JORNAL A TARDE,SALVADOR, SÁBADO, 16 DE
SETEMBRO DE 1978
Estofados desenhados por Charles Pfister |
Poltrona desenhada por Charles Pfister |
Nascia o design, sóbrio,
funcional, limpo, puro, onde cada traço correspondia a uma necessidade de uso,
sem que isto prejudicasse a forma em seu todo. Obedece a critérios determinados
que satisfazem a valores estéticos e de funcionalidade, não se admitindo mais
hoje um desenho arbitrário de uma peça, mesmo a mais simples.
Era o equacionamento entre a arte e artesanato,
unindo-as, misturando a arte e a técnica, propondo-se a integrar a arte com a
indústria em expansão do século XX.
Hoje a sua aplicação é universal,
desenvolvendo-se praticamente em todos os campos. O critério para um bom
desenho pode ser aplicado não apenas a uma cadeira, automóvel ou máquina, mas
igualmente na embalagem de produtos e até no desenho mais simples de um lápis.
A palavra design,, antes uma
simples expressão inglesa significando desenhos em geral, passou a ser
internacionalizada para definir o desenho industrial.
Charles Pfister era um dos sócios e diretor o departamento de design interior da Skidmore, Owings & Merrill.Estabeleceu sua própria empresa, somente em 1981, com escritórios em San Francisco e Londres.
Foi muito admirado pela elegância de seus projetos para interiores e design de seus mobiliários, estudou arquitetura e design na University of California, Berkeley.
Muitos ainda devem lembrar-se da
grandiosa exposição que foi montada há poucos anos no Solar do Unhão, que
mostrava vários móveis e outras criações, frutos de integrantes da Escola
Bauhaus, que foi criada na Alemanha por volta de 1920. Esta escola tem destaque
especial em todo o mundo porque foi a
primeira escola a rejeitar as abstrações das academias de arte e o diletantismo
das escolas de artesanato.
Ela surgiu da união da Escola de
Belas Artes e da Escola de Artes e Ofícios sob a direção de Walter Gropius. Foi
este artista que começou a dar à arquitetura e ás demais artes, uma nova
feição, se opondo diametralmente a todas as tendências da Art Nouveau. Reunia,
entre seus mestres, os mais famosos nomes da arquitetura, da pintura, da
escultura e demais artes aplicadas. A Bauhaus foi e continua sendo um marco
decisivo da arquitetura moderna e podemos sentir até hoje a sua influência em
vários segmentos da arte contemporânea.
Nascia assim o estilo Bauhaus,
que se definiria por sua clareza, limpeza, despojamento, aliando o belo ao
útil, mas nunca um prevalecendo sobre o outro.
Esta escola revolucionava e não
deixou de ser fechada por ordem de Hitler, mas suas ideias sobreviveram e
alguns móveis desenhados entre 1925 e 1930 são ainda considerados avançados,
modernos. Para entendermos a importância desta escola é preciso conhecer as
obras de seus mestres e seguidores, entre eles Mies van der Rohe, Marcel Breuer
e Morrison e Hannah.
Agora a Forma nos traz com
inauguração de sua filial, toda a coleção internacional Knoll e Cassina e o
design brasileiro. A exposição foi inaugurada no último dia 14, na Rua Humberto
de Campos, 22, Graça.
MÓVEL
De lá para cá o desenho do móvel
sofreu uma transformação radical que modificou hábitos de vida. Desde 1900 para
cá que ela vem se processando e há poucos anos elas estão incorporadas a nosso
cotidiano.
Da construção pesada, maciça do
móvel de madeira, chegamos à leveza conseguida graças às novas estruturas
metálicas.
À esquerda uma poltrona desenhada por Wassily, e à direita Barcelona, de Mies van der Roche são marcos revolucionários no design de móveis.
À esquerda uma poltrona desenhada por Wassily, e à direita Barcelona, de Mies van der Roche são marcos revolucionários no design de móveis.
Em 1954, Eero Searinem, nos
Estados Unidos, começa a trabalhar com a fibra de vidro e cria a coleção de
mesas e cadeiras conhecidas como linha pedestal.
Hoje Bauhaus ainda está presente
e tudo que vem sendo criado ainda está sob a influência de suas idéias. O próprio conceito do design tem
sua origem no Bauhaus. Aço e cristal são os materiais de hoje. Despojamento de
formas, clareza, equilíbrio são critérios estéticos atuais.
PAINEL DE JOSÉ ARTUR NO AEROPORTO
Um painel de seis por 2,50 metros acaba de
ser montado no Aeroporto Dois de Julho, contribuindo para o embelezamento do
local. É de autoria de José Artur, que usou como suporte madeira aglomerada, e
uma temática onde mostra os feirantes, numa localidade do Recôncavo Baiano. O
painel está na sala de recepção, e na sala VIP estão alguns quadros menores.
Considero este painel da mais alta qualidade por sua temática, pela maneira que
flui o desenho, especialmente dos vasos e das figuras que surgem à frente das
velas enfunadas dos barcos. Sem dúvida pictórica. Os espaços são também bem
utilizados dentro de uma lógica que permite uma composição equilibrada.
OUTRO SALÃO DA CIDADE DE JUNDIAÍ
A Associação dos Artistas Plásticos de
Jundiaí, comemorando o seu quarto aniversário, irá inaugurar no dia 14 de
outubro o seu 3º Salão de Arte Contemporânea, que aceitará trabalhos de
artistas de todo o país no período de 23 de setembro a 7 de outubro, podendo as
inscrições serem feitas no Centro Cultural Bandeirantes, à Rua dos
bandeirantes, 103, Jundiaí, das 13 ás 18 horas.
Para efetuar as inscrições, os
artistas devem preencher uma ficha á disposição no Centro Cultural Bandeirantes
e pagar a importância de 100 cruzeiros para cada categoria de obras (pintura,
desenho, gravura, escultura, fotografia),podendo inscrever em cada uma delas
até o total de três.
As obras serão selecionadas e
julgadas por uma comissão formada por três críticos, e aquela que for
considerada a melhor do certame será adquirida, assim como a melhor de
expositor jundiaense. O patrocínio do III Salão de Arte Contemporânea da AAPJ é
da Secretaria de Educação, Cultura, Esportes e Turismo de Jundiaí, que se
encarregará da premiação oficial, sendo que poderão ser ofertados outros
prêmios de Aquisição não oficiais. A mostra ficará aberta à visitação pública
no Centro Cultural Bandeirantes até o dia 28 de outubro, e os prêmios serão
entregues na abertura do Salão.
MERECE APLAUSOS E RESERVAS
Cena do curta Um Filme Como os Outros, de Luís Renato Martins |
VII Jornada Brasileira de Curta Metragem, que com a ausência irreparável de Paulo Emílio de Salles Gomes, recentemente falecido.
Assim de 8 a 15 de setembro tivemos
reunidos no Instituto Goethe de Salvador, cineastas e aprendizes de cinema de
vários estados brasileiros e foram exibidos filmes e feitos muitos debates. O
que não entendi foi a inclusão de alguns filmes de péssima qualidade e que
chega a constituir uma mancha na promoção. Estive na Jornada por umas três vezes e assisti a
muitos filmes fiquei surpreso com a má qualidade de muitos e também com a falta
de nível dos debates. Lá compareceram figuras folclóricas e já manjadas de
promoções semelhantes, falando uma porção de asneiras, contribuindo apenas para
denegrir os debates. Por outro lado, muitos dos participantes não sabiam nem ao
menos explicar porque tinham escolhido o Cinema Como Forma de Expressar suas
ideias. Tive conhecimento também que um deles chegou a ficar despido diante das
críticas em sinal de protesto. Este detalhe demonstra exatamente o desespero de
alguns .
Me chamou a atenção os filmes
Arrastão de Beira de Praia, de Alex Mariano Franco e Egotismo, de Martins
Muniz, de Belém do Pará. Ora, esses dois filmes são exemplos da coisa mal
feita, da falta de técnica e de conhecimento de cinema. Enfim, esses diretores
têm conhecimento apenas de coisas ruins.
Rolos e rolos de filmes
estragados, jogados fora, enquanto outros cineastas de talento não dispõem de
dinheiro para executar suas idéias. O filme do pessoal do Pará funcionou ao
contrário. O seu idealizador pretendia jogar cenas dramáticas e conseguiu que
os assistentes rissem em plena projeção e no momento crucial. Leia-se momento
que ele desejou maior dramaticidade justamente quando o personagem principal
enfia uma faca na barriga. Cenas insólitas, grotescas, mal interpretadas.
O outro Arrastão de Beira de
Praia, do pessoal do Rio de Janeiro mostrou algumas cenas de pescadores na
praia puxando a rede. Verdadeiro cartão postal, cenas repetidas e ainda por
cima foi prejudicado pelo sistema de som do Icba que está merecendo um reparo
imediato. Não sou crítico de cinema, mas como jornalista e homem ligado á
Comunicação de modo geral fiquei desapontado. Acho que deve ser feita uma pré-
seleção e isto não é castração. Acho que devem haver critérios para não
prejudicar o bom nome da Jornada. E como sugestão, acredito que os filmes não
aceitos poderiam ser exibidos e discutidos em sessões paralelas. Nunca integrar
a mostra principal porque dentro de pouco tempo vai prejudicar a promoção. Esta
observação que faço é apenas no sentido de colaborar, de chamar a atenção dos
organizadores , porque no momento em que você deixa um filme de qualidade zero
ser exibido e constar do catálogo vai servir de ponto no currículum do tal
cineasta, que continuará a fazer porcarias. Além de promover acho que a Jornada
tem o papel de educar, informar e separar o joio do trigo. Esta posição para
exibir tudo é simpática, mas prejudicial.