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sábado, 23 de agosto de 2025

SALOMÃO ZALCBERGAS REGISTRA O COTIDIANO DO VALE DO CAPÃO

O artista Salomão Zalcbergas
em seu ateliê no Vale do Capão
O
artista Salomão Zalcbergas registra com seus pincéis a vida cotidiana e as lembranças do passado dos moradores da Chapada Diamantina, especialmente do Vale do Capão, distrito de Palmeiras, interior da Bahia, com uma pintura autoral que lembra de longe as ilustrações dos antigos Almanaques. Ele cria composições do dia a dia dos moradores dos povoados e da zona rural  envolvendo-os num ambiente onírico misturando tintas lilases, azuis, amarelas e vermelhas . Com seu traço inconfundível  vai criando as histórias de personagens da região presenciadas pelo artista ou contadas por outros personagens mais velhos especialmente do Vale do Capão. Ele vive neste ambiente a mais de  quarenta anos e já vivenciou muitas dessas histórias.
 Quando digo que seus traços lembram os Almanaques é bom saber que essas publicações eram disputadas no século XIX quando no início do ano os comerciantes desses rincões do Brasil distribuíam aos seus principais clientes. Além do calendário do ano traziam diversas informações úteis, poesias, trechos literários, anedotas , curiosidades, e sempre com farta ilustração. Essas lembranças da terra onde vive e trabalha o artista paulista mostra as ações do cotidiano bucólico e da vida simples desta gente que vive o seu dia a dia repetindo os mesmos costumes de outrora como cozinhando no fogo de lenha, colocando o feijão que colheram na roça para secar no terreiro, socando o milho num pilão de madeira  para fazer o cuscuz, prosando na frente da casa, tomando uma pinga na bodega. Por ser uma região onde já se garimpou muitos diamantes, quando chove moradores locais pegam as bateias e sobem a serra para garimpar algum diamante, com o sonho de enriquecer. Estes e outros costumes da região da Chapada Diamantina são motivos de inspiração para este filho de lituano com uma paranaense descendente de russos  que vieram morar nas  bandas paulistanas, onde se conheceram e casaram.

Salomão mostrando o material  de suas
múltiplas atividades no campo das artes.
Com o tempo tornou-se personagem vivo da localidade do Vale do Capão, com seu, cabelo longo aloirado já embranquecendo , esguio e ostentando uma barbicha grisalha é reconhecido por todos que moram na região. Este é o artista Salomão Zalcbergas um homem simples, de fácil conversa e um riso sempre pronto para se expressar. O Capão, como chamam os locais, é um dos destinos   mais procurados pelos que gostam de curtir a vida simples do campo em contato com a natureza exuberante com seus morros e cachoeiras que se lançam pelos cânions deixando aos ouvidos sensíveis aquela sensação de paz. Dizem que lá tem uma energia especial que proporciona mais disposição e alegria de viver. Tem cerca de dez quilômetros de extensão e seu nome verdadeiro é distrito de Caeté-Açu e pertence ao município de Palmeiras, situado na região norte do Parque Nacional da Chapada Diamantina, região central do estado da Bahia. É importante dar esta descrição geográfica para entender como um paulista filho de um lituano com uma paranaense veio morar no Capão. Primeiro moraram em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador onde ele se formou na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, primeiro em bacharel em Artes Plásticas e posteriormente em licenciatura de Artes Plásticas e Desenho. Casou e teve um filho que hoje é guia turístico na região. Anos depois de um novo relacionamento, que já dura algumas décadas, tem outro filho que é fotógrafo e o ajuda nas redes sociais e em serviços de mídia eletrônica.

                                         SUA TRAJETÓRIA

Os Tropeiros em sua saga de
transportar mercadorias.
O Luiz Salomão Salgado Zalcbergas nasceu em vinte e cinco de janeiro de 1952 em São Paulo capital. Com três anos de idade seus pais se mudaram para o Rio de Janeiro e nos anos 1958/59 estudou o jardim de Infância na Escola Cícero Pena. Do Rio de Janeiro lembra apenas que o apartamento onde moravam era em cima de uma loja da Casas da Banha, na Rua Figueredo Magalhães, no bairro de Copacabana. De suas lembranças quando criança ressaltou que gostava de comer casquinhas de sorvete nas sorveterias e bares do bairro e de tomar banho de mar. Depois de cinco anos vieram morar em Salvador. O seu pai o imigrante lituano Samuilas Zalcbergas e sua mãe Eyeda Salgado Zeppin enfrentaram um período de dificuldade financeira e depois de cinco anos no Rio de Janeiro decidiram vir para a Bahia. Sua mãe também tem descendência de russos e nasceu em Paranaguá, no Paraná. O seu avô materno embora tenha nascido na Argentina,    era filho de russos da região da Mongólia, por isto sua mãe tinha uns traços meio asiáticos e com os cabelos muito lisos, lembrando de índios.

A lida no campo um dos temas do artista.
O Salomão Zalcbergas acompanhava com atenção, quando criança, o trabalho de gravação de seu pai, que aprendeu este ofício na Alemanha. Ele fazia o desenho ou usava o que o cliente trazia. Passava o desenho para uma massa vermelha, que não soube identificar, e depois moldava a peça no gesso e fundia em alta temperatura. Esta técnica de desenho que ele praticava é chamada de pantografia. Seu pai reproduzia os desenhos de santinhos, moedas, medalhas comemorativas, e outros objetos que desejava e com o uso do pantógrafo ampliava ou reduzia as imagens de forma mecânica, mantendo as proporções originais. Para isto ele trabalhava com o pantógrafo que é um instrumento com barras articuladas que ao serem movidas sobre o desenho original, reproduz o desenho na escala que o artista deseja.  Chegou inclusive a trabalhar na Casa da Moeda e fez uma medalha de ouro para uma data comemorativa do Banco Econômico da Bahia, segundo lembra Salomão Zalcbergas.

Amigos se encontram na bodega para 
tomar uma pinga e jogar conversa fora.
Quando decidiu trazer a família para a Bahia veio vender ações da indústria americana Willys que fabricava jeeps. Viajou muito pelo interior da Bahia vendendo aos comerciantes e fazendeiros baianos essas ações. Ficaram morando na Rua Belo Horizonte e depois na Rua Frederico Schmidt, no bairro da Barra. Com o dinheiro da venda de ações ele passou ao ramo da construção civil e a fazer pequenas incorporações em sociedade com empresários baianos. Estávamos nos anos 60 e o Salomão Zalcbergas foi estudar na Escola Israelita, que funcionava no Campo da Pólvora próximo ao Fórum Rui Barbosa. Aprendeu e ler e escrever em hebraico e foi circuncisado. Estudou até a quinta série, participou da cerimônia bar mitzvah, em hebraico, significa filho do mandamento que marca a transição de um menino para a idade adulta religiosa, aos 13 anos. A seguir passou por vários colégios como o Colégio Ipiranga, Colégio Estadual Severino Vieira, Nossa Senhora de Lourdes, Colégio da Bahia, sempre ativo e participando das bandas. Lembra que no Severino Vieira a diretora era Amália Magalhães se interessava muito para que os alunos aprendessem não apenas o conteúdo das matérias curriculares como também algo da cultura. Finalmente, a vida da
Homem conduz a carroça com mulher em
direção ao povoado.
família havia melhorado do ponto de vista econômico e foi estudar o terceiro ano do segundo grau no Colégio Antônio Vieira, no bairro do Garcia, foi reprovado. Fez o vestibular para Engenharia Civil, na Universidade Católica de Salvador, conseguiu se classificar, mas como foi reprovado no Antônio Vieira, não conseguindo concluir o científico, seu pai ficou aborrecido e resolveu internar em Jaguaquara, no Colégio Taylor Egydio, que era muito famoso na época por sua disciplina e ensino qualificado. Como tinha sido escoteiro por muitos anos na turma Almirante Tamandaré, no Sesc, do bairro de Nazaré, enquanto estava internado passou a ajudar na recreação dos colegas. Passou seis meses e voltou para Salvador sendo matriculado no Colégio Valença, que funcionava no Campo da Pólvora, e finalmente concluiu o segundo grau.  Fez vestibular para Arquitetura, na UFBA,  e perdeu na prova de Matemática. Foi para Brasília ficando hospedado na casa de uma irmã onde fez dois vestibulares para Engenharia Eletrônica, Licenciatura de Matemática no SEUB, que abandonou depois de dois semestres, em Brasília. Fez ainda vestibular para na UDF Economia, mas não chegou a cursar. Voltou para Salvador, e em 1975 fez um curso livre na Escola de Belas Artes com o professor Luiz Gonzaga. Lá conheceu o professor Ivo Vellame que lhe incentivou a fazer o vestibular de Belas Artes, foi quando em 1976 foi aprovado e passou a cursar o bacharelado em Artes
Esta é a Prensa de Três 
Pontos de moer cana
e para descaroçar .

Plásticas. Trabalhou com arte inicialmente participando da decoração de clubes carnavalescos em Salvador como a Casa da Itália, Associação Atlética da Bahia, dentre outros. Mesmo antes de concluir o bacharelado soube através o professor Ivo Vellame que havia uma vaga de professor assistente no Colégio Severiano Vieira. Se apresentou e foi contratado. Ao concluir o bacharelado viu a necessidade de fazer licenciatura em Desenho e Artes Plásticas para que assim pudesse ganhar mais ensinando como professor titular. Daí passou a ganhar mais e foi ensinar nos colégios Lomanto Júnior e Newton Sucupira, no bairro de Mussurunga, onde chegou a ser a ser diretor durante um ano durante o Governo Waldir Pires. Com a chegada da Central Integrada de Educação de Adolescentes – CIENA, os colégios que tinham oficinas tiveram este setor desativado e as máquinas ficaram sucateadas. Essa iniciativa visava a integração da educação em seus diferentes níveis, com foco na educação de adolescentes. Ensinou ainda nos Colégios estaduais Professora Noêmia Rego e Dinah Gonçalves , até se aposentar .

Neste interim Salomão Zalcbergas comprou um apartamento num conjunto habitacional no bairro do Pau da Lima, na localidade de Novo Horizonte onde morava com a esposa e o primeiro filho. Separou e a esposa que também

Transporte de doente na rede .
estudava na Escola de Belas Artes, da UFBA, decidiu voltar para Belo Horizonte levando o filho consigo. Anos depois decidiu vender o apartamento que já estava alugado e comprar outro. Foi através um anúncio de jornal que tomou conhecimento da venda de um apartamento na Terceira Etapa do Conjunto Petromar, de empregados da Petrobras, no bairro de Stella Maris. Foi lá e conversou com a proprietária que passou a poupança através a Caixa Econômica Federal. Comprou e recebeu o imóvel colocou grades nas janelas e portas e seguiu para o Capão com a atual esposa.

                               

MORAR NA CHAPADA DIAMANTINA

Interior de uma casa na zona rural
 com os tradicionais fogão de lenha
e o pote para armazenar
 água potável.


O artista Salomão Zalcbergas começou no início dos anos oitenta a visitar a Chapada Diamantina incentivado por amigos que naquela época cansados das grandes cidades procuravam refúgio na zona rural onde a vida é mais tranquila. Não tinha nem luz elétrica e tampouco água encanada. Anos depois como era professor do ensino estadual decidiu entrar com um projeto chamado de Prodalog -Projeto de Desenvolvimento do Artesanato Regional e conseguiu resgatar as máquinas do Colégio Lomanto Júnior e as transportou num caminhão da prefeitura de Palmeiras. Montou as máquinas e durante algum tempo ficou ensinando no Vale do Capão os alunos a manipular os equipamentos. Com as mudanças de prefeitos e a falta de incentivo terminou por desistir do projeto, fez o inventário e entregou as máquinas a Prefeitura de Palmeiras. O filho já tinha crescido e a atual esposa
Salomão  descansa em frente 
ao painel que fez no espaço
cultural no  cond. Petromar,
insistiu que voltassem para Salvador para o menino dar continuidade aos estudos. Disse que lembra que o matricular o filho no Colégio Marízia Maior, no bairro de Stella Maris ele passou um período difícil porque os colegas faziam bullying chamando-o de caipira. O filho Yuri terminou o ginásio e fez o Artigo 101 entrou na UNIME e começou a estudar Comunicação. Resolveu ir morar em São Paulo, onde permaneceu durante cinco anos tentando a vida de modelo. Desistiu e atualmente mora no Capão.   Juntamente com seu pai e o irmão mais velho, cada um em suas casas com suas famílias, respectivas. O mais velho é guia turístico Ramiro Terra e o outro fotógrafo, enquanto isto seu pai Salomão Zalcbergas vai registrando com sua arte o cotidiano e as lembranças dos moradores da Chapada Diamantina, e espalhando sua arte em postes, janelas portas , paredes e muros do Vale do Capão.

                                 EXPOSIÇÕES E INTERVENÇÕES

Em 2005 - Emoções Humanas, Casa do Comércio, Salvador-BA. 2006 - Exposições Itinerantes nos muros do Vale do Capão, Palmeiras - BA. 2007 – Simplicidades, na Casa do Comércio, Salvador-BA; Exposição Temas Religiosos, no lobby do Hospital Salvador - Salvador-BA; Estórias da Vida no SENAC/Pelourinho, Salvador – BA. 2008 - Lembranças da Terra, no SENAC Pelourinho; Exposição Coletiva Alizarim, no lnet Comércio Salvador-BA.  2009 - Pataxós Cores e Costumes - Porto Seguro - BA; Arte sempre Viva, no Teatro da Gamboa Nova, Salvador-BA; Cores na Chapada SENAC Pelourinho, Salvador-BA. 2010 -
Cartaz anuncia exposição.
Cores Brasilis no Teatro da Gamboa Nova, Salvador-BA Exposição ao Ar Livre no Festival de Jazz em Capão, Palmeira-BA; Saga do Café - pintura feita na parede do Associação e Correios de Capão, Palmeiras-BA; Intervenção Artística na Feira de São Joaquim -Salvador-BA; Exposição Capão, Memórias & Cores, no Foyer da Biblioteca Pública da Bahia - Salvador – BA; Exposição Itinerante Capão, Memórias e Cores, na Assembleia Legislativa da Bahia- Salvador-BA; Ocupações Artísticas no Centro de Abastecimento em Feira de Santana -BA.
2011 - Intervenção em Capão - Chapada Diamantina, Palmeiras-BA; Exposições ao Ar Livre no ll Festival de Jazz em Capão - Chapada Diamantina, Palmeiras-BA; Exposição Coletiva Espicha Verão - Projeto da Bahiatursa - Ribeira -Salvador-BA; 1ª Exposição Coletiva da Sinapev-BA - Sindicato dos Artistas Plásticos e Virtuais da Bahia, Salvador-BA; Exposição Coletiva Feira de Arte do SINAPEV na igreja de Santana - Rio Vermelho - Salvador-B
A; Exposição Coletiva 4x4 no Atelier de Leonel Mattos; Exposição Coletiva Projeto Saci, Imbassaí -Mata de São João –
BA; Intervenção e Pintura ao Vivo no Festival de Jazz do Capão ,Palmeiras-BA; Exposição Othon Palace Hotel, Salvador-BA; 2013 -Intervenção e continuidade da exposição céu aberto nas paredes das casas do Vale do Capão, Palmeiras-BA; Exposição Universo das Cores - Perini da Graça. 2014- Exposição -Amem- Teatro Gamboa Nova; Circuito de Arte e Moda do Salvador Shopping - Loja Ferando; Doces Memórias do Vale do Capã
Mural feito por Salomão Zalcbergas numa
casa no Vale do Capão.
o- Palacete das Artes-Bahia; Lendas do Capão - Vale do Capão- Palmeiras-BA. 2014/15 - Intervenção e continuidade da exposição nas paredes e casas no Vale do Capão, Palmeiras-BA; Caminho das Cores - Perini da Graça, Salvador-BA; Obras em acevo particular na Itália- França - EEU Alemanha. 2015 - Circuito de Arte e Moda Shopping Salvador, Salvador-BA; Att Fair - Shopping Paralela, Salvador-BA. 2016 -Arte Cidadã - seleção Edital Centro Cultura da Câmara dos Deputados Federais, Brasília -DF.

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