domingo, 13 de janeiro de 2013

BIENAL DE VENEZA: POLÊMICAS E PINTORES -20 DE JULHO DE 1980

JORNAL A TARDE DOMINGO, 20 DE JULHO DE 1980

BIENAL DE VENEZA: POLÊMICAS E PINTORES
Obra da  artista polonesa Magdalena Abakanowicz autora de Objetos Esféricos Com Tela e Saco
Veneza (ANSA) -A  Bienal de Arte de Veneza abrirá suas portas este mês, mas já estão chegando à laguna os pintores, as suas obras e sobretudo as polêmicas, tantas e tão clássicas polêmicas.
A Bienal intitula-se A Arte dos Anos 70.
Um programa que fala do que aconteceu num decênio e que provavelmente não deixará de fazer um apanhado do que acontecerá no próximo. Uma exposição histórica e crítica organizada com amor e sem exageros, ordenada e tranquila. Um grande retorno à tradição que alguns aceitam de bom grado e outros contestam.
Mas a contestação, como se dizia antes,é praticamente uma instituição na Bienal de Veneza. Tudo começou em 1895 com a grande agitação causada pelo pintor Giacomo Grosso, com o seu Supremo Encontro. Efetivamente o encontro era sobre o ataúde de um D. Juan e os convidados, cinco lindas mulheres nuas, apoiadas sobre o caixão: “Tela de ousada composição fantástica”, definiram-se na época os mais conciliadores, “A pedra do escândalo para a imprensa clerical”. “Uma concepção eticamente moral”, rebatiam os liberais. As discussões foram ferozes e o público foi atraído por uma curiosidade quase doentia, dizem os comentaristas da época. As polêmicas de agora são de outro tipo, e o alvo, em geral, é o responsável do setor Artes Visuais da Bienal de Veneza, Luigi Carluccio, que por sua vez chama a atenção dos críticos e pintores dizendo: “A bienal deve ser um encontro e não um desencontro”.
Cerca de 50 artistas escolhidos como os mais representativos do último decênio, expõem no pavilhão central dos jardins do castelo. Um dos organizadores deste setor, Achiles Bonito Oliva diz que a arte recuperou um impulso e uma consciência do seu próprio valor que pareciam perdidos com a embriaguez ideológica dos últimos anos.
Os italianos chamados a representar esta década são: Giovanni Anselmo, Alighiero Boetti, Píer Paolo Calzolari, Luciano Fabro, Jannis Lounellis, Mário e Mariza Merz, Giuseppe Penone, Giulio Paolini, Gilberto Zorio. Faltam, certamente, alguns e não faltarão os protestos dos excluídos e sobretudo as polêmicas. Carluccio já as espera e defende-se dizendo que a seleção tinha de ser feita à força.
A Segunda Exposição em ordem de importância desta Bienal será Projeções 80 e terá como sede os armazéns do sal, no sugestivo âmbito de Le Zatere como se chama esta parte de Veneza que faz frente com a Ilha da Giudeca e as três igrejas do Palladio. Os armazéns do sal serviram da sede o ano passado à Bienal de Fotografia e o ano precedente à da Arquitetura.
Para as Projeções 80 exporão os italianos Luciano Castelli, Sandra Chia, Francesco Clemente, Mimmo Palardino, Ernesto Tatafiore e outros. Trata-se de pintores muito jovens. Os mais velhos têm apenas 30 anos e a polêmica aqui é cadente. Ninguém lhes nega méritos mas não faltam as acusações de favoritismos.
Mas, o principal encontro é com Baltus (o pintor francês Balthazar Lossowski) na Escola Grande de São João Evangelista.
Os responsáveis da Bienal dizem que escolheram Balthus porque é o único inédito em Veneza e porque e porque a matéria e o sentido da sua pintura têm ligação com a obra de Piero Della Francesca. Escolheram-no, dizem:“Por sua arte diferente, refinada, aristocrática e ao mesmo tempo popular”. E porque se fala muito de Balthus, mas viram-no muito pouco.
O pintor das “claridades mozartianas” e dos “nus ambíguos”, estará em Veneza com 23 obras, incluídas as três mais recentes: grandes telas pintadas em ter 1978 a 1980. O pessimista Carluccio, contudo, também não exclui as polêmicas sobre Balthus. Há os que dirão certamente-afirma Carluccio- que se trata de uma escolha reacionária.

HELY LIMA TEM OBRA DIVULGAA EM LIVROS

Fort Apache,South Bronx, favela de Nova Iorque
 pintada por Hely Lima
A original arte de Hely Lima, pintor baiano ,que nunca exibiu no Brasil, mas que se tornou sucesso nos Estados Unidos, vai ser publicada em dois livros. Um deles, que deve estar pronto para a abertura da exposição do pintor em Paris no mês de setembro vindouro, é inteiramente dedicado à arte, co pouco texto. O segundo, o qual ainda não tem o fixa para lançamento, é sobre a vida do pintor, sua vida América, suas observações sobre o povo americano. Aliás, o segundo livro representa a transformação, em palavras de  e comentários sociais, que o pintor já faz há muito tempo em seus quadros.
Lima acabou de fazer uma individual na Galeria Zoma New York, na Avenida Columbus. Segundo o produtor cinematográfico Billy Baxter, Lima é um bom investimento, e ele adquiriu onze trabalhos do pintor, quase que um terço de uma de suas exposições no ano passado. Dieter Bock, Frankfurt, Alemanha, adquiriu duas peças e tem opção para adquirir mais duas na exposição da Galeria Jean-Pierre Lanes, de Paris, em setembro vindouro. Michael Ryan de Vancover, Canadá, também adquiriu dois trabalhos e reservou direitos para a escolha de mais dois na próxima exposição de Livros, em New York, em setembro.
Segundo Jean-Pierre Lavignes, proprietário da Galeria Paris, os 30 trabalhos que Hely vai expor em setembro serão todos vendidos antes mesmo da abertura oficial. Jean-Pierre que representa Lima em toda a Europa e Ásia, já marcou exposições para o pintor em Monte Carlo, Cannes, Londres, Amsterdam, Düsseldorf, Bale e Tóquio.
Além dos livros, cujos direitos pertencem à Galeria Zoma de New York, e à Galeria Jean Pierre Lavignes, de Paris, A tiragem de 50 mil cartazes, 50 mil catálogos de 16 páginas em cores, um calendário para 1981 e 100 mil cartões postais serão colocados á venda no mercado internacional, no mês de agosto. Também em processo, um documentário para o Canal 04 de New York para exibição de costa a costa. Indiferentemente tudo isto, aloof como se diz na América, o que mais preocupa o pintor, no momento, é o retorno à sua vida normal são muitos compromissos. Ele trabalha 16 horas por dia o que deixa, muitas vezes, em estado de profunda fadiga.
Satirizar celebridades é um dos pontos fortes dos trabalhos de Hely Lima. Em Chuva na 8ª Avenida, trabalho baseado na peça da Somerset Maugham, do mesmo nome, L  transfere a ação para 8º Avenida e colocou Ed Koch, prefeito de New York como o reverendo Davidson, Ed Kock foi à Galeria Zoma, viu o trabalho em exibição e exclamou:-Genial, outra obra, “O sonho”, Jackeline Onassis é retratada dentro de uma lata de lixo fugindo de uma inundação. Na mesma peça, Nixon e Bete Davis aparecem nas mais estranhas situações. Segundo Lima, um sonho não faz sentido e igualmente o seu trabalho. Já Ronald Reagan, sob o nome de Ro Clairol aparece em Campanha Política com um horroroso anjo da guarda em suas costas. O que intriga mais o americano é a visão aguçada de Hely Lima para satirizar principalmente por ele ser estrangeiro e estar vivendo há apenas anos na América. Para os críticos, o modo que ele capta é muito original e por isso surgiu a ideia dos livros a respeito os quais, segundo experts, vão se tornar best sellers.

JOÃO AUGUSTO BONFIM

Ele chegou abafado. Trazia debaixo do braço dois quadros embrulhados e um classificador cheio de convites. O jovem forte e mulato tinha uma “cara conhecida”. Inicialmente, entregou-me um envelope branco e nele um bilhete de um amigo comum solicitando que desse uma força ao jovem pintor. Fiquei procurando lembrar de onde conhecia este rapaz. Não tive coragem de perguntar, de fazer aquela pergunta indiscreta e desconcertante: de onde lhe conheço? Pergunta tão comum entre aqueles que iniciam uma conversa. Não era evidente o caso . abri o catálogo que me entregara minutos antes, e lá encontrei a apresentação de Matilde Matos. Estava identificado. Trata-se do filho de Manoel Bonfim, do conhecido escultor da Iemanjá que recebe carinhosamente milhares de fiéis na praia do Rio Vermelho. Do mesmo Manoel Bonfim , que saiu da Bahia aborrecido com tantas injustiças, mas que voltou e nos encontramos em 2 de fevereiro deste ano, Dia de Festa no Mar estava abafado, igual ao seu filho em véspera de exposição. O Bonfim buscava uma casa para alugar e hoje está instalado no mesmo bairro do Rio Vermelho, na Rua Fonte do Boi,. E não poderia instalar-se em outro barro porque ali está sua Iemanjá para protegê-lo e espantar os aborrecimentos e injustiças. Identificado, pedido a João Augusto Bonfim que abrisse o pacote para que visualizasse os dois quadros que trazia debaixo do braço. Tive a sensação de um jovem que , nascido no Rio Vermelho, só poderia pintar coisas relacionadas com o mar ou mesmo com a cultura afro, tão bem representada pelo seu velho pai. Os quadros mostram barcos, pescadores e o mar azul. Evidente, que não apresentam uma linguagem definida. É um jovem pintor que começa a trilhar os caminhos difíceis em busca de uma linguagem plástica. Não é um pintor pronto. Mas, merece o respeito e o incentivo porque tem uma ferrenha vontade de vencer, de realizar um trabalho que se identifique com a sua personalidade. É preciso, no entanto, que procure novas informações para que saia do meio termo entre o primitivismo e outros caminhos menores.
Com a ajuda do seu velho pai sofrido, e experiente escultor João Augusto Bonfim chega lá. E por falar nisto, lembro-me que há alguns anos Bonfim mostrou-me alguns quadros de seus filho.Eram ainda rabiscos sem muita significação. Hoje, já posso afirma que está muito superior aqueles primeiros passos. É preciso continuar trabalhando, estudando, até o encontro da identidade plástica



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