Localizado num majestoso sítio, que é o Solar do Unhão, o MAM-Ba vem enfrentando uma série de crises e má gestões. |
Mais uma crise se abate sobre o Museu de Arte Moderna da Bahia, que está acéfalo sem direção. Uma série sucessivas de crises vem contribuindo para que esta relevante instituição e espaço para os artistas baianos venha perdendo sua importância. Tudo isto é resultado de uma política cultural retrógrada que se abateu sobre a Bahia nos últimos vinte anos. Lembro que numa determinada gestão sumiu o Livro de Tombo, onde deveriam estar registradas todas as obras do acervo; acabaram com o Centro de Cultura Popular, que funcionava num galpão do conjunto arquitetônico do Solar do Unhão, cujo acervo foi organizado por Lina Bo Bardi; noutra gestão nem papel tinha para fazer um ofício; o pier permaneceu interditado por anos; fecharam o restaurante; realizaram bailes carnavalescos em seu pátio e uma reforma do sistema elétrico levou anos,nem sei se já concluiram. Enfim, o Mam quase sempre foi e continua sendo maltratado por governos e gestores colocados lá politicamente. Não basta gostar de arte, ser artista , crítico de arte ou museólogo.É preciso saber se o diretor é um bom gestor, se tem capacidade de gerir, de atrair colaboradores e público com suas ações para inserir o museu envolvendo os artistas baianos.
A bela escada idealizada por Lina Bo Bardi
foi inspirada no carro de bois. Não tem
pregos, tudo é encaixado.
Antes o MAM-Bahia era vinculado diretamente à Fundação Cultural da Bahia. Hoje, juntamente com os demais 11 museus está vinculado ao IPAC , que não tem qualquer expertise como gestor ou coordenador de museus. Este órgão já mostra total incapacidade de cuidar do nosso Patrimônio Histórico ,Artístico e Cultural que está visivelmente caindo aos pedaços. Centenas de casarões do Centro Histórico e seu entorno estão em péssimas condições, e para complicar transferiram para o IPAC a coordenação dos museus.
O museu chegou a atrair quase 200 mil pessoas por ano para sua sala de cinema, sua galeria ao ar livre, além da galeria na capela e os dois salões principais. Era um museu-escola respeitável e ajudou na formação de muitos artistas que estão ai no mercado de arte. Mesmo antes de fechar suas oficinas já mostravam fraqueza por falta de gestão, incentivos e verbas. Mas, na verdade o museu nunca integrou e prestigiou os artistas baianos depois da sua primeira década de fundado. Sempre teve um olhar para fora e não conseguiu criar um pertencimento, uma relação forte com a grande maioria dos artistas baianos. Sempre pequenos grupos foram beneficiados e conduziram o seu destino ajudados por gestores incompetentes.
Fundado em 1960 pela arquiteta Lina Bo Bardi que a convite do então governador Juracy Magalhães foi convidada para criar um museu-escola, trazendo sua experiência após a construção do Museu de Arte Moderna de São Paulo, juntamente com seu esposo Pietro Maria Bardi.Inicialmente o museu foi instalado no foyer do Teatro Castro Alves , e já em 1963 foi definitivamente transferido para o conjunto arquitetônico do Solar do Unhão, datado do século XVIII. O casal tinha esta concepção de um museu escola em movimento dai a realização de cursos e estratégias para a construção de público e abrir o museu para a comunidade. Expõe na Exposição Nordeste no Ibirapuera, em São Paulo ,várias peças coletadas em várias regiões do Nordeste Brasileiro como em Pernambuco,Ceará, Bahia , dentre outros estados. Foi dai que surgiu a oportunidade dela vir criar o MAM aqui. Estas peças iriam participar de uma exposição numa feira de designe em Milão, na Itália, mas houveram uns contratempos e ficaram encaixotadas por anos no porão do MASP.
As Oficinas de arte sempre interrompidas.
Lembra o artista Justino Marinho que " a direção do MASP ,onde as peças estavam num porão , conseguiu que o Governo da Bahia através do Diretor da Fundação Cultural, Geraldo Machado trouxesse as peças. Durante muitos anos estas peças ficaram encaixotadas num depósito da entidade e muitas se perderam. A maioria foi restaurada pela museóloga Mary do Rio e estão expostas no Museu do Solar do Ferrão."
Peças de cerâmica nordestina. Ilustração do
Museu do Ferrão.A arquiteta italiana conseguiu imprimir muitas atividades e o MAM era realmente um centro vivo de cultura com várias exposições importantes e formando um acervo considerável com obras de grandes artistas. Ela inclusive fez algumas viagens ao interior do Nordeste documentando e adquirindo peças do artesanato popular que foram expostos em São Paulo durante a V Bienal Internacional . Depois as peças vieram para o MAM, e ela montou num galpão do mesmo conjunto arquitetônico o Centro de Cultura Popular com inúmeras peças utilitárias e até mesmo do vestuário nordestino coletadas nos anos 50 e 60. Sua origem foi a coleção de Martim Gonçalves, que dirigiu a Escola de Teatro da Ufba, e posteriormente ampliado por Lina . Com seu olhar atento ela conseguiu reunir um acervo considerável deste material com peças utilitárias e figurativas,carrancas,ex-votos,imaginária, esculturas em cerâmica, fifós, panelas de barro,brinquedos,dentre outros. Fez uma pesquisa de caráter etnográfico. No início deste ano as peças reapareceram, e estão agora em exposição permanente no Solar do Ferrão.Museu Escola Comunidade o seu programa cultural foi diversificado com cursos de artes plásticas, xilogravura , litogravura, serigrafia,escultura em madeira, cerâmica, na opinião de Juarez Paraíso. Os alunos tinham assistência individual sem interferir no criativo de cada um. De 1980 a 1988 segundo ele não houve até que chega a Solange Farkas, de São Paulo, e fecha as oficinas e acabou com o único salão de artes plásticas que tinha e que fora criado pelo ex-diretor Heitor Reis.
As oficinas voltaram tempos depois, porém nunca mais tiveram aquele caráter criativo e educativo , e não atriaram tantos talentos como na sua primeira fase. Hoje, estão fechadas como também o próprio museu.
MOVIMENTO
Pátio do Solar do Ferrão, usado para
apresentações musicais , teatrais e exposições
ao ar livre.Cheguei a enviar várias mensagens para os artistas baianos no sentido de nos movimentarmos com vistas a abertura e revitalização do Museu de Arte Moderna da Bahia . É inadmissível que o MAM fique fechado .Acho que tem que ser um movimento em prol do museu que vem sofrendo nas últimas décadas um esvaziamento e descaso do Governo. Este movimento deve ser apartidário, e o seu objetivo deveria ser o fortalecimento do MAM e a volta de suas oficinas, que tantos talentos incentivou.A pandemia não é motivo para esta leniência dos responsáveis pela produção das artes visuais em nosso Estado. Entendo que todos nós temos responsabilidades para com esta instituição e podemos através de ações , divulgação e critica a este descaso conseguir a sua abertura , e principalmente exigir a sua revitalização. Não adianta só abrir e ficar na letargia que vem há quase duas décadas.
As reações e respostas foram diversas. Uns alegaram a dificuldade de uma ação devido a pandemia, outros que tinham solicitações junto à Secretaria de Cultura e isto poderia prejudicá-los, outros que o museu sempre esteve distante dos artistas baianos e que beneficia apenas grupos específicos. Alguns mais afoitos falaram em ocupação . Enfim, a ideia está posta. Não quero liderar nada. Quero participar, ajudar . Falei que no primeiro momento criaríamos uma comissão e marcaríamos uma entrevista denunciando o absurdo; faríamos um documento assinado por um grande número de artistas , e a terceira etapa seria uma manifestação na frente do Solar do Unhão denunciando o descaso para com o MAM.