domingo, 28 de julho de 2013

O NÓ DE LIANE KATSUKI

JORNAL A TARDE, SALVADOR,  SÁBADO, 07 DE OUTUBRO DE 1978


"O nó é positivo. O nó é negativo", afirma Liane Katsuki que juntamente com Bethânia Guaranis e equipe ganharam o 1º Prêmio no 1º Salão de Artes Plásticas da Bahia. Um trabalho político integrado, onde  movimentação dos corpos dos bailarinos insinuam as prisões, os grilhões e os nós que o homem moderno vem enfrentando em várias partes deste mundo conturbado. O Nó, de Liane Katsuki é um projeto de arte integrado cuja ambientação cênica, escultura e jóias são de sua autoria e a dinâmica corporal de Bethânia Guaranis e equipe. A ideia é centrada nos freios, preconceitos morais, políticos e sociais e é como um alerta, um chamamento ao inconformismo, ao combate a estes freios. Plasticamente perfeito, o trabalho merece ser reapresentado em outros locais com uma maior divulgação para que outros artistas vejam a importância de um trabalho de equipe. Que os cintos de castidade e outros símbolos repressivos caiam e deixem que Liane Katsuki desate os nós que infestam a cabeça de muita gente.

              OS DIABOS DE JACQUES ARPIN

Satanás é o nome que a Bíblia dá ao chefe dos anjos rebeldes, e diabo é talvez a designação mais usada pelo brasileiro para falar de coisa ruim, má ou terrível. Porém, o Jacques Arpin não é brasileiro mas aqui está, mais exatamente em Salvador, onde vem desenvolvendo um trabalho psiquiátrico junto às populações de baixa renda sem receber quase remuneração. É um homem consciente do papel de médico e do que ele profissional pode fazer pelo semelhante. Aqui conheceu muitas variações de doenças e outras manifestações, tão desconhecidas de sua terra natal, a Suíça.
Diante de seus contatos veio a ideia de transportar para o visual o sofrimento daqueles que tanto lhes tocam n’alma e também a mesquinhez, a vaidade de tantos outros que vivem no mundo irreal desprezando os semelhantes. Mas para falar de coisas ruins só podia escolher um símbolo perfeitamente identificado com elas. E assim o fez escolhendo a figura do diabo que representa as doenças e outras manifestações no pobre ser humano. É uma abordagem muito pessoal e em determinado momento sentimos que Arpin deseja mesmo é satirizar ou chocar as pessoas que se identificam com seus diabos.
Como diz Carybé no catálogo de apresentação, Arpin, além de médico é músico: música erudita ou música pop, em conjuntos trabalhou como solista. Fez teatro e agora nos apresenta 54 desenhos inspirados no mundo da medicina. São desenhos que chocam algumas pessoas menos avisadas, porque lembram gárgulas de velhas catedrais góticas, figurações visuais das enfermidades que o homem carrega em si.
É um homem preocupado com o sofrimento alheio e vem fazendo um trabalho de psiquiatria através da cultura, da raça, do meio e das limitações de informação de seus pacientes. Não vê simplesmente a doença e sim todo um contexto que cerca o seu paciente. Não acredita na medicina do objeto, do comércio, quer sentir um pouco a vida do paciente para procurar ajudá-lo da melhor maneira possível. Seus desenhos tem muito desta preocupação de mostrar a realidade da vida e, ás vezes, através de certas visualizações satíricas consegue alcançar de imediato este objetivo.

                 III SALÃO NACIONAL UNIVERSITÁRIO

Entre 412 trabalhos expostos no III Salão Nacional Universitário de Artes Plásticas realizado em Vitória, no Espírito Santo na categoria de pintura Antônio Murilo Ribeiro ou Murilo ganhou o segundo prêmio no valor de CR$10 mil cruzeiros. Ivo Vellame foi um dos participantes da comissão e o Grande Prêmio Governo do Estado no valor de CR$30 mil cruzeiros foi outorgado a Alberto José Costa Borba (Bel Borba).
Agora Murilo abriu uma exposição na Galeria Macunaíma e tem na íntegra por achar que reflete exatamente o meu conceito sobre o trabalho de Murilo.

MURILO E SUA SÉRIE CASA
Detalhe de uma das obras da série Casa, de Murilo
A década dos anos 70 tem sido muito marcante, muito significativa mesmo. Em 1976, justamente há dois anos passados, ele fazia a sua primeira individual. Na apresentação, procurei chamar a atenção dos espectadores para a seriedade da pintura deste jovem que resolvera se dedicar completamente ao misterioso mundo da arte, de que se tratava de uma vocação indiscutível e, jamais seria um artista sem obras.
Murilo mostrava nesta primeira individual uma pintura  de caráter onírico expressionista, povoava suas telas de contritos frades, de mães famintas que abraçam filhos desnutridos, enfim, questionava a miséria. Estava fascinado pela figura humana.
Em 1977, numa segunda individual, expõe mais de duas dezenas de trabalhos que ele com muita propriedade denomina de Lavagem Cerebral. Nesta exposição surpreende o público e os críticos de arte baiana com suas figuras planas, altamente esquematizadas e surpreende muito mais ainda pela grande riqueza de ideias. Lavagem Cerebral é sério conteúdo social contestatório, traduz a arrogância dos poderosos do mundo, denuncia os magnatas e cartolas que existem em todo o orbe a costurar a boca dos pequenos.
Agora, em 1978, na sua casa /atelier das Ubaranas, bairro apertado entre Amaralina e Pituba, Murilo prepara sua individual . Casa é o nome dado por ele ao conjunto de obras que será exposto.
Acredito ser interessante lembrar ao inteligente e sensível público da Macunaíma que os trabalhos que compõem esta fase, foram precedidos de obras de exposição apresentadas pelo artista no I Salão Universitário Baiano de Artes Visuais (MEC/ Funarte/UFBa.) em julho, intituladas Cavalo de Tróia, Arca de Noé e Ônibus obras plasticamente austeras, recordações da infância, formas apanhadas no subconsciente de artista, construções abstratas, tensas, sem coisas. Murilo não queima etapas, sua produção artística segue um desenvolvimento lógico e muito disciplinado.
Conversei muito com o artista em seu atelier sobre Casa . Para Murilo trata-se de conceituar Casa no sentido mais amplo possível  - é abrigo da fé, do homem, dos sonhos, das ilusões, das esperanças, das alegrias como das tristezas. Casa como passado, presente e futuro; como algo permanente em nós: como substância de nós mesmos ou da mesma qualidade de quem nela reside; testemunho das pessoas e das coisas desde o paleolítico superior aos dias atuais, testemunho das pessoas, dos bichos e das coisas das cavernas aos conjuntos habitacionais do BNH. Registro das nossas expressões corporais e sonoras. Casa que habitamos e que habita em nós e, dela nada mais somos que orgânicos como Casa vida / morte / vida. Permanente presença / presença permanente.
Nas telas e nos tanques emborcados com suas cinco faces pintadas, pinturas sobre volumes de eternite, fixa formas inarticuladas, íntimas e profundas visões , de difícil leitura, impossíveis à percepção superficial, inabordáveis sem uma aproximação do espectador com a teorização, motivação dada pelo artista.
Na sua linguagem plástica, além das formas dominadoras, construções núcleos, inúmeros signos circulares, xadrezados, verticais paralelas, forte sugestões da arte rupestre, assina as obras A Dona da Casa, O Novo Morador, Breve História da Nossa Família, A Família, Um Desejo de Nunca Alcançar, Farto Fardo de Lembranças, Ainda Me Lembro Daquela Sexta-feira, etc. Toda cosmovisão mágica tem uma significação profunda no que diz respeito a importância da Casa para o homem e do homem para a Casa. Nesta mostra, experiência nova o artista inventa-se, modifica-se. Vale-se de uma abstração mais geral e abarcadora e afirma a sua capacidade de materializar conceitos, anulando intencionalmente a informação visual realista.

    GALERIA NACIONAL DE ARTE DE WASGHINTON

Foi inaugurado o novo edifício da Galeria Nacional de Wasghinton composto de espaço para ópera, museus, salas de concerto e similares.
Mas, em última instância quem determina o sucesso ou o malogro do empreendimento é o homem comum, o cidadão da rua. Assim, depois de retirado o último copo do coquetel, depois de consumido o último salgadinho e cortada a fita inaugural, o público invadiu cuidadosamente a mais nova das jóias culturais de Wasghinton, A Galeria Nacional de Arte.
Graças aos meios de comunicação àquela multidão estava perfeitamente informada sobre o que iria encontrar. Os jornais de Wasghinton, de Nova Iorque e do país inteiro além das revistas e de todas as redes de televisão haviam documentado em pormenores o edifício e o seu conteúdo em uma série de artigos e programas dedicados à inauguração, a1º de junho. A primeira coisa que se nota, pelo simples motivo de estar de fato capacitada a captar a atenção do visitante, visual e fisicamente, é a sinuosa arquitetura interna que se resolve por uma série de rampas, elevados, escadas rolantes, paredes, janelas, balcões e árvores de fícus em harmoniosa disposição. Tudo muito fácil de se aceitar, em nada contrastante com o todo.
Deixando de lado  a multiangular amplidão arquitetônica da área e a estimulantes atmosfera reinante, percebe-se que estamos cercados de obras de arte que, mais do que se imporem a nós, crescem diante dos nossos olhos.
E agora, uma incursão pelas galerias. A exposição mais ansiosamente aguardada da fase de inauguração do edifício, e conforme se apurou, a única para qual se reservaram espaços grandes  de coleções de arte que prevaleceu entre os habitantes da Saxônia durante o século XVI, tendência que se estendeu até a Segunda Guerra Mundial.
Exposição em 2010 das litografias de Munch
Do vestíbulo de exposições do nível inferior , onde foram apresentados os objetos de Dresdem com a cooperação do Governo norueguês, serão expostas a seguir os trabalhos de Edvard Munch, os visitantes voltam ao pátio interno e sobem depois pela escada rolante ou pelo elevador, às galerias superiores. No Museu, até mesmo o sistema de transporte são obras de arte. A escada rolante, esculpida em uma fenda de um dos lados da parede de mármore;os elevadores, de aproximadamente 3,5 metros por 6,00 metros, verdadeiras saletas; e o transportador de pessoas, motorizado, no túnel subterrâneo , prateado, intergalactíco e frio.
As galerias do nível superior são verdadeiros andares. Aqui, as duas principais atrações são uma homenagem  a Aspectos da Arte do Século XX, em três partes, e um tributo em sete sessões.A Arte Americana de Meados do Século, A Exposição Contemporânea centraliza-se em Picasso e no Cubismo em vários pintores e escultores europeus e nos recortes dos últimos anos de vida de Matisse, quando ele já estava doente demais para pintar.
É maravilhoso subir pela escada em espiral até a torre da nova ala da Galeria, para ver a obra de Matisse. Temos a sensação de estar num estúdio do artista, e quando lá fora o sol se esconde nas nuvens, os pesados feixes de luz que inundam o ambiente, parecem fluir de dedos invisíveis, o que empresta tom dramático ao engenhoso e arrojado projeto arquitetônico de I.M.Pei, por sua solução do emprego da luz.

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