados, e também obras feitas com as espadas, deixando as marcas das queimaduras sobre a lona proporcionando um efeito visual diferenciado. Nos anos de mestrado voltou várias vezes para Cruz das Almas, foi conhecer e conversar com os mestres fogueteiros, com algumas pessoas mais envolvidas com a Guerra de Espadas, que hoje é proibida. Os mestres fogueteiros deixaram de produzir as chamadas espadas garantidas que eram feitas em técnicas especiais, e atualmente são feitas por gente que não tem muita expertise, e o perigo é maior porque os que teimam em soltar espadas não se protegem como antes que vestiam roupas especiais, óculos, capacetes e luvas. Hoje soltam de qualquer forma correndo da polícia.

 Uma curiosidade é que o Zé de Rocha ao conversar se mostra uma pessoa afável completamente diferente das obras impactantes que cria. Quando lhe fiz esta observação rindo ele me respondeu mais ou menos assim ,mas  “por dentro sou um vulcão em erupção

Zé de Rocha em seu ateliê durante nossa
conversa.
e me expresso como numa catarse através de minha  arte. Ele quis dizer que libera suas  emoções reprimidas e intensas, proporcionando alívio e uma sensação de purificação. Sua arte está vinculada às estruturas, as questões gráficas das linhas e não tem aquela preocupação com a intensidade das cores, e isto já estava na sua pintura e foi me aprofundando nisto.
O Zé de Rocha se considera um artista contemporâneo, trabalha pensando no Desenho, no claro e escuro, trata de questões que lhe atravessam e lhe espantam. Gosta das obras de Francisco José de Goya y Lucientes que  foi um pintor e gravador espanhol. É considerado o mais importante artista espanhol do final do século XVIII e começo do século XIX. Disse ainda  ter sido de alguma forma influenciado pelo movimento neoexpressionista que iniciou no final dos anos 70, se fortaleceu na década de 80 como uma reação à arte conceitual e ao minimalismo. Este movimento “se caracteriza pelo retorno à pintura, com foco em temas emocionais e subjetivos, com uso de cores fortes, pinceladas visíveis e gestos agressivos da criação de obra de grandes dimensões”. Citou alguns artistas que talvez o tenham influenciado como os alemães Georg Baselitz e Anselm Kiefer e os americanos Julian Schnebel e Jean-Michael Basquiat. Na sua trajetória artística Zé de Rocha  trocou as várias matizes de cores fortes e enveredou a usar o carvão se expressando com muita energia em preto e branco com gestos e imagens agressivas que nos levam a conjecturar sobre momentos de tensões e violentos que vivemos em nosso país.

                                   EXPOSIÇÕES

INDIVIDUAIS: Em 2019 – RiscoRisco, Galeia RV Cultura e Arte Salvador – Bahia, curadoria de Sonia Rangel. 2016 - Memórias do Risco, Galeria Ana das Carrancas – Sesc Petrolina – Pernambuco. 2015 - Há Risco Caixa Cultural Salvador – Bahia. 2012 - Risco Galeria do Conselho Salvador – Bahia, curadoria de Sonia Rangel; 2010 - Correndo Risco, Galeria RV Cultura e Arte Salvador – Bahia; Cronache dall’Estremo Sala Sposizione Panizza Ghiffa – Itália, curadoria de Antonio d’Avossa.

 COLETIVAS E SALÕES: 2022 - 64ª edição dos Salões de Artes Visuais da Bahia,
Capa do catálogo da mostra na Caixa Cultura,
2015.Desenho de um velho pneu ,em carvão.
Museu de Arte da Bahia (MAB) Salvador – Bahia, Menção Especial; Aos Pés do Caboclo, luta - Centro de Cultura Vereador Manuel Querino, Salvador – Bahia, Curadoria: Joyce Delfim e Nathan Gomes. 2021 – Drawing Room Madrid online fair;   https://drawingroom.es/madrid-online-fair-2021;  Desmundo Museologia Lab – Universidade de Brasília, (UnB) online - https://www.desmundo.museologialab.org/. 2019 - Carvão MUNCAB Salvador – Bahia;  Drawing Room Lisboa, Sociedade Nacional de Belas Artes – Portugal;  Ficción de lo cotidiano Centro Cultural Brasil-México Cidade do México.  2018 - EBA 140 anos – Fluxos Visuais de 1877, Sala Contemporânea Mario Cravo Jr – Palacete das Artes, Salvador – Bahia, curadoria de Eriel Araújo, Luiz Freire, Ricardo Bezerra e Viga Gordilho. 2017 – Drawing Now, Le Salon du Dessin Contemporain, edition 11. Carreau du Temple, Paris- França. 2016 - Zona de Perigo Museu Oscar Niemeyer Curitiba – PR, curadoria de Divino Sobral. Prêmio CNI- SESI, Marcantonio Vilaça. 2014 - III Bienal da Bahia, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador – BA .2013 - 64º Salão de Abril, Sobrado José Lourenço, Fortaleza – CE; Esquisópolis, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador – BA. 2012 – Paraconsistentes, 25 artistas Contemporâneos da Bahia, Goethe Institut Salvador – BA, curadoria de Alejandra Muñoz.  Salão de Artes Visuais da Bahia, Centro de Cultura ACM, Jequié – BA, Prêmio do Júri.  2011 – Quereres, Galeria do Conselho Salvador – BA. 2010 - XIII Salão Municipal de Artes Plásticas, SAMAP, João Pessoa - Paraíba. 2009 - Bankside 9TG/SE1, London,  Galeria ACBEU Salvador – BA.  2008 - 15º Salão da Bahia, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador – BA; IX Bienal do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann, São Félix – BA, Grande Prêmio – Viagem à Europa; Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, Centro de Cultura Adonias Filho, Itabuna – BA, Prêmio Incentivo; Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima, Vitória da Conquista – BA.  2007 - Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, Centro de Cultura João Gilberto, Juazeiro – BA, Menção Honrosa. 2006 - VIII

Zé de Rocha mostrando parte de uma obra
 em serigrafia  que  foi premiada .
Bienal do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann, São Félix - BA; Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, Centro de Cultura de Alagoinhas, Alagoinhas – BA. 2003 - VI Bienal do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann, São Félix – BA. 1999 - XXVI Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima, Vitória da Conquista – BA; Coletiva: Miguel Cordeiro, Nelson Magalhães Filho, Suzart e Zé Raimundo Rocha, Galeria ACBEU, Salvador – BA. 1998 -  IV Bienal do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann,  São Félix – BA , Menção Especial;  Singularidades - Coletiva com os Artistas Mais Expressivos dos Salões Regionais de Artes Plásticas – terceira fase 97/98,  Museu de Arte Moderna da Bahia – MAM,  Salvador – BA;  Recôncavo Contemporâneo: Gláucia Guerra, Nelson Magalhães Filho, Suzart e Zé Raimundo Rocha , Museu de Arte Contemporânea – MAC,  Feira de Santana – BA ; Exposição de Pinturas: Nelson Magalhães Filho e Zé Raimundo Rocha,  Galeria ACBEU,  Salvador – BA. 1997 - XXI Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia,  Centro de Cultura de Alagoinhas , Alagoinhas – BA;  XX Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia,  Centro de Cultura Olívia Barradas , Valença – BA - Destaque Especial;  XIX Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia,  Centro de Cultura de Porto Seguro,  Porto Seguro – BA;  XVIII Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia,  Centro de Cultura Amélio Amorim,  Feira de Santana – BA , 2º lugar, Prêmio Agnaldo Azevedo “Siri”; XVII Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia,  Centro de Cultura Adonias Filho,  Itabuna – BA , Menção Honrosa;  XV Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia,  Centro de Cultura João Gilberto , Juazeiro – BA.

FORMAÇÃO -   Em 2020 - Doutorado em Artes Visuais, Processos Criativos (UFBA). 2013 - Mestrado em Artes Visuais, Processos Criativos (UFBA). 2008 - Bacharelado em Artes Plásticas (UFBA). ATUAÇÃO DOCENTE - Professor da Escola de Belas Artes, da UFBA Universidade Federal da Bahia.

sábado, 22 de novembro de 2025

VICENTE SAMPAIO E SUA FOTOGRAFIA CRIATIVA


O fotógrafo Vicente Sampaio ao lado da
foto de uma terra preparada para o plantio.
D
epois de quase cinquenta anos por um acaso nos reencontramos, desta vez virtualmente através das redes sociais. Trata-se do experiente fotógrafo Vicente Sampaio que viveu aqui no bairro da Boca do Rio numa casa que fazia fronteira com a do também fotógrafo hoje famoso internacionalmente Mário Cravo Neto. Naquela época eles eram jovens, com 26 e 27 anos respectivamente, e andavam juntos por esta Cidade levando no pescoço suas máquinas Nikons,  Hasselblad e Leicas  caras com àquelas lentes enormes que chamavam a atenção. Relembrou Vicente Sampaio que ia até os Alagados sozinho fotografar com duas máquinas dependuradas no pescoço e ninguém mexia com ele. Eram outros tempos! Claro que existiam ladrões, mas o número era bem menor, e quando pegos recebiam o castigo merecido. O nosso primeiro contato foi em junho de 1976 quando a dupla foi até o jornal A Tarde falar comigo sobre uma exposição que iam fazer no Museu de Arte Moderna da Bahia, a convite do então diretor, o também fotógrafo, cineasta e arquiteto Silvio Robatto.

A criança admirando uma boneca .
O meu texto foi publicado nesta coluna no jornal A Tarde em 5 de julho de 1976 com o título “Mário Cravo Neto e Vicente Sampaio com 140 fotografias no Unhão”. A exposição foi um sucesso porque as fotos eram de alta qualidade e trazia a novidade porque Mário Cravo Neto expôs algumas que foram feitas nos Estados Unidos. Eles trabalhavam juntos, iam para a praia e outros lugares diversos e dividiam o laboratório até que o Vicente Sampaio também montou o seu.  Dois excelentes profissionais unidos pela arte da fotografia. Com o tempo cada um tomou o seu destino, e o Vicente foi morar em São Paulo. O Mário Cravo Neto partiu para a eternidade em 2009 aos sessenta e dois anos de idade. Hoje Vicente Sampaio vive em Santo Antônio dos Pinhais, perto de Campos de Jordão, em São Paulo, num sítio onde vem fotografando a paisagem, a fauna e comercializa suas obras através as redes sociais. Também dá cursos de fotografias online e vai tocando sua vida com a simplicidade que sempre foi uma das marcas de sua personalidade. Casou teve três filhos que hoje trilham caminhos profissionais de sucesso.

Mas, o nosso reencontro que aconteceu virtualmente e foi possível graças a essas coincidências da vida moderna. A filha de uma sobrinha de Calazans Neto, a Eloisa Lopes, que é pianista formada pela Escola de Música, da Universidade Federal da Bahia, e atualmente professora na Pontifícia Universidade Católica de Campinas,

 O descanso do Gato.  Foto maravilhosa!
em São Paulo. Ela   viu umas fotos de Vicente Sampaio nas redes sociais, e se interessou e passaram a conversar quando eles falaram da Bahia e suas experiências. Foi aí que surgiu o texto que tinha escrito em 1976 e então Vicente Sampaio me enviou uma mensagem através o Messenger. Respondi e estou aqui falando de sua arte fotográfica. Não conheço pessoalmente a pianista Eloisa Lopes, mas lembro com saudade do seu querido tio Calazans Neto, uma figura presente na arte baiana e uma das mais incríveis que conheci no mundo das artes.

                                                   TRAJETÓRIA

O fotógrafo Vicente Sampaio Neto nasceu em Pirassununga, estado de São Paulo em oito de janeiro de 1968, filho de Oswaldo Sampaio e Edith Guerra Sampaio. Antes  seus pais moravam em São João Del Rei ,em Minas Gerais , onde seu pai trabalhava com a cultura do café. Em seguida foram morar em Ribeirão Preto, também em São Paulo e Vicente Sampaio foi estudar no Grupo Escolar dr. Guimarães Júnior onde concluiu o primário. O ginásio e o colegial estudou no Colégio Estadual Otoniel Mota, o mesmo onde também estudara o presidente Washington Luís (1869-1957) que foi um advogado, historiador e político brasileiro, o 13º e último presidente da República Velha de 1926 a 1930, quando foi deposto num golpe. Antes ele foi baleado por sua amante, a marquesa italiana Elvira Vishi Maurich, em 23 de maio de 1928, no Copacabana Palace. O caso foi abafado pela versão oficial, que dizia que o presidente havia sofrido uma crise de apendicite. 

Vista parcial da Serra onde mora o fotógrafo.
Aos catorze anos Vicente Sampaio fez seu primeiro laboratório fotográfico dentro de um armário na casa de seus pais em Ribeirão preto e a fotografia continuava chamando. Pensou em estudar arquitetura, depois História, e finalmente foi para a Escola Superior de Propaganda e Marketing, a famosa ESPM, em São Paulo, mas não passou do primeiro ano. Foi quando em 1973 veio morar em Salvador e coincidiu que sua casa tinha um muro que fazia fronteira com a casa onde morava o Mário Cravo Neto, na Rua Heitor Dias, no bairro da Boca do Rio, que se formou de uma invasão e na época era tido como um bairro alternativo da turma da contracultura, hippies etc. Eles se conheceram e mantiveram uma amizade firme até o falecimento de Mariozinho em 2009, acometido de um câncer de pele. Cravo Neto nasceu na capital baiana em 1947, tendo começado na arte aos 18 anos. Desenvolveu trabalhos em escultura e fotografia, seguindo os passos do pai, o escultor Mario Cravo Júnior, inclusive o acompanhou quando o pai foi fazer uma residência em Berlim para estudar escultura. Participou de cinco bienais de São Paulo, entre 1971 e 1983, tendo realizado também diversas mostras de fotografia na Europa e nos Estados Unidos. Neto teve o prazer ainda de ter colaborado com as revistas "Popular Photography" e "Câmera 35".

Duas aves nos galhos de uma araucária.
Aqui Vicente e Mariozinho dividiram o estúdio de fotografia até Vicente montar o seu. Iam para a praia de Armação e da Boca do Rio e sempre o assunto principal das conversas era as fotografias. Após Maiorzinho sofrer um acidente grave, que o levou ao leito do Hospital Português, onde o visitei e fiz uma entrevista que era disponível aqui nesta coluna ele mudou o seu modo de trabalhar criando um fundo infinito porque o acidente limitou um pouco seus movimentos. Em 1975, sofreu um acidente automobilístico e interrompeu sua atividade profissional por um ano. Posteriormente, dedicou-se à fotografia de estúdio, criou instalações e desenvolveu trabalhos fotográficos com temática ligada ao candomblé e à religiosidade católica. E foi este fundo infinito que lhe fez ser conhecido internacionalmente além da qualidade de suas fotografias. A propósito Vicente Sampaio contou que numa das visitas que fez no Hospital Português o Mariozinho estava no leito do hospital pediu que seu amigo arranjasse uma escada para fazer uma fotografia do alto pegando o corpo dele inteiro com as penas engessadas em forma de um A. Vicente desconversou e conta isto rindo, que mesmo naquele estado de saúde o amigo só pensava em fotografia. O Vicente Sampaio escreveu um texto para o Instituto Moreira Salles, que tem o maior acervo fotográfico deste país, inclusive lá está o acervo de Mariozinho. Vejam três parágrafos do texto:

Mário Cravo Neto pela lente do seu amigo 
Vicente Sampaio, em 1973.
“Conheci Mario Cravo Neto  (1947-2009) em 1973, num evento organizado em São Paulo pela empresa de turismo da Bahia. Mariozinho tinha criado um mega audiovisual sobre a Boa Terra, uma projeção com oito projetores em sincronia, um espetáculo de sensibilidade à flor da pele. O tema era “Um dia na Bahia”, e obviamente se iniciava no amanhecer e ia até o crepúsculo. Uma sucessão frenética de imagens mágicas inspiradas, loucas, insanas, velozes, borradas, fora de foco e intercaladas por imagens estáticas superfocadas, possivelmente até feitas com uso do tripé, com uma trilha sonora de arrepiar. Miles Davis, quase o tempo todo. Terminava num céu azul intenso de crepúsculo com lua crescente e estrelas, que ia pouco a pouco se tornando amarelo, laranja, róseo e por fim violeta, ao som daquele fantástico vocal feminino do final de Dark Side of the Moon.  O álbum mítico do Pink Floyd tinha sido lançado poucos meses antes e Mariozinho, antenado na Bahia, já se apropriara dele. Assim foi meu primeiro encontro com a fera!

Outra foto de Mariozinho de autoria de Vicente
Sampaio, durante um evento.
Menos de seis meses depois desse encontro me mudaria definitivamente para Salvador.  Dessas coincidências da vida que não se explica, fiquei numa casa que era praticamente vizinha à de Mario, na Boca do Rio, um bairro bem popular da cidade que atraía também muita gente alternativa do Brasil e do mundo. A casa do Mariozinho atravessava toda a quadra e tinha, nos fundos, seu ateliê e seu estúdio, com um enorme portão que dava para a minha rua, quase em frente à minha casa; menos de 30 metros havia do portão dele ao meu. Minha casa ficava sobre a duna que dava para o antigo Aeroclube da Bahia e, galgando-a, se descortinava o mar da Praia da Armação. A rua que separava minha casa da dele era de areia, sem pavimentação, e em pouco tempo se formou um caminho nessa areia, uma trilha bem visível ligando portão a portão, escavada pelo constante ir e vir nas madrugadas adentro. Muita música, papos, discussões intermináveis sobre fotografia e tudo mais. Comecei a usar o laboratório dele por algum tempo até montar o meu, ele os chamava de “nossas naves”, e de fato tinha tudo a ver, porque o tempo/espaço dentro delas era outro e a navegação quase constante.

Vicente Sampaio e Mário Cravo Neto no 
corredor de  hotel na cidade de Carnaíba, BA.
Tinha acabado de completar 26 anos e ele faria 27 dali a alguns meses. Com essa idade a gente estava ainda aprendendo, ele tinha feito pouquíssimas exposições de fotografia, mas várias de artes plásticas - escultura, que na época era a sua atividade predominante. Nos tornamos uma espécie de irmãos em armas (as câmeras), e naquela parceria de darkroom a darkroom iniciamos uma competição, um desafio saudável para ver quem conseguiria extrair o máximo de qualidade de um papel fotográfico nacional da Kodak, o mais banal, um brilhante de peso simples, tão fino que quando secava se enrolava todo e ficava parecendo um canudo. Usávamos para secá-lo uma esmaltadeira enorme que Mario havia trazido de Nova York em 1968, uma carcaça de metal com resistências elétricas dentro, e uma lona de algodão sob forte pressão que abraçava a cópia voltada com a emulsão para baixo, colada com água numa placa belíssima de aço com um tratamento químico que a deixava como um espelho perfeito e flexível. Antes de pressionar a cópia se tirava o excesso de água com um rolo de borracha. Era uma traquitana que espantaria um jovem de hoje nascido na era digital.” Estas duas fotos feitas por Vicente Sampaio de Mário Cravo Neto, o Mariozinho como era chamado, integram o texto que ele escreveu para o Instituto Moreira Salles..."

                                                    ATUALMENTE

Esta foto ele fez no Pelourinho nos anos 70.
Uma pintura!
O fotógrafo Vicente Sampaio vive num sítio de uns quatro hectares que alugou em Santo Antônio do Pinhal, interior de São Paulo. É um município de montanhas, na região da Serra da Mantiqueira, e tem temperaturas baixas. A propósito enquanto conversávamos por voltas das 11;30 da manhã, da ida 18 pp, perguntei quanto estava a temperatura ambiente e ele respondeu “por volta de 19 graus”. Ele foi parar neste local depois de fazer uma pesquisa e constatar que era o município menos violento no estado de São Paulo. Como tinha feito um curso de montanhismo achou que seria aprazível morar por lá. Alugou o sítio que tem muitas fruteiras, uma lagoa para pescar e o próximo vizinho está a uns oitocentos metros de distância. Disse que por lá adquire a maioria os alimentos que precisa como leite, mel, queijos , legumes e verduras. Os alimentos industrializados ele compra na cidade de Santo Antônio do Pinhal. Mora sozinho e disse que não vive isolado porque está sempre fotografando e colocando nas redes sociais , inclusive comercializa suas fotos atuais e antigas através a internet.

O cair da tarde na Serra da Mantiqueira.
O fotógrafo disse que vende para várias partes do mundo a Fine Art onde ele envia as fotos em alta resolução e quem adquire manda imprimir utilizando o tecido Canvas que é muito resistente e permite uma impressão de alta qualidade ou outro suporte que desejar. Muitas de suas fotos recentes são paisagens da região, muito apropriadas para decoração de ambientes porque dá uma sensação de paz quando a observamos com mais atenção.  A "Fine Art é uma técnica de reprodução artística de alta qualidade que utiliza papéis e tecidos especiais e tintas pigmentadas em impressoras profissionais de alta resolução para garantir fidelidade de cores, detalhes e longevidadeEsse processo resulta em cópias que podem durar mais de 100 anos e é ideal para fotografias, arte digital e obras de arte que serão expostas ou vendidas. “Aqui na Bahia tem vários impressores deste tipo de arte e um dos mais conhecidos é o  Lukas Cravo, que vem a ser um dos filhos de Mário Cravo Neto, o Mariozinho, com a pintora Ângela Cunha. Eles utilizam um tecido especial que chamam de Canvas, significa tela ou lona em inglês, que é uma superfície durável, geralmente feita de algodão ou linho, utilizada para pintura artística, impressões de alta resolução e decoração.