quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

CATALUNHA RETRATADA PELO PINCEL DE FRANCESC PETIT - 6 DE ABRIL DE 1980.


JORNAL A TARDE, SALVADOR, 6 DE ABRIL DE 1980.

CATALUNHA RETRATADA PELO PINCEL DE 
FRANCESC PETIT
A efervescência política da Catalunha, os arabescos de Barcelona, a alma imortal e indomável do povo catalão, foram os temas escolhidos por Francesc Petit para retornar à pintura. depois de 12 anos de quase inatividade. A arquitetura catalã, o passado e o presente de Barcelona, fotografados com o coração, vistos com calor e a paixão de um reencontro marcado por 27 anos de ausência, está á mostra em cerca de 100 óleos e desenhos de Francesc Petit, no Museu de Arte São Paulo, até o dia 27 de abril.
Petit, depois de várias exposições individuais em Galerias de São Paulo e tendo participado de bienais em três oportunidades, afastou-se momentaneamente da pintura, passando a realizar apenas algum trabalho, de vez em quando, sem se preocupar em realizar uma obra. A necessidade de pintar, de desenhar, no entanto, ressurgiu ao realizar no ano passado uma viagem à Catalunha, sua terra natal, de onde saíra há 27 anos, no tempo ainda em que os sonhos e direitos autonomistas dessa região foram apagados pelas restrições impostas pelo governo central de Madri, chefiado pelo falecido generalíssimo Francisco Franco.
Ao desembarcar em Barcelona, capital catalã, Francesc Petit sentiu o ímpeto de correr em direção à casa onde nasceu. Estava lá, intacta, sem qualquer modificação. Mas a Catalunha já não é a mesma que resistiu silenciosa, tenaz e obstinadamente a quase quatro décadas do regime centralizador de Franco, numa luta ao mesmo tempo feroz para preservar seus costumes, sua cultura e sobretudo sua língua, então proibida de ser ensinada nas escolas, proscrita até mesmo nas conversas mais íntimas. Barcelona renasce, refloresce, bafejada pelos ventos liberalizantes do regime que substituiu ao centralismo franquista.
“Como se fosse um habitante de Barcelona, que mora lá a vida toda, simples, andava, andava e via e absorvia a minha cidade; parecia minha, de minha propriedade; amava tudo que via, o feio e o lindo, e fiz uma frase para minha mulher, Inês, pelo telefone: Barcelona é muito mais feia do que lhe falei, e muito mais bonita do que lhe falei. Apaixonado, assim é como se sentia, a sensação de falar catalão o dia inteiro, de ter em catalão, o nome das casas comerciais em catalão. A lixeira em catalão era maravilhosa, era voltar ao catalão que fui e vivi durante os primeiros dezessete anos de minha vida, e assim acabei, até, fazendo tudo o que os turistas fazem também, apesar de não gostar”.

NECESSIDADE DE PINTAR
Francesc Petit na década de 70.
Foto Google
Ao retornar a São Paulo, embevecido pelo que vira e sentira em sua Barcelona, Francesc Petit começa a sentir a necessidade de desenhar e pintar e começa então a se desvincilhar de uma apatia que o dominava há 12 anos, de uma desilusão quase que natural a qual somente os artistas mais afoitos se mantém incólumes.
“Com isto tudo, como posso ficar parado?- indaga Petit. “É necessário pintar, se comunicar, bem ou mal, com ou sem técnica, bonito ou feio, simples ou inteligente; mas diante de um mundo tão repleto de coisas emocionantes não é possível ficar olhando, tem que se pintar muito”.
Foi a volta à pintura e a Barcelona.
“Fiz alguns esboços, com muita vontade, e pouco a pouco estava definido o que fazer, não me refiro a uma obra de arte, mas a uma impressão da minha volta a Barcelona, que está latente e palpitante dentro de mim; queria pintar passeatas, protestos, greves, povo, dizer que a Catalunha está viva, como nunca tinha visto anteriormente”.
O palpitante reencontro com a terra natal, com os lugares da infância com os inimigos de tanto tempo, com o povo catalão e com um presente que vai aos poucos se ligando ao passado republicano e autonomista, como uma ponte que sobrepõe a um poço iodoso, obrigam Francesc Petit a retornar a Barcelona quatro meses depois, desta vez, acompanhado de sua esposa Inês. Queria mostrar a esposa tudo que vira e sentira, transmitir-lhe todo o entusiasmo.
No segundo retorno à Caralunha, Francesc Petiti teve um momento em que “vai ficar gravado pelo resto da minha vida”: foi apresentado a Mito, o principal pintor catalão vivo.
“Quase fiquei duro, confessa. Tremia, suava, gaguejava, esqueci, de tanta emoção: que felicidade a minha poder apertar a mão do maior gênio da pintura e, falando com ele em catalão, me achei um ser humano privilégio”.
E, seus desenhos óleos retratando a rebelde e encantadora Barcelona, Francesc Petit queria utilizar elementos de Miró para ficar bem claro um diálogo com aquele que hoje é o símbolo da nova Catalunha, da Catalunha universal de que todos falam tanto em todo o mundo.
“Mas, finaliza, como gráfico que sou, fui traduzindo a minha própria linguagem de forma e de cor: e acho este trabalho um figurativismo, gosto de usar tinta, pincel e tela, acho romântico, e Barcelona é romântica, deve ser pintada com boa tinta óleo, um bom pincel e uma boa tela, bem branca”.

HISTÓRICO
A exposição de Francesc Petit coincide com a última etapa do processo de reconquista de autonomia administrativa e política por parte da Catalunha e também do país basco. Esse processo se iniciou em outubro do ano passado quando o governo de Madri concebeu o estatuto de autonomia a essas duas regiões, que possuem hábitos, costumes, cultura e língua que diferem das demais regiões espanholas.
Na Catalunha foi realizado no dia 20 de março passado a eleição para o Parlamento autônomo, com direito a legislar e executar planos relacionados com a Cultura, Comércio Interior, Turismo, Indústria, televisão, etc. Ao parlamento cabe também escolher o governo autônomo local.
Tanto a Catalunha quanto o país Basco possuíam autonomia administrativa durante o breve período republicano espanhol, de 1931 a 1939. Com a deflagração da guerra civil e tomada do poder pelo generalíssimo Francisco Franco em 1939, é abolida a autonomia dessas regiões. Contudo, durante o período franquista, o povo catalão e basco insistiu no retorno ao processo de autonomia, obtido finalmente após a morte de Franco e ascensão ao poder em Madri de um governo democrático.

ARTE MARANHENSE NA GALERIA PORTAL

Iniciando o ciclo de exposições de 1980, a Portal Galeria de Arte de São Paulo apresenta trinta desenhos a nanquim que enaltecem a mitologia mística dos sertões maranhenses do artista Péricles Rocha.
Sobre sua obra, comenta Walmir Ayala: “O encontro das referências regionais e folclóricas, sobretudo no plano do fabulário e da festa, sobrevive na memória gráfica de Péricles Rocha. Seu desenho tem como protagonista os personagens do Bumba-Meu-Boi, os bichos e espécies vegetais autóctones aos quais, Péricles imprime uma categoria material próxima da terra e de madeira, do desenho primitivo e do decorativismo indígena. A fidelidade à voz primeira dos vigilantes da cultura popular funde-se em seu processo de análise à função jovem e vital de um cronista de memória poética.
Para se manter fiel às suas raízes, anualmente o jovem pintor faz questão de ir ao Maranhão visitar várias cidades, estudar as lendas e o ambiente pra pintar seus quadros e levá-los a diversas cidades.

RECONHECIMENTO
A preocupação com o aprimoramento e perfeição da técnica do desenho leva o artista a uma libertação maior das figuras, que se tornam mais universais, segundo sua própria explanação. Sendo que as cores marron e escuras deixam de predominar, passando a ter maior realce os tons verde, azul e vermelho.
Em meados de 1977, seu nome já atinge o mercado internacional, quando realizou exposições em Roma, Munique, Sttutgart e Nova Iorque. Na Europa e Estados Unidos, segundo ele, a arte brasileira começa a ter grandes aceitação, principalmente quando é acentuadamente brasileira, sem qualquer influência das escolas européia e americana.
Talvez por essa razão, ele tenha vendido todos os desenhos que expôs. Pois é um dos poucos desenhistas brasileiros que conseguem uma síntese artisticamente verdadeira entre o imaginário popular do Maranhão e as técnicas de expressão aprendidas
No Brasil, seus trabalhos já foram expostos na Bahia, Rio de Janeiro, Maranhão, Recife e em Brasília, onde, no ano passado, recebeu o prêmio 1º Documento de Artes Contemporâneas do Distrito Federal.
(prêmio máximo para o Desenho), com a obra “santos Pássaros Gêmeos”. Concurso promovido pela Funarte e julgado pelos críticos de arte, Hugo Auler, do Jornal Correio Brasiliense, Geraldo Edson de Andrade, do Rio de Janeiro, como também pelos artistas plásticos: Abelardo Zaluá e Yedo Thcez, da Funarte.

O EL GRECO DE  JIMMY CARTER

Inspirado numa declaração do presidente Jimmy Carter que disse ser El Greco seu pintor favorito o editor da revista ARTnews Milton Esterow solicitou ao desenhista David Lavine que elaborasse um desenho com a figura de Carter com a técnica do pintor espanhol do século XVI.
O resultado aí está nesta radiofoto distribuída pela UPI onde aparece a caricatura do presidente Jimmy Carter com as mãos entrelaçadas semelhante a um beato. Esta posição faz lembrar sua luta pra soltar os reféns que estão aprisionados pelos fanáticos do aiatolá Komeini, no conturbado Irã
Carter fez a declaração de sua preferência pictórica dizendo que EL Greco é um artista extraordinário, especialmente pela atmosfera de miticismo e modernismo em que distorce a forma física para enfatizar o caráter da pessoa que está retratando.






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