domingo, 28 de julho de 2013

I BIENAL LATINO-AMERICANA

JORNAL A TARDE,SALVADOR,  SÁBADO, 04 DE NOVEMBRO DE 1978


Inaugurada ontem a I Bienal Latino-Americana, nasce de contradições de promoções anteriores, instalada no Parque Ibirapuera, em São Paulo participam artistas do Brasil, Paraguai, Chile, Colômbia, EL Salvador, Equador, Hunduras, México, Peru, República Dominicana, Uruguai, Venezuela, Bolívia e Argentina.
A ideia da realização desta bienal remonta algum tempo e foi pensada por Francisco Matarazzo Sobrinho e alguns críticos latino-americanos. Assim a Bienal Nacional foi absorvida por esta, passando a acontecer nos anos pares, enquanto a internacional continuará a ocupar os anos ímpares.
Para muitos a primeira contradição está na própria filosofia desta transformação, outros consideram indigesta e limitada do ponto de vista geográfico. Esses últimos são contra os regionalismos que não levam a nada porque a arte  deve ter fronteiras. Mas os impasses vão além das discussões conceituais sobre os objetivos da bienal pois muitos criticam a temática central Mitos e Magia a qual não foi bem recebida por grande número de artistas.
Os organizadores pretendem diferenciá-la dos anos anteriores com a ideia de que esta deve ser mais informativa, com orientação ao público que a visitará. Logo na entrada colocaram um grande painel, didático sobre a promoção.
Não houve inscrição para participação, porque os artistas foram convidados, e das 99 manifestações enviadas à bienal, o Conselho selecionou 15. Dez propostas participaram da área de documentação, entre elas um filme da atriz Norma Benguel. Paralelamente acontece um simpósio que vai até o próximo dia 6 do corrente, sob a coordenação, de Juan Acha, onde se discutirá os temas Mitos e Magia na Arte latino-americana, Problemas gerais de arte latino-americana e as propostas das próximas bienais latino-americanas.
Um detalhe curioso é que o critico e diretor do MASP, Pietro Maria Bardi, considerado um ferrenho condenador de bienais estará expondo numa sala seus conceitos sobre Mitos e Magia, tudo exemplificando com obras artísticas dispostas pelo seu espaço nesta Latino-americana.
Outro detalhe é que inexplicavelmente não foi confeccionado o cartaz costumeiro. Isto porque dos 83 cartazes que concorreram ao prêmio em agosto último o júri não aprovou nenhum deles alegando ausência de nível das propostas e da qualidade gráfica dos trabalhos inscritos.
Fruto de uma estrutura de 27 anos, e mesmo sofrendo algumas modificações a bienal carrega o grave peso da deteriorização do sistema administrativo. Lembro apenas que em julho deixaram a Fundação o crítico Jacob Klintowitz e a artista Maria Bonino membros do Conselho de Arte e Cultura e ainda a crítica Ernesta Karman e o artista Antônio Lizarraga.
Assim para vencer alguns obstáculos a bienal recorre a uma campanha publicitária produzida por uma agência especializada a DPZ.
Portanto, a bienal abre suas portas debaixo de uma grande avalanche de críticas e descontentamentos. Vamos aguardar os resultados com certa atenção já que nela se pretende mostrar um painel da arte latimo-americana.

GRUPO ARGENTINO CAYC

Jorge Glusberg, já falecido, 
que dirigiu o Caic 
Participando da I Bienal Latino-americana de São Paulo o grupo argentino Centro de Arte Y Comunicacion (CAYC) que arrebatou o primeiro lugar na última bienal internacional.
O trabalho agora apresentado está centralizado em Mitos do Ouro.Para o grupo, o ouro, a prata e o cobre foram utilizados pelos índios para elaborar jóias, adornos e certos utensílios. A idade do ferro jamais foi um produto autocno no continente sul-americano. Das 150 substâncias provenientes dos reinos animal, vegetal e mineral que a humanidade tem utilizado, o ouro é a mais apreciada. Estimam em 80 mil toneladas de ouro que tenha sido extraído da terra, os quais tem múltipla virtudes, desde a sua resistência e maleabilidade.
O ouro é uma substância palpável, escassa e tem o valor intrínseco porque revela segurança e prestígio.
O poder humano como todas as relações sociais, é simbolizado em substâncias significativas que se convertem na manifestação semiótica de tais relações.
È dentro desta visão que o grupo CAYC vê o ouro, dentro de um sistema de relações sociais que estão imersos. Basta lembrar que muitos trabalhos acerca deste metal, desde  a época dos faraós egípcios até os nossos dias tornam exótico e fascinante, além de determinar regras do sistema econômico mundial.
Obra de Alfredo Portillos
Alfredo Portillos
Para eles o valor artístico parece com o mito do ouro. Existem possuidores de grandes quantidades de obras de arte que se constituem em patrimônios individuais ou institucionais. Do mito do ouro como fetichismo do valor passamos assim ao mito da capacidade de acumulação de qualquer coisa que represente um valor socialmente estimado. E se há algo que se oponha a este espírito acumulativo ou extrativo é a criação artística como tal.
O ouro é o objeto de arte valem pelo que são, isto é por seu lugar em uma rede de critérios de prestígio, socialmente determinados.
Obra de Jorge Gonzalez Mir
No terreno da arte a história nos mostra uma relação estreita entre os materiais nobres e a execução das peças de arte. Não se trata de um fenômeno aleatório.
O ouro existe em todos os continentes e debaixo dos mares. É uma substancial universal, da mesma forma que a arte que está também está presente em qualquer ato da vida humana e é indissociável dela.
É dentro desta ideia que se desenvolve o trabalho dos integrantes do CAYC com trabalhos de Jorge Gonzalez Mir, Victor Grippo, Vicente Marotta, Leopoldo Maler, Jorge Glusberg, Alfredo Portilos e Clorindo Testa.

      INIMÁ DE PAULA E AS PAISAGENS 

 A paisagem vem há mais de 26 anos exercendo uma atração surpreendente à sensibilidade de Inimá de Paula. Nascido em 1918 em Itanhomi, Minas Gerais ele segue cedo para o Rio de Janeiro e em seguida para o Ceará onde funda o Grupo Cearense que era integrado que era integrado por Aldemir Martins e Antônio Bandeira. Pintava naturezas-mortas e paisagens. Em 1946 retorna ao Rio de Janeiro deixando seus companheiros de grupo mas mantendo-se expressionistas ao longo de sua carreira, com exceção de uma fase abstrata influenciado por uma viagem a Paris, quando o prêmio de viagem no Salão Nacional de Arte Moderna de 1952.
Iminá pintou no seu primeiro período de permanência no Rio, paisagens urbanas sobretudo muitas casas antigas da Cidade Nova e Santa Teresa. Esses quadros seguidos de alguns retratos são representativos e disputados pelos colecionadores. Conhecedor da sua obra Roberto Pontual afirma que "as paisagens mineiras de Inimá, sobretudo as de Ouro Preto, divergem dos quadros de Guinard... Mas, se as soluções de Guinard são quase sempre pictóricas, as de Inimá tem vista outros desígnios, inclusive de ordem espacial ou arquitetônica, embora também o artista se  preocupa em impor uma subjetividade à composição, obedecendo, nesse particular, a uma característica dos pintores expressionistas."
Ele expõe em 1954 em  Salvador no Salão Baiano de Arte Moderna. Em 1954, recebeu a Medalha de Prata, além de expor em vários países e ter conquistado muitos prêmios em salões oficiais. Esta é a sua segunda mostra individual porque em 1952 fez uma mostra na saudosa Galeria Oxumaré, na Ladeira de São Bento.
Ele volta com a apresentação de Wilson Rocha que fala de sua vinculação com a terra," pintor de um mundo abundante. Mas esse mundo está ameaçado por catástrofes, por fatais violências desencadeadas contra o homem."
Sua exposição será aberta no próximo 9 de novembro com 20 óleos, na Galeria Katya, no salvador Praia Hotel.
Nota - Nascimento7 de dezembro de 1918, Itanhomi, Minas Gerais
Falecimento13 de agosto de 1999, Belo Horizonte, Minas Gerais
Morte13 de agosto de 1999 (80 anos); Belo Horizonte
                           PAINEL

MANU - é a mais nova casa de arte que inicia sua existência em pleno centro nervoso de Salvador, a Rua Chile. O que se desliza das suas paredes, o que encanta os olhos, o que invade o seu espaço são alternativas diante deste mundo industrializado e estereotipado. Ela fica na Rua Chile, 3, sala 209. Vá lá.
O Dircinho estará à sua espera.

DESENHOS- Cildo Meireles está expondo na Pinacoteca do Estado de São Paulo. São 17 obras realizadas no ano passado, em técnica mista das séries Brasília e Campos. O artista pertence ao núcleo dos jovens da década de 60, época do florescimento do Objeto e das aberturas da arte experimental.

EXPERIÊNCIA- O Nuclearte no Parque da Cidade, e pertencente à Secretaria Municipal  de Educação e Cultura iniciou sua primeira experiência com um atelier de xilogravura sob a orientação de Isa Aderne. Os trabalhos são realizados aos sábados das 9 ás 11 horas com duração de três meses. Poderão participar jovens e adultos. No máximo 15 pessoas.


CONVIDADO- O tapeceiro Juarez Maranhão acaba de ser convidado para fazer uma exposição em Montevidéu, na Galeria Aramaio através do seu diretor Roberto Pérez Soto. A mostra deverá acontecer em fevereiro do próximo ano e seria feita simultaneamente com a pintora Lygia Milton e poderá contar com ajuda das embaixadas do Brasil no Uruguai. Foto.










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