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sábado, 13 de dezembro de 2025

A ARTE DE BALDOMIRO É UMA EXTENSÃO DA NATUREZA

O artista Baldomiro pintando no seu ateliê,
em Itapuã , uma obra da série Família, 2025
.

A arte de Baldomiro tem uma integração perfeita com a natureza interagindo e recolhendo materiais para suas pinturas e esculturas.  São palhas de coqueiros e de outras palmeiras, fibras, galhos, folhas secas de bananeiras e até de amendoeiras e outros elementos para criar suas obras tridimensionais. Também utiliza objetos industrializados como  tecidos e plásticos recicláveis ou não para realizar suas intervenções introduzindo-os em ambientes naturais, e em seguida faz os registros fotográficos de sua presença criadora. Ele é   graduado em Licenciatura de Desenho e Plástica (1991), e é Mestre em Artes Visuais (2011/2013) pela Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia. Lembro que estava na redação do jornal A Tarde, na Avenida Tancredo Neves, em Salvador, no ano de 2003, portanto já se foram vinte e dois anos, quando apareceu o Baldomiro com as fotos de umas intervenções que fizera na praia de Placaford, em Salvador. Eram grandes círculos que fez na areia da praia lembrando as famosas inscrições que existem no Peru, visíveis até através dos satélites as chamadas de Linhas de Nazca,  um conjunto de antigos geoglifos localizados no deserto de Nazca, e que até hoje intrigam os cientistas. Também no Brasil, mas precisamente no estado do Acre existem mais de oitocentos sítios de geoglifos, que são grandes estruturas de terra escavadas, com formas geométricas - como quadrados, círculos e retângulos - feitas por povos indígenas há mais de mil anos. 

Baldomiro criando mais uma obra na praia
de Placaford com escarificador ,em 2003.

Foto de Márcio Gabriel.
Escrevi na ocasião este texto que reproduzo aqui: “O mar está manso, recua, levado pela baixa maré, deixando para trás um lençol branco de areia. Um espaço natural e ideal para Baldomiro, artista baiano, natural do município de Santo Estêvão, vizinho a Feira de Santana, criar e estampar na areia suas formas geométricas gigantes. São obras efêmeras que desaparecem seis horas depois com a chegada da maré alta. Resta antes documentar a intervenção através de fotografia ou de vídeo, mas, o que interessa mesmo a Baldomiro é interagir com os banhistas ou com as pessoas que fazem caminhadas na areia.
Ele começa a trabalhar cedo até por volta das dez horas porque após este horário, começam a chegar os banhistas e praticantes de baba, que interferem na execução da obra, principalmente nos finais de semana. Afinal, estamos em pleno verão baiano e as praias são muito procuradas nesta época do ano. Baldomiro busca, "por razões estéticas, mostrar o belo em meio a tantas guerras, fome, destruição da natureza. É um trabalho para alegrar a alma despertando valores sensoriais em sua interação", define.

Desenhos de Baldomiro na praia de Itapuã  
 fotografados por Márcio Gabriel, 2003.
O artista Baldomiro diz que sua arte foi inspirada na limpeza das praias pelos garis. Mas, é claro que podemos buscar alguma referência nos desenhos feitos pelos budistas na areia, nas artes dos incas, nos gigantescos desenhos vistos de grandes altitudes no Peru e na aragem da terra que antecede a semeadura, principalmente nas grandes fazendas de grãos. Já naquela época: “Ele também questiona a dificuldade de acesso às instituições estabelecidas, como museus e galerias de arte, que exigem muito esforço do artista para expor do ponto de vista monetário. 0 custo de uma exposição com confecção de convites, correios, coquetel e molduras, inviabiliza a iniciativa de muitos artistas. Para realizar os desenhos, Baldomiro utiliza uma espécie de rodo preso num cabo de vassoura, que vai arrastando e deixando os sulcos na areia. Não há quem não pare para olhar ou emita, quando provocado, uma opinião a respeito.”

                                                  O REENCONTRO

Baldomiro falando de sua trajetória e de seus
projetos debaixo da Ora-Pro-Nóbis.
Fui reencontrar o Baldomiro em seu ateliê numa daquelas ruas transversais à Avenida Dorival Caymmi, no bairro de Itapuã, em Salvador, debaixo de um pergolado formado por um belo pé de Ora-Pro-Nóbis, aquela mesma planta que hoje serve de remédio para “quase todas as doenças”, segundo os vendedores televisivos. Saí de lá com uma mudinha da planta milagrosa e já replantei no meu jardim. Neste reencontro pude constatar que Baldomiro continua firme no seu caminhar com sua arte ligada à natureza. Ele nasceu numa fazenda na localidade de Campo Novo, distrito de Santo Estêvão, interior da Bahia, no dia vinte e sete de junho de 1964. Seu pai José Pereira da Costa é mestre de obras e sua mãe d. Marly da Cruz Costa dona de casa. Seu pai migrou em busca de novas oportunidades para Nova Osasco, no interior de São Paulo com toda a família e ficaram por lá durante quinze anos. Disse Baldomiro que durante a sua infância nesta nova moradia lembra do barulho de grandes máquinas com pneus imensos, "maiores que um homem em pé", que faziam a terraplanagem de uma extensa área. Perto de sua casa havia muitas jabuticabeiras e que ele e seus amigos iam saborear os frutos. Outra coisa que lhe marcou foi a chegada do Neil Armstrong à Lua que ocorreu em 20 de julho de 1969, durante a missão Apollo 11, da NASA e a Copa de 70 . Mas, a movimentação de terra para a criação de um novo condomínio de luxo próximo à sua residência talvez seja a lembrança mais forte. “O cheiro da terra me fez lembrar o interior de Santo Estêvão onde nasci. Tive uma infância bem na rua, brincando nesta grande área que se chamava Casa do Prefeito, e no entorno tinham muitas jabuticabeiras que eram antigas e carregavam bastante, além de um lago tipo pesque pague. Havia muitas outras árvores frutíferas no entorno. Eu e meus colegas nos divertíamos muito na rua e neste ambiente ".

Sua escultura Dom Quixote
 de palhas de bananeiras.
 
Estudou na Escola Quintino Bocaiuva, em Nova Osasco, em São Paulo,  até a sétima série quando em 1977 seu pai comprou uma Kombi juntou a família ,recolheu as bagagens e retornaram para Santo Estêvão. Ao chegar terminou o primário e foi estudar o ginásio e o colegial na Escola Polivalente de Santo Estevão. Já em 1982 prestou vestibular na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia para Licenciatura em Desenho e Plástica. Disse que desde criança gostava de copiar os personagens de Walt Disney nos cadernos escolares. Como seu pai é mestre de obras e tem o dom de desenhar projetos de residências para seus clientes e amigos , sempre nesses projetos tinha a preocupação de criar um espaço nobre para a vegetação, ou seja, para um jardim, um quintal. Por ter  nascido  numa fazenda o Baldomiro  está de alguma forma ligado à natureza e a sua arte está intrinsecamente impregnada com alguns elementos naturais. Por  sua família não ter muitos recursos ele conseguiu auxílio de alimentação na universidade e fazia as principais refeições no Restaurante Universitário, no Corredor da Vitória. Foi aí que ele e alguns colegas da Escola de Belas Artes descobriram que existia um amplo espaço vazio que antes era utilizado como despensa para guardar os gêneros alimentícios para feitura dos alimentos. Foi aí que resolveram invadir este espaço por volta do final de 1988 ao princípio de 1989 e criaram um Atelier R1, coletivo composto por Baldomiro, Zau Seabra, Joãozito e Mauritano, formando o primeiro grupo, e o ateliê é aberto aos estudantes e funciona até hoje.  Depois eles se separaram e foi formado  o segundo grupo composto por Baldomiro, Crispim, Mundin e Larry Guerra, já falecido.  Eles produziram um vídeo chamado Comida que aborda a comida no aspecto da existência, da alimentação, e da questão religiosa. O vídeo foi apresentado na I Bienal do Recôncavo de São Félix em 1991, onde recebeu Menção Especial.
Pintura Jerusalém, tendo como suporte um 
 colchão  inflável de plástico.
Lembrou que certo dia ao observar a vegetação aos fundos do prédio onde improvisaram o Atelier R1 viu várias bananeiras e algumas árvores e resolveu recolher as palhas secas das bananeiras, fibras do tronco e   alguns galhos de árvores e utilizou para fazer uma escultura de Dom Quixote e seu Sancho Pança, o seu fiel escudeiro, com cinco metros   que chegou a mostrar durante a Rio ECO 92, no edifício Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro. Quando voltou um estudante ficou assustado com a escultura  tomou a iniciativa de destruí-la. Não foi a primeira vez porque Baldomiro tem uma obra vandalizada . Ele fez uma escultura de concreto na frente da pousada que seu pai tem na cidade de Santo Estêvão e algumas pessoas no início apedrejaram a obra que retrata uma mulher de joelhos com os braços estendidos de 2 metros de altura. Hoje estão acostumados e até tiram fotos ao lado e abraçados com a escultura. 

                                  O QUE LHE INSTIGA

Baldomiro nas dunas da Lagoa do Abaeté
com material da palmeira africana .
Foto de
Yara Bernardes.
Um dia estava andando do  Restaurante Universitário, na Vitória, para a Escola de Belas Artes, que fica no bairro do Canela, e ao passar pelo Campo Grande viu que os funcionários da Sumac, da Prefeitura Municipal, estavam podando uma imensa palmeira africana. Se aproximou e pediu que lhe dessem aquele material que iam jogar no lixo e eles concordaram em deixar na Escola de Belas Artes. De posse dessas folhas, hastes e frutos. Ele invertia as imensas folhas das palmeiras levou em 1989 para as dunas de Abaeté, e foi feito um ensaio fotográfico pela dupla de fotógrafos Yara e Cícero Bernardes, que na época moravam em Itapuã. As hastes enterradas na areia lembravam rabos de sereias e uma folha de palmeira de uns três metros de altura parecia um estandarte. Esta intervenção foi pela manhã e quando retornaram à tarde já não encontraram a instalação porque alguém tinha recolhido todo o material e estava amontoado próximo a uma casa. Depois reencontrou a dupla por acaso no Rio de Janeiro e o Cícero estava trabalhando como fotógrafo no navio do Greenpeace. Eles ajudaram a levar o material de Baldomiro numa camionete até o local onde ia ser exposta a sua escultura na Eco 92.

Escultura feita com 
restos de materiais da
construção civil.
Em 2002 o artista Baldomiro construiu com madeira, pregos e arame um escarificador rudimentar que mais parece um rodo gigante, só que dentado. Existe escarificadores de solo industriais que são utilizados na agricultura moderna para quebrar as camadas compactadas da superfície do solo, um processo conhecido como escarificação. Baldomiro começou a utilizar seu escarificador em 2002 na praia da Sereia, em Piatã. No ano seguinte voltou a fazer esses desenhos, desta vez na praia de Placaford, ocasião em que escrevi aquele texto transcrito acima.

Disse Baldomiro que na época não possuía máquina fotográfica para registrar seus desenhos, mas que ia assim mesmo. Se um banhista ou mesmo alguém que estivesse fazendo sua corrida na praia observasse minha obra já me satisfazia. Mas, de repente um dia surgiu o fotógrafo Márcio Gabriel e pediu para fotografar e depois me cedeu algumas fotos. Portanto, as pessoas que não tiveram a oportunidade de ver in loco agora mesmo passados estes anos podem ver, apreciar e comentar.  Baldomiro sabe que é um gesto efêmero, mas para ele é tão importante quanto à forma. "Tudo é completamente fugaz. Esta obra de arte dura o ciclo de uma maré. Quando a mesma sobre o trabalho deixa de existir fisicamente. O registro fotográfico e em vídeo são imprescindíveis. Porém existe uma interatividade obrigatória entre a obra, o artista e o público espectador", escreveu o artista. 

Lembrou também que estes seus gestos na praia remetem aos escritos feitos por José de Anchieta nos poemas que escrevia com um bastão para Jesus Cristo, no seu encontro com Madalena. Também as volutas espirais, os universos em expansão, zig-zags, círculos perfeitos, notas musicais, desenhos em escala monumental. Portanto, o Baldomiro viaja como um poeta da forma com seus traços retos e curvos.

                                            PIONEIROS

O Arco do Triunfo, em Paris, sendo enrolado de
acordo com o projeto do artista Christo.
 Desde os anos 60 que surgiram alguns artistas conceituais trabalhando com elementos da natureza  e um dos pioneiros foi Robert Smithson (1938-1973) foi um artista crucial  da arte contemporânea, pioneiro da   Land Art  ou seja a Arte da Terra, que redefiniu a escultura ao criar obras monumentais diretamente na paisagem, como a icônica   Spiral Jetty  que fez em 1970, no lago salgado de Utah com quarenta e nove metros de diâmetro, explorando temas como tempo, entropia e a relação entre a natureza e a intervenção humana. Ele desafiou os limites tradicionais da arte, usando projetos, desenhos e fotografia para registrar suas intervenções, que muitas vezes se transformavam com o tempo e o ambiente, integrando a arte à geologia e à história do local. Já Robert Morris, construiu seu Observatory, com um monte de terra de setenta metros de diâmetro e Michael Hezer, em 1970 conclui a sua obra Doublé Negative em Nevada, também nos Estados Unidos, removendo toneladas de terra usando grandes tratores. Talvez o nome mais conhecido desta arte de trabalhar diretamente com a natureza e também com área urbana é o artista búlgaro Christo Vladimirov Javachef (1935-2020) e sua esposa Jeanne-Claude de Guillebon, que morreu em 2009.  São conhecidos como os artistas de embrulho ou envolvedores.  O último projeto deles se concretizou mesmo depois de Christo partir que foi  o Embrulho do Arco do Triunfo, com vinte e cinco mil metros quadrados de tecido branco.  O artista começou a utilizar esta técnica nas
 Baldomiro fez esta intervenção
numa floresta de eucaliptos, em
em Massarandupió, Bahia, 2011.
décadas de 1950 e 1960. Esta era uma época em que o expressionismo abstrato estava em voga. 
 
Muitas vezes para conseguir autorização para embrulhar um monumento histórico levava anos, a exemplo do Reichstag que é a  atual sede do Parlamento alemão, que demorou vinte anos até convencer os deputados
 Aqui no Brasil o polonês Franz Krajcberg, em Nova Viçosa, no Interior da Bahia trabalhou suas esculturas gigantes de troncos e raízes de árvores do mangue e da Mata Atlântica , e o baiano Juracy Dórea trabalha com couro e madeiras do bioma da Caatinga, em seguida instala suas esculturas na zona rural, ficando em contato direto com os moradores locais. Já o Ramiro Magalhães, que atualmente vive em Paris, na França, quando tinha seu ateliê no bairro de Itapuã, fez a escultura de um jacaré de concreto numa pequena lagoa no entorno do Parque do Abaeté. Este jacaré mitológico em concreto seria o primeiro passo para criar um museu no futuro. O projeto foi esquecido com sua ida para o exterior, e não sei se ainda existe esta escultura ou até se mesmo a pequena lagoa não foi aterrada nesta sanha incontrolável de ocupações que vive a nossa Cidade do Salvador.

                                              EXPOSIÇÕES

Obra do artista recente  em acrílica sobre tela.
INDIVIDUAIS: 2012- Natureza Ampliada, Galeria Cañizares, EBA UFBA. 2009 - Exposição Casulos, ICBA, Salvador-BA. 2008 - Casulos, Centro Cultural Amélia Amorim, Feira de Santana-BA. 2006 - Soterópolis TVE, Cenário do programa, Salvador-BA. 2001 - Casa 8 Café Atelier. Salvador-BA. 1990 - Museu de Arte Moderna da Bahia. Salvador-BA e   Galeria do Aluno, EBA-UFBA. Salvador-BA. 1989 - Fergo Multiformas, Salvador-BA. 1987 - Museu Regional de Feira de Santana-BA. 1985 -. Galeria Malhoa, Gabinete Português de Leitura, Salvador-BA.

COLETIVASEm 2014 - NOISE(E) Invade Portugal, Fundação Bienal de Cerveira, Vila Nova de Cerveira, Portugal. 2013 - Inauguração da Casa de Castro Alves, Pelourinho, Salvador-BA. 2011 -   Exposição Quereres, Galeria do Conselho, Salvador-BA. 2009 - Sacharum BA, Museu de Arte Moderna, Salvador-BA. 2008 - Projeto Praia 24h, Praça dos Artistas, Bahiatursa, Salvador-BA e Exposição EBA 130 - Instituto Goethe, Salvador-BA. 2007 - Exposição Com Planta - Casarão 65, Salvador-BA. 2006 - Natureza Reverenciada - EBEC Galeria de Arte, Salvador-BA. 2004 - Tributo a Itapuã - Casa de Vinícius, Hotel Mar Brasil, Salvador-BA. 2002 - Exposição Hospital da Criança Martagão Gesteira, MAM-BA, Salvador-BA.  2001 - Paisagens de Santo Estevão - Foyer Teatro do Irdeb, Salvador-BA, 1989 - Exposição Vir-Ver: Oficina do Perdiz, Brasília-DF; FazArte Galeria de Arte, Salvador-BA; Galeria Cavalete, Salvador-BA; Galeria Solar Ferrão, Salvador-BA.1986 -   Exposição Pró-Fundação Deraldo Lima - Foyer TCA, Salvador-BA. 1985 - Feira de Arte Integrada - Escola de Belas Artes-UFBA, Salvador-BA.

Casulos  de sisal integrantes da
 exposição Natureza Ampliada,
na conclusão do Mestrado.
SALÕESEm 2010 - Jornada Ecológica Move Arte, Galeria Cañizares, EBA-UFBA, Salvador-BA; Circuito das Artes, Museu Geológico da Bahia, Salvador-BA. 2009 – 29º Salão Internacional de MiniPrint, Cadaqués, Espanha. 2008 - 28º Salão Internacional de MiniPrint, Cadaqués, Espanha; Salão Regional de Artes Visuais da Bahia, Itabuna e Vitória da Conquista-BA.  2005 - 25º Salão Internacional de MiniPrint - Cadaqués, Espanha e II Salão de Maio - Grupo GIA, Salvador-BA. 2004 - Arte Postal - Florean Museum, Romênia. -  1996 - Museu de Arte Contemporânea de Feira de Santana-BA. 1995 - XI Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, 1995 - Menção Honrosa.  1993 - V Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia- Artista Premiado. 1992 - ECO 92 - Palácio da Cultura, Rio de Janeiro-RJ e Festival Vídeo Tokyo, Japão. 1990 - II Salão Universitário de Artes Visuais, UFBA - Foyer TCA, Salvador-BA; Salão Gaivota - Escola de Belas Artes - UFBA. Salvador-BA. 1989-25 Anos da Galeria 13 -TCA, Salvador-BA - Menção Honrosa. 1986 -   I Salão Sergipano de Artes Plásticas - São Cristovão-SE.  1984 -  Encontro de Artistas Plásticos Contemporâneos em Santo Estêvão-BA.

BIENAISEm 2014 - 3ª Bienal da Bahia, MAM-BA. Salvador-BA. 2008 -   IX Bienal do Recôncavo, São Félix-BA - Menção Especial.  Bienais do Recôncavo: Vil - 2006: VII - 2004: VI - 2002: IV -1998: III -1995.  Em 1993 - I Bienal do Interior, Vitória da Conquista-BA. 1991 - IIl Bienal Nacional de Santos, São Paulo-SP e a   I Bienal do Recôncavo, São Félix-BA - Menção Especial. 

 

sábado, 6 de dezembro de 2025

MIRABEAU SAMPAIO VIVEU ENTRE AS SANTAS

 Mirabeau Sampaio em seu ateliê com telas de
 suas santas . Foto de Maria Sampaio, 1985.
 
Escreveu o romancista baiano  Jorge Amado:  “Mirabeau pastoreia as santas pelas ruas e ladeiras da Bahia, pelo céu e pelo mar - leva-as em visitação”. Este foi o jeito terno do grande escritor baiano falar da ligação de seu amigo com o imaginário sacro, e em particular com as santas, já que a maioria de suas obras é de pinturas retratando  santas que estão solenemente vigilantes protegendo os baianos do alto dos belos altares de nossas igrejas barrocas. Em outro trecho do escrito datado de 1982 Jorge Amado finaliza: “Ai, Mirabeau Sampaio! Quanta beleza antiga, quanta formosura e fantasia brotam de teus pincéis nesse atelier onde as santas renascem do barro, da pedra e da madeira, no milagre da tua criação!”  Estes dois pequenos trechos que transcrevo fazem parte de um texto que está transcrito no catálogo da exposição Mirabeau de Todos os Santos aberta ao público até o final de dezembro, no Museu da Misericórdia, integrante do conjunto arquitetônico da Santa Casa da Misericórdia, no Centro Histórico de Salvador. Além de você apreciar os desenhos, as esculturas e as pinturas icônicas de Mirabeau Sampaio  terá oportunidade de conhecer imagens do século XVII que eram colecionadas pelo artista, visitar a igreja, a sacristia, o pátio interno e próprio Museu.

Nossa Senhora da Conceição,1974,
acrílica e folha de ouro sobre tela.
O artista José Mirabeau Sampaio, mais conhecido por Mirabeau Sampaio (1911-1993) era médico e tinha consultório num dos prédios da Rua Chile, empresário - herdeiro da Casa Stela, loja e fábrica de sapatos, e foi professor da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia.  Pertencia ao grupo de artistas e intelectuais que frequentava o círculo de Jorge Amado e tem uma presença marcante na arte baiana do século XX. Para você ter uma ideia desta amizade eles foram colegas quando estudaram no Colégio Antônio Vieira nos anos 20 e mantiveram esta amizade até a morte. Mirabeau é personagem em pelo menos dois romances do grande escritor baiano, em Dona Flor e Seus Dois Maridos, de 1966, onde surge como o Zé Sampaio, marido de d. Norma, sua esposa na vida real, e o casal é vizinho do personagem principal. Já no romance o Sumiço da Santa, de 1988, é um colecionador de imagens sacras. Seu gosto pela arte vem desde a infância quando fazia enfeites para as festas de Santo Antônio e ao  ingressar na Faculdade de Medicina gostava de fazer caricaturas de seus professores. Chegou a frequentar a Escola de Belas Artes e tomou cursos com os mestres Mendonça Filho e Alberto Valença. Porém, foi com o encontro e depois a forte amizade com Mário Cravo Júnior que mudou o seu olhar para a arte moderna e passou a fazer esculturas em madeira, sendo premiado no I Salão de Artes  da Bahia com a escultura em madeira Pietá, que integra esta exposição do Museu da Misericórdia.

                                                       TRAJETÓRIA

Santa Luzia, acrílica e folha de 
ouro sobre tela, de 1970.
A curadora da exposição Simone Trindade destaca que “seu encontro com a arte foi ainda na infância, por volta dos doze anos, um chamado através da arte do belenismo, do sagrado em manifestação popular.” Num depoimento transcrito no catálogo o artista Mirabeau Sampaio revela: “Meu padrinho, que era guarda-livros – hoje se chama contador – tinha muito jeito pra pintura. Naquele tempo, se fazia presépio na cidade toda. Então, a cada ano, ele armava um, pintava uma manjedoura, os reis magos, Maria e José, etc. Então, aos meus olhos, aquele homem, a quem eu queria tanto bem, criava na parede um mundo fantástico, uma maravilha. Então assim que ele saía, eu corria para o papel, começava a desenhar como se continuasse a beleza que ele acabava de criar”.

O Mirabeau Sampaio nos anos 40 começou a desenhar a carvão e bico de pena, em seguida após o encontro com Mário Cravo Júnior passou a trabalhar com esculturas em madeira, sendo premiado   em 1956. Porém, em 1970 inicia sua carreira de pintor usando tinta acrílica sobre folha de ouro e prata, inspirado nos mestres do período bizantino criando suas imagens barrocas principalmente das santas. O mesmo Jorge Amado falou de sua preferência em pintar santas ao invés de santos, chamando-o de “O Pastor de Santas”. Para a curadora Simone Trindade: “Entre o sagrado e o profano, Mirabeau Sampaio nos legou uma obra de beleza encantadora. Aqui, cada exemplar selecionado fala não apenas da fé e da arte, mas também da alegria e da poesia que habitam a alma da Bahia, testemunhos da maestria de Mirabeau de Todos os Santos”.

                                                      CRONOLOGIA E PRINCIPAIS EXPOSIÇÕES 

Pietá, escultura  premiada com
 Medalha de Ouro, no Salão 
Baiano de Belas Artes,  1956.
Em 1911-  nasceu José Mirabeau Sampaio em Salvador, Bahia, em 18 novembro filho de Arthur de Almeida Sampaio e Maria Izabel Sampaio. 1920 -  iniciou os estudos primários e preparatórios no Colégio Antônio Vieira. No final da década de 1920, passa pela Escola de Belas Artes.1934 - foi graduado pela Faculdade de Medicina da Bahia. Na década de 1940 assume a direção da Fábrica de Calçados Stela e da loja onde permaneceu durante quarenta anos.1945 - casa-se com Norma Paternostro Guimarães. 1950 -frequenta o estúdio de Mário Cravo Júnior, retomando suas atividades artísticas, participando do grupo formado, dentre outros, por Mário Cravo, Carybé e Jenner Augusto.1956 - recebeu a Medalha de Ouro / Escultura do I Salão de Artes da Bahia com a escultura em madeira Pietá.1959 - Recebe Grande Medalha de Prata / Escultura do VIII Salão Paulista de Arte Moderna. 1960 - Realiza exposições individuais a partir deste ano, inicialmente com desenhos de bico de pena, depois pintura acrílica sobre tela e por fim flores, bichos e as sempre presentes santas folheadas a ouro e prata. Médico da Saúde Pública até os anos 1960, quando é 
Capa do  catálogo da exposição
no Museu da Misericórdia, 2025
.
indicado como executor do projeto do Museu de Arte Moderna da Bahia, durante as obras de recuperação do Solar do Unhão.1960 a 1970 - Professor da Escola de Belas Artes por notório saber. 1980 - A partir de deste ano dedica-se exclusivamente às artes plásticas, participando eventualmente de exposições coletivas. Possui obras em museus e coleções particulares no Brasil e no exterior, a exemplo de Oscar Niemeyer, Giovana Bonino e Walter Moreira Sales.1993 - Falece no dia 7 de janeiro. 2010 - Inauguração em 14 de outubro da sala da Coleção de Arte Sacra Mirabeau Sampaio, patrocinada pela Organização Odebrecht, Salvador-BA. 2011 - Exposição do Centenário de Mirabeau no Museu de Arte Sacra da UFBA. 2025 - Exposição de Mirabeau no Museu da Misericórdia, Salvador-BA.

sábado, 29 de novembro de 2025

ZÉ DE ROCHA EXPÕE A VIOLÊNCIA QUE NOS ATORMENTA

Zé de Rocha desenhando com areia - 
Sand Motion , no seu ateliê.
Desde a sua infância que Zé de Rocha vive envolvido com desenho copiando os  personagens  das histórias em quadrinhos e depois passou a receber orientação de seu conterrâneo o pintor expressionista Nelson Magalhães, que ele chama de Nelsinho. Surgiram suas pinturas densas cheias de grossas camadas de tintas num colorido forte e com muita expressividade. A busca foi tomando outros rumos e hoje transita em meio a traços e manchas criando imagens que impactam o apreciador de suas obras. Está  implícita em sua arte a capacidade de nos apresentar a violência que vem escalando em todo o mundo, e o artista diz claramente num texto que escreveu para uma exposição na Caixa Cultural, em Salvador, que não se trata apenas de ilustrar a violência, mas de encontrar uma tensão que se revela através das imagens que cria. Ele acredita que essas imagens de carros destruídos no trânsito, de pessoas vítimas da brutalidade humana, das mãos queimadas na guerra de espadas são reveladoras do que ocorre com a humanidade. É bom lembrar que desde os tempos imemoriais o ser humano vem mostrando este seu lado violento, e nos tempos da barbárie ainda eram bem piores que os de hoje. Também, ao lado do criador de traços e manchas impactantes tem um músico que toca acordeon com tanta sensibilidade quanto o artista visual ao fazer os seus desenhos. O Zé de Rocha é natural de Cruz das Almas, doutor em Artes Plásticas, pela Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, e atualmente professor de Desenho, da Escola de Belas Artes. Portanto, vive dividido entre o magistério e seu ateliê no Jardim Brasil, e quando o tempo lhe permite toca seu acordeom. Já participou de várias exposições individuais e coletivas, salões e bienais ,sendo  premiado em alguns desses eventos.

Neste autorretrato vemos seu grito contra
 a violência
. Desenho em carvão sobre papel.
Vemos que o artista visual Zé de Rocha está focado na criação de imagens que revelam e discutem a violência urbana que nos cerca, quer estejamos numa metrópole ou mesmo numa cidade do interior.  O risco sempre vai estar presente. O substantivo risco na nossa língua portuguesa tem significado “de perigo ou a possibilidade de perigo, mas também pode ser entendido como prejuízo ou insucesso em um projeto. De forma mais técnica, pode ser a probabilidade de um evento incerto acontecer. Em alguns contextos, como no de arte, refere-se também a desenho, traço ou esboço.” Na obra de Zé de Rocha temos o risco, o traço elaborado e as manchas feitos por um artista contemporâneo. Ele é consciente da sua inserção neste mundo onde vivemos caminhando numa linha tênue enfrentando os riscos e desafios de uma sociedade competitiva, individualista, e também com seus bolsões de violência que se manifestam no trânsito desenfreado e nas reações insanas de grupos de pessoas que vivem mergulhadas na criminalidade.

                                        IMPORTÂNCIA DO DESENHO

Neste desenho de um ônibus sinistrado,
feito com carvão, vemos o nível de
dificuldade e sua habilidade na execução.
Entendo que o desenho é a base sólida de um bom artista. Para que você cresça profissionalmente como artista visual é preciso que tenha como base um desenho apurado, e a partir daí poderá chegar a uma infinidade de possibilidades de distorcer as imagens, reduzir, aumentar, incorporar outros elementos, dentre outras formas de se expressar. E o Zé de Rocha é um excepcional desenhista. O texto escrito pela artista Rosa Gabriella de Castro Gonçalves, no livro Carvão, organizado por Ricardo Bezerra, ela escreveu: “É no desenho (disegno) que a arte se legitima enquanto unificado, prática nobre e conhecimento intelectual, demonstrando domínio conceitual sobre a forma e a composição. No Renascimento, quando as artes visuais almejaram ser consideradas artes liberais, deixando a condição de mera técnica, foi o desenho, enquanto atividade mental, que tornou isso possível. Esta passagem foi registrada por Vasari, que estipulou que as artes – arquitetura, escultura e pintura – não deveriam ser denominadas simplesmente artes, mas artes do desenho”. Rosa Gabriella é graduada em Comunicação Visual e doutora em Filosofia pela Universidade Estadual de São Paulo -USP. Já o Vasari que ela cita trata-se de “Giorgio Vasari (1511-1574) foi um pintor, arquiteto e biógrafo italiano, produziu suas obras na fase mais tardia do Renascimento. Tornou-se famoso ao escrever biografias dos artistas da Renascença italiana, que se tornaram essenciais para a história desse período.” Wikipedia.

Trabalhando com espada para desenhar sobre
uma lona . Antes ele faz uma base para a lona
suportar o fogo  e as fagulhas.
O artista José Raimundo Magalhães Rocha,o Zé de Rocha nasceu em sete de janeiro de 1979 na cidade de Cruz das Almas, interior da Bahia, filho de Raimundo Alcides da Rocha e d. Nelma Maria Magalhães Rocha. Estudou o primário da Escola Mônica e Cebolinha, e o ginásio e colegial no  Colégio Cruz das Almas, que não mais existe.  Disse que quando decidiu vir para Salvador fazer o vestibular sua mãe foi clara ao recomendar que fizesse numa universidade pública tendo em vista as dificuldades que enfrentavam depois do trágico falecimento do seu pai. Foi assim que ao terminar o segundo grau prestou vestibular para a Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, em 1996, e após ser graduado cursou o Mestrado e em seguida o Doutorado. Porém, as coisas não aconteceram normalmente porque depois de três anos estudando a graduação passou a questionar se deveria seguir sua carreira, achava que a vida de artista é muito complicada e preocupado com a sobrevivência resolveu abandonar o curso. Disse que nesta época já participava dos salões regionais entre os quais o de Jequié, Juazeiro, Alagoinhas, Feira de Santana, e chegou a ganhar prêmios. Sua decepção era com o curso e frustração com as perspectivas que imaginou quando saiu de Cruz das Almas. Fez outro vestibular e foi estudar Design, na UNEB, imaginou que aí seria mais fácil a sua sobrevivência. Depois descobriu que não, abandonou o curso e passou a trabalhar com música tocando o seu acordeon em bandas, saiu em turnê, viajou com os cantores Xangai e Ferreti. Em 2004 sentiu falta da EBA e do convívio com os colegas retornando com o objetivo de terminar o curso. “Voltei mais amadurecido e a partir do meu retorno o trabalho foi crescendo e descobri que meu fazer artístico era muito gráfico. As linhas, traços e manchas em preto e branco me satisfazem”, disse Zé de Rocha.

                                                        TRAJETÓRIA E INCENTIVOS

Pintura da época que estudou
 com  Nelson Magalhães.
Se o artista Nelson Magalhães o incentivou muito no início de sua busca em Cruz das Almas, na Escola de Belas Artes durante as aulas de pintura foi a professora Sônia Rangel, que fez este papel. Ela falou sobre o processo criativo e do encontro da maneira pessoal de trabalhar.  A partir daí passou a enveredar pelas questões gráficas. Fez muitas serigrafias, inclusive ganhou um prêmio na Bienal do Recôncavo, e este prêmio possibilitou viajar em 2009 para Milão, onde fui orientado durante quatro meses pelo professor, crítico de arte e curador Antonio d’Avossa, na “Accademia di Belle Arti di Brera, em Milão, Itália, que é uma renomada instituição pública de ensino superior em artes. Fundada em 1776 pela Imperatriz Maria Teresa da Áustria. Hoje a Accademia compartilha o seu prédio principal com a Pinacoteca di Brera, o principal museu de arte de Milão. A Accademia oferece formação em diversas áreas criativas, como pintura, escultura, fotografia, vídeo e artes gráficas. 

Brincante ou espadeiro 
com sua vestimenta na
Guerra de Espadas.
O Zé de Rocha falou durante nossa conversa que “nunca tinha viajado para fora, e pode visitar museus e tentou mostrar sua arte na Itália, mas não obteve sucesso. Encontrou alguns músicos brasileiros e se apresentou em shows em cidades italianas tocando seu acordeon. Ao retornar passou a se interessar em desenhar carros destruídos, pneus esgarçados, mãos sangrando. Pegava as imagens nos jornais, e depois visitava o pátio do Detran para ver e fotografar os carros sinistrados. Confessa que até hoje para na estrada para fotografar acidentes com vistas a desenhar. A fotografia aprendeu na EBA com o professor Edgar Oliva e que tem um bom arquivo fotográfico de carros sinistrados. Estuda os contrastes, os detalhes retratando dentro da sua visão artística utilizando o carvão e outras técnicas. “Passei a me aplicar mais ao Desenho”, e destacou a importância das aulas com o professor Onias Camardelli, e de suas pesquisas pessoais que faz sobre Desenho e a arte contemporânea. “Saí do carvão, durante o mestrado e fui pro fogo”, adiantou.

                                                  MAGISTÉRIO

O magistério não estava nos seus planos, mas aconteceu e vem exercendo com empenho e alegria  apresentando e debatendo com seus alunos as questões da arte e todos os aspectos que a envolvem. Sempre busca encontrar formas de motivação de seus alunos, fugindo do formato tradicional do ensino teórico. Atualmente introduziu m suas aulas o trabalho de criação utilizando a areia. É o processo criativo conhecido por Sand Animation, em português é animação de areia que “é uma forma de animação em que imagens são criadas manipulando areia sob uma fonte de luz que fica dentro de uma caixa de madeira especial e filmadas quadro a quadro. O processo é uma técnica de stop motion, onde o

Carro sinistrado da Série Risco, 2015.
animador faz pequenas mudanças na areia e fotografa após cada alteração para criar uma sequência de movimento.
“O artista precursor desta técnica de arte foi o húngaro Ferenc Cakó. Ele se graduou no College for Creative Arts em 1973 e fez animação  nessa época. Seu primeiro sucesso foi em 1982 e em 1989 foi nomeado artista da República Popular da Hungria. Durante a entrevista Zé de Rocha criou algumas imagens usando esta técnica em seu ateliê e tive a oportunidade também de mexer na areia, e posso assegurar que é uma forma estimulante de criação. As imagens mudam em segundos a depender dos movimentos que você faz com os dedos ou mesmo usando algum instrumento. A areia utilizada é bem fina, quase uma poeira, e segundo Zé de Rocha só encontrada aqui no Brasil em poucos locais.

                                                             EXPERIÊNCIA COM O FOGO

Como ele nasceu na cidade de Cruz das Almas, que tem uma tradição centenária durante os festejos juninos da prática da Guerra das Espadas o Zé de Rocha desde cedo participava das batalhas com seus amigos. Eles chamam de brincantes e mostrou algumas marcas, pequenas é verdade, resultado de queimaduras com as espadas. Na exposição

Desenho em carvão do chão de uma rua de
Cruz das Almas durante Guerra das Espadas.
que fez em 2015 chamada de Há Risco o artista apresentou vários desenhos feitos com carvão sobre papel e tela com os carros sinistrados, e também obras feitas com as espadas, deixando as marcas das queimaduras sobre a lona proporcionando um efeito visual diferenciado. Nos anos de mestrado voltou várias vezes para Cruz das Almas, foi conhecer e conversar com os mestres fogueteiros, com algumas pessoas mais envolvidas com a Guerra de Espadas, que hoje é proibida. Os mestres fogueteiros deixaram de produzir as chamadas espadas garantidas que eram feitas em técnicas especiais, e atualmente são feitas por gente que não tem muita expertise, e o perigo é maior porque os que teimam em soltar espadas não se protegem como antes que vestiam roupas especiais, óculos, capacetes e luvas. Hoje soltam de qualquer forma correndo da polícia.

 Uma curiosidade é que o Zé de Rocha ao conversar se mostra uma pessoa afável completamente diferente das obras impactantes que cria. Quando lhe fiz esta observação rindo ele me respondeu mais ou menos assim ,mas  “por dentro sou um vulcão em erupção

Zé de Rocha em seu ateliê durante nossa
conversa.
e me expresso como numa catarse através de minha  arte. Ele quis dizer que libera suas  emoções reprimidas e intensas, proporcionando alívio e uma sensação de purificação. Sua arte está vinculada às estruturas, as questões gráficas das linhas e não tem aquela preocupação com a intensidade das cores, e isto já estava na sua pintura e foi me aprofundando nisto.
O Zé de Rocha se considera um artista contemporâneo, trabalha pensando no Desenho, no claro e escuro, trata de questões que lhe atravessam e lhe espantam. Gosta das obras de Francisco José de Goya y Lucientes que  foi um pintor e gravador espanhol. É considerado o mais importante artista espanhol do final do século XVIII e começo do século XIX. Disse ainda  ter sido de alguma forma influenciado pelo movimento neoexpressionista que iniciou no final dos anos 70, se fortaleceu na década de 80 como uma reação à arte conceitual e ao minimalismo. Este movimento “se caracteriza pelo retorno à pintura, com foco em temas emocionais e subjetivos, com uso de cores fortes, pinceladas visíveis e gestos agressivos da criação de obra de grandes dimensões”. Citou alguns artistas que talvez o tenham influenciado como os alemães Georg Baselitz e Anselm Kiefer e os americanos Julian Schnebel e Jean-Michael Basquiat. Na sua trajetória artística Zé de Rocha  trocou as várias matizes de cores fortes e enveredou a usar o carvão se expressando com muita energia em preto e branco com gestos e imagens agressivas que nos levam a conjecturar sobre momentos de tensões e violentos que vivemos em nosso país.

                                   EXPOSIÇÕES

INDIVIDUAIS: Em 2019 – RiscoRisco, Galeia RV Cultura e Arte Salvador – Bahia, curadoria de Sonia Rangel. 2016 - Memórias do Risco, Galeria Ana das Carrancas – Sesc Petrolina – Pernambuco. 2015 - Há Risco Caixa Cultural Salvador – Bahia. 2012 - Risco Galeria do Conselho Salvador – Bahia, curadoria de Sonia Rangel; 2010 - Correndo Risco, Galeria RV Cultura e Arte Salvador – Bahia; Cronache dall’Estremo Sala Sposizione Panizza Ghiffa – Itália, curadoria de Antonio d’Avossa.

 COLETIVAS E SALÕES: 2022 - 64ª edição dos Salões de Artes Visuais da Bahia,
Capa do catálogo da mostra na Caixa Cultura,
2015.Desenho de um velho pneu ,em carvão.
Museu de Arte da Bahia (MAB) Salvador – Bahia, Menção Especial; Aos Pés do Caboclo, luta - Centro de Cultura Vereador Manuel Querino, Salvador – Bahia, Curadoria: Joyce Delfim e Nathan Gomes. 2021 – Drawing Room Madrid online fair;   https://drawingroom.es/madrid-online-fair-2021;  Desmundo Museologia Lab – Universidade de Brasília, (UnB) online - https://www.desmundo.museologialab.org/. 2019 - Carvão MUNCAB Salvador – Bahia;  Drawing Room Lisboa, Sociedade Nacional de Belas Artes – Portugal;  Ficción de lo cotidiano Centro Cultural Brasil-México Cidade do México.  2018 - EBA 140 anos – Fluxos Visuais de 1877, Sala Contemporânea Mario Cravo Jr – Palacete das Artes, Salvador – Bahia, curadoria de Eriel Araújo, Luiz Freire, Ricardo Bezerra e Viga Gordilho. 2017 – Drawing Now, Le Salon du Dessin Contemporain, edition 11. Carreau du Temple, Paris- França. 2016 - Zona de Perigo Museu Oscar Niemeyer Curitiba – PR, curadoria de Divino Sobral. Prêmio CNI- SESI, Marcantonio Vilaça. 2014 - III Bienal da Bahia, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador – BA .2013 - 64º Salão de Abril, Sobrado José Lourenço, Fortaleza – CE; Esquisópolis, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador – BA. 2012 – Paraconsistentes, 25 artistas Contemporâneos da Bahia, Goethe Institut Salvador – BA, curadoria de Alejandra Muñoz.  Salão de Artes Visuais da Bahia, Centro de Cultura ACM, Jequié – BA, Prêmio do Júri.  2011 – Quereres, Galeria do Conselho Salvador – BA. 2010 - XIII Salão Municipal de Artes Plásticas, SAMAP, João Pessoa - Paraíba. 2009 - Bankside 9TG/SE1, London,  Galeria ACBEU Salvador – BA.  2008 - 15º Salão da Bahia, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador – BA; IX Bienal do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann, São Félix – BA, Grande Prêmio – Viagem à Europa; Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, Centro de Cultura Adonias Filho, Itabuna – BA, Prêmio Incentivo; Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima, Vitória da Conquista – BA.  2007 - Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, Centro de Cultura João Gilberto, Juazeiro – BA, Menção Honrosa. 2006 - VIII

Zé de Rocha mostrando parte de uma obra
 em serigrafia  que  foi premiada .
Bienal do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann, São Félix - BA; Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, Centro de Cultura de Alagoinhas, Alagoinhas – BA. 2003 - VI Bienal do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann, São Félix – BA. 1999 - XXVI Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia, Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima, Vitória da Conquista – BA; Coletiva: Miguel Cordeiro, Nelson Magalhães Filho, Suzart e Zé Raimundo Rocha, Galeria ACBEU, Salvador – BA. 1998 -  IV Bienal do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann,  São Félix – BA , Menção Especial;  Singularidades - Coletiva com os Artistas Mais Expressivos dos Salões Regionais de Artes Plásticas – terceira fase 97/98,  Museu de Arte Moderna da Bahia – MAM,  Salvador – BA;  Recôncavo Contemporâneo: Gláucia Guerra, Nelson Magalhães Filho, Suzart e Zé Raimundo Rocha , Museu de Arte Contemporânea – MAC,  Feira de Santana – BA ; Exposição de Pinturas: Nelson Magalhães Filho e Zé Raimundo Rocha,  Galeria ACBEU,  Salvador – BA. 1997 - XXI Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia,  Centro de Cultura de Alagoinhas , Alagoinhas – BA;  XX Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia,  Centro de Cultura Olívia Barradas , Valença – BA - Destaque Especial;  XIX Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia,  Centro de Cultura de Porto Seguro,  Porto Seguro – BA;  XVIII Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia,  Centro de Cultura Amélio Amorim,  Feira de Santana – BA , 2º lugar, Prêmio Agnaldo Azevedo “Siri”; XVII Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia,  Centro de Cultura Adonias Filho,  Itabuna – BA , Menção Honrosa;  XV Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia,  Centro de Cultura João Gilberto , Juazeiro – BA.

FORMAÇÃO -   Em 2020 - Doutorado em Artes Visuais, Processos Criativos (UFBA). 2013 - Mestrado em Artes Visuais, Processos Criativos (UFBA). 2008 - Bacharelado em Artes Plásticas (UFBA). ATUAÇÃO DOCENTE - Professor da Escola de Belas Artes, da UFBA Universidade Federal da Bahia.