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O artista Salomão Zalcbergas em seu ateliê no Vale do Capão |
O artista Salomão Zalcbergas registra com
seus pincéis a vida cotidiana e as lembranças do passado dos moradores da
Chapada Diamantina, especialmente do Vale do Capão, distrito de Palmeiras,
interior da Bahia, com uma pintura autoral que lembra de longe as ilustrações dos
antigos Almanaques. Ele cria composições do dia a dia dos moradores dos povoados e da zona rural envolvendo-os num ambiente onírico misturando tintas lilases, azuis, amarelas e vermelhas . Com seu traço inconfundível vai criando as histórias de personagens da região presenciadas pelo artista ou contadas por outros personagens mais velhos especialmente do Vale do Capão. Ele vive neste ambiente a mais de quarenta anos e já vivenciou muitas dessas histórias. Quando digo que seus traços lembram os Almanaques é bom saber que essas publicações eram disputadas no século XIX quando no
início do ano os comerciantes desses rincões do Brasil distribuíam aos seus
principais clientes. Além do calendário do ano traziam diversas informações úteis,
poesias, trechos literários, anedotas , curiosidades, e sempre com farta
ilustração. Essas lembranças da terra onde vive e trabalha o artista paulista
mostra as ações do cotidiano bucólico e da vida simples desta gente que vive o
seu dia a dia repetindo os mesmos costumes de outrora como cozinhando no fogo
de lenha, colocando o feijão que colheram na roça para secar no terreiro,
socando o milho num pilão de madeira para fazer o cuscuz, prosando na frente da
casa, tomando uma pinga na bodega. Por ser uma região onde já se garimpou muitos diamantes, quando chove
moradores locais pegam as bateias e sobem a serra para garimpar algum diamante,
com o sonho de enriquecer. Estes e outros costumes da região da Chapada
Diamantina são motivos de inspiração para este filho de lituano com uma paranaense
descendente de russos que vieram morar nas bandas paulistanas, onde se conheceram e casaram.
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Salomão mostrando o material de suas múltiplas atividades no campo das artes. |
Com o tempo tornou-se personagem vivo da localidade do Vale do Capão, com seu, cabelo longo aloirado já embranquecendo , esguio e ostentando uma barbicha grisalha é reconhecido por todos
que moram na região. Este é o artista Salomão Zalcbergas um homem simples, de
fácil conversa e um riso sempre pronto para se expressar. O Capão, como chamam
os locais, é um dos destinos mais procurados pelos que gostam de curtir a
vida simples do campo em contato com a natureza exuberante com seus morros e
cachoeiras que se lançam pelos cânions deixando aos ouvidos sensíveis aquela
sensação de paz. Dizem que lá tem uma energia especial que proporciona mais disposição e alegria de viver. Tem cerca de dez quilômetros de extensão e seu nome verdadeiro
é distrito de Caeté-Açu e pertence ao município de Palmeiras, situado na região
norte do Parque Nacional da Chapada Diamantina, região central do estado da
Bahia. É importante dar esta descrição geográfica para entender como um
paulista filho de um lituano com uma paranaense veio morar no Capão. Primeiro
moraram em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador onde ele se formou na Escola de
Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, primeiro em bacharel em Artes
Plásticas e posteriormente em licenciatura de Artes Plásticas e Desenho. Casou
e teve um filho que hoje é guia turístico na região. Anos depois de um novo
relacionamento, que já dura algumas décadas, tem outro filho que é fotógrafo e
o ajuda nas redes sociais e em serviços de mídia eletrônica.
SUA
TRAJETÓRIA
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Os Tropeiros em sua saga de transportar mercadorias. |
O
Luiz Salomão Salgado Zalcbergas nasceu em vinte e cinco de janeiro de 1952 em
São Paulo capital. Com três anos de idade seus pais se mudaram para o Rio de
Janeiro e nos anos 1958/59 estudou o jardim de Infância na Escola Cícero Pena. Do
Rio de Janeiro lembra apenas que o apartamento onde moravam era em cima de uma
loja da Casas da Banha, na Rua Figueredo Magalhães, no bairro de Copacabana. De suas
lembranças quando criança ressaltou que gostava de comer casquinhas de sorvete nas sorveterias
e bares do bairro e de tomar banho de mar. Depois de cinco anos vieram morar em Salvador. O
seu pai o imigrante lituano Samuilas Zalcbergas e sua mãe Eyeda Salgado Zeppin
enfrentaram um período de dificuldade financeira e depois de cinco anos no Rio
de Janeiro decidiram vir para a Bahia. Sua mãe também tem descendência de
russos e nasceu em Paranaguá, no Paraná. O seu avô materno embora tenha nascido na Argentina, era filho de russos da região da
Mongólia, por isto sua mãe tinha uns traços meio asiáticos e com os cabelos
muito lisos, lembrando de índios.
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A lida no campo um dos temas do artista. |
O
Salomão Zalcbergas acompanhava com atenção, quando criança, o trabalho de gravação
de seu pai, que aprendeu este ofício na Alemanha. Ele fazia o desenho ou usava o
que o cliente trazia. Passava o desenho para uma massa vermelha, que não soube
identificar, e depois moldava a peça no gesso e fundia em alta temperatura.
Esta técnica de desenho que ele praticava é chamada de pantografia. Seu pai
reproduzia os desenhos de santinhos, moedas, medalhas comemorativas, e outros
objetos que desejava e com o uso do pantógrafo ampliava ou reduzia as imagens
de forma mecânica, mantendo as proporções originais. Para isto ele trabalhava com
o pantógrafo que é um instrumento com barras articuladas que ao serem movidas
sobre o desenho original, reproduz o desenho na escala que o artista deseja. Chegou inclusive a trabalhar na Casa da Moeda
e fez uma medalha de ouro para uma data comemorativa do Banco Econômico da
Bahia, segundo lembra Salomão Zalcbergas.
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Amigos se encontram na bodega para tomar uma pinga e jogar conversa fora. |
Quando
decidiu trazer a família para a Bahia veio vender ações da indústria americana
Willys que fabricava jeeps. Viajou muito pelo interior da Bahia vendendo aos comerciantes
e fazendeiros baianos essas ações. Ficaram morando na Rua Belo Horizonte e depois
na Rua Frederico Schmidt, no bairro da Barra. Com o dinheiro da venda de ações
ele passou ao ramo da construção civil e a fazer pequenas incorporações em
sociedade com empresários baianos. Estávamos nos anos 60 e o Salomão Zalcbergas
foi estudar na Escola Israelita, que funcionava no Campo da Pólvora próximo ao
Fórum Rui Barbosa. Aprendeu e ler e escrever em hebraico e foi circuncisado. Estudou
até a quinta série, participou da cerimônia bar mitzvah, em hebraico,
significa filho do mandamento que marca a transição de um menino para a idade
adulta religiosa, aos 13 anos. A seguir passou por vários colégios como o Colégio
Ipiranga, Colégio Estadual Severino Vieira, Nossa Senhora de Lourdes, Colégio da
Bahia, sempre ativo e participando das bandas. Lembra que no Severino Vieira a
diretora era Amália Magalhães se interessava muito para que os alunos
aprendessem não apenas o conteúdo das matérias curriculares como também algo da
cultura. Finalmente, a vida da
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Homem conduz a carroça com mulher em direção ao povoado. |
família havia melhorado do ponto de vista
econômico e foi estudar o terceiro ano do segundo grau no Colégio Antônio
Vieira, no bairro do Garcia, foi reprovado. Fez o vestibular para Engenharia
Civil, na Universidade Católica de Salvador, conseguiu se classificar, mas como
foi reprovado no Antônio Vieira, não conseguindo concluir o científico, seu pai
ficou aborrecido e resolveu internar em Jaguaquara, no Colégio Taylor Egydio,
que era muito famoso na época por sua disciplina e ensino qualificado. Como
tinha sido escoteiro por muitos anos na turma Almirante Tamandaré, no Sesc, do
bairro de Nazaré, enquanto estava internado passou a ajudar na recreação dos
colegas. Passou seis meses e voltou para Salvador sendo matriculado no Colégio
Valença, que funcionava no Campo da Pólvora, e finalmente concluiu o segundo grau.
Fez vestibular para Arquitetura, na
UFBA, e perdeu na prova de Matemática. Foi
para Brasília ficando hospedado na casa de uma irmã onde fez dois vestibulares
para Engenharia Eletrônica, Licenciatura de Matemática no SEUB, que abandonou
depois de dois semestres, em Brasília. Fez ainda vestibular para na UDF Economia,
mas não chegou a cursar. Voltou para Salvador, e em 1975 fez um curso livre na
Escola de Belas Artes com o professor Luiz Gonzaga. Lá conheceu o professor Ivo
Vellame que lhe incentivou a fazer o vestibular de Belas Artes, foi quando em
1976 foi aprovado e passou a cursar o bacharelado em Artes |
Esta é a Prensa de Três Pontos de moer cana e para descaroçar . |
Plásticas. Trabalhou
com arte inicialmente participando da decoração de clubes carnavalescos em
Salvador como a Casa da Itália, Associação Atlética da Bahia, dentre outros. Mesmo
antes de concluir o bacharelado soube através o professor Ivo Vellame que havia
uma vaga de professor assistente no Colégio Severiano Vieira. Se apresentou e
foi contratado. Ao concluir o bacharelado viu a necessidade de fazer
licenciatura em Desenho e Artes Plásticas para que assim pudesse ganhar mais
ensinando como professor titular. Daí passou a ganhar mais e foi ensinar nos
colégios Lomanto Júnior e Newton Sucupira, no bairro de Mussurunga, onde chegou
a ser a ser diretor durante um ano durante o Governo Waldir Pires. Com a
chegada da Central Integrada de Educação de Adolescentes – CIENA, os colégios
que tinham oficinas tiveram este setor desativado e as máquinas ficaram
sucateadas. Essa iniciativa visava a integração da educação em seus
diferentes níveis, com foco na educação de adolescentes. Ensinou ainda nos Colégios estaduais Professora
Noêmia Rego e Dinah Gonçalves , até se aposentar .
Neste
interim Salomão Zalcbergas comprou um apartamento num conjunto habitacional no
bairro do Pau da Lima, na localidade de Novo Horizonte onde morava com a esposa
e o primeiro filho. Separou e a esposa que também
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Transporte de doente na rede . |
estudava na Escola de Belas
Artes, da UFBA, decidiu voltar para Belo Horizonte levando o filho consigo. Anos
depois decidiu vender o apartamento que já estava alugado e comprar outro. Foi
através um anúncio de jornal que tomou conhecimento da venda de um apartamento na
Terceira Etapa do Conjunto Petromar, de empregados da Petrobras, no bairro de
Stella Maris. Foi lá e conversou com a proprietária que passou a poupança
através a Caixa Econômica Federal. Comprou e recebeu o imóvel colocou grades
nas janelas e portas e seguiu para o Capão com a atual esposa.
MORAR
NA CHAPADA DIAMANTINA
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Interior de uma casa na zona rural com os tradicionais fogão de lenha e o pote para armazenar água potável. |
O
artista Salomão Zalcbergas começou no início dos anos oitenta a visitar a Chapada
Diamantina incentivado por amigos que naquela época cansados das grandes
cidades procuravam refúgio na zona rural onde a vida é mais tranquila. Não
tinha nem luz elétrica e tampouco água encanada. Anos depois como era professor
do ensino estadual decidiu entrar com um projeto chamado de Prodalog -Projeto
de Desenvolvimento do Artesanato Regional e conseguiu resgatar as máquinas do
Colégio Lomanto Júnior e as transportou num caminhão da prefeitura de
Palmeiras. Montou as máquinas e durante algum tempo ficou ensinando no Vale do
Capão os alunos a manipular os equipamentos. Com as mudanças de prefeitos e a
falta de incentivo terminou por desistir do projeto, fez o inventário e
entregou as máquinas a Prefeitura de Palmeiras. O filho já tinha crescido e a
atual esposa
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Salomão descansa em frente ao painel que fez no espaço cultural no cond. Petromar, |
insistiu que voltassem para Salvador para o menino dar
continuidade aos estudos. Disse que lembra que o matricular o filho no Colégio Marízia
Maior, no bairro de Stella Maris ele passou um período difícil porque os
colegas faziam bullying chamando-o de caipira. O filho Yuri terminou o ginásio
e fez o Artigo 101 entrou na UNIME e começou a estudar Comunicação. Resolveu ir
morar em São Paulo, onde permaneceu durante cinco anos tentando a vida de
modelo. Desistiu e atualmente mora no Capão. Juntamente com
seu pai e o irmão mais velho, cada um em suas casas com suas famílias,
respectivas. O mais velho é guia turístico Ramiro Terra e o outro fotógrafo,
enquanto isto seu pai Salomão Zalcbergas vai registrando com sua arte o
cotidiano e as lembranças dos moradores da Chapada Diamantina, e espalhando sua
arte em postes, janelas portas , paredes e muros do Vale do Capão. EXPOSIÇÕES E INTERVENÇÕES
Em 2005
- Emoções Humanas, Casa do Comércio, Salvador-BA. 2006 - Exposições
Itinerantes nos muros do Vale do Capão, Palmeiras - BA. 2007 –
Simplicidades, na Casa do Comércio, Salvador-BA; Exposição Temas Religiosos, no
lobby do Hospital Salvador - Salvador-BA; Estórias da Vida no SENAC/Pelourinho,
Salvador – BA. 2008 - Lembranças da Terra, no SENAC Pelourinho; Exposição
Coletiva Alizarim, no lnet Comércio Salvador-BA. 2009 - Pataxós Cores e Costumes
- Porto Seguro - BA; Arte sempre Viva, no Teatro da Gamboa Nova, Salvador-BA;
Cores na Chapada SENAC Pelourinho, Salvador-BA. 2010 - |
Cartaz anuncia exposição. |
Cores Brasilis no Teatro da Gamboa Nova, Salvador-BA Exposição ao Ar Livre no
Festival de Jazz em Capão, Palmeira-BA; Saga do Café - pintura feita na parede
do Associação e Correios de Capão, Palmeiras-BA; Intervenção Artística na Feira
de São Joaquim -Salvador-BA; Exposição Capão, Memórias & Cores, no Foyer da
Biblioteca Pública da Bahia - Salvador – BA; Exposição Itinerante Capão,
Memórias e Cores, na Assembleia Legislativa da Bahia- Salvador-BA; Ocupações Artísticas
no Centro de Abastecimento em Feira de Santana -BA. 2011 -
Intervenção em Capão - Chapada Diamantina, Palmeiras-BA; Exposições ao Ar Livre
no ll Festival de Jazz em Capão - Chapada Diamantina, Palmeiras-BA; Exposição
Coletiva Espicha Verão - Projeto da Bahiatursa - Ribeira -Salvador-BA; 1ª
Exposição Coletiva da Sinapev-BA - Sindicato dos Artistas Plásticos e Virtuais
da Bahia, Salvador-BA; Exposição Coletiva Feira de Arte do SINAPEV na igreja de
Santana - Rio Vermelho - Salvador-BA; Exposição Coletiva 4x4 no Atelier de Leonel Mattos; Exposição
Coletiva Projeto Saci, Imbassaí -Mata de São João – BA; Intervenção e Pintura
ao Vivo no Festival de Jazz do Capão ,Palmeiras-BA; Exposição Othon Palace Hotel, Salvador-BA; 2013
-Intervenção e
continuidade da exposição céu aberto nas paredes das casas do Vale do Capão,
Palmeiras-BA; Exposição Universo das Cores - Perini da Graça. 2014-
Exposição
-Amem- Teatro Gamboa Nova; Circuito de Arte e Moda do Salvador Shopping - Loja
Ferando; Doces Memórias do Vale do Capã |
Mural feito por Salomão Zalcbergas numa casa no Vale do Capão. |
o- Palacete das Artes-Bahia; Lendas do Capão - Vale do
Capão- Palmeiras-BA. 2014/15 - Intervenção e continuidade da
exposição nas paredes e casas no Vale do Capão, Palmeiras-BA; Caminho das Cores
- Perini da Graça, Salvador-BA; Obras em acevo particular na Itália- França - EEU Alemanha. 2015 - Circuito
de Arte e Moda Shopping Salvador, Salvador-BA; Att Fair - Shopping Paralela,
Salvador-BA. 2016 -Arte Cidadã - seleção Edital Centro Cultura da
Câmara dos Deputados Federais, Brasília -DF.
Vi, li e gostei. Artista muito bom e o texto à altura. Parabéns Os dois.
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