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terça-feira, 13 de novembro de 2012

A LIÇÃO DO MESTRE LEONARDO COM SUAS PINTURAS RECENTES - 25 DE AGOSTO DE 1986


JORNAL A TARDE SALVADOR, 25 DE AGOSTO DE 1986

A LIÇÃO DO MESTRE LEONARDO COM SUAS PINTURAS RECENTES
                             Personagem da Memória, uma das telas que compõem a sua exposição

Retorna efetivamente em grande estilo o artista Leonardo Alencar com uma exposição na Época Galeria de Arte para alegria de colecionadores e especialmente de seus inúmeros amigos.  Leonardo saiu de Salvador há alguns anos num momento de transtorno e em Aracaju soube dar a volta por cima, numa prova da sua obstinação e aqui desembarca com malas e bagagens para continuar a sua trajetória pictórica. Sem fazer qualquer exagero este cidadão é um dos mais importantes artistas ainda em atividade na Bahia. Sempre com um sorriso largo nos lábios e uma barriga saliente, que adquiriu degustando os grandes e louvados caranguejos da nossa tão querida Praia de Atalaia.
Esta exposição é um reencontro com seu próprio universo porque “a Bahia ainda é o melhor lugar para o artista trabalhar”, afirma em tom enfático. Mas lamenta que “as pessoas não estão atentas quanto a Bahia representa e por isto participam ou assistem esta demolição desenfreada da própria história desta terra”. Lembra ainda que realmente “existe uma áurea de simpatia lá fora por esta terra. Fora daqui senti-me ilhado”.
“Aqui é meu lugar para trabalhar e criar”. Estas palavras expressam exatamente o seu amor a esta terra que resulta em azuis, só encontrados neste mar da Bahia que beija ternamente a nossa costa num vaivém de carícias. De repente a gente mira um peixe e também os personagens que sobem e descem estas ladeiras e com os quais o mestre Leonardo tem intimidade.. Ora são os gatos diante de frutas tropicais pintadas em cores fortes. É este clima cheio de sol e com a alegria que só a Bahia tem que tocam de perto na sensibilidade de Leonardo Alencar.
Sua pintura está mais solta com pinceladas ricas em efeitos de luminosidade numa harmonia de cores nunca vista. Sinto em sua arte um renascer, um gosto afinado pela vida, uma alegria que transborda e que reflete em nós que temos a felicidade de gozar da sua amizade e de poder contemplar a sua obra.
Conheço Leonardo Alencar há muitos anos. Sei do seu talento e também das dificuldades que enfrentou, e, da sua tenacidade em vencê-las e procurar o seu verdadeiro caminho que é a arte.
Não vejo a sua obra distanciada deste nosso mundo baiano, preguiçosamente derramado de deboche.
As expressões dos animais e principalmente das figuras humanas demonstram exatamente estes momentos do realismo que nos cerca. Leonardo Alencar dentro de sua visão plástica-poética, com uma boa estrutura de desenho, vai criando este mundo rico em qualidade.
Meu amigo Ivo Vellame pergunta no catálogo:
“Afirmar que esta exposição marca a volta de Leonardo Alencar à Bahia, que significado tem? Respondo discordando. Tem, Ivo!                 Leonardo com uma tela recente.
Tem exatamente porque quando fala na volta de Leonardo estou me referindo a volta de um artista que daqui saiu enfrentando uma crise existencial muito profunda, que não mais lhe permita conviver com seus peixes e seus pássaros. Esta volta está impregnada de um renascer para a vida, para sua arte, para seus familiares e amigos.
Ganha a Bahia com sua volta, e eu, particularmente, fico muito feliz quando o vejo de pincel na mão disposto a desenvolver uma temática fundada neste realismo baiano rico e luminoso. Diria que Leonardo não só voltou rejuvenescido para brincar com seus arlequins e pierrôs neste Carnaval baiano que vara o tempo de janeiro a janeiro, sempre no ritmo cadenciado dos instrumentos afros. Agora é hora de expectativa, de acompanhamento e vamos todos dar as mãos a este cidadão que só tem dado a esta terra alegrias e lições de criatividade.

ESTÃO ABERTAS INSCRIÇÕES PARA O 9º SALÃO NACIONAL

Estão abertas as inscrições para o 9º Salão de Artes Plásticas que será realizado no Rio de Janeiro entre 18 de dezembro deste ano a 20 de fevereiro de 1987 com a participação das obras dos 30 artistas premiados nos cinco salões regionais, a saber: Norte, Sudeste, Centro-Oeste, Sul e Nordeste. O salão apresentará manifestações paralelas através de uma sala especial.
As inscrições estão abertas até o dia  12 de setembro e você poderá encontrar a ficha de inscrição na Escola de Belas Artes da UFBa. Ou na Fundação Cultural, podendo participar artistas brasileiros ou estrangeiros residentes no País. Os trabalhos devem ser de pintura, escultura, desenho, gravura, tapeçaria, fotografia e em mídias contemporâneos, que são instalação, performance, videotape, filmes de 16 milímetros e super-oito, audiovisual, objeto, neon, laser, holografia, entre outros. Casa candidato pode inscrever três trabalhos, os quais não devem ultrapassar um espaço superior a dois metros de altura por dois de largura. Os que vão executar instalação devem apresentar em escala, desenhos, indicativos, maquete ou foto, além de memorial descritivo, para evitar problemas. E será de sua responsabilidade toda a montagem, operação, desmontagem e transporte das obras, bem como a obtenção, o funcionamento, preservação, manutenção e operação de equipamentos. O tempo de duração não deverá ultrapassar 10 minutos.

OS PRÊMIOS

Para os efeitos de seleção e premiação a Comissão Nacional de Artes Plásticas, instituirá, no regimento de cada salão, uma subcomissão composta de dois membros indicados por ela e mais, em cada região dos eleitos pelos artistas inscritos, além do diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas/Funarte, que a presidirá com direito a voto de qualidade. Sendo que os 10 membros eleitos pelos artistas inscritos indicarão entre si dois representantes que escolherão e premiarão, juntamente com dois membros indicados pela Comissão Nacional de Artes plásticas e do diretor do INAP/Funarte, as obras que participarão da mostra final do salão.
Serão concedidos os seguintes prêmios: a) 30 aquisições de obras de 30 artistas selecionados para a mostra final, cada um receberá CR$50 mil; b) um prêmio de viagem ao exterior, constando de passagens de ida e de volta a países escolhidos pelo artista, de forma a cobrir o valor máximo de CR$ 40 mil; c) um prêmio de viagem ao País, constando de passagens de ida e de volta a estados brasileiros escolhidos pelo artista no valor máximo de CR$20 mil.

                    ALBANO NEVES RECORDA SUA ANGOLA

A decantada ligação cultural em ter Angola e Bahia tem uma comprovação definitiva: são as telas do artista plástico português (há 11 anos radicado em Salvador), Albano Neves e Souza, que desde o dia 20 expõe, desta vez no Museu de Arte da Bahia, no Corredor da Vitória- Avenida Sete de Setembro, 2.340.
É uma retrospectiva comemorativa aos 50 anos de carreira desse artista de 65 anos e uma vida inteiramente dedicada a flagrar o cotidiano do povo angolano. Sempre com admirável sensibilidade e um sentido estético que lhe tem garantido papel de destaque no cenário artístico.
Não será exagero dizer, inclusive, que Albano Neves e Souza é mais conhecido na Europa do que no Brasil, País que escolheu para morar por identificar uma proximidade muito grande com sua querida Angola. “Eu vim à procura da África que existe aqui e foi trazida pelos imigrantes involuntários, os escravos”, costuma ele dizer, uma forma clara de justificar sua paixão por Salvador e pelo povo baiano, a qual acaba refletida na maioria dos seus trabalhos.
Neles, a figura humana encontra um espaço de destaque. Foi a partir dela que neves e Souza construiu o seu mundo de lembranças e percepções, muitas delas marcadas fortemente pela sensualidade. Seus quadros são, na verdade, a expressão real de usos e costumes da África que conheceu e admira, no sentido documental de abordagem artística.

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