domingo, 13 de janeiro de 2013

A VOLTA DA LITOGRAFIA COM UM PROGRAMA LOCAL - 08 DE JUNHO DE 1980

JORNAL A TARDE, SALVADOR,  DOMINGO, 08 DE JUNHO DE 1980

A VOLTA DA LITOGRAFIA COM UM PROGRAMA LOCAL

O professor Antônio Grosso acompanha os alunos 

Com as prensas desativadas das gráficas, após o advento do off-set e das máquinas modernas, sendo vendidas como ferro-velho ou quebradas, esmoreceu a produção litográfica.A litografia, que começou no Brasil em 1825 com o Arquivo do Rio de Janeiro, consiste na utilização de uma pedra, tipo calcário, de uma espessura determinada, e o desenhar nela com elementos tais como o lápis cera.Enfim, lápis gordurosos.
Após isto, a pedra é passada por um processo químico, realizado com goma e ácido nítrico. Assim está, praticamente, pronta para ser impressa, o que é feito com o uso de papéis de qualidade.Com a pedra desenhada e devidamente queimada inicia-se, então, o processo de estampagem.
Agora, com um curso realizado por um convênio da Fundação Cultural do Estado, através de uma iniciativa das oficinas do Museu de Arte Moderna, e a Funarte, volta a ser incentivada a prática desta técnica entre nós.
O curso aberto à comunidade, teve vinte alunos com a duração de um mês, e foi ministrado pelo professor Antônio Grosso, e colaboração de Edgard Fonseca. Mas esta foi uma primeira etapa. Outras virão proximamente. Só que os resultados deste começo serão avaliados por uma exposição dos alunos, quase todos em sua maioria artistas plásticos profissionais, que como disse um deles, Zivé Giudice, “estavam ali para ter a apropriação de uma linguagem diferente, a retomada de um processo repleto de vantagens, principalmente no barateamento do custo final da confecção de cartazes”.
Antônio Grosso ressalva o interesse despertado pelos alunos, principalmente pela facilidade que todos tinham, já que eram artistas plásticos profissionais e atuantes, no manejo das novas técnicas que aprendiam. “O curso tinha o horário de aulas entre ás 14:00 e às 18:00 horas, mas todos já se encontravam presente desde ás 8:00 horas, trabalhando nas prensas.Foi formidável. O resultado será visto por todos na exposição, ainda sem data marcada, e sob a coordenação de Juarez Paraíso, que está recolhendo o material.Outro fator é a feitura de um acervo do museu, com a conservação de uma memória gráfica baiana. Este foi um lado muito importante do curso.
As outras etapas, do curso, deverão ser iniciadas a partir de junho, sem a participação da Funarte, apenas como iniciativa do Museu de Arte Moderna, na feitura do contexto de um museu ativo, seguindo um caminho anteriormente traçado. A segunda fase será o prolongamento do que foi agora aplicado, dando continuidade a esta primeira etapa, que consistiu no contato com o material e o desenvolvimento deste material. “Fui muito feliz com o trabalho deste curso, pois apesar do espaço curto, isto não serviu de empecilho,, já que há vários alunos que estão produzindo litografias a cor, um processo mais adiantado, ressalva Antônio Grosso.
Quanto ao desenvolvimento atual da litografia no Brasil, Antônio Grosso sente “um interesse muito grande, num embalo muito bom.
Principalmente, no Rio e São Paulo. Fora deste eixo, há Minas, com a Casa Litográfica e Pernambuco com a Oficina Guaianazes. Outro fator da prova de uma volta intensa da litografia é a realização de cursos semelhantes ao ministrado no Museu de Arte Moderna, pelo mesmo professor, na Universidade de Vitória, em Minas Gerais, no Maranhão, e na Universidade de Brasília.

  ALMEIDA JÚNIOR, UM ACADÊMICO DA COR
O titulo deste belo  quadro de Almeida Júnior é Leitura

Almeida Júnior não deixa de ser um artista tipicamente acadêmico no uso da cor que denuncia  sua formação na Escola Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, onde foi aluno de Victor Meirelles e Pedro Américo. Contudo, o que distinguiu as suas pinturas daquelas de seus contemporâneos da academia o tornam um verdadeiro antecessor da preocupação com nacional, seria o grande número de obras que realizou focando tipos populares do interior de sua terra.
Em 1876, com uma pensão do imperador D. Pedro II, para a França, tendo frequentado a Escola de belas artes paris, como discípulo de Alexandre Canabel. Expôs no Salão dos Artistas Franceses em 1881 e 1882 e, pela primeira vez no Rio de Janeiro, em 1882. Na Exposição Geral de Belas Artes em 1889 obteve Medalha de Ouro de 1ª Classe. Pintor de ter bíblicos, costumes regionais e retratos, Almeida Júnior faleceu em sua plena maturidade como pintor, aos 49 anos. A Pinacoteca possui a maior coleção de obras do artista, num total de pinturas.
Compondo com aparente simplicidade, o pintor se utiliza basicamente, da linha horizontal para a estruturação do quadro em duas partes, paisagem ao longe, terraço em 1º plano, plenamente integradas pelo vazamento da grade.
Com a horizontal, o artista inicia seu trabalho em busca de total imobilidade para a cena: na tranqüila tarde paulista uma jovem mulher, esquecida do tempo, entrega-se à leito.
Sua longa trança castanha pende, vertical, sem movimento lua se difunde sem contraste e, ao lado, a simplicidade elegante da cadeira em tesoura,parece assinalar uma ausência enfatizada.

      EDSOLEDA É AUTORA DO CARTAZ DA Arte BA/80
Edsoleda Santos , foto atual da artista

A vencedora do concurso para o cartaz e a marca do Festival de Arte da Bahia 80 foi a artista plástica e programadora visual da UFBa., Edsoleda Santos. Para representar o principal interesse do Festival de Arte da Bahia 80, que é “divulgar e incentivar as novas manifestações artístico-culturais de nossa terra”, Edsoleda utilizou-se dos elementos seculares da Arquitetura e da riqueza visual da paisagem baiana, enfatizando o forte ritmo ascendente que domina a composição. A figura central, que teve como estímulo inspirador o voo da bailarina Graziela Figueroa, representa, segundo a concepção da artista, “a cultura que se expande por novos horizontes, ao mesmo tempo em que se enriquece na amplitude desta vivência”. Diz Edsoleda que “o voo sugere expansão, difusão, e, nesse sentido, a expansão é cultural”.
P - É a primeira vez que você participa do concurso para o cartaz do Festival de Arte Bahia?
Edsoleda-Sim. Foi uma experiência muito boa, uma oportunidade de trabalhar com número maior de cores.
Quando vi o edital do concurso com a indicação de que poderiam ser usadas quatro cores, foi que me animei.
P- De que maneira as cores foram decisivas para a concepção do cartaz?
Edsoleda- A cor é significativa na vida de todas pessoas, pois, é uma relação Íntima entre o homem e a natureza. A natureza criou as estrelas e a lua para amenizar a imensa escuridão de suas noites e o homem criou luzes coloridas para os espaços escuros. Uma mensagem visual com objetivo de consumo não deve se abster da cor.
P- Neste cartaz, você empregou técnica mista, não é verdade?
Edsoleda- Usei guache, aquarela e lápis

P -Quais as cores que você elegeu e qual a significação delas?
Edsoleda - Todo tema exige uma cor específica.
Para o tema do cartaz, eu usei o azul como cor dominante, que é a cor do céu e do mar. A cor é um elemento de forte significação no meu desenho. É lançada no espaço plástico, obedecendo ao ritmo dos meus impulsos emocionais, ora se diluindo, ora se concentrando, e, com isso, dando origem a uma infinita gama cromática. As cores estão ligadas com a criatividade do artista, que é limitada, por isso, concentrei nas asas da figura central do cartaz as cores amarela e vermelha.

P - Como foi que a figura de Graziela surgiu na sua concepção?
Edsoleda - Eu estava começando a criar um cartaz para a Oficina Nacional de Dança Contemporânea, comecei a olhar fotografia de Graziela. De repente, surgiu a figura que exigia cor. Foi exatamente nesta ocasião que eu recebi o edital do concurso, que estipulei quatro cores... então, animei, e já pensei no festival em ritmo, cor, luz, amplitude Bahia, e, disso, saiu a ideia do cartaz.

P- Você é a programação visual que cria os cartazes publicitários dos eventos artísticos da UFba. Qual a esperança de linguagem entre seus trabalhos de publicidade de um produto artístico que destinado a ser reproduzido
Edsoleda - Como artista de Cavalete, tenho uma liberdade maior, não preciso de ser objetiva. O tema pode ser desenvolvido através de várias fases, até alcançar um processo de total abstração. Nesse de trabalho, o artista pode usar uma linguagem mais intimista. O trabalho publicitário exige, além da expressão objetividade e contemporaneidade.

P -Que motivação você pode apontar como decisão para sua atuação na área da publicidade?
Edsoleda - Devido às circunstâncias, às dificuldades no mercado de trabalho com a arte de cavalete, venho dedicando à arte publicitária.
No trabalho publicitário, avanços tecnológicos devem ser acompanhados, à risca pelo artista, a fim de que possa representar bem a ideia. Os temas são os bem variados, exigindo uma grande versatilidade do artista. O espaço publicitário composto de letreiro e figura que devem atingir um bom equilíbrio visual entre si e  dentro desse princípio de criação do cartaz deve ser condizente com o tema, para que possa, ser melhor absolvido pelos consumidores.
P- Ao lado do exercício constante que é para o artista a criação de um produto com o tema já definido, você procura localizar algum inconveniente limite para sua realização?
Edsoleda - Na criatividade, o limite é desastroso pois exige que o artista desenvolva, ao máximo, suas possibilidades, dentro de no mínimo de recursos técnicos em que o impede que se reno o acompanhando o curso e desenvolvimento de uma época.. Por exemplo, algun recursos técnicos modernos são a letra-set, letra-filme, letra-gráfica, montagem-fotocomposição, foto- etc. Quando um trabalho se dirige á gráfica, é feita a arte final e o lay-out, que deve ser interpretados com sensibilidade, o que, muitas vezes não acontece, modificando-se, dessa maneira, o sentido da mensagem.

MÁRCIO LEVYMAN COM NOVAS FOTOS

O Gabinete Fotográfico apresenta os trabalhos de Márcio Levyman, fotógrafo em atividade desde 1975. As fotos documentam aspectos gráficos/ formais do Bom Retiro, que segundo Márcio “foi uma iniciativa de agrupar os traços representativos da emoção visual presente no bairro, destacando a sensibilidade espontânea que nos surpreende a cada esquina”.
Os momentos registrados sugerem manifestações isoladas e silenciosas com as quais convivemos indiferentes. São encontros dos elementos desordenados existentes no bairro, revistos e acentuados pela fotografia.
O conjunto de imagens formado poderia ter acontecido em qualquer lugar. Praticamente inexistem referências ou sinais representativos identificando o bairro, portanto as situações assumem caráter mais amplo e as leituras podem ser mais abertas.
A exposição estará aberta a visitação pública, até 22 de junho, no horário habitual da Pinacoteca do Estado: de terça-feira a domingo, exceto feriados, das 14:00 às 18:00 horas.
São 13 fotos coloridas, ampliadas tamanho 50 x 60cm e 30x 40cm em papel brilhante. As ampliações e montagens foram realizados pelo Laboratório Orencolor, Av. Pacaembu, 1.213.

ALEGORIAS RENASCENTISTAS DE TORASSA NA PORTAL

Obra de Torassa, para entender melhor sua produção
Ao inaugurar a mostra a Galeria Portal se propõe a trazer de volta, todo o encanto e mistério das obras de Renascença.Os detalhes que compõem a obras deste artista autodidata argentino, confirmam esta proposta: figuras mascaradas, como uma necessidade da tragicomédia, os cavalos, duendes, fadas, peças de xadrez, personagens fantasmagóricas, soldados, ninfas nuas e todo um cenário que nos leva a crê, estarmos diante de uma peça teatral de Shakespeare ou Dante em sua Divina Comédia. O próprio autor, Eduardo Torassa afirma isso ao dizer...”Cada quadro em si é uma obra teatral preparada para que o espectador a sinta e a reconheça no momento como uma composição, tentando em alguns casos chegar a um sentido de tal expressão, que a cena se move como seu próprio personagem e os movimentos como suas lógicas causam somente um estado de compulsão”.

O HOMEM, A OBRA

Torassa é argentino de Buenos Aires,( Foto ao lado) há poucos anos no Brasil.Seu ingresso no mundo das artes se deu ainda na infância, quando já manifestava o dom do desenho. Autodidata, seu nome começou a ser reconhecido por volta de 1974, na cidade de Santa Fé-Argentina, onde expôs em diversos salões, participou de inúmeras coletivas e individuais.
Recebeu vários prêmios e possui obras suas em galerias dos Estados Unidos, Espanha, Inglaterra, Alemanha, França e no MASP.
Realizou individuais no Museu de Artes e Artefatos de Santo Tomé em Santa Fé. Desenhos no Salão Escola de Desenhos e Artes Visuais Manuel Belgrano, em Santa Fé. Desenhos e pinturas da série “As visões de Rosimatrogen” na galeria de arte”Desenho” em Santa Fé. Individual na Galeria Lafranconi, em Buenos Aires, coletivas no Cinter Galeria, em Buenos Aires, Galeria de Arte Color, em Santa Fé e outras. Recebeu o prêmio de Aquisição no 3º Salão de Desenho de Santo Tomé em 1975- Santa Fé, o 1º Prêmio de Pintura no LIV Salão Anual de Santa Fé, em 1976, possui obras na Galeria Abis-Berlim-Alemanha, Galeria Compass-Glasgow em Londres-Inglaterra, Galeria Art Vivant em Paris-França, Galeria Adria em Barcelona- Espanha, Galeria Americam Masters em Los Angeles -EUA e no Museu de Artes de São Paulo-MASP cujo diretor, Pietro Maria Bardi, adquiriu dois quadros de Torassa para seu acervo particular.

O REAL E O IMAGINÁRIO

Torassa  afirma que suas obras são a integração da realidade e a concepção do imaginário como espírito motor das verdades de cada um. Diz, ainda, que este irregular mundo de fantasmagóricas criaturas, dotado de duendes e enigmas, talvez sacado de momentos ocorridos em tempos passados com vibrações de fantasia e realidade onde as esculturas adquirem vida e movimento,  situando-se em posição de personagens, caracterizam as imagens e idéias irônicas de nossas vidas.
“Um elemento -o cavalo, que aparecem em muitos de meus quadros, representa o gérmen vital da natureza”.


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