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sábado, 13 de setembro de 2025

O ARGENTINO ANDRÉS CISILINO E SEUS DESENHOS INSTIGANTES

O artista Andrés Cisilino
criando mais um desenho.

O
artista argentino Andrés Cisilino   é um talentoso pintor, escultor e  desenhista. Seus desenhos surgem como registros de sua sensibilidade que vai buscar imagens nas entranhas dos seus sentimentos mais profundos. São desenhos que  instigam e levam o espectador a reflexões sobre o que está ocorrendo ao redor e também no seu interior. É quase impossível ficar indiferente diante de seus desenhos.
O   Andrés Cisilino Rubio chegou a Salvador com apenas vinte e três anos de idade no ano de 2000 com a ideia de desenvolver suas atividades musicais especialmente na percussão. Já tinha tocado saxofone e foi encontrar o seu talento musical na percussão e a nossa cidade é conhecida por grandes percussionistas como o Carlinhos Brown, o grupo Olodum e muitos outros. Trouxe consigo alguns recursos financeiros e sua bateria. Se instalou no Centro Histórico e começou a frequentar os shows e ambientes onde a música baiana está presente, e tocou em bandas de vários estilos musicais inclusive de jazz.  Mas, o hermano tinha na bagagem além do talento musical outra habilidade que é o desenho técnico /artístico que aprendeu ao estudar numa escola ligada à  Universidade de La Plata. Participou da Bienal do Recôncavo na cidade de São Felix, ganhando uma viagem de estudos para a Alemanha por ter sido premiado em terceiro lugar, e também do prêmio Braskem em primeiro lugar, que lhe rendeu algum dinheiro. Quando os recursos financeiros se exauriram foi trabalhar como vendedor na Livraria Saraiva, no shopping Center Salvador, e fez outros serviços temporários. Mais recentemente ele sacou mais uma habilidade que herdou de seus ancestrais italianos, e criou uma pequena empresa a Massartesanal que é de fazer massas caseiras de qualidade e passou a comercializar com a distribuição delivery nos finais de semana. Assim vem tocando a sua vida integrando grupos musicais, desenhando, pintando e fazendo suas massas, que dizem ser deliciosas.

Pintura de técnica mista.
Ele nasceu em vinte e sete de agosto de 1975 na cidade de La Plata  capital 
da província argentina de Buenos Aires, localizada a 56 km da cidade de Buenos Aires. É uma cidade universitária e a quarta mais populosa do país.  Lá fez o primário na Escola Dado Rocha, que é pública. Mas, ele disse que gostaria de falar  sobre o segundo grau que cursou em tempo integral numa escola ligada à Universidade Nacional de La Plata. Era o bacharelado, porque segundo Andrés Cisilino, este curso começa bem mais cedo na Argentina e para entrar é feita uma seleção, porque só dispunha de  noventa vagas . Conseguiu passar , cursou iniciando com  apenas dez anos de idade.  Tinha aulas  duas vezes semanais de preparação para o segundo grau, e pela manhã estudava as matérias curriculares básicas. O segundo turno era inteiramente voltado para as artes. Foram seis anos de segundo grau e mais três anos iniciais. “É pública e até hoje funciona muito bem”. Seu objetivo era fazer arquitetura porque seu pai e duas tias eram arquitetos.  O Andrés sempre acompanhava o pai que era um arquiteto bem sucedido e segundo disse muito trabalhador. O seu pai e suas tias sempre estavam envolvidos com a cultura na área do teatro, da literatura e das artes. Aconteceu que seus pais vieram para Salvador numa viagem a  passeio e ficaram entusiasmados com a musicalidade da cidade. Ao voltar falaram  dá efervescência musical e isto o incentivou a vir para Salvador. 
Andrés é também um
ótimo percussionista.
Portanto, seu objetivo principal era a música. Mas, rapidamente ele conheceu as Oficinas do Museu de Arte Moderna e passou a frequentar os cursos de gravura, cerâmica, escultura e pintura. Paralelamente tocava sua bateria, inclusive em pequenos shows musicais.  Conheceu os artistas Caetano Dias, Justino Marinho, Paulo Pereira, Florival Oliveira, Beth Souza, Renato Gonzaga, dentre outros. Foram dois anos sem a necessidade de trabalhar, fez e participou de  algumas exposições no ACBEU, no ICBA, e até se escreveu na Bienal do Recôncavo realizada em São Felix/Cachoeira com um desenho sobre tela e ganhou o terceiro lugar, e como premiação uma residência de um mês na Alemanha e ajuda de custo. 
Criaram um grupo nas oficinas para fazer exposições e começou a vender quadros. Conheceu o colecionador de obras de arte e da cultura popular o marchand Dimitri Ganzelevitch que sempre foi um incentivador dos novos talentos baianos. Para os que não o conhecem ele nasceu em  Marrocos, ex-possessão francesa, de família judia de ancestrais eslavos. É uma pessoa muito culta e que não corre de uma polêmica quando quer defender suas ideias, segundo o  jornalista Fernando Conceição, que também é chegado a uma polêmica. Ele tem um respeitado acervo de arte no bairro do Santo Antônio Além do  Carmo.  "Foi o Dimitri quem primeiro colocou o seu olhar crítico em minhas obras e passou adquirir vários desenhos lá pelos anos 2000 a 2005, e chegou a me oferecer um ateliê no Carmo." Me apresentaram alguns editais até que chegou a mim o edital da Braskem em 2004-2005 participei e ganhei e fiz uma exposição sob a orientação de Caetano Dias, na Galeria de Paulo Darzé. Foi a mais bem organizada individual que fiz até agora , graças a premiação que tirei o primeiro lugar." Mas, continuava tocando nos Beatles em Cena e chegou a ter uma banda própria. Porém, foi deixando a música de lado e passou a se dedicar mais às artes visuais.

Instalação e desenhos de Andrés Cisilino Rubio.
Foto de Márcio Lima.
Dois anos depois de chegar à Bahia casou com uma baiana, tem duas meninas adolescentes, e atualmente vive num apartamento no Jardim Brasil, no bairro da Barra Avenida  com sua família. Seu objetivo atualmente é arranjar um local para instalar um ateliê e continuar desenhando, esculpindo e pintando. Ele falou ainda que não tem enviado  projetos para os editais desde 2016. Pretende também fazer um site para divulgar e comercializar suas obras . Sugeri que por enquanto ele alimente o Instagram e até o Facebook com suas esculturas, pinturas e desenhos, e que devem ser abertos para uma maior participação pública. Conheci um projeto que ele tem de uma instalação a ser feita na praia ao lado do Museu de Arte Moderna, na praia  do Unhão com um lousa de cor preta  onde o movimento das ondas vai movimentando dois barquinhos e seus remos têm nas extremidades carvão seco que vai desenhando de acordo o movimento das águas.  É como se fosse uma ilha circular flutuante. Quando perguntei se molhava ele disse que sim, e que fazia parte do desenho também. A sua ideia é que depois de algum tempo o lousa seja retirada e funcionará como uma obra de arte.

                      FALANDO DO DESENHO

Três belos desenhos do Andrés Cisilino
que retratam  suas "paisagens internas".
O artista escreveu um pequeno texto sobre a sua relação com o Desenho. Vejamos: “Sobre o desenho. O sentido da minha questão com o desenho começa com o ato de desenhar enquanto expressão gráfica primordial. Os desenhos se alteram entre figuração e abstração como se fossem “paisagens internas”, mas não necessariamente ilustram; cada linha é então a experiência com a sua história única. À primeira vista a morfologia dos desenhos oferece essa sensação de “incerteza” de não saber aonde eles nos conduzem. Desenhos que respondem a formações de sentidos internos, autônomos e de um processo de ação. A contínua sensação do inacabado é a que gera o discurso. Em alguns casos o espectador tem de participar da construção, algo assim como continuar desenhando ou apagando os traços desenhados na própria mente. A cada traço percorrido a memória trabalha junto ao que já aconteceu e ao que terá por vir, possivelmente estimulando outro discurso metafórico próprio.”

Escultura feita de arame logo 
que ele chegou a Salvador.
 Já o artista e crítico de arte Justino Marinho também fez uma apreciação em março de 2010 da obra do Andrés Cisilino quando escreveu: “Visões diárias: Quando parte para executar o seu trabalho, Andrés Cisilino Rubio realiza uma excelente intervenção na imagem da realidade. O que resulta, é uma adaptação das imagens externas às suas visões interiores e uma demonstração da ampla possibilidade de compreender o que significa a verdadeira arte contemporânea. Ele cria uma expressão imediata de tensão emocional, sem obediência aos princípios tradicionais de beleza, que leva o fruidor a uma reflexão imediata sobre a condição humana. A certeza dos seus traços emociona, agride, seduz e cumpre a sua função de alerta. Andrés cria uma técnica pessoal, utilizando materiais diversos, adequada a seus fins expressivos. Desenhos, pinturas, esculturas e instalações mostram coerência e fidelidade ao conteúdo e forma escolhidos. O conteúdo, onde estão inseridos os elementos da sua visão de mundo e a forma, onde se revela e vibra o impulso da sua criação.”

ATIVIDADES E EXPOSIÇÕES

Nasceu em La Plata, Argentina. Mora em Salvador desde o ano 2000. E1982/83 - Cursou oficinas de Artes Plásticas com a artista Nelba Greco, Argentina. 1984/85 - Cursou a Escola de Estética I. La Plata, Argentina.   Cursou o Ciclo Básico em Artes Plásticas na Escola de Belas Artes Francisco A. Santos da UNLP, Argentina. 1989/94 - Bacharelou-se em Artes Plásticas na

O Andrés Cisilino desenha, esculpe, toca e 
manda bem em suas massas italianas.
Universidade Nacional de La Plata (UNLP), Argentina. 1995/96 - Cursou Arquitetura na UNLP, Argentina. 1996/98 - Cursou Composição Musical na UNLP,Argentina.1999-  Mudou-se para Salvador, BA, Brasil. 2001 -      Frequentou a Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, em Salvador, Brasil. 2000/03 - Cursou oficinas de Artes visuais com o Caetano Dias no Museu de Arte Moderna da Bahia, Brasil. 2004   -   Cursou oficinas de arte no Centro Cultural Ricardo Rojas. Buenos Aires- Argentina.  2006    - Cursou oficinas no atelier da artista visual Monica Van Asperen. Buenos Aires-   Argentina. Cursou fotografia na escola Yuyo Pereira. La Plata. Buenos Aires- Argentina.

PRÊMIOS

Em 2002   Prêmio Braskem de Arte e Cultura com o projeto Ontocartografias desenvolvido pelo NAP, Bahia, Brasil. Teatro Vila Velha. Prêmio na VI Bienal do Recôncavo com  Desenhos. São Felix, Bahia, Brasil. 2005      Prêmio Braskem de Arte e Cultura. Projeto individual de instalação e desenhos. Galeria Paulo Darzé. Salvador, Brasil.

Exposição individual na Galeria Paulo
Darzé,  Prêmio Braskem, 2006.
 INDIVIDUAIS

Em 2006 -    Prêmio Braskem. Projeto de instalação sonora e desenhos. Paulo Darzé galeria de arte. 2010 -    Exposição de desenhos e pinturas. Edital Portas Abertas para as Artes Visuais, contemplado pela Funceb Fundação Cultural do Estado da Bahia. 2011   - Desenhos e Pinturas. Galeria Do Livro. Espaço Cultural Glauber Rocha.


COLETIVAS


E
m 2001 -  Exposição Alunos Destaques das Oficinas realizada no Museu de
Arte Moderna da Bahia, Salvador –BA ; Santa Ceia, expõe desenhos no Teatro XVIII, em Salvador-BA; Ontocartografias  exposição de videoinstalação e pinturas, realizada no Teatro Vila Velha, através do Prêmio Braskem de Arte e Cultura, Salvador-BA, Brasil; VI Bienal do Recôncavo, desenhos expostos em São Felix-BA, Brasil. 2003        - I Salão de Arte Contemporânea do Consulado da Holanda’, Salvador-Ba ; V Mercado Cultural”, desenhos expostos na Galeria

Um desenho de técnica mista com seus
"personagens do inconsciente".
ACBEU, Salvador-BA . 2004 -    Desenhos. Desenhos em técnica mista. Colégio de Psicólogos, Buenos Aires, Argentina. 2005   - Séries Nômades. Objeto e desenhos. Galeria ACBEU. Salvador- BA; VI Mercado Cultural. Coletiva de desenhos. Galeria EBEC. Salvador-BA. 2006   - Silvia Vesco Galeria de Arte. Desenhos, Buenos Aires, Argentina. Circuito das Artes. Galeria do Instituto Cervantes. Salvador-BA.200- Participação no 14° Salão do MAM. Salvador, BA. 2009 -    Desenhos. Galeria ACBEU. Salvador, BA. 2010   -  Participação no 12º Salão de Itajaí, Santa Catarina, Brasil, curador, Josué Mattos. 2011 -   Exposição coletiva de pintura – galeria ACBEU – Salvador/ BA. 2015 - Exposição coletiva, ArgentinArte. Museu Náutico da Bahia. Patrocinada pelo Consulado de Argentina em Salvador. 2016 - Exposição coletiva " Só cabeças" no Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador-BA. Curadoria de Joãozito- João Pereira da Silva Filho.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


sábado, 6 de setembro de 2025

MESTRE DICINHO O ALQUIMISTA DA ESCULTU-PINTURA

Dicinho mostra a textura de sua  pintura.
Ele utiliza vários tipos de texturas ,
suportes e estilos para pintar e esculpir. 
O artista baiano Dicinho não é muito conhecido do grande público embora tenha sido um dos personagens mais atuantes do movimento da contracultura no Brasil que durante as décadas de 60 e 70 dominou grande parte da cena cultural no país. Esta influência de rebeldia veio do exterior,  aqui incorporou cores, gostos , valores diferenciados e  enfrentou forte repressão da ditadura militar que lutava contra o movimento utópico que queria implantar uma ditadura do proletariado. As manifestações musicais, literárias, teatrais, cinematográficas e das artes visuais tinham como foco principal o rompimento dos padrões estéticos tradicionais e abraçar ideias libertárias. Muitos foram chamados de tropicalistas e entre eles estão os baianos Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia, Tom Zé, Waly Salomão, o design gráfico e poeta Rogério Duarte, além do carioca Hélio Oiticica com seus Parangolés, o ator e diretor de teatro paulista José Celso Martinez, e muitos outros. No meio deste redemoinho cultural tudo era permitido experimentar como o uso de todo tipo de drogas   com a realização de noitadas quase intermináveis especialmente no eixo Rio de Janeiro- São Paulo.

Sua bela escultu-pintura do
Tamanduá Bandeira.
Seu nome de batismo é Adilson Costa Carvalho, nasceu em nove de janeiro de 1945 . Este personagem moldado na contracultura é hoje conhecido como o Mestre Dicinho, baiano de Jequié, a Cidade do Sol, que segue desde àquela época a macrobiótica, e com seu corpo esguio já realizou durante mais de cinquenta anos uma extensa e diversificada produção visual incluindo ilustrações, pinturas, esculturas, cenografias, figurinos e performances. É também um criador de centenas de ferramentas e massas que vem aprimorando utilizando principalmente esponjas, colas, papeis, pasta de dente e vaselina premium, tintas e gesso e outros materiais. É um verdadeiro alquimista da arte, e esta sua habilidade herdou do seu pai que era o que comumente chamamos o “faz tudo”. Fiquei impressionado com os micros rolinhos, forminhas, estiletes, espátulas que ele cria para moldar, esculpir e pintar suas esculturas e pinturas. Tudo é feito numa minúscula escala. Uma das muitas massas que criou tem a capacidade de permanecer por muito tempo sem
A massa redonda é a Copageti que
ele criou após anos de pesquisa.
endurecer e assim pode modelar e depois esculpir com mais tranquilidade. Segundo Dicinho o segredo é o ponto certo para o gesso não endurecer. Suas escultu-pinturas têm formas e um visual único, e revelam a sua ligação estética com o tropicalismo e o psicodelismo. Atualmente mora numa rua tranquila de classe média média no bairro de Brotas, em Salvador, e com sua aparência de um senhorzinho magro ,que usa um boné tipo europeu  e vive com a mulher e filho passa quase despercebido. Vive hoje  inteiramente dedicado à sua arte. Grande parte de sua produção é enviada para São Paulo onde a galeria que lhe representa comercializa suas obras.

                                            SUA HISTÓRIA

Estudou o primário em Ipiaú, na Escola Municipal dr. Salvador da Matta, e voltou para Jequié  onde fez o  Admissão no Colégio Estadual Professora Celestina Bittencourt. Cursou até o segundo ano colegial, e em seguida  trabalhou numa agência do Banco da Bahia, onde ficou por cerca de um ano e meio, porque seus pais estavam enfrentando dificuldades financeiras. Estávamos em 1967 ano em que   Caetano Veloso lançou Alegria, Alegria. “Quando ouvi esta música resolvi assanhar meu cabelo e virei rebelde, e disse que meu destino agora é a arte. Passei “a

Dicinho numa performance na Casa 
de Vidro, do casal Pietro e Lina Bo Bardi.
 conspirar” contra o banco que me demitiu e com o dinheiro da indenização do FGTS fui morar em São Paulo”.  

O mundo estava em ebulição com Pelé sendo considerado o melhor jogador do mundo, em 1968 as passeatas de rebeldia na França, a revolução feminina, o homem chegava a Lua em 1969, Fidel Castro domina Cuba, a partir de 1950-60. Para Dicinho “tudo acontecia e o mundo parecia um liquidificador. Curti muito em São Paulo, e foi na época do beatniks e depois vieram os hippies.” Confessou ser uma pessoa muito franca que usou todo tipo de drogas, participou de muitas festas onde rolava muto sexo e que teve uma juventude muito feliz apesar de ser uma época muito difícil por causa da ditadura militar. “Mas a gente passava por cima de tudo e erámos muito felizes.” Durante uns dez anos ficou entre São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. "Eu vinha e voltava para Salvador em ônibus da empresa São Geraldo, porque naquela época as viagens de avião ainda não tinham se popularizado. Vinha aqui via os shows de Caetano e Gil e voltava para o Rio de Janeiro ou São Paulo e lá sobrevivia com a minha arte."

Músicos feitos de Copageti na parede de 
sua casa em Brotas, Salvador
.
Quando ainda estava em Salvador mantinha uma amizade muito próxima com   o Edinízio Ribeiro Primo, que era de Ibirataia, interior da Bahia, e tinha o sonho de estudar na Faculdade de Artes Plásticas Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo,  que foi criada pelo Conde Armando Alvares Penteado e se dedica às artes e ao ensino superior em geral. Na época era considerada a melhor escola de arte do país. “Meu amigo Edinízio era um geniozinho. Depois o Edinízio Ribeiro adquiriu uns santos antigos em Maraú e levou para São Paulo onde vendeu. Com este dinheiro se matriculou na Faculdade de Artes Armando Alves Penteado e logo no primeiro ano foi premiado e ganhou uma bolsa de estudos. Ficou por lá até o terceiro ano, e decidiu que não era aquilo que queria. Ele achava que a arte tinha que circular nas ruas, nas roupas, nos para-choques de caminhão, nas capas de discos e assim junto com Dicinho passaram a fazer arte para ser vestida criaram roupas para uma grife de roupas chamada ARP com motivos tropicalistas e psicodélicos para que uma grande quantidade de pessoas pudesse usufruir de sua arte.

Capas dos LPs dos cantores baianos 
Moraes Moreira e Gal Costa.
Tinham muito contato com Rogério Duarte e José Celso Martinez, no Teatro Oficina, e Dicinho revelou que “esses dois eram os mais loucos, no bom sentido, de todos nós”. Por participar desses movimentos rebeldes e principalmente da política teve nos anos 70 de passar uma temporada escondido numa fazenda no município de Ibirataia, no sul da Bahia. Depois de algum tempo retomou sua vida e resolveu trabalhar para ele e assegurou que “minha alma é a escultura”. Atualmente faz suas escultu-pinturas. São obras que têm uma singularidade especial que ele molda e esculpe usando suas massas, formas e outras ferramentas,  depois pinta usando micro rolinhos de espuma e na maioria das peças utiliza a técnica do pontilhismo e vários tipos de textura. Consta na História da Arte que a  técnica  de pintura do pontilhismo foi criada na França por  Georges Seurat e Paul Signac, em meados do século XIX. "A denominação do movimento como Pontilhismo só foi designada na década de 1880 a fim de ridicularizar e rebaixar o trabalho desses artistas”. As obras de Dicinho são únicas especialmente os animais que ele cria são diferenciados na forma e nas texturas e têm um apelo visual impressionante.

Escultu-pinturas de animais expostas na Galeria Sé, São Paulo, 2023.














Quando lhe indaguei como chegou a criar essas massas de consistência e ponto de endurecimento diferente o Dicinho ficou me olhando e depois de alguns segundos respondeu “eu com eu mesmo depois de errar muito até descobrir qual o melhor ponto". A massa que usa para modelar não endurece e mostrou um bolo de massa afirmando: "esta aqui tem doze anos que uso para modelar e coloquei o nome de Copageti e é resultado da mistura de cola, papel, gesso e tinta."

Lembrou que conheceu d. Lina Bo Bardi em Salvador que lhe convidou para viajar com ela pelo interior  para comprar artesanato em Jequié, Feira de Santana, Valença e outros locais, e não participei da montagem no Museu de Arte Popular que ela criou em 1963. “Ela colocava o Mestre Vitalino nas nuvens. Considerava um grande artista". Em 1978  Dicinho  chegou a fazer  quarenta e duas peças  encomendadas por ela para presentear amigos durante a Expo Brindes  Brasil e Japão .

Exposição na Alemanha, 2020 -Home
Stories :100 Years , 20 Visionary Interiors.
Foi até proprietário  de  um barzinho em Jequié chamado Tango . Lembra que era todo decorado por ele inclusive o cardápio. Era um ambiente diferente e que vários  artistas foram cantar lá entre eles Luiz Melodia, Chico Evangelista, Era Encarnação, dentre outros. Depois Rogério Duarte veio morar uma temporada em Jequié e faziam as refeições  no barzinho. Começou a escrever um livro que dividiu nas fases da vida. Iniciou com a Infância, contando histórias que considera muito engraçadas.  A propósito reproduzo aqui  um pequeno texto de Rogério Duarte falando da importância do Mestre Dicinho para o movimento Tropicália: "Os afluentes da imagética de Dicinho são os mais variados: vão desde a vanguarda erudita do modernismo à arte popular. Desde Ismael Neri, Volpi, Tarsila à cerâmica nordestina de Vitalino e a escultura religiosa afro-brasileira. Por estas e outras razões, sua obra é muito estética, apesar da singularidade indiscutível de seu estilo pessoal. Outras razões são sua participação na grande revolução cultural do Tropicalismo, do qual ele é atualmente o mais legítimo representante vivo. Essas considerações não contemplam o dado fundamental, para mim, que é a sua extrema devoção ao "fazer artístico", que confere aos seus trabalhos uma qualidade e um refinamento  incompatíveis na atual geração de artistas plásticos brasileiros".

As roupas da griffe  ARP no
estilo Tropicalista.
Também lembrou dos prostíbulos na juventude quando trabalhava no banco  recebendo salário e a bonificação da quebra de caixa. Nestas idas e vindas ao brega arranjou um chamego com a  mineira chamada Valquíria , e na Quinta-feira da Semana Santa apareceu na casa onde ela ficava. Ela balançou o dedo e disse " hoje é Quinta-feira Santa você chegou 23,10horas.  Ficamos   conversando e quando fomos pros finalmente  me disse você tem tantos minutos. Quando o relógio da matriz bateu meia noite ela interrompeu, e sentenciou,  mais nada!" Dicinho disse ainda que as mulheres do brega "eram muito interesseiras pelo dinheiro, mas  me tratavam ao pão de ló.  Eram pessoas maravilhosas!" Lembrei que também em Ribeira do Pombal as prostitutas na época chamavam esta atitude de “fechar o balaio”, respeitando a Semana  Santa principalmente as quintas e sextas-feiras Santas.  Voltando ao  livro que começou a escrever, e que certamente seria muito útil para entender por dentro o movimento da contracultura no Brasil, corre o risco de não ser concluído. Ele parou de escrever faz algum tempo e disse que atualmente anda com muita preguiça de continuar escrevendo.

EXPOSIÇÕES


Trabalhos do Mestre  Dicinho foram apresentados em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Jequié , no Japão, na cidade de Tóquio, e na Alemanha. Na foto abaixo  vemos o Baobá  que ele expôs no Masp, em 2018.

INDIVIDUAIS: 
Exposição Afroatlântica , no MASP, 2018.
* São Paulo-SP: Exposição Anunciação - Museu de Artes de São Paulo; Animais , no SESC Pompeia, São Paulo, Proveitosa Degustação. *São Paulo -SP, Galeria Seta e Espaço Aberto , SESC Vila Nova.* Salvador-BA: Fragmentos , Museu de Arte Moderna - Solar União, * Namorados Amantes Amigos , Hotel Meridien. *Salvador- BA, Imã Teatro XVIII* Salvador-BA, A Mão e a Água , Instituto Cultural Brasil Alemanha. *Jequié-BA: Dicinho Artes Visuais , Câmara Municipal. *Artes Visuais I , Galeria da Avenida Rio Branco e Fina Flor (Centro Cultural Antônio Carlos Magalhães. Expôs em 2023 da Galeria Sé, em São Paulo as escutu-pinturas de  seus Animais.

COLETIVAS : *São Paulo-SP: Coletiva Carolina Whitaker, 400 Anos de Arte e Antiguidades no Brasil  - Salão Casa Vogue .*Salvador-BA: Bahia de Todas as Artes ,Centro de Convenções.*Tóquio: Expo-Brindes , Lina Bo Bardi.*Rio de Janeiro-RJ, Artes Gráficas - Capas de Discos: Gal de Gal Costa, da Som Livre e Cara Coração - Moraes Moreira , da Som Livre.
Escultu-pintura Mulher Deitada.
* Salvador-BA: capa do LP da Raposa Velha, Grupo Instrumental.* Rio de Janeiro - Artes Gráficas , Ilustração de Jornais e Revistas : Jornal da Tarde, Revista Pop, Revista Planeta, Livro - Proveitosa Degustação, A Flor do Mal, Editora José Olympio e Retrospectiva Ary Quintella-Editora José Olympio.*Salvador-BA: O Arco e a Flecha - Luísa Viana, Revista Código - Antônio Risério,  e Canjiquinha -Alegria Capoeira , de Fred Abreu .



sábado, 30 de agosto de 2025

MUSEU DE ARTE POPULAR JURACI DÓREA REÚNE IMPORTANTE ACERVO

Entrada principal do Museu de Arte Popular 
Juraci Dórea, na fazenda  Garajau.
Uma das formas de expressão artística mais autêntica é a arte popular por representar as tradições, a cultura e a identidade de um país. Assim através de esculturas, pinturas, rendas,  gravuras, artesanato, e outras manifestações artísticas os locais vão se expressando de uma forma simples e original. Esses artistas /artesãos estão fora das academias e sua inspiração vem do que observam, lhes tocam e são levados a se expressar através a cerâmica com as esculturas de barro, madeira, ferro e fibras naturais, com tecidos a fazer suas bonecas de pano, couro com suas selas e vestimentas de vaqueiros ornamentadas, suas pinturas, cestarias e rendas. Eles têm grande importância por preservar e retratar as lendas, tradições e crenças d a população de  cada região do país, e sempre você vai encontrar beleza e diferenças nos traços das obras da arte popular simples do interior do Brasil. Aqui no interior da Bahia perdido neste mundão de caatinga que teima
em resistir existe um local onde pérolas desta arte popular estão expostas ao público. Trata-se do Museu de Arte Popular Juraci Dórea, localizado no coração da caatinga entre as cidades baianas de Ruy Barbosa e Macajuba, na fazenda Garajau, distando 295 km da Capital, no Centro-Norte da Bahia. Um local especial entre pedras, cactos e árvores retorcidas que compõem este cenário único para a guarda de obras de grandes mestres da arte popular espalhados por este Brasil continental. Este museu é fruto do trabalho e esforço de um ex-colega da velha Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, o Aécio Pamponet, uma mistura de político e caçador de obras de arte popular. 
Esta escultura ao alto é de Fernandes Rodrigues, Vitória de Santo Antão, em Pernambuco. Vejam a expressividade do seu olhar e a proporcionalidade de seu corpo. Um artista de grande talento.

Escultura da artista Nena,
cidade de Capela, Alagoas
O Museu de Arte Popular Juraci Dórea fica situado dentro da fazenda Garajau pertence ao casal Aécio Pamponet e sua esposa Selma de Paula, psicóloga aposentada do TCU. O acesso ainda é feito através uns trinta quilômetros de uma estrada vicinal de terra batida, quando o visitante que nunca viu um pedaço de   caatinga passará a conhecer as árvores retorcidas, pedras e muitos cactos como o xique-xique, mandacaru, cabeça- de- frade e morros. É um cenário bem diferente dos que vivem em Salvador ou mesmo outras cidades das regiões do sul e sudeste do Estado. O museu conta com mais de 2.500 peças e este número tende a aumentar porque o casal continua adquirindo peças importantes e também recebendo doações de amigos e até mesmo de visitantes. O sociólogo Aécio Pamponet adiantou que atualmente está empenhado em finalizar sua transformação num instituto para assim garantir sua continuidade após a morte do casal. A Bahia já teve um importante Museu de Arte Popular criado em novembro de 1963 e inaugurado com a exposição Nordeste, por iniciativa de Lina Bo Bardi, que ficava num
O casal Selma de Paula  e Aécio Pamponet,  
criadores do museu , com Juraci Dórea
e esposa Selma Soares, museóloga.
imenso galpão ao lado do Museu de Arte Moderna, no Solar do Unhão. Acabaram com o museu no início dos ano 2000 e algumas de suas peças estão numa coleção no Solar do Ferrão, pertencente do governo do Estado. Existem outros museus de arte popular na Bahia a exemplo do Museu de Canudos onde estão expostos os restos mortais de Antônio Conselheiro e objetos da época da saga dos beatos. 
O Museu de Arte Popular Juraci Dórea tem várias esculturas em tamanho natural em barro como as do escritor e contador de histórias o paraibano Ariano Suassuna (1927-2014)   do poeta e cantador cearense Patativa do Assaré (1909-2002)  do educador pernambucano Paulo Freire (1921-1997).  Os criadores do museu  já encomendaram as esculturas de Bule-Bule, este inclusive tem um espaço com seu nome, e de Juvená, da famosa barraca em Itapuã, Salvador.

                                        SUA ORIGEM

Durante nossa conversa o Aécio Pamponet discorreu sobre a origem do Museu de Arte Popular Juraci Dórea. Disse que tinha adquirido a fazenda Garajau de quatrocentas tarefas e como estava improdutiva decidiu entrar com um projeto

.
junto ao Banco do Nordeste para a criação de cabras, já que a região de caatinga é propícia para a criação desses animais que têm rusticidade e aguentam a seca. Porém, o projeto fracassou porque depois descobriu que o pessoal da região não apreciava muito a carne de bode, e sim de carneiros. Resolveu abandonar o projeto. A criação de cabras exige muitos cuidados, especialmente no combate às verminoses e dificuldade de mantê-las dentro do espaço da fazenda porque é um animal arisco e que mesmo com cerca de sete e oito fios de arame e até elétrica ela cava e foge. Sua carne tem um sabor diferente que alguns chamam de ranço outros de reimosa. Mas, na realidade é uma carne magra, saborosa e muito apreciada no Nordeste. Outro problema para criação de caprinos hoje em dia é a  falta de mão de obra qualificada e confiável. Acima a escultura em tamanho natural de autoria de Fernandes Rodrigues em homenagem ao escritor Ariano Suassuna e o poeta Patativa do Assaré,  grandes personagens nordestinos. O gato branco resolveu  aparecer na foto .

Voltando ao Museu de Arte Popular Juraci Dórea o casal Pamponet vinha comprando há mais de vinte anos peças importantes de artistas populares nas suas viagens pelo interior do país. Sua coleção cresceu tanto que amigos mais próximos sempre diziam que deveriam tentar fazer um museu. Foi assim que a ideia foi criando força e “terminamos iniciando a construção de um espaço para colocar as peças na fazenda Garajau e contratando uma museóloga para catalogar

as peças. A coleção continuou a crescer através de compras de novas peças como também começaram a aparecer as primeiras doações”. Foi assim que Aécio Pamponet e Selma de Paula passaram a construir novos espaços para colocação dessas peças, que hoje abrigam a mais de 2500 peças dos mais importantes artistas de arte popular do país. E a coleção continua crescendo. Hoje é um ponto turístico e de aprendizagem onde alunos de escolas públicas e privadas da região costumam aparecer para conhecer o museu e receber informações sobre a importância da arte popular e também saber detalhes sobre seus criadores. Vemos ao lado a  primeira obra adquirida do museu de autoria de Zezinho de Tracunhaém, Pernambuco e tem 1,80m de altura.

O nome Garajau da fazenda foi inspirado num cesto quadrado que os índios e depois os quilombolas usavam para carregar galinhas, objetos de cerâmica e outros tipos de mercadorias que levavam para vender nas feiras livres da região e voltavam com produtos para seu consumo. Eles se assemelham aos caçuás muito utilizados no Nordeste para transporte de mercadorias no lombo dos animais, mas que tem uma forma diferenciada em curva parecendo U. Informou  Aécio Pamponet que a primeira peça significativa de sua vasta coleção que hoje integra o museu foi a de um São Francisco de Assis em tamanho natural, de autoria do pernambucano  Zezinho do Tracunhaém. As obras maiores ficam espalhadas ao

Pintura de Gildásio Jardim , de
Padre Paraíso, Minas Gerais.
redor das sete unidades que compõem o conjunto do museu. Entre as peças importantes tem oito do Mestre Vitalino. Seu nome de batismo é Vitalino Pereira dos Santos, (1909-1963), foi talvez o mais importante artesão, ceramista popular da História do Barro em nosso país. O Museu recebeu de doação um acervo de peças de Manoel Eudócio Rodrigues, considerado o último discípulo do Mestre Vitalino, era do Alto do Moura, em Pernambuco, nasceu em 1931 e faleceu em 2016, aos 85 anos, porém seu legado permanece firme e forte com três dos seus nove filhos. José Silvano, Luiz Carlos e Ademilson Rodrigues são os responsáveis por manterem vivo o legado do patriarca. Por falar em Pernambuco é bom salientar que é um dos estados mais ricos em arte popular e seus governos através dos anos vêm promovendo com força esta atividade criativa. 
O museu tem várias peças de Zezinho de Tracunhaém batizado José Joaquim da Silva, fez da arte santeira a sua expressão maior, tornando-se um dos mais importantes artistas populares do Brasil, fonte de inspiração e mestre de dezenas de artesãos, tendo obra escultórica encontrada em acervos de igrejas, museus e coleções particulares,
Obra de Irinéia, da União dos
Palmares, Alagoas.
como o Museu de Arte Contemporânea (PE), Museu Casa do Pontal (RJ) e Palácio do Planalto. Nasceu no dia 5 de julho de 1939, no município de Vitória de Santo Antão. E faleceu em 2019. 
Já o Mestre Fernandes Rodrigues, batizado Fernandes Rodrigues de Oliveira é um grande observador e estudioso da anatomia humana. Tem esculturas, bustos e monumentos, inspirados na cultura nordestina, sua história e sua gente - anônimos vaqueiros e políticos. Sua arte pode ser encontrada tanto em amplas praças públicas como em acervos de colecionadores em todo o Brasil. Fernandes Rodrigues de Oliveira, o mestre Fernandes Rodrigues, nasceu no Engenho Cacimbas, zona rural do município de Vitória de Santo Antão, Mata Sul do Estado, no dia 11 de julho de 1963. Costuma dizer que a vida o encaminhou para a arte e que nada mais fez do que atender ao chamado do barro. É um artista que domina grandes formatos, em trabalho que surpreende pelo realismo, expressão. Como destaque o museu conta com dez obras do artista visual Juraci Dórea, que dá nome ao museu, inclusive uma escultura abstrata feita de couro cru e varas, que fica a céu aberto. Possui  ainda obras do Mestre Espedito Seleiro, nasceu em 29 de outubro de 1939 em Arneiroz, cidade do Sertão dos Inhamuns, Espedito Seleiro representa não apenas a cultura e a criatividade cearense, mas também era figura importante do Nordeste brasileiro. Mestre Espedito Seleiro está vivo e celebrou 85 anos em outubro de 2024, sendo reconhecido como um patrimônio cultural
Obra de Mestre Pintor,
Petrolina, Pernambuco.
brasileiro. Ele é um renomado artesão de couro, famoso por transformar a arte em couro em peças que celebram a cultura nordestina, e recebeu diversas homenagens em vida, incluindo a Ordem do Mérito Cultural, em 2025. Obras
de Maria Geralda, do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais e  de João das Alagoas, de Capela, Alagoas, autor de um boi imenso de cerâmica que fica na orla de Maceió. Ele tem uma técnica diferenciada porque  borda com o barro histórias de casamentos, bumba-meu-boi, nas superfícies externas de suas esculturas, em alto e baixo relevo. É um dos mais importantes escultores populares da atualidade no Brasil. Obras de Sebastião Wilson Ferreira de Amorim, conhecido por Mestre Tiago Amorim, exerce outras funções dentro do campo artístico, como pintor e desenhista. Apesar de ter nascido no município de Limoeiro, no dia 09 de janeiro de 1943, foi em Olinda, na Região Metropolitana do Recife, que ele desenvolveu como artesão.  Suas cerâmicas são muito apreciadas em todo o país. As máscaras de José de Tertulina, conhecido como Zé Crente é coveiro, pedreiro e escultor em madeira. Vive na Ilha do Ferro, em Alagoas, seu trabalho 
Obra de Emanuel, santeiro
de Maragogipinho, Bahia.
une tradição e criatividade na produção de peças multicoloridas que são a cara do Brasil, também estão presentes no museu baiano. Tem ainda obras de vários outros artistas/artesãos como de
Irailda, João Carlos e Veronice; Dona Irinéia, quilombola de Muquém de União dos Palmares, em Alagoas. Seu nome é Irinéia Rosa Nunes da Silva e é uma ceramista popular reconhecida em todo o país e faz parte de um grupo de remanescentes quilombolas do povoado de Muquém, município de União dos Palmares, zona da Mata alagoana, que fica próxima à Serra da Barriga, terra do famoso quilombo dos Palmares, do quilombo Zumbi. Ela nasceu em 1949 e ainda produz;  de Gerard, de Barra do Rio Grande que cria esculturas de santos católicos e orixás, ricamente ornamentadas e com vestes volumosas, de acordo com a tradição barroca. Com uma paleta de cores bem definida e suave, as esculturas são majestosas, independentemente do tamanho. Obras de Acácia e Cotrim, de Rio de Contas; Emanuel, Rosalvo, João,
Espedito Seleiro, de Nova
Olinda, Ceará.
 Miro, Almerentino e
 do ceramista baiano Taurino Silva, mais conhecido como Zé das Bonecas, gosta de desafios. Convivendo com muitos artesãos em Maragogipinho, ele está procurando sempre criar coisas novas. Foi assim que nasceu sua peça mais famosa a Baiana com Tabuleiro, que hoje integra o acervo de arte popular brasileira do Museu do Folclore Edison Carneiro, instalado no Rio de Janeiro. Ainda tem muitas outras peças, algumas ainda sem identificação de artistas anônimos que vivem em seus rincões criando e se expressando como forma de se comunicar. Informou ainda Aécio Pamponet que a fazenda Garajau onde fica o Museu de Arte Popular Juraci Dórea possui instalações de hospedagem para pequenos grupos e que maiores informações podem ser obtidas através do e-mail aeciopamponet@gmail.com ou pelo telefone 71 988832441.

                              BAHIA TERRA DO JÁ TEVE

A nossa Cidade tinha o seu Museu de Arte Popular que foi inaugurado em 1963 no conjunto arquitetônico do Solar do Unhão, construído no século XVII, com a exposição Nordeste sob o comando da arquiteta Lina Bo Bardi. Segundo escreveu em 2021 a arquiteta e design Beatriz Sallowicz "A mostra temporária e única aberta ao público contou com empréstimos de diferentes coleções particulares e acervos museológicos para apresentar uma extensa reunião de objetos variados. A exposição que a gosto da arquiteta teria sido intitulada Civilização Nordeste acusou posturas de classe pouco relacionadas com o conhecimento do que qualificou como a "atitude progressiva da cultura popular ligada a problemas reais". 

Peças do ex-Museu de Arte Popular da Bahia
agora Coleção Lina Bo Bardi.
Museu de Arte Moderna da Bahia, e ao lado o Museu de Arte Popular. Ela mesma viajou por vários municípios baianos e de outros estados recolhendo peças de arte popular como ex-votos, carrancas, ferramentas, símbolos religiosos, esculturas de barro, madeira e ferro, e muitos outras manifestações culturais, e ao lado do Museu de Arte Moderna dedicou um amplo espaço para o Museu de Arte Popular. Mas, veio um "iluminado" no governo de Antônio Lomanto Júnior  resolveu acabar com o museu, e o seu acervo ficou durante anos perdido em algum depósito empoeirado. Atualmente transformaram o museu na Coleção Lina Bo Bardi e colocaram no Solar do Ferrão, no Pelourinho. Veja que de lá para cá não evoluiu, ao contrário se transformou numa coleção. Sabemos que o museu é um ser vivo, dinâmico que precisa constantemente de aumentar o seu acervo preservando a memória cultural e promovendo mostras e outros eventos para atrair e educar o seu público.  
Às vésperas de completar setenta e seis anos de existência outro "iluminado" do
Governo do Estado na administração de Rui Costa (PT) decidiu em dezembro de 2015 extinguir o Instituto Mauá que era um desses órgãos de excelência que funcionava num majestoso prédio localizado no coração do Porto da Barra, um local estratégico para visitação pública. Lá ficavam expostas peças dos principais artesãos da Bahia e a entidade era um polo incentivador do artesanato com ações em todos os municípios baianos . O Instituto Mauá foi criado através o decreto-lei nº 11.275, em 20 de março de 1939 e era definido em seu portal na internet como "instituição de legitimidade na valorização de importante patrimônio artístico e cultural do Estado.”

O Instituto Mauá promovia a arte popular
em todo o Estado da Bahia e realizava
feiras para comercializar suas obras.
Seguindo ao contrário dos outros estados, a Bahia vive estagnada neste setor. Basta citar o caso de Pernambuco, um estado pequeno, mas que tem suas tradições culturais, especialmente a cultura popular como um dos suportes mais importantes do seu desenvolvimento turístico e cultural atraindo milhares de visitantes. Aqui se limita a fazer uma pequena feira anual em Maragogipinho e os artesãos de lá não recebem quase apoio. Basta dizer que a Feira Nacional de Negócios do Artesanato – Fenearte, de Pernambuco,  é a maior e mais importante do Brasil. Calcula-se que a Bahia tem cerca de onze mil artesãos e a maioria deles com alguma relevância e foram cadastrados pelos técnicos do ex-Instituto Mauá.