terça-feira, 25 de junho de 2013

GRUPO ETSEDRON VAI À BIENAL

JORNAL A TARDE, SALVADOR,  SÁBADO, 31 DE MAIO DE 1975

Detalhe do trabalho que será levado à
Bienal paulista
O Grupo Etesedron já está trabalhando para sua participação na Bienal de São Paulo, que será realizada em outubro próximo. A Fundação Cultural do Estado está interessada em patrocinar o trabalho do grupo, o que certamente irá facilitar a concretização do Projeto de Etsedron que integra um grande número de pessoas. O Etsedron já está trabalhando e cada um coordena sua parte. Na dança, Terezinha Argolo e Lúcia Maltez; o coral será regido por Carlos Lacerda com músicas de Elomar; a parte etnográfica está a cargo de Angelita Trigueiro; artista plástica, Lígia Milton e o escultor Chico Diabo; no sincronismo da arte com outras ciências funcionarão o Professor Valentim Calderon, Carvalho, Luiz Humberto Machado e Geraldo Milton da Silveira; a ginástica rítmica ficará a cargo de Antônio Andrade e Lúcia Maltez.
Como podemos observar, é um trabalho de um grupo integrado porque os membros de Etsedrom deixam de lado sua individualidade para trabalhar em comum.A propósito, o gravador Edison da Luz afirma que "não posso trabalhar sozinho porque se a arte é voltada para o coletivo ela deve ser feita por várias pessoas. Além disto, procuramos valorizar o nosso material, porque não tem sentido um artista baiano trabalhar com materiais sofisticados, só encontrados em países super-desenvolvidos." Exemplifica afirmando que " na Bienal passada levamos um trabalho feito de cipós. Este ano também mostraremos um trabalho feito com cordéis e couros."
Quanto às dificuldades que encontra na falta de alguns artistas Edison da Luz explica que a Bahia já foi considerada o berço da cultura e hoje é o anti-berço da cultura. O baiano de modo geral é muito pretensioso e não temos salões e galerias à altura de uma exposição de trabalho sério. O que temos são pequenas salas chamadas de galerias, que ainda por cima não procuram valorizar os artistas. Visam apenas a parte comercial e muitas obrigam o artista a colocar o seu quadro debaixo do braço e procurar uma pauta para exposição. Basta dizer que também muitos artistas são culpados porque não contribuem para melhorar a mentalidade dessa gente. Imagine que ainda estamos numa terra onde pessoas ficam admirando ou retratando o mar, alagados e outros motivos. O que interessa é interpretar estes motivos, e posso assegurar que pouca gente faz isto na Bahia. A nossa arte ainda é primitiva pelos nossos valores culturais e isto é um reflexo da falta de história do povo brasileiro, o que não permite ao artista fazer uma transposição. O negro, por exemplo, continua ainda escravo e o candomblé, sua religião, continua sendo desvirtuada.
Diz ainda Edison da  Luz que tenho consciência de que a arte não  tem fronteiras.Tudo é a mesma coisa. Mas o artista brasileiro precisa conhecer seu país para sentir e observar os motivos que estão por aí
Dentro da cultura indígena, por exemplo, está a meu ver a tradução da verdadeira arte brasileira e isto podemos constatar nos seus trabalhos artesanais."

TENDÊNCIA DA ARTE

O escultor Edison da Luz mostra-se pessimista com a arte brasileira que se não tomar um novo rumo não escapará da decadência. Enquanto o artista brasileiro colocar a arte como simples processo de sobrevivência ela tenderá a ser decadente. Acredito que a arte é imaginação, criação e não vive de rótulos. Não é um simples trabalho como de um médico ou de um comerciante.
E continua: outra coisa que tenho observado é uma preocupação em se fazer arte erótica agredindo a todos. Isto é uma necessidade de valorização de pseudos artistas, os quais devem deixar o sexo para as ocasiões propícias. Arte é uma coisa muito diferente.
Quanto ao casario tão utilizado por artistas baianos, Edison da Luz qualifica como sendo o câncer da arte brasileira. No casario, o artista emprega o mínimo de imaginação e consegue vender a colecionadores que no fim traduzem uma mentalidade estreita. Quando não é um turista ávido por uma lembrança da Bahia. Ele vai à galeria, compra o casario e chega ao hotel, embala o seu quadrinho que será mostrado a seus familiares e amigos quando retornar a seu País ou Estado de origem como sendo um troféu, que conquistou num safári na África.

TRABALHO SÉRIO

" Daí o nosso trabalho se propõe a interpretar os motivos que escolhemos com uma participação de sociólogos, arquitetos, poetas, artistas plásticos, ginastas, dançarinos etc. Tudo é fundamentado no realismo social, tendo o homem no centro. O nosso grupo é aberto a todos aqueles que se propõem a fazer um trabalho sério. Sei que estamos trabalhando para o futuro e que é mais fácil fazer um casario e vender imediatamente. E, todas às vezes que converso com uma pessoa que quer trabalhar conosco mostro exatamente estes dois caminhos. Infelizmente muitos optam por fazer um quadrinho e vender", adianta Edison da Luz.
E continua "O nosso trabalho é de criação contínua e mesmo dentro do salão da Bienal estamos criando. O trabalho do artista difere do trabalho do artesão. O primeiro, deve interpretar continuamente os motivos dando sua parcela de criação. Já o segundo, fica na repetição. O artesão que faz uma xícara morre fazendo xícara, e isto nunca deve acontecer com o verdadeiro artista. É por isto que até agora só fiz duas exposições na Bahia, porque ainda estou trabalhando naquela fase que mostrei há poucos anos. Daí não saber quando farei outra exposição porque ela só será feita quando tiver alguma coisa nova para mostrar. Isto não ocorre com outras pessoas que vivem eternamente fazendo explicações, uma atrás da outra, sem mostrar nada de novo."
Diz Edison da Luz que tem consciência que o tipo da arte que Etsedron está fazendo não dá para ganhar dinheiro. Mas vê a sua obra com grandes perspectivas para o futuro. Sei do pioneirismo e isto certamente nos proporcionará no futuro alguns privilégios. Temos, inclusive, uma ideia arrojada que é a criação de um centro de arte na Bahia, o qual não deve ser dirigido por artista. Artista nasceu para criar e não deve misturar-se com burocracia ou administração. Este centro deverá ser dirigido por pessoas que gostam das artes. Creio que as confusões que observamos nas bienais e salões já realizados na Bahia originaram-se porque forma dirigidos por artistas.
Certamente o trabalho que será apresentado pelo Grupo Etsedron vai agradar e representará bem a Bahia, a exemplo da Bienal Nacional -74, cuja obra foi  considerada a mais explosiva. A palavra Etsedron, que significa Nordeste, lido de trás para a frente, tem um sentido mais especial pois está revolucionando o conceito de arte brasileira, não se limitando às técnicas convencionais e menos ainda ao tipo clássico do artista.

COPERARTE, UM SUCESSO

Foi aberta na última terça-feira a Feira de Gravuras promovida pelos integrantes da Coperarte, no Instituto Goethe. Uma feira perfeita, aberta sem qualquer discriminação a nível da fama maior ou menor e mesmo da qualidade do trabalho. Assim, encontramos trabalhos do artista Juarez Paraíso e de outros ainda iniciantes ou completamente desconhecidos do público.
A título de ilustração vemosduas gravuras
aíso
No entanto, todos estão irmanados de que é necessário difundir a obra de arte e para isto eles estão dando uma grande contribuição, vendendo suas gravuras a preços de banana.
A maioria dos integrantes da Coperarte são alunos da Escola de Belas Artes e outros ligados ao movimento. O que interessa a eles é mostrar o seu trabalho que agora está sendo difundido através desta primeira feira de arte. Espero que outras feiras sejam realizadas e que o público baiano, o homem de classe média, o profissional liberal que não dispõe de milhões para dar por um quadro de um artista famoso, tenha outras oportunidades de adquirir um trabalho de um jovem artista, que dentro em breve terá seu lugar no palco da fama.
Ao meu ver, faltou nos artistas um maior cuidado na divulgação da feira e talvez a escolha de um local mais aberto ao público, como por exemplo, o Jardim da Piedade, onde certamente seus trabalhos seriam ainda mais disputados.

NICK SUERDICK

O artista Nick Suerdick vai expor alguns quadros de 10 a 25 de junho no Instituto Goethe, na Vitória. Já participou de algumas coletivas, sendo esta a primeira vez que coloca seus quadros à venda.
Serão mostrados apenas trabalhos a óleo, embora Nick faça estamparia, serigrafia e tapeçaria. É sempre bom ver o que os novos estão produzindo. Vamos aguardar a sua exposição.

PRÊMIOS

Os melhores do ano em 1974 receberam prêmios dos críticos paulistas em vários setores. No setor das Artes Visuais foram premiados: Grande Prêmio da Critica, a Walter Levy; Personalidade do Ano, ao Professor Walter Zanini; Pintor, foi Tomie Ohtake; Desenhista, Juarez Magno; Escultor, Nicolas Vlavianos; Tapeçaria, Burle Marx; Jóia, Kjeld Boesen; Fotografia, Leonid Strelav e Artes Gráficas, Emile Chamie.
Já o Júri do 24.º Salão Nacional de Arte Moderna premiou os artistas: Siron Franco, (pintura) com uma Viagem ao Estrangeiro; Inácio Rodrigues (pintura), com Viagem ao País; Wilma Martins (desenho), Viagem ao Estrangeiro e José Lima (gravura) Viagem ao País.

COPISMO

O Professor Clarival do Prado Valadares, membro do Conselho Federal de Cultura, acusou os dirigentes de museus no Brasil de enaltecerem a arte estrangeira, esquecendo-se da arte nacional.
Disse ainda que ha incentivos ao artista brasileiro, mas falta qualidade em suas obras. Assim, estamos ainda vivendo a predominância da imposição do copismo de modelos estrangeiros.

CORRE-CORRE

Os organizadores da Bienal de São Paulo resolveram preencher a lacuna da fraca representação brasileira da mostra de outubro próximo, abrindo inscrições para artistas com propostas de vanguarda, que serão julgados por dois júris, sendo um secreto. Acreditamos que os trabalhos selecionados sejam mostrados lado a lado, com os selecionados na pré-Bienal do ano passado. O recurso de última hora não está agradando a muita gente, embora possa representar uma tábua de salvação para melhorar o nível da representação brasileira.



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