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sábado, 16 de novembro de 2024

CALIXTO SALES O PINTOR QUE MELHOR RETRATA O CENTRO HISTÓRICO BAIANO

Calixto Sales em seu ateliê
pintando mais uma tela.
O artista Calixto Sales é um dos mais importantes pintores naifs do país, tendo chegado a Salvador em 1970 e se estabelecendo no Centro Histórico. Sempre gostou de desenhar os barcos dos pescadores e o casario de Nagé, povoado no município de Maragogipe, Bahia, às margens do rio Paraguaçu, onde morava antes. Ao chegar a Salvador   passou a receber orientação e incentivo de seu irmão Washington Sales, um artista consagrado aqui e em outras praças.  Em 1974 fez sua primeira exposição revelando o seu talento e retratando o microcosmo do Pelourinho. É apontado como um dos mais talentosos e pioneiros da pintura naif na área do Centro Histórico em Salvador de onde se lançou para fazer exposições fora do estado e até no exterior. Em seguida decidiu seguir seus próprios passos e conseguiu criar uma identidade pictórica através das figuras que povoam aquele  mundo mágico do Pelourinho pintando marinheiros, prostitutas, vendedores ambulantes, o majestoso casario, igrejas, festas populares e as crianças com seus brinquedos tradicionais. Enfim, este mundo lúdico, colorido e cheio de histórias que permeia todas as ruas e becos do Centro Histórico são motivos para que Calixto Sales os retratem à sua maneira com a originalidade de sua arte.

O artista mais jovem .
Fui encontrá-lo no seu ateliê que fica num dos casarões do Pelourinho na Rua João de Deus, número 15. De fala mansa e pausada ele falou da sua luta para se estabelecer em Salvador já que o povoado de Nagé não lhe oferecia outra opção a não ser pescar nas águas do Paraguaçu, trabalhar numa fazenda ou na roçagem da estrada de rodagem de barro. Disse que começou a trabalhar cedo. Ia para a Escola João Macedo Costa, e a professora Terezinha Brasil Guerreiro lhe ensinou as primeiras letras e depois para o Ginásio José Bonifácio e lembra da professora Adenir Ribeiro de Assis, que ainda reside na vila Coqueiros, também em Maragogipe.  Não concluiu o curso ginasial. Quando foi feita a estrada asfaltada durante o Governo Lomanto Júnior ligando São Félix a Maragogipe os povoados de Nagé e de Coqueiros entraram em decadência porque as mercadorias  eram antes transportadas dos centros por moradores desses  povoados através os saveiros e de lá eles levavam produtos produzidos das fazendas para Salvador e outras cidades. Muita gente vivia desta atividade além da pescaria. Com a chegada da estrada asfaltada  as mercadorias passaram a ser transportadas por  caminhões, desempregando os moradores locais, que  abasteciam inclusive as feiras livres e o precário comércio local, além de transportar materiais de construção e muitas outras mercadorias. Os saveiros praticamente desapareceram.

Nesta obra ele retratou a casa onde nasceu e 
passou a sua infância em Nagé. A casa foi
demolida para passar a estrada ligando
São Félix a Cachoeira, em 1964.
Um tio montou um pequeno armazém no bairro da Liberdade, em Salvador, e ele trabalhou durante dois anos. Disse que na época o ambiente era muito ruim, com violência, foi então que seu tio decidiu fechar o armazém e ele ficou desempregado. Foi então trabalhar numa padaria no bairro do Pero Vaz, mas não deu certo. Seu objetivo era achar uma forma de trabalhar e estudar. Mas, como só tinha o primário as dificuldades de arranjar emprego eram grandes. Revelou que chegou a dormir muitas noites na Rodoviária e que passou até fome, isto porque não procurava os parentes e também não queria voltar para o interior. O único irmão que lhe deu força foi Washington Sales.

Lembra que tanto ele como Washington desde criança  desenhavam, e que o irmão veio bem mais cedo para Salvador e conseguiu se estabelecer e fazer uma arte muito apreciada pelos colecionadores e críticos de arte. Ele o levou para a Rua Guedes de Brito onde tinha o seu ateliê. Washington Sales tem o seu próprio estilo e na época Calixto Sales não entendia a diferença dos dois estilos. Foi então que Calixto Sales resolveu ocupar um casarão velho que estava ameaçado de cair. Continuou pintando e certo dia um portador do irmão foi até o velho casarão perguntar se ele tinha algum quadro pintado. Reuniu uns 20 pequenos quadros e entregou ao portador. No dia seguinte retorna o portador com um maço de dinheiro. Confessa que ficou atônito e indeciso se deveria usar aquele dinheiro. Estava sem um tostão. Passado uns dias retorna o mesmo portador e leva novos quadros que ele tinha pintado e no dia seguinte volta com mais um maço de dinheiro. Como ele nunca tinha visto tanto dinheiro junto preferiu guardar o dinheiro.

Saveiros abasteciam os povoados de Nagé
e Coqueiros com mercadorias das cidades 
e levavam produtos colhidos nas roças .
O portador veio informar que o irmão mandou dizer que o dinheiro era dele e que podia usar porque era da venda dos seus quadros.  Mas, desconfiado ficava com fome e não usava o dinheiro. Quando foi um dia seu pai Calixto Lopes de Sales veio visitá-lo para saber como estava, e o que tinha ocorrido. Ele contou esses fatos e seu receio de usar o dinheiro. O pai foi conversar com o Washington Sales que lhe informou que o dinheiro era resultado das vendas dos quadros do irmão. Tudo ficou resolvido, e ele passou a usar o dinheiro devagarinho. Ainda ficava com receio de ter que devolver a seu irmão.

A exuberância do casario colonial do
Centro Histórico de Salvador.
Quando viu que o casarão estava mesmo ameaçando desabar conheceu uma jovem chamada Zinha  que era de Nagé também tinha vindo morar na Rua Saldanha da Gama, conhecida na época por Melancia, e seu sonho era ser bailarina e terminou se prostituindo e dona do prostíbulo. Ela deu todo o apoio que podia a Calixto Sales e o aconselhou a procurar um local adequado para pintar e expor suas obras. Foi quando ele conheceu o pintor Edivaldo Assis, por quem tem uma grande amizade, que lhe acolheu. Foram pintar um grande mural na casa do dr. João Falcão dono do Jornal da Bahia. Passaram quinze dias pintando e ganharam um bom dinheiro. Aí foi ao shopping comprou roupas e sapatos novos e resolveu ir até Nagé e Coqueiros visitar os parentes e contar as suas aventuras, sempre as positivas. Foi muito bem recebido pelos conterrâneos e parentes e até convidado para almoços.

Dia de festa no Pelourinho com
a presença de barracas e seus
personagens inconfundíveis.
Em 1974 fez uma exposição no prédio do Jornal Diário de Notícias que pertencia ao grupo Diários Associados, de Assis Chateaubriand, onde hoje funciona a Caixa Cultural, na Rua Carlos Gomes, centro de Salvador. Lembrou que levou um quadro para o galerista e tapeceiro Renot e ele gostou muito e passou a comprar suas obras. Em 1978 montou um ateliê no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, no Centro Histórico de Salvador, Bahia, e foi quando vendeu bem aos turistas e alguns galeristas. Mesmo assim continuava batalhando e enfrentando dificuldades. Lembrou de um episódio que levou uns quadros até um banco na  Cidade Baixa e procurou uma pessoa que conhecia suas dificuldades e esta pessoa que teria lhe dito mais ou menos assim: "Olha eu vou comprar este quadro não é que tenha gostado, mas estou vendo que está precisando." Diante desta declaração o Calixto Sales respondeu: Estou mesmo, mas vou mostrar que o senhor ainda vai me procurar para comprar um quadro meu porque vai gostar. Meses depois ele veio lhe procurar para adquirir um quadro. Hoje está mais tranquilo tem suas filhas formadas e uma caçulinha de dez anos, fruto do seu quarto relacionamento. Após a pandemia o Calixto Sales ficou um pouco abalado, mas felizmente já retomou sua vida e está pintando em seu ateliê e fazendo planos para o futuro.

Capa do cd do clarinetista de jazz 
Eddie Daniels com obra de Calixto
sem a devida autorização.
Contou outro fato que certo dia recebeu um convite de uma representante da TAM para fazer cem quadros pequenos para um evento de final de ano em Paris, na França. Acertou, e dias depois lhe ligaram que queriam mais cem. Logo depois passaram para trezentos quadros. Disse que quase desiste, mas resolveu aproveitar a oportunidade e trabalhou de dia e  noite. Conseguiu entregar os quadros a tempo e seguiu para Paris para o evento que ocorreu dentro de um bateau-mouche, aqueles barcos que levam turistas através o Rio Sena. Na noite do evento com orquestra, muitos convidados especiais, bebidas e comidas à vontade ele pintou quatro pequenos quadros que foram presenteados aos convidados. Passou a noite inteira na festa e não bebeu nem comeu um salgado sequer. Disse ele “veja como sou tímido. A festa com trezentos convidados com muita comida e bebida. Não comi nada e nem bebi”. Ficou dez dias em Paris conhecendo a Cidade.  Em seguida foi fazer uma exposição em Portugal e revelou que gostou mais de Lisboa do que Paris, e posteriormente também expôs na Universidade Católica de Los Angeles, mas não esteve presente.  O ateliê de Calixto Sales é um pouco escondido, mesmo porque está localizado no primeiro andar do prédio na Rua João de Deus, número 15, e o térreo está fechado. Mas afirmou que gosta de trabalhar em silêncio e que vai arranjar um lugar para expor seus quadros.
O pintor Calixto Slaes em 1976 veio morar na Boca do Rio na Galeria RAG de Roberto de Araújo Goes, um galerista que deve  sempre ser lembrado. Ele não entendia nada de arte, mas tinha a sensibilidade de gostar de arte .Tinha vindo de Valença, sua terra natal e aqui alugou uma casa na Avenida Otávio Mangabeira, na Boca do Rio, e começou a receber obras de tudo que é artista. Tinha um imenso acervo comprado por ele e consignado. Lá recebeu o Calixto Sales que ficou morando alguns anos até que o local passou a ser frequentado por outras pessoas de comportamentos estranhos, e ele resolveu sair. Em 1988 juntamene com os colegas artistas Totonho, atualmente residindo na Holanda, Joilton Silva  que assinava Jó Silara , Raimundo Santos, o Bida,  fundaram o Atelier Portal da Cor que era um misto de galeria de arte e espaço para apresentação musicial e bar localizado na Ladeira do Carmono, número 31. Lembro que em novembro de 1996 eles tiveram uma desavença com um suiço que era dono do velho casarão e tinha  cedido aos artistas  em comodato. O espaço terminou sendo fechado em 1999.

O artista foi surpreendido recentemente com uma obra sua ter sido usada na capa do cd chamado Heart of Brazil do famoso clarinetista de jazz Eddie Daniels que mora em Nova Iorque e fez este disco em homenagem ao músico brasileiro Egberto Gismonti. Ele não recebeu qualquer solicitação e não deu autorização para que sua obra fosse usada com este objetivo. É uma questão de direito autoral que só pode ser resolvida na justiça através de uma ação civil ou um possível acordo entre as partes.

                                                          EXPOSIÇÕES

Calixto Sales tem muitas obras retratando 
a vida dos moradores do Centro Histórico.


E1974 - Instituto Neurológico da Bahia ; Galeria Transa Artes Salvador Bahia
; Centenário do Diário de Notícias - Salvador Bahia ; 1975 – Galeria RAG Salvador- Bahia ; Semana da Marinha Base Naval de Aratu – Bahia;  1976 Exposição Permanente Imperial Móveis - Salvador Bahia ; Exposição na Galeria Decors - Salvador Bahia ; Exposição no Hotel Turismo Brasília DF ; Semana da Marinha Base Naval de Aratu- Bahia ; Galeria Carro de Boi Feira de Santana Bahia ; Galeria da Sereia - Salvador-Bahia ; Galeria Grossman Salvador -Bahia ; Galeria dos Primitivos - Salvador Bahia; Exposição Individual- Galeria RAG Salvador -Bahia ; 1977 - Exposição Coletiva Galeria RAG Salvador Bahia ; Exposição Coletiva Galeria Sereia - Salvador Bahia ; Leilão de Artes Centro de Convenções Salvador Bahia :  Museu de Exposições de Salvador - Bahia ;  Museu de Artes de Porto Seguro -Bahia ; late Clube de Aracaju - Sergipe ; Exposição Coletiva de Valença Bahia ; Exposição de Verão Tereza Galeria de Artes Salvador Bahia ;  Galeria Bonfim Salvador Bahia ;  Galeria Grossman  Salvador Bahia ; Exposição Individual no Museu da Cidade Salvador -Bahia ; Exposição Coletiva no late Clube da Bahia - Salvador
Pinta também  Preto Velho.
Bahia ; Exposição Coletiva no Clube Espanhol- Salvador – Bahia; 1978 Galeria Grossman  Salvador Bahia ; Galeria Tereza Batista Salvador Bahia;  1979 Ministrou curso para iniciantes na Associação dos Artistas Populares de Centro Histórico Salvador Bahia ; 1980 - Exposição Coletiva Galeria do Hotel Nacional Brasília – DF;  1981- Exposição Coletiva - Galeria Margot Salvador Bahia ;  Exposição Coletiva Galeria Grossman - Salvador Bahia;  1982 Exposição Individual - Galeria Grossman  Salvador Bahia; 1983 Exposição Individual - Galeria Artes do Casino do Estoril - Lisboa Portugal ; Exposição no International Student Center Art Gallery - UCLA - Los Angeles -EUA ;1984 -Exposição Coletiva de Férias - Galeria Grossman - Salvador – Bahia; 1985 Exposição Coletiva - Casa de Artes Brasileira - Campinas - SP ; 1986 Mostra de Pintores Baianos - Casa de Artes Brasileira - Campinas – SP; 1987 Leilão de Artes Salvador Praia Hotel Salvador Bahia;  1988 - Leilão de Artes- Salvador Praia Hotel- Salvador Bahia ; 1989 Exposição Coletiva - SENAC / SESC - Pelourinho - Salvador – Bahia; 1990 - Exposição Coletiva - Galeria do Hotel Méridien - Salvador Bahia;  Exposição Coletiva- Fred Night Club Salvador Bahia ;  Exposição Coletiva - 1' Expoart Artes Pelô Via Zona Brasil , Hotel Méridien Salvador Bahia ; Exposição Coletiva Casa dos Artistas - Ilhéus Bahia ; 1991- Exposição Coletiva Projeto Via Brasil- Brasília – DF; Exposição Coletiva Projeto Via Brasil Curitiba -PR ; Exposição Coletiva Projeto Via Brasil Shopping Barra Salvador Bahia; 1992 Exposição Coletiva -  II Bienal das Artes Negras - Casa do Benin - Salvador Bahia ; Exposição Seis Mestres Contemporâneos - Salvador - Bahia ; Exposição Coletiva Tereza Galeria de Artes - Salvador Bahia; 1993 - Exposição Coletiva Inauguração do Atelier Portal da Cor - Pelourinho Salvador Bahia; 1994 Exposição Coletiva - Galeria 13 - Centro Histórico Salvador Bahia; 1996  Exposição Coletiva Raquel Galeria de Artes Salvador Bahia;  1997 - Leilão de Artes -NR Galeria; 1999 Exposição Coletiva de Pintura 2 de Julho a 1 de Agosto de 99 Galeria Praça do Mar Quarteira Loulé Portugal .


sábado, 9 de novembro de 2024

ALESSANDRO DIVIDE SEU TALENTO ENTRE A PINTURA E O DESIGN TÊXTIL

Alessandro César em Salvador.
O artista baiano Alessandro César reside atualmente em Roma, na Itália, antes morou na Alemanha onde realizou várias exposições. Mas, sua trajetória como artista começou aqui em Salvador com uma carreira promissora como designer têxtil. Desde jovem que ele se destacava com seus desenhos no curso primário. E ao terminar o ginásio no Colégio da Polícia Militar foi estudar na Escola Técnica Federal e se formou em Química. Durante o curso os alunos que não queriam fazer Educação Física podiam optar pelas aulas de arte, música ou aprender a tocar um instrumento musical para a integrar a banda da instituição. Foi quando conheceu a professora Célia Prata “que abriu o mundo da arte para mim. Ela me ensinou várias técnicas, me levava para ver exposições, conhecer artistas nos seus ateliês”, disse Alessandro. Quando foi fazer o vestibular para a Escola de Belas Artes em 1989 escolheu Licenciatura em Desenho e Plástica. Mas, se entrosou muito rapidamente com os colegas e professores  passando a escolher várias matérias eletivas como pintura, desenho, serigrafia, litografia, gravura em metal. Mesmo não sendo aluno formal das disciplinas ministradas pelas professoras de Pintura Maria Adair e de Composição Decorativa Carmem Carvalho ele costumava frequentar suas aulas. Foi aí que começou a se interessar de como criar uma composição para tecidos. Disse que tem duas histórias pessoais: como artista plástico e designer têxtil. Carmem Carvalho lhe ensinou a base e passou a fazer estampa corrida, antes mesmo de sair da Escola de Belas Artes foi trabalhar numa empresa que ficava no bairro do Rio Vermelho, chamada Tuc Estamparia fazendo desenhos para estamparia de camisetas. Sempre teve vontade de trabalhar para se sustentar e esta empresa fazia as impressões em serigrafia e foi uma das primeiras a produzir   camisetas personalizadas para empresas e lojas de confecções em Salvador. Como a proprietária tinha um contato com o pessoal da Rede Globo de Televisão as camisetas desenhadas por ele passaram a aparecer em programas, novelas e também produziam camisetas de propaganda de empresas. Vendiam muito naquela época.

As  obras  das fotos 1,2 e 3 - Sem Títulos. 
A Foto 4 - obra Renúncia e Satisfação.


Depois o artista recebeu uma boa proposta dos empresários Paulo Grimaldi e Carlos José donos da ArtCor e foi trabalhar  fazendo em média  até três desenhos por tarde. Um dos sócios o Carlos José viajava com certa frequência para outras capitais, especialmente para São Paulo e Rio de Janeiro de onde  sempre trazia novidades na área do design têxtil a exemplo de combinação de cores, efeitos especiais, novas tintas. Passaram a fazer camisetas para o empresário Klaus Peters, que tinha um Resort na Praia do Forte e transformou o local num dos pontos do ecoturismo mais conhecidos no Brasil e até mesmo no exterior. Fez muitos desenhos em camisetas com as tartarugas marinhas e criou composições diferenciadas utilizando a imagem da tartaruga e outros elementos ligados ao mar, que até hoje são muito apreciadas pelos turistas que visitam o local. Vendia tanto as camisetas que até passaram o copiar os desenhos feitos por ele.

Desfile e objetos  com  desenhos
de pinturas corporais indígenas.
Depois de algum tempo conheceu a empresária Leda, dona da estamparia Litoral Norte e depois de uma conversa ele fez uns dez desenhos e apresentou. Eram desenhos diferentes daqueles que fazia para a ArtCor e assim passou também a criar para esta empresa num estilo diferenciado. As camisetas também vendiam muito e surgiram até algumas cópias feitas por pessoas e empresas menores. Antes ela só fazia as camisetas com a tartaruga que era quase a mesma imagem de Klaus Peters. Ao lado de sua atividade como designer têxtil que lhe garantia uma sobrevivência digna Alessandro César continuava pintando a óleo sobre tela fazendo sua arte abstrata com belas composições que eram adquiridas por colecionadores e elogiadas pelos críticos de arte. Em seguida passou a pintar em acrílica sobre tela, mas o seu lado de empreendedor continuava ali latente. Com o dinheiro ganho construiu uma ampla casa em Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador. O seu espírito de empreendedor que aflorou e resolveu criar sua própria estamparia. Comprou máquinas e outros materiais montou sua estamparia num dos cômodos da casa e passou a produzir. Lembra que fazia também camisetas personalizadas e vendia nas lojas de confecções a exemplo da Lido, na Rua Chile, dentre outras. Levou uns quinze anos nesta atividade.

Em 1996 fez uma exposição de pinturas abstratas na Galeria Abaporu, de Lígia Aguiar, no Pelourinho.  Foi convidado para assumir a Direção de Arte do Projeto Axé.  O projeto tinha dois estilistas italianos que terminaram se desentendendo, e Alessandro assumiu o cargo de Diretor de Arte. Neste período promoveu alguns desfiles de moda com seus desenhos inspirados nas pinturas corporais dos povos originários, tendo como modelos conhecidos cantores, cantoras e outras personalidades do jeito set baiano. O Projeto Axé criado em 1º de junho de 1990 por Cesare de Florio La Rocca, advogado e educador de origem italiana. Ele era natural de Florença morou trinta anos na Bahia e morreu aos 83 anos no dia 15 de setembro de 2021.

                                                       QUEM É

Fotos atuais de Alessandro César e
quando jovem na Alemanha.
O Alessandro César Pereira dos Santos nasceu em 9 de julho de 1962 em Salvador. É filho de Deraldo Rodrigues dos Santos e Irene Pereira dos Santos e passou parte de sua infância no bairro da Boa Viagem onde estudou o curso primário numa escola particular. Depois foi estudar no ginásio no Colégio da Polícia Militar, no bairro dos Dendezeiros. Em seguida seus pais mudaram para o bairro do Imbui, que naquela época estava sendo ocupado por novas edificações. Ele lembra da dificuldade de tomar transporte e que a Avenida Paralela era muito pouco transitada. Enquanto isto, seu pai continuava ensinando Geografia no Colégio Militar e sua mãe Corte e Costura e costurando para suas clientes. Revelou que sua educação foi muito rígida e mesmo no bairro da Boa Viagem quase não descia para brincar na rua como muitas crianças costumavam fazer. Vivia a maior parte do tempo estudando e seu pai ao sair passava dever para ele e seus três irmãos e quando retornava das aulas que ministrava no Colégio Militar costumava tomar os deveres dos filhos. Como estudava em casa ao chegar na escola formal teve facilidade e pulou até algumas séries escolares. No primeiro ano de alfabetização quando tinha seis ou sete anos já sabia escrever e fazer contas. Foi nesta época que começou os primeiros desenhos e uma das clientes de sua mãe tinha um filho que estudava pintura com uma professora chamada Marilza no bairro do Tororó. Sua mãe se interessou e o levou para 
Quatro croquis dos sapatos da coleção
do austríaco Jo Gehringer.
estudar com esta professora que era uma autodidata. Aprendeu com ela   as técnicas de carvão e crayon e passou a criar seus próprios desenhos. "Ela me ensinou a usar o carvão e o crayon, fazer o sombreado com o esfuminho. “O esfuminho é um tubo de papel prensado que serve para suavizar os traços de grafite, carvão, crayon ou lápis de cor em desenhos. Ele é usado para dar um efeito esfumado ao acabamento da obra, principalmente por desenhistas para esfumar retratos ou caricaturas.” Notou que a professora não gostou quando apresentou desenhos autorais porque o método que ela ensinava era de copiar paisagens e casinhas de campo. Não demorou muito estudando com essa professora. 

Em 1993 um primo que mora na Áustria veio  conhecer Salvador  juntamente com um seu amigo alemão Heinrich Fischer. O Alessandro deu uma obra de presente a ele  e passaram a se  corresponder. Pintou várias obras e enviou as fotos para o Heinrich que passou a mostrar seus trabalhos para galeristas e colecionadores. Alguns gostavam outros faziam alguma observação. O seu

Obra abstrata em acrílica sobre tela.
amigo sugeriu que fosse para Alemanha. Passou a pintar várias obras e quando tinha uma boa quantidade decidiu viajar. Colocou num tubo grande de dois metros de pvc várias obras. Coincidiu que quando chegou tinha ocorrido um atentado terrorista num abrigo de refugiados políticos na cidade de Rosenheim, disse Alessandro. Esta cidade da Alemanha fica localizada na região administrativa da Alta Baviera. E por isto enfrentou algumas dificuldades para fazer sua primeira exposição na Alemanha. Porém, seu amigo continuava insistindo e entrou em contato com o prefeito da Cidade de Rosenheim que enxergou uma possibilidade de mostrar que a sua cidade recebia bem os imigrantes e assim resolveu fazer a exposição no foyer do teatro que pertencia a prefeitura juntamente com a Deutsch-Braysilianichen Gesellschaft (Sociedade-Teuto Brasileira) dirigida por Úrsula Reich. Após fazer a exposição em Rosenheim fez outras quatro em cidades e datas diferentes tudo financiado por esta instituição que ajuda e divulga a cultura dos brasileiros residentes na Alemanha. Acontece que o visto do seu passaporte venceu e teve que viajar até a cidade de Munich para revalidar o documento no consulado brasileiro. Quando apresentou suas obras e falou do seu processo criativo o cônsul Antônio Amaral Sampaio mostrou-se interessado e decidiu lhe apoiar, inclusive chamou um canal de televisão que fez uma reportagem que foi ao ar no horário nobre. Assim começava a ser conhecido na Alemanha. Quando estava fazendo uma exposição no Parlamento, na cidade de Bonn, foi apresentado pelo cônsul a um austríaco representante dos sapatos Gabor chamado Jo Gehringer, que é também colecionador de sapatos antigos, e fez uma encomenda de várias obras reproduzindo esses sapatos. Ele mora na Áustria, e foi pra lá conhecer a sua coleção e fazer pinturas dos sapatos. Recebeu a permissão de vender suas obras na Alemanha e aí trabalhou com mais tranquilidade. O tempo foi passando e já estava no terceiro visto de turista e teve depois de três anos deixar a Alemanha.

Capa da reportagem de sua
entrevista à Callaloo.
Em 1996 deu uma entrevista em Salvador para a revista afro-americana Callaloo, ligada a Johns Hopkins University e num dos trechos Alessandro César disse que sua estadia na Alemanha levou a abandonar alguns valores substituindo por outros, e que “essas mudanças afetaram as minhas posições sociais e políticas, produzindo em mim uma nova visão das coisas. No mundo atual, onde tudo acontece com grande velocidade, o acesso à informação é praticamente instantâneo. A arte relata e registra os momentos pelos quais a humanidade passa. O artista está inserido neste contexto. O artista está, então, engajado no tempo social e político em que vive, e o engajamento se reflete na arte que produz”. A arte pictórica de Alessandro tem uma paleta de tintas e composição de alto nível, e suas obras podem ser expostas em qualquer museu ou galeria de arte importante daqui ou de fora.

Após voltar ao Brasil em 1996 conheceu um italiano que era amigo  dos estilistas Nicola e Augusto também italianos, que estavam em dificuldade de encontrar alguém que fizesse a estamparia com os desenhos dos azulejos portugueses e motivos afro brasileiros que eles criaram. Foi aí que o italiano lhes informou que conhecia um artista baiano que trabalhava muito bem com estamparia e assim o apresentou e Alessandro César foi contratado. Passou a fazer as artes finais , levou a sua técnica de estampa corrida e fizeram um desfile de moda que foi um sucesso. Os estilistas brigaram porque queriam mais autonomia, mas o Cesare Flioro não permitiu e eles foram embora. Assim o Alessandro assumiu a direção de Produção Arte do Projeto Axé. No segundo desfile o Alessandro comandou todo o processo desde a feitura das roupas, o design e o desfile em si. Reformou as lojas e fez uma coleção colocando camisetas e outras peças com motivos das cerâmicas de Maragogipinho.

Veja a  versatilidade do artista na
criação de  composições plásticas.
As lojas do Projeto Axé eram bonitas, as camisetas e outras peças vendiam muito. O Alessandro fez pequenos trabalhos, decorou as lojas com essas obras com os mesmos motivos das camisetas. Diante do sucesso do desfile feito por ele, veio o terceiro desfile que foi organizado juntamente com outra pessoa. Depois vieram as primeiras desavenças e decidiu sair do projeto e abrir sua própria estamparia a Abaporu . Começou a desenvolver a estampa corrida, que é estampar todo o tecido, e não apenas localizada como acontece com as camisetas. Foi buscar a raiz do nome e descobriu que era de origem indígena e foi atraído pela pintura corporal do índio brasileiro. Adaptou para as estamparias que passou a fazer. Trabalhava com desenho das roupas e se saiu bem. Produziu também fazendo estampas corridas pra Lido e Camarim que fazia roupas de linho, dentre outros clientes. Quando criou sua própria estamparia a Abaporu tinha como sócio José Carlos Dias “que foi meu braço direito, trabalhamos juntos desde a Artcor, depois quando fui para o Projeto Axé contratei para trabalhar.  Saímos e montamos a nossa estamparia. Eu cuidava da criação e ele da produção. Tinha um gosto apurado, sabia produzir e combinar cores como ninguém! Conhece bem o meu estilo , interpretava e combinava cores com os desenhos”, informou Alessandro.
Abriu uma loja na Praia do Forte e outra no Morro de São Paulo. Levou quinze anos com esta empresa. Mas, disse que lidar com gente é muito difícil. Diante de problemas com costureiras e funcionários resolveu fechar as lojas. Alugou sua casa e foi para a Itália em 2020 onde está montando seu ateliê na cidade de Taranto ,   que fica na Puglia.cidade de Taranto tem  196 mil habitantes e foi fundada pelos espartanos no século VIII a.C. e se chamava Taras.  Ele conseguiu um amplo espaço e está instalando o seu ateliê, e de lá através da internet e de visitas vai mostrar o seu trabalho. aos italianos e demais europeus.   

EXPOSIÇÕES  E ATIVIDADES PROFISSIONAIS

FORMAÇÃO -1979-1981 Escola Técnica Federal da Bahia, Salvador – Curso de Química; 1983-1989 Universidade Federal da Bahia, Escola de Belas Artes – Licenciatura em Desenho e Plástica.

ATIVIDADES PROFISSIONAIS

Em 1985-1987 - Desenhista e arte-finalista na área da estamparia serigráfica, para Contraste (TUC – Comercio e Representações), Salvador ; 1990-1992 Designer têxtil e arte-finalista na área da estamparia serigráfica, para Artcor, Salvador; 1992-1994-  Período de atividade profissional na Alemanha, na área de artes plásticas e designer de estampas ; 1993 -  Participação no evento Casa Cor Babhia, com exposição de obra ; 1994 Criação de uma coleção de estampas para camisetas, para a firma Crossing, Bad Aibling, Alemanha ; Criação de uma série de trabalhos incluindo pinturas e desenhos, para a firma Dirnd'lind Bua, Attersee, Áustria ; 1995 - Formação da empresa Grifo Comunicação  Visual, Salvador ; 1996-1998 - Professor substituto de Desenho e Serigravura, Escola de Belas Artes, Universidade Federal da Bahia ; Salvador; 1997-2001 -Diretor de produção, designer têxtil e estilista, Projeto Axé, Salvador ; 2003-2014 - Formação e condução da empresa de confecção de vestuário e acessórios Abaporu, com funções de designer de produto e designer têxtil; 2015 - até o Presente designer autônomo, artista visual e fotógrafo.

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS

Algumas matérias em jornais alemães 
sobre suas exposições.
1991 - Pinturas, Galeria ACBEU - Associação Cultural Brasil-Estados Unidos, Salvador, BA ; 1993 - Galeria de Arte ECT, Brasília, DF ; Fomitura & stamp; Celebração, Galeria de arte Abaporu, Salvador, BA ; Brasilianische Kunst, Foyer da Stadthalle, Rosenheim, Alemanha ; 1994 - Itinerante Leuchtende Farben – Dramatik Der Formen, Hardtberg - Bonn, Alemanha ; Itinerante Leuchtende Farben – Dramatik  Der Formen, Bad Burlenburg, Alemanha ; Itinerante Leuchtende Farben – Dramatik Der Formen, Weibling-Stuttgart , Alemanha ; 1996- Convite para exposição individual, entre os eventos para celebrar Montevidéu Capital de Cultura Ibero-Americana ; Mundo  Afro, Montevidéu, Uruguai ; Galeria ACBEU, Salvador, BA ; Reencontro, Galeria Arte Concreta, Salvador, BA.

                                               EXPOSIÇÕES COLETIVAS

Obra que expôs na Galeria Abopuru,
 em 1995.
1988 -  Salão de Artes Visuais, Foyer do Teatro Castro Alves, Salvador, BA; 1989 - Museu de Arte de Curitiba, Curitiba, PR; 1989 - Curitibaianos, Galeria Aquarela, Salvador, BA ; ICBA, Instituto Cultural Brasil-Alemanha, Salvador, BA ; 1990 -  II Salão Baiano de Artes Plásticas, MAM-BA, Salvador, BA; Galeria Homero Massena, Vitória, ES ; 1992 - Interpretando A América I, Galeria ACBEU, Salvador, BA ; Interpretando A América II, Galeria ACBEU, Salvador, BA ; 1995 - Exposição Comemorativa dos 20 anos da ACBEU, Galeria ACBEU, Salvador, BA ; Galeria de Arte Abaporu, Salvador, BA ; 1998 - 5 Baianos + 4 Goianos, Galeria Fundação Jaime Câmera, Goiânia, GO ; Exposição BA-GO/Brasil, Galeria Cañizares - Escola de Belas Artes/UFBA, Salvador, BA ; 2001 - +100 Artistas Plásticos Da Bahia, Museu de Arte Sacra da Bahia, Salvador, BA ; 2004 -  POR 40, Galeria Arte Concreta, Salvador, BA ; 2006 -  Galeria Tina Zappoli, Porto Alegre, RS.

Publicações - 1996 - Alessandro Cesar, Brazilian Artist; Callaloo, A journal of African-American and African Arts and Letters, vol.19, N.3 - Johns Hopkins University Press ;  2001 - Livro +100 Artistas Plásticos da Bahia, 2001 -

Coleções Particulares e Acervos -Brasil, Deustchland, Itália, Áustria, Portugal e USA; Museu Postal Brasileiro, Brasília, DF

Prêmio - Prêmio Universidade Federal da Bahia.