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sábado, 12 de julho de 2025

MARISTELA RIBEIRO E SEU DIÁLOGO CONTEMPORÂNEO COM AS RUAS

A artista Maristela Ribeiro
trabalha em mais uma obra.
A artista Maristela Ribeiro iniciou seu percurso artístico em meados dos anos de 1990 nos salões de arte. A partir daí participou com frequência de dezenas de coletivas, salões e bienais na Bahia, aqui e em outros estados brasileiros, assim como no exterior, tendo sido algumas vezes premiada. É doutora em Artes Visuais, mestra em Poéticas Visuais e graduada em Artes Plásticas e suas obras estão em acervos públicos e privados. Desde 2004 realiza intervenções em espaços públicos, ruínas, edifícios abandonados e museus. Maristela “desenvolveu composições de poder evocativo, dando visibilidade a indivíduos reais, invisíveis na sociedade e propondo novos significados a lugares ou objetos, por meio da imbricação destes, com a Fotografia.” Costuma utilizar a ilusão de ótica como recurso poético, trazendo estranhamento e alteração na percepção do espectador, dessa forma, encontra diversas maneiras de falar sobre um determinado lugar, sua cultura, seu entorno e sua história. O conjunto do seu trabalho mostra preocupação com aspectos sociais e abre uma reflexão quando aborda questões sobre gênero, vulnerabilidade, solidão, universo cotidiano, desigualdade social e outros temas relevantes na sociedade contemporânea.  Portanto, sua pesquisa busca fazer uma reflexão sobre os modos de construção de imagens, tendo como fio condutor uma poética com ênfase na fotografia, baseado nos projetos artísticos realizados em Morrinhos, Feira de Santana, Bahia e em Cabanyal, Valencia, na Espanha.

Série As Meninas em acrílica sobre  tela
 que fez durante a pandemia, 2021.
A Maristela Almeida Santos Ribeiro nasceu em dezoito de maio de 1960 em Feira de Santana e oito meses depois seus pais Antônio Almeida Filho e Edla Santos Almeida foram morar em Itaberaba. Lá fez o primário na Escola Góis Calmon, que era anexada ao Colégio Estadual de Itaberaba, e ao terminar o ginásio veio estudar em Salvador no Colégio das Sacramentinas, no bairro de Fazenda Garcia. Em 1975 prestou vestibular para Licenciatura em Desenho e Artes Plásticas, na Universidade Católica de Salvador - UCSAL. Casou, e logo depois decidiu fazer um curso de especialização em Varzinha, interior de Minas Gerais, quando se especializou em Metodologia do Ensino. Ao concluir o curso voltou para Feira de Santana passando a ensinar no Colégio Estadual Gastão Guimarães para os multiplicadores de professores de arte. Foi nesta época em 1995 que o então reitor professor Josué da Silva Mello, da Universidade de Feira de Santana lhe fez o convite para trabalhar no CUCA. Lá promoveu várias oficinas de artes visuais, inclusive convidando professores de Salvador. 

A Árvore , Um Poema Visual, pintura -
intervenção  feita num viaduto em Feira
 de Santana, 2016.
Em certo momento sentiu a necessidade de sistematizar os seus conhecimentos, e em 2002 decidiu fazer o mestrado, primeiro ficou como aluna especial, depois passou a aluna regular. Para Maristela Ribeiro "o mestrado na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, foi muito importante porque me abriu a mente para as áreas da Poética e da Estética. Pude assim me aprofundar em minha Arte". Passou a trabalhar com experimentos e novas linguagens. Na sua dissertação do mestrado escolheu oitenta e nove mulheres que viviam separadas da sociedade em hospital psiquiátrico, lar de idosos e na penitenciária. Passou dois anos pesquisando e no final fez uma instalação com vídeos e fotos que chamou de Fendas e Frestas mostrando como essas mulheres aparecem parcialmente na sociedade e sobre a forma em que vivem . Depois expôs em Brasília em 2005 ocasião em que o curador Bené Fonteles escreveu: "Por Fendas e Frestas, Maristela deixa vazar a luz. As ausências e presenças fluem em meio a sombras, onde cada ser desvela sua humanidade. Todos nós, de alguma forma, estamos confinados em presídios particulares e, quase sem saída , vamos negando o outro em nós mesmos".
Colou fotos de  estantes com
livros em espaços públicos na
intervenção que chamou de
Sebos Urbanos, 2016
.

Na intervenção que chamou de Sebos Urbanos a artista Maristela Ribeiro fotografou estantes de livros e colou em locais estratégicos em Feira de Santana,  interior da Bahia, procurando incentivar a leitura e também chamar a atenção dos moradores da cidade sobre a necessidade de ter mais livrarias. Brincando falou que “temos setecentas farmácias e apenas uma livraria na cidade! É uma farmácia em cada esquina. É hora de incentivar a leitura nas escolas, na universidade e nos lares. O livro é um companheiro que nos acalenta, nos informa e cura a mente”. Nas fotos dos Sebos Urbanos podemos ver pessoas comuns procurando ler os nomes dos livros, que compõem as imagens.

A artista Maristela Ribeiro afirmou ser uma pessoa inquieta que sempre está procurando manter contatos com artistas daqui e de fora trocando experiências, e gostou do amplo contato com o público durante as apresentações de sua instalação que tiveram uma boa afluência de público em São Paulo,
Intervenção urbana em dez casas no
 povoado de Morrinhos, município
de Feira de Santana.

Brasília, e Valencia, na Espanha. “O meu trabalho, portanto, não é só pintura porque gosto de me expressar em outras linguagens como a fotografia, por exemplo. Utilizo a fotografia para dar o sentido que espero como fiz com o projeto em Morrinhos. Não é a fotografia pela fotografia. É a fotografia onde esta técnica cria uma relação com o próprio ambiente. Veja que as fotos que tirei, ampliei e colei nas fachadas das casas cada fotografia era de um local onde o morador tinha alguma relação com aquele lugar que fotografei. Às vezes foi uma fazenda onde trabalhou, uma roça onde nasceu e assim por diante. Trouxe para eles lembranças que haviam quase esquecido.” Ficou muito orgulhosa quando um morador espontaneamente lhe disse. “Maristela agora Morrinhos entrou no mapa!”. Isto porque houve muita mídia, inclusive saiu com destaque num jornal de uma grande emissora de televisão que era líder de audiência. No estágio doutoral em Valencia, na Espanha, ela fez um estudo paralelo entre as casas do sertão e de Cabanyal, que é um bairro de pescadores daquela cidade, para entender até que ponto a arte é necessária ao ser humano. 
Obras da série Inventos que expos
no Hotel Sofitel, em Sauipe.
Maristela Ribeiro escreveu em sua dissertação do doutorado “que o espaço público é o espaço de excelência da ação política. As associações geradas pelas imagens nos espaços 
públicos incidem diretamente na relação homem-espaço. Elas contribuem para experiências subjetivas pressupondo que esta ação acontece com a apropriação simbólica do espaço. Na área rural do semiárido baiano, com seu lento fluxo de estímulos sensoriais, sugere um microcosmo à parte com suas manifestações culturais e práticas sociais próprias que demonstram a preservação e manutenção de sua identidade e tradição”.

Também na série que expôs no Hotel Sofitel apresentou a série de pinturas  que denominou de Inventos inspirada na infância onde conseguiu se expressar através de desenhos de aparência ingênua e refletir sobre o passado da família brasileira e da sua própria família. Uma dessas obras intitulada Exílio está no acervo do Museu Regional de Arte do CUCA e serviu de modelo ao projeto A Escola Vai ao Museu como exemplo de momentos das artes visuais nos salões e bienais que aconteceram e acontecem.

Exposição em Valencia, na Espanha,
das imagens  feitas do alto.
No período da  pandemia não parou. Aproveitou que estava em casa e trabalhou numa série de pinturas onde pintou suas netas utilizando principalmente o azul claro.  Para ela “a arte nos dá a possibilidade de reinventar e de termos a percepção de que não temos apenas as necessidades básicas.” Nesta série intitulada As Meninas, de 2021, ela conseguiu captar com maestria a inocência das meninas em suas brincadeiras e até em momentos de descanso. São obras que nos deleitam com a sutileza das formas e criou um ambiente quase celestial usando um azul claro e transparências que transmite tranquilidade e ternura.

Em 2020 mostrou a série de fotografias aéreas - plongées – realizada emValencia, Espanha, onde faz o contraste entre o claro e o escuro. "Plongée em francês, significa mergulho. No contexto do cinema e da fotografia refere-se a um ângulo de câmera onde a imagem é filmada de cima para baixo.” Para ela “a sombra tem uma dimensão ampliada porque além das questões técnicas e simbólicas, abordam problemas plásticos em si. Sendo um elemento tão comum e ordinário no nosso cotidiano, a sombra, neste caso, cresce e subverte a sua posição, ao protagonizar a cena, tornando-se maior que o personagem”.

                                                                                                     

                                                                             EXPOSIÇÕES

Instalação Fendas e Frestas no
 Conjunto  CEF ,  São Paulo, 2005.
INDIVIDUAIS - E2022  - Festa no Quilombo, Narrativas Visuais, Intervenção Urbana, Feira de Santana/BA. 2017 - Sebos Urbanos, Intervenção Urbana, Feira de Santana/BA .2014 - Casas do Sertão, Exposição a Céu Aberto, Morrinhos/BA. Casas do Sertão, MAC, Feira de Santana/BA. 2006 - Fendas e Frestas, Conjunto Cultural Recoleta, Bueno Aires, Argentina; Fendas e Frestas: instalações, Conjunto Cultural da Caixa, Rio de Janeiro/RJ. 2005 - Fendas e Frestas: instalações, Conjunto Cultural da Caixa, São Paulo/SP; Fendas e Frestas: instalações, Conjunto Cultural da Caixa, Brasília/DF. 2004 - Fendas e Frestas: uma poética do feminino, CC da Caixa, Salvador/BA. 1994 - Pinturas Recentes, Museu Regional de Arte, Feira de Santana, BA.

NO EXTERIOR - E2016 - Por Una Casa Llena de Recuerdo, Intervenção
Urbana, Valencia, Espanha (Foto ao  lado ) . 2015 - Perspectivas: Arte, Doenças Hepáticas, Viena, Áustria; Casas do Sertão, com Neyde Congreso Internacional ANIAV, Lantier, Teatro Munganga, Amsterdam, Holanda; Comunicação, Valencia, Espanha; El Horno y las Madalenas, Festival de Benimaclet, Valência, Espanha . 2010 - Congreso Internacional Mujer, Arte y Tecnología, Valência, Espanha. 2008 - VideoBraC, Intercâmbio Cultural, Dep. del Quindío, Armênia, Colômbia. 2006 - Fendas e Frestas, Individual, Centro Cultural Recoleta, Buenos Aires, Argentina. 1997 - Arte Lusófona, Galeria de Arte LCR, Sintra, Portugal; Pinturas e Esculturas do Nordeste Brasileiro, Duo, Centro Cultural OIKOS, Lisboa/PT. 
COLETIVAS - E2023 - Fabulações Visuais, Caixa Cultural Salvador/BA. 2019 - Prisma, Museu Regional de Arte, Feira Santana/BA. 2016 -Intervenção Fotográfica, Museu de Arte Contemporânea, Feira de Santana/BA; O Remorso, Museu de Arte da Bahia, Salvador/BA. 2014 -  30 x 30 Pequenos Formatos. 2012 - Circuito das Artes, Salvador/BA. 2011- Pontos Cardeais, Museu de Arte Contemporânea, Feira de Santana/BA . 2009 - Panorama, Museu de Arte Contemporânea, Feira de Santana/BA; Treze Contemporâneos - 13 anos de Museu, MAC, Feira de Santana/BA; Galeria Cañizares - Escola de Belas Artes - UFBA, Salvador/BA; Inauguração da Pinacoteca, Acervo CDL, Feira de Santana/BA; IX Bienal do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann, São Félix/BA; XV Salão MAM/BA, Salvador/BA;  130 Anos da Escola de Belas Artes da UFBA; Instituto Goethe, ICBA, Salvador/BA; I Ocupação do Grupo GEMA, MAC, Feira de Santana/BA; Grandes Artistas da Bahia em Pequenos Formatos - MRA, Feira de Santana/BA. 2007 - Onze anos MAC, Artistas Convidados, MAC, Feira de Santana/BA; Grandes Artistas da Bahia em Pequenos Formatos, Prova do Artista- Salvador/BA; Acervo da Pinacoteca CDL - Feira de Santana/BA; 11 anos Museu Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira. 2006 - Coleção Pós-Modernismo na Bahia, Museu Regional Arte, Feira de Santana/BA. 2005- Arte para Hoje, Galeria ACBEU, Salvador/BA; Arte Sofitel, Costa de Sauipe/BA ; Lado a Lado, Duo, Galeria Carlo Barbosa, CUCA/UEFS, Feira de Santana/BA. 2004 - VII Bienal do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann, São Félix/BA ; Távolas, Duo, Galeria de Arte Caco Zanchi, Salvador/BA. 2003 - I Salão de Arte de Rio das Ostras/RJ.  2002 -  VIII Salão; Nacional Victor Meirelles, Florianópolis/SC; Salão de Artes, Usina do Gasômetro, Porto Alegre/RS;  VI Bienal do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann, São Félix/BA; Artistas Convidados, Museu de Arte Regional, Feira de Santana/BA. 2001- Artista selecionado pelo Programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais, Reabertura do Museu Regional de Arte. 2000 - Artistas remiados nos Salões de Artes Plásticas, MAC, Feira de Santana/BA; Salão de Artes Plásticas da Bahia, Feira de Santana/BA; Salão de Artes Plásticas da Bahia, Alagoinhas/BA ; Salão de Artes Plásticas da Bahia, Porto Seguro/BA.
Foto 1. Cartaz mostra coletiva Prisma.
Foto 2 -A canadense Karen Ostron,
Maristela Ribeiro, Juraci Dórea,
Geórgia Lima e Edson Machado.
Foto 3- Visitan
tes, 2019.
 
1999 - Salão de Artes Plásticas da Bahia, Feira de Santana/BA; Salão de Artes Plásticas da Bahia, Conquista/BA; Salão de Artes Plásticas da Bahia, Valença/BA; Salão de Artes Plásticas da Bahia, Juazeiro/BA ;100 Artistas da Bahia, Museu de Arte Sacra da Bahia, Salvador/BA. 1998 -VIII Salão Latino Americano de Artes Plásticas, Santa Maria/RS; IV Bienal do Recôncavo, São Félix/BA; Encontro de Contemporâneos, MASC, Feira de Santana/BA; Inauguração da Galeria de Arte Caetano Veloso, Santo Amaro/BA; Três, ACBEU, Salvador/BA; Abertura da Galeria Carlo Barbosa, CUCA/UEFS, Feira de Santana/BA. 1997 -  Salão de Artes Plásticas da Bahia, Itaparica/BA; Salão de Artes Plásticas da Bahia, Valença/BA; Salão de Artes Plásticas da Bahia, Itabuna/BA; Salão de Artes Plásticas da Bahia, Porto Seguro/BA; Três Artistas Contemporâneos, Galeria ACBEU, Salvador/BA. 1996 - Pintura e Bahia de Artes Plásticas, MAM, Salvador/BA; Inauguração do MAC de Feira de Santana/BA; Arte Lusófona, Sintra, Portugal;  Salão de Artes Plásticas da Bahia, Feira de Santana/BA; Artistas Contemporâneos da Bahia, MAC, Feira de Santana/BA;  Núcleo de Artes Visuais do Museu de Arte Contemporânea, F. Santana/BA. 1995 - XIV Salão de Artes Plásticas da Bahia, Alagoinhas/BA;  Salão de Artes Plásticas da Bahia, Feira de Santana/BA; Salão de Artes Plásticas da Bahia, Valença/BA;  III Bienal do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann, São Félix/BA. 1994 - Panorama da Arte Feirense, Museu Regional de Feira de Santana/BA; A Estética da Fome, Biblioteca Julieta Carteado, UEFS, Feira de Santana/BA. 1993 - VI Salão de Artes Plásticas da Bahia - Feira de Santana/BA.

Obra Genesis,objeto . cerâmica,
30 x 5 x 2 cada, 1998. Premiado
 no Salão de Artes de Valença-BA.
PREMIAÇÕESE2015 - Edital Bolsa CAPES Estância Doutoral, UPV, Valencia, Espanha. 2012 - 1° lugar no Concurso Público, Professor EBTT, Instituto Federal da Bahia; Edital Programa Cultural BNB/BNDES, Projeto Casas do Sertão. 2010 - Prêmio Salão de Arte da Bahia, Membro do Coletivo GEMA, FUNCEB. 2007 - Prêmio Sacatar, Residência Artística Internacional, Itaparica/BA. 2006 - Edital de Apoio à Produção/Exposição de Arte, CC Caixa. Rio de Janeiro/RJ; 2º lugar Concurso Público Professor Assistente, Universidade Federal Recôncavo da Bahia/UFRB. 2005 - Edital de Apoio à Produção/Exposição de Arte, CCCaixa, Brasília/DF; Edital de Apoio à Produção/Exposição de Arte, CCCaixa. São Paulo/SP. 2004 -Prêmio Aquisição, VII Bienal do Recôncavo, São Félix/BA; Edital de Apoio à Produção/Expo de Artes Plásticas, CC Caixa, Salvador/BA. 2003 - 1º lugar Seleção Mestrado em Artes Visuais, Universidade Federal da Bahia. 2001 - Artista selecionado pelo Programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais /2003.  2000 - Menção Honrosa XXIX Salão Artes da Bahia, Porto Seguro/BA. 1999 - Menção Honrosa no Salão Artes da Bahia, Vitória da Conquista/BA; Prêmio no XXIII Salão Artes da Bahia, Feira de Santana/BA; Prêmio no XXVII Salão Artes da Bahia, Valença/BA. 1998 -  Menção Honrosa VIII Salão Latino Americano de Artes, Santa Maria/RS. 1997 - Menção Honrosa XVIII Salão Artes da Bahia, Feira de Santana-BA; Prêmio XXI Salão Artes da Bahia, Alagoinhas/BA. 1996 - Pintura e Escultura do Nordeste do Brasil, Espaço Oikos, Lisboa, Portugal. 1995 - Menção Honrosa XI Salão Artes da Bahia, Feira de Santana/BA; Menção Honrosa XIII Salão Artes da Bahia, Valença/BA; Menção Honrosa XIV Salão Artes da Bahia, Alagoinhas/BA.

 

sábado, 5 de julho de 2025

GIL MÁRIO ENALTECE A NATUREZA COM SUA ARTE

O artista Gil Mário pintando
mais uma obra em seu ateliê.

 O artista Gil Mário tem mais de cinquenta anos dedicados ao ensino e à arte pintando e esculpindo inspirado na natureza utilizando em suas pinturas tons pastéis. Hoje seus traços apresentam uma clara tendência ao abstracionismo sugerindo formas e interpretações diversas. Lembro que nos anos setenta pintava belas garças que ele via acompanhando o gado nas pradarias ou nos alagados das fazendas de seus amigos. Também a vegetação exuberante com suas cores e formas variadas sempre lhe serviram de inspiração e a figura humana esteve presente no início da sua produção artística. Com o passar do tempo evidente que o figurativo formal vem dando lugar a uma pintura mais solta e com movimentos visíveis e sofisticados, além do uso de cores mais acentuadas. “Realmente meu trabalho era formal e hoje meio formal, tem esta dicotomia entre o real e o onírico. Sempre tive este foco na natureza a acho que estou fazendo um abstracionismo ainda com poucos vestígios formais. Estou incluindo o vermelho e outras cores mais fortes contrastando com os tons pastéis que sempre usei”. Ele mesmo estica as suas telas e vem utilizando um tecido grosso que deixa visíveis os nós os quais incorpora às suas obras. Os chassis encomenda em Salvador, e em Feira de Santana ele mesmo executa esta parte artesanal de esticar as suas telas.

O artista tem uma preocupação com a natureza e expressa este sentimento em suas obras pintando a vegetação e os pássaros. Em 1986 numa nota nesta minha coluna que era publicada no jornal A Tarde ressaltei: “É verdade também que Gil Mário tem conhecimento do desenho e sabe jogar com as cores. Não é um artista de vanguarda, mas nem por isto seus trabalhos deixam de ser qualitativos. Gil Mário tem uma produção regular e as figuras que concebe vão ao encontro do gosto dos apreciadores da arte.” Estas palavras poderiam ter sido escritas hoje porque o artista continuou a sua trajetória sem interrupções ou grandes inovações. Só que o seu desenho, as cores e composições que utiliza e cria estão cada vez mais apurados mostrando uma evolução natural. Ele também conseguiu no decorrer dos anos ter a sua própria identidade pictórica. Não abraçou os ismos que surgiram pelo caminho e continuou pintando e esculpindo seus pássaros, suas flores e folhas da vegetação que lhe servem de inspiração.

                                                                 TRAJETÓRIA

Vemos três obras recentes inspiradas 
na flora e fauna (Fotos 1, 3 e 4).
 Foto 2 - A boneca é bem expressiva.
O seu nome é Gil Mário de Oliveira Menezes nasceu em vinte de março de 1947 em Salvador. É filho de Gilberto Torres de Menezes e Maria Cristina de Oliveira Menezes. Logo depois sua família voltou para Feira de Santana. Lá estudou o primário e o ginásio no Colégio Santanópolis, mantido por seu avô materno Áureo de Oliveira Filho, que foi um político influente em seu tempo, chegando a ser líder do governo num dos mandatos do governador Antônio Carlos Magalhães. O colégio Santanópolis foi fundado em 1933 e fechou as portas após o falecimento de seu fundador.  Áureo de Oliveira Filho era dentista de formação, foi eleito vereador de Feira de Santana e deputado estadual por três legislaturas. Participou ativamente do processo de criação da Universidade Estadual de Feira de Santana e do Observatório Astronômico Antares. O jovem Gil Mário ao terminar o ginásio coincidiu que a família se transferiu para Salvador, e seu pai passou a assumir a administração da loja Mandarim, que era uma sapataria, que funcionava nas imediações da Rua Chile. Foi estudar no Colégio Central da Bahia, localizado na Avenida Joana Angélica no bairro de Nazaré enquanto se preparava para fazer o vestibular.
Foto 1- Viva o Povo Brasileiro,de 2024.
Foto 2- Homenagem ao Caminhoneiro,
2007. Maior escultura que já fez.
Foto 3 - A Caseira e a Catarina,inspirado
na peça de Ariano Suassuna.

 

Foto 4- Alma Feminina. 
Concluiu o curso de Educação Física, na Escola Superior de Educação Física de Pernambuco, em 1972, onde ele e outros alunos receberam bolsas de estudo, porque na Bahia ainda não existia Faculdade de Educação Física e precisavam de professores para iniciar esta especialidade aqui. O Gil Mário gostava de natação e foi também esta sua habilidade que levou a fazer este vestibular. Voltou para Feira de Santana e prestou concurso público para Titular 3 da Universidade Estadual de Feira de Santana onde ensinou por  até sua aposentadoria.

Fez vestibular para Desenho e Plástica para a Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia concluindo em 1979, e após concluir passou a participar das atividades do CUCA, que é o Centro Cultural pertencente a Universidade de Feira de Santana. Elaborou, em 2000, como organizador, o catálogo do acervo do Museu Regional de Arte de Feira de Santana. Em 2001, foi curador da Coleção Inglesa do MRA-Feira, representando o CUCA/UEFS na exposição “Coleções Brasileiras”, realizada no Centro Cultural Banco do Brasil, de Brasília, Distrito Federal. Em 2001, assumiu a Curadoria do Museu Regional de Arte – CUCA/UEFS. Em 2002, foi membro da Comissão de Implantação do Curso de Técnicas de Museus para Agentes Cultural pela UEFS/CUCA e empossado na Academia de Letras e Artes de Feira de Santana, tendo como Patrono Áureo Filho. Foi membro do Conselho Fiscal do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana: primeira diretoria, 2003/2005 e do biênio 2006/2008.

                                                  MOVIMENTO CULTURAL

Obra de 2005  feita para o Caderno CRH,
da UFBA.

O artista Gil Mário lembrou que a partir de 1976 houve um esvaziamento cultural em Salvador e também atingiu a cidade onde morava. A maioria das galerias de arte fechou as portas e este fenômeno se mantém até hoje com poucas galerias em funcionamento. Lembrou que só no Salvador Praia Hotel chegou a ter três galerias. 
Antes os galeristas promoviam muitas exposições, imprimiam catálogos, faziam coquetéis para atrair o público e compradores. “ Promoviam os artistas, através dos jornais, estações de televisões e rádios, procuravam divulgar os artistas, além de ter uma relação de convivência". O Gil Mário tem razão e muitos artistas  se queixam desta mudança que ocorreu no meado dos anos 70 para cá e vem se acentuando.  Esta relação mudou hoje as galerias quase vivem  apenas da comercialização das obras de arte, sem um
Estudo de Figura Humana,  de 1987.
envolvimento maior com os principais atores que são os artistas. Este espaço foi ocupado por decoradores e arquitetos que incluem os artistas com os quais mantém alguma relação de amizade ou através seu gosto estético ou mesmo da preferência do seu cliente. Alguns galeristas mantém uma relação de exclusividade com artistas através de contratos ou não. Geralmente o artista vai produzindo, e venda ou não o galerista paga um determinado valor mensalmente garantindo a sua sobrevivência. Quando alguma obra de sua autoria é vendida fazem a contabilização como fosse uma espécie de conta corrente. Nesses casos sempre procuram expor as obras dos que representam através de participação em feiras aqui e fora do estado.

                    EXPOSIÇÕES 

As garças já mais estilizadas em formas
geometrizadas.
INDIVIDUAIS-Em 2024showroom da Loja Ideli, em Feira de Santana-BA; 2017-Exposição permanente  no Espaço Cultural Gil Mário  -Faenzza - Feira de Santana-BA; 2014 - Exposição Florestabilidade - Galeria de Arte Jenner Augusto- Aracaju-SE ; 2013- Exposição Espaço Cultural Restaurante Vivas - Feira de Santana-Ba; 2008 - Maria da Luz Galeria de Arte –  Coleção Heretuns - Feira de Santana – BA ; 2007- Exposição Memórias Artísticas de Feira de Santana no Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira - Feira de Santana – BA ; 2006 - Exposições na Galeria Neuter Michelon – Caixa Cultural, 15 de dezembro a 11 de março de 2007 -São Paulo– SP; Exposição Galeria de Arte Prova do Artista - Projeto Cultural Arte Sofitel Salvador - Salvador – BA; 2005- Galeria de Arte ACBEU – Artista Convidado – Salvador-BA;Exposição  Galeria de Arte Áureo Filho do CETEB , Coleção Afro-brasileira – Feira de Santana – BA; 2004 - Museu Casa do Sertão – O Sertão em Festa – Feira de Santana – BA; Exposição  Galeria de Arte Prova do Artista – Projeto Cultural Arte Sofitel, Salvador – BA ; Exposição  Galeria de Arte Áureo Filho do CETEB -Coleção “O Bumba-meu-boi – Feira de Santana – BA; 2003-  Exposição Conjunto Cultural da Caixa, Salvador – BA ; Exposição Cores da Minha Terra – Galeria Mirante, Feira de Santana; 2002 –Exposição Museu Galeria de Arte
Gil Mário pintou garças nos anos 70 a 89.
Caetano Veloso, Santo Amaro – BA; Exposição Museu de Arte Contemporânea – MAC, Retrospectiva, Feira de Santana – BA; Exposição Museu Hansen Bahia, Cachoeira – BA; Exposição ATRIVM Galeria de Arte, Salvador – BA;1999- Exposição Prova do Artista Galeria de Arte - Espaço Cultural Eliane, Salvador – BA;  1997- Museu Regional de Arte, 30 anos de Fundação, Feira de Santana – BA; Prova do Artista Galeria de Arte, Hotel Sofitel - Projeto Arte Bahia;  1993 - ADA Galeria de Arte, Salvador – BA ; 1992- Espaço Cultural Gil Mário, Feira de Santana – BA ; 1990- NR Galeria de Arte, Salvador- BA; 1989- Galeria "O Cavalete", Salvador – BA; 1986 - Noguerol Galeria de Arte, Salvador- BA ; 1979 - Galeria Cañizares, Salvador - BA.

COLETIVAS -Em 2022 - Arte- Gil Mário e Ligia Eugenia: Exposição Coletiva - Um Recorte da Produção Diversa e Contemporânea  da Bahia, no Palacete das Artes, Sala Contemporânea Mário Cravo J; 1975 - .Novarte Bahia, Feira de Santana

Gil Mário na exposição Florestabilidade .
– BA; 1976 - ACBEU Exposição Três  Artistas, – Salvador – BA; 1977 - Artetotal – Carro de Boi – Feira de Santana – BA; 1978 - Museu Regional de Feira de Santana – 1ª Semana de Arte de Feira de Santana – BA; Museu Regional de Feira de Santana – 1º Salão Universitário – Bahia; Galeria Cañizares – “Coletiva dos Concluintes do Primeiro Semestre de 1979 ; UFBA – Salvador; - BA; 1980 - Museu Regional de Feira de Santana – 1º Salão de Artes Plásticas -Menção Honrosa – Bahia; 1982 - Expô-concurso na UEFS – Prêmio Exposição - Feira de Santana – BA; Museu Regional de Feira de Santana – 1ª Exposição Prêmio – Feira de Santana – BA; 1984 - Museu Regional de Feira de Santana – 1º Salão de Artes Plásticas – Prêmio Olney São Paulo – Feira de Santana – BA; I Salão de Artes Plásticas – SEC – UNEB – CETEBA – Salvador – BA; Participou coordenou Mostra de Artes Plásticas promovida pelo Departamento de Letras e Artes na IV Jornada Universitária. – Feira de Santana – BA; 1985 • Coletiva de Arte Baiana – Caixa Econômica Federal, agência Pituba, Salvador-BA; Coletivas de Pinturas realizadas na Galeria Galeão Sacramento. Ilha de Itaparica – BA; Participou das Exposições – Leilão realizadas por Luíz Caetano S. de Queiroz em Salvador, Feira de Santana e Mar Grande – Bahia; Exposição de Inauguração na Galeria de Arte Raimundo de Oliveira – Feira de Santana – BA;  Síntese da Arte Feirense – Clube de Campo Cajueiro – Feira de Santana – BA; 1987 - Participou da Exposição – Leilão realizada pelas Galerias de Artes O Cavalete e Raimundo de Oliveira – Salão de Convenções Feira Palace – Feira de Santana – BA; Galeria de Arte Leilões de São Paulo – SP;1º Grande Leilão de Arte da Galeria O Cavalete - Salvador – BA; Maria Augusta Galeria de Arte – Moviarte – Rio de Janeiro – RJ; Participou do Grande Leilão Cultural, de Artistas Brasileiros do Escritório de Arte da Bahia e Eduardo Leite - Salão de Convenções Feira Palace Hotel – Feira de Santana – BA; 1989 - Coletiva na NR Galeria de Arte – Salvador – BA; Leilão de
O artista Gil Mário ao lado de 
escultura de sua autoria
em frente ao ateliê.
Pinturas de Artistas Brasileiros realizado por Eduardo Leite no Escritório da Arte da Bahia Salão de Convenções do Palace Hotel – Feira de Santana – BA; Exposição  Coletiva Intitulada Mulher – NR Galeria de Arte – Salvador – BA; 1991 - Coletiva no Museu Regional de Feira de Santana ,Dois Artistas – Bahia; Coletiva da Jornada Universitária no Espaço Cultural Gil Mário – Galeria de Arte – Feira de Santana – BA; Exposição Summer Open Bahia, Coordenação NR Galeria de Arte – Salvador – BA; Coletiva comemorativa do IV ano da NR Galeria de Arte – Salvador – BA; 1994 - Natureza a mostra por 07 artistas” – ADA Galeria de Arte – Salvador – BA; Exposição Plurais,  Coletiva de Artistas Plásticos Feirenses – Museu Regional de Feira de Santana – BA; 1995 - Exposição Coletiva da inauguração do Museu de Arte Contemporânea Feira de Santana – BA; Exposição Coletiva de Arte Contemporânea no MAC – Feira de Santana – BA; Coletiva no Museu de Arte Contemporânea de Feira de Santana – BA;Exposição Coletiva na ADA Galeria de Arte – 8 Expressões - Salvador -BA; 2º Festival de Artes Visuais do Pelourinho – Salvador -BA; Galeria Prova do Artista e Hotel Sofitel Projeto Arte Bahia – “Anjos da Bahia”; Exposição “12 Artistas Brasileiros” na CDL - Feira de Santana – BA; 1998 • Coletiva de Inauguração na Galeria de Arte Caetano Veloso em Santo Amaro da Purificação – BA ;Pintando na Praça Coletiva realizada no Espaço Cultural da CDL - Feira de Santana – BA; Galeria de Arte – Prova do Artista – Exposição e Lançamento do Livro “100 Artistas Plásticos da Bahia”- Local: Museu de Arte Sacra da Bahia; Galeria de Arte – Carlo Barbosa do CUCA. Exposição e Relançamento do Livro “100 Artista Plásticos da Bahia” – Feira de Santana;  Coletiva de Inauguração do Espaço Cultural Banco Brasil – Feira de Santana – BA; Coletiva de comemoração dos 10 anos da NR Galeria de Arte – Salvador – BA;  Indicado para concorrer ao Prêmio Leonardo da Vinci – Consejo Cultural Mundial – México; Exposição Coletiva do Lançamento do Catálogo do Acervo
A heroína baiana Maria Felipa.
 Museu Galeria Caetano Veloso – CCAAm/UEFS –Feira de Santana – BA; Exposição Coletiva “Feira – Salvador” em homenagem a César Romero no MAC – Feira de Santana – BA; Exposição Coletiva, paralela ao “I Salão do Móvel Casanova” – CCAAm – Feira de Santana – BA; 2001 - Exposição Coletiva da Kalilândia – Projeto Verão Cultural 2001; Exposição Coletiva 2001 no MAC - Feira – Ba; Quarta Coletiva do Espaço Cultural Casa Nova - Feira – BA; Exposição Coletiva d e inauguração do Espaço Cultural Cama Nova - Feira – BA; Encontro das Artes - Centro de Cultura Amélio Amorim – Feira – BA; Expoentes - Espaço Cultural Iguatemi – Feira – BA; Pintura em Gestos da Paz – Conjunto Cultural da Caixa Econômica – Salvador – BA; 2002 -Exposição de " Artistas Convidados " - Museu Regional de Arte - Feira de Santana-BA; Galeria de Arte Mercado das Artes – Coletiva no Espaço Cultural Baby Beef; NR Galeria de Arte – Coletiva Beneficente do CVB – Salvador – BA; Arte no Jeans – Integrada ao Iguatemi Collection – Feira de Santana-BA ;  Coletiva do I Seminário de Artes Plásticas realizado no CUCA/UEFS, Feira de Santana – BA; Coletiva de inauguração do ACBEU em Feira de Santana – BA; 2003 - Galeria de Arte Carlo Barbosa – “Arte Feirense em Pauta” – Feira de Santana –BA; Galeria de Arte Áureo Filho do CETEB – Feira de Santana – BA; Folclore na terra de Sant’Ana na G. A. Carlo Barbosa – Feira de Santana – BA; Encontro Contemporâneo no MAC – Feira de Santana – BA; VI Mostra da “Casa Nova “– Feira de Santana – Ba; Coletiva Prova do Artista Galeria de Arte – Inauguração da filial na Eliane – Pirai de Feira de Santana – B;  Coletiva em homenagem a crítica de artes Matilde Matos – EBEC Galeria de Arte – Salvador –BA; 2004 - Dannemann – VII Bienal do Recôncavo – Selecionado com pintura – São Felix –BA; Exposição coletiva de Fim de Ano do Projeto Sofitel- Costa do Sauipe, Salvador-BA; Fundação Cultural do Estado da Bahia, Centro Cultural João Gilberto – Salão de Juazeiro – BA; Projeto Natal sem fome, da Galeria EBEC – Salvador – BA; Frazão Arte Galeria expôs o acervo da Revista Artista da Bahia, onde constam trabalhos de Gil Mário – Salvador – BA; Mostra Itinerante “Arte na Escola Raimundo Oliveira” – Feira de Santana – BA; 2005 - Coletiva em homenagem aos 100 anos do Rotary Clube realizada no Museu Regional de Arte de Feira de Santana; Coletiva na Galeria de Arte Áureo Filho no CETEB – Feira de Santana-BA.


 

 



sábado, 28 de junho de 2025

A PINTURA LIVRE E POÉTICA DE JORGE GALEANO

O artista Jorge Galeano pintando em seu
ateliê na cidade de Feira de Santana.

 O pintor argentino Jorge Abel Galeano chegou em Salvador em 1980 e foi para   Feira de Santana no ano de 1986 com trinta e três anos de idade depois de andar por várias cidades do continente latino -americano. Se adaptou tanto que terminou por escolher a Princesa do Sertão como sua moradia e lá passou a desenvolver com  intensidade a sua arte e a participar dos eventos culturais da cidade. Passados todos estes anos podemos dizer que ele incorporou vários elementos culturais da região e que está plenamente integrado com os costumes, valores e a cultura local.  Foi aqui em Feira de Santana que pintei meu primeiro quadro”, diz com ênfase o Jorge Galeano. Sua primeira exposição foi realizada em 1982 na Galeria O Cavalete, em Salvador, juntamente com Ligia Aguiar. Todos os trabalhos eram desenhos e foram convidados pela sempre saudosa Jacy Brito, que lançou muitos artistas no mercado de arte baiano. Atualmente sua arte tem um lirismo que encanta pelas cores e elementos das composições , cria inspirado na natureza que lhes cerca. Tem uma pintura solta, com cores vibrantes e cada obra  apresenta algo para o deleite daqueles que gostam de arte onde as composições sugerem sonhos e contos oníricos. Pinta como estivesse aquarelando e poetizando com camadas superpostas onde os elementos vão povoando o seu universo pictórico.

Foto 1 - Encontros e Despedidas.
 Foto 2 - s/ título. Foto 3- Paisagem
na Chapada . Foto 4- São Jorge 
Seu nome completo é Jorge Abel Galeano, nasceu em 14 de setembro de 1953, na cidade de Concórdia, Argentina. Filho do veterinário e fazendeiro Jorge Alberto Galeano e d. Maria Esther Sanguinetti. Seu avô paterno foi prefeito da cidade e a família tinha  um status social e político  importante em Concórdia. Com um ano de idade seus pais romperam o casamento e ele com sua mãe foram morar com seus avós maternos na cidade de Villaguay, província de Entre Rios, “que era uma espécie de aldeia com menos de trinta mil habitantes. Anos depois ele retornou para a cidade onde viveu sua infância e notou que a mesma não se desenvolveu como esperava , e hoje tem cerca de quarenta mil habitantes. A maioria dos habitantes é de descendência italiana e belga, que vieram na época da guerra e se estabeleceram por lá. Da infância lembra que tinha muitas festas como as da Primavera, Natal e das datas históricas. Antes da Guerra do Paraguai contou Galeano “essas terras pertenciam ao Uruguai”. Estudou o primário na Escola Bartolomeu Mitre, nome do presidente da Argentina que governou de 1862 a 1868.

Esta obra foi exposta no Centro Cultural
da CEF, em Salvador, e lembra de longe 
as criadas por  Siron Franco.
Sua mãe casou novamente e eles foram morar na cidade de Tandil, que fica a trezentos e trinta Km de Mar Del Plata, que é um importante centro turístico da Argentina. Seu padrasto administrava um cinema e fora transferido para lá.  Quando Jorge Galeano já estava com dezoito anos decidiu ir morar em Buenos Aires, distante 350 Km de Tandil. Disse que foi um choque grande e que enfrentou muitas dificuldades de adaptação e de sobrevivência. Como fazia artesanato desde que morava no interior chegou a comprar uma moto com o dinheiro das vendas, e foi trabalhar de ajudante de pintor de paredes. Mas, o mestre de obras e um engenheiro notaram que ele não dava para aquele serviço. Foi então que o contrataram como uma espécie de motorista, e com sua moto transportava os chefes para outras obras e locais diversos na capital portenha. Disse que conhece muito bem a cidade de Buenos Aires devido principalmente a esta época em que levava os chefes e outras pessoas da empresa em sua moto.

                                         BELAS ARTES

Foto 1 - Morro . Foto 2- Bumba Meu Boi.
Foto 3-Acrobatas com Pássaros. Foto 4.
Cavaleiros Noturnos
Terminou o terceiro ano colegial e foi fazer vestibular para o Escola Nacional de Belas Artes, hoje chamada de Universidade Nacional de Belas Artes – UNA. Aí o choque foi bem maior, lembra Jorge Galeano, porque os colegas andavam com roupas rasgadas, bolsas imensas e falavam em nomes que ele nunca tinha visto ou ouvido falar. Conversavam sobre os filmes do francês Jean-Luc Godard, dos italianos Federico Fellini e   Píer Paolo Pasolini, dos livros do escritor argentino Jorge Luís Borges e do francês Jean Pual Sartre   e outros papos deste nível. Ele estava completamente fora deste ambiente, onde inclusive a maconha corria solta. Tinha uma falsa ideia na sua cabeça que seus colegas eram ainda mais pobres do que ele devido às roupas surradas e descontraídas que vestiam. Certo dia foi convidado para uma festa e quando chegou achou que estava no endereço errado porque a casa era uma mansão localizada num bairro nobre de Buenos Aires. Ao entrar se deparou com muito luxo e até mordomo tinha para servir aos convidados. Disse que foi a primeira vez que ouviu músicas da banda Pink Floyd e que até hoje lembra da festa e da animação da rapaziada.  “Inesquecível. Foram tempos felizes, nunca namorei tantas meninas ricas e bonitas como naquela época. Eu que morava num quartinho no centro de Buenos Aires, filho de uma família de classe média , mesmo assim curti muito,” relembra Jorge Galeano.

Obra Jogando a Rede, acrílica sobre tela.
Como já tinha expertise de trabalhar com a mãos no artesanato que fazia para sobreviver foi fácil se adaptar ao curso de Belas Artes. Disse que fazia inicialmente umas bolsas de couro, que eram muito usadas pelos jovens, naquela época. Depois passou a vender pulseiras de madeira. Mandava um marceneiro fazer as peças em madeira num torno, armava e pintava, e foi assim que conseguiu comprar a moto. Quando começou a cursar Belas Artes teve oportunidade de trabalhar com seus professores em serviços de escultura, mural, restauro, pintura de afrescos, dentre outros. Tudo ia evoluindo, mas em 1978 a ditadura militar na Argentina recrudesceu e ele resolveu viajar com um grupo de músicos. Eles tocavam músicas latinas e seu instrumento era o charango, que é de origem andina. Segundo a Wikipedia “é um pequeno instrumento de cordas, de origem sul-americana, mais propriamente andina, que pertence à família do alaúde e que tem aproximadamente 66 cm de comprimento. Tradicionalmente era feito com a carapaça das costas de um tatu, se bem que, hodiernamente, já costuma ser feito de madeira, dispondo, ainda, de um braço de madeira, traçado por 5 cordas duplas." Aqui chegando foram tocar no Bar Vagão, ficava na Rua Almirante Barroso, no bairro do Rio Vermelho. Este bar era muito frequentado nos anos 70/80 pela turma universitária e cult. Ali eram apresentados shows variados com músicas latinas, de forró e até de jazz. Hoje o Vagão está abandonado e totalmente enferrujado.

                                                   FEIRA DE SANTANA

Obra Canários da Terra, personagens do
seu jardim.

O artista Jorge Galeano tomou conhecimento que a recém criada TV Subaé, em Feira de Santana, estava precisando de alguém de arte para fazer cenários e outros serviços relacionados. Foi assim que foi para Feira de Santana e permaneceu durante três anos na Tv Subaé. Disse que foi um grande aprendizado. Resolveu viver de sua arte e passou a pintar. Não cansa de repetir que “Foi aqui onde pintei meu primeiro quadro”, relembra o consagrado pintor Jorge Galeano. Atualmente vive numa casa no bairro de Pampalona, em Feira de Santana. Lembrou que logo que comprou o terreno iniciou a construção de sua casa e passou a replantar espécies do sertão como aroeira, cajueiro, além de mangueira, jaqueira e fez um jardim. Depois o local virou um condomínio fechado. Ele costuma chamar o local de sua ilha particular porque vive cercado de pássaros, saguis, sariguês e outros animais que frequentam e vivem na sua propriedade. Sua arte tem uma mistura deste mundo do sertão e também de elementos da cultura de seu país.

                                               COMO MUDOU

Jorge Galeano e seu ambiente de
trabalho,inclusive tintas e pincéis
.
Durante nossa conversa lembramos que ele pintava com alguma influência dos artistas o goiano Siron Franco e do gaúcho Iberê Camargo. Era uma pintura figurativa, mas faltava sua identidade pictórica. Em sua casa sempre chamava um rapaz chamado Jair Santos para podar as árvores e ajeitar o seu jardim. Certo dia no ano de 2007 o Jair virou-se para ele e disse: “Seu Galeano, por que o senhor não pinta o seu jardim?”. Aquela frase foi suficiente para provocar uma mudança substancial na sua arte. Disse Galeano que ficou pensando no que disse o jardineiro Jair e daquele dia passou a pintar o jardim como estivesse aquarelando com várias camadas e introduzindo nas suas obras elementos dos seu jardim ou seja as plantas, os pássaros, as pessoas que aparecem por lá. Foi como um estalo e assim encontrou sua identidade pictórica graças a um simples jardineiro. "Teve um dia, conta rindo, que peguei a paleta toda suja de tintas e encostei na tela, e dali fui pintando uma casinha, um pássaro, a vegetação. Me senti bem mais livre “.

Detalhes do jardim com vegetação
que circunda sua casa.

Em 1996 o amigo eprofessor de Letras Rubens Pereira, da Universidade Local, o convidou para dar aulas de arte, e ele passou a utilizar um pequeno porão que vivia fechado transformando num ateliê, onde pinta até hoje trabalhos de formatos menores. Quando precisa pintar uma obra em formato maior faz em sua casa no bairro de Pampalona onde também tem um ateliê. Quanto às aulas passou muitos anos ministrando através de contratos que eram renovados de seis em seis meses. Atualmente não ministra mais aulas, e vive totalmente voltado para sua arte, e é muito conhecido e procurado por colecionadores. “Sou cidadão Feirense e muita gente me conhece. Outro dia caí da moto e chegaram várias pessoas, inclusive uns meninos de rua me chamando de “ seu Gaiano”, preocupados comigo, mas, felizmente, nada de grave aconteceu.

Obra Manguezais . Vemos a alegria da 
natureza expressa em cores vibrantes.
Chegou a trabalhar numa agência de propaganda local, e não gostou da experiência. Foi então que bolou uma forma criativa de comercializar suas obras. Ele juntava dez pessoas interessadas em comprar as obras, fazia uma relação e as pessoas assinavam se comprometendo  e em seguida organizava uma pequena mostra. Eles escolhiam seus quadros, e lhes pagavam através de dez cheques pré-datados. Fez isto inúmeras vezes, e assim conseguia sobreviver com dignidade. Disse que nunca nenhum desses cheques estava sem fundos. Também, trocou muitas obras por serviços. Quando sua filha estudava trocava as mensalidades da escola por obras, e o mesmo fez até uma vez com um restaurante onde passou a almoçar durante um ano. Chegou um momento que nem aguentava passar em frente ao restaurante porque enjoou da comida, por se repetir muito. Com um engenheiro trocou a construção da piscina de sua casa por obras pintadas por ele. Vive em sua casa cercado de árvores e animais silvestres que aparecem no seu jardim e de seu cachorro, que é uma mistura da raça doberman com vira-lata chamado Jack.
Em 11 de março de 2020 a Organização Mundial de Saúde declarou a Covid-19 pandemia . Foi uma tragédia em todo o mundo e a exemplo de outros profissionais alguns entraram em depressão, outros pararam de trabalhar. Porém, Jorge Galeano encontrou uma forma de continuar produzindo. Anunciou através as redes sociais que continuava trabalhando e passou a fazer retratos em quarela. As pessoas enviavam as fotos através as redes sociais ele fazia o retrato e quando estava pronto vinham buscar. Cobrava preços mais acessíveis para atrair a clientela. Já no final da pandemia recebeu uma encomenda para pintar cem pequenos caqueiros para uma agência de publicidade que queria presentear seus clientes. Portanto, não enfrentou dificuldades maiores naquele período de manipulação que o mundo viveu patrocinado pela globalização. 

O Jorge Galeano é o do meio,aí
ao lado de dois colegas da banda.
Outro fato interessante na trajetória de Jorge Galeano é quando algum turista estrangeiro o procurava queria comprar uma obra que tivesse  o mar presente. Aquela cobrança o incentivou a adquirir um pequeno terreno na localidade de Pedras Altas, que fica defronte a ilha dos Frades, e pertence ao município de Saubara. Lá construiu uma pequena casa e tem lhe despertado para pintar as coisas do mar, inclusive fica perto de um pedaço de Mata Atlântica. Disse que o local é maravilhoso, e que levou dois anos para construir a casa. “É pequena, mas aconchegante. Do terraço tenho uma visão inesquecível.” Hoje a casa ele doou para sua única filha a Aloma,  já lhe deu três netos. Porém, disse que sempre está por lá “porque é um local de inspiração com a presença do mar e da Mata Atlântica”.

                       PRINCIPAIS EXPOSIÇÕES

Folder da primeira exposição
de Jorge Galeano .
Em 1982 - Galeria 0 Cavalete - Salvador – Bahia; 1985 - Salão de Artistas Latinoamericanos - Caracas -Venezuela; 1990 - Museu Regional - Feira de Santana – Bahia; 1991 - Salão Nacional Mokiti Okada - São Paulo – SP; 1995 Individual na Galeria Prova do Artista - Salvador Bahia;  Galeria da Telemig - Belo Horizonte – MG; 1996 Individual Hotel Sofitel - Prova do Artista - Salvador -Bahia; 1997 - Galeria Valeria Vidigal - Vitória da Conquista – Bahia; Individual na Galeria do ACBEU - Salvador – Bahia 1998 - Bienal do Recôncavo - São Felix Bahia; 1999 - 100 Artistas da Bahia - Salvador – Bahia; Individual Galeria Casa 26 - Porto Alegre – RS; 2004 - Hotel Sofitel - Prova do Artista - Costa do Sauipe - Bahia; 2005 Individual Conjunto Cultural da Caixa - Salvador Bahia; 2008 – Individual Museo Provincial de Bellas Artes, Santa fé, Argentina; 2010- Individual Corredor Cultural Del Bicentenário Argentino, Paraná/Argentina; Individual Fundación de Estúdios Brasileros, Buenos Aires/Argentina; Individual no Museu de Arte Contemporânea de Feira de Santana, Bahia,Brasil; 2014 – Individual no Salon Del Pueblo, Cuenca,Eguador; 2016 – Individual no Museu Regional de Arte de Feira de Santana, Bahia, Brasil.