sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A LIÇÃO DE VITALIDADE NAS ESCULTURAS DE MÁRIO CRAVO - 01 DE SETEMBRO DE 1986

JORNAL A TARDE, SALVADOR, 01 DE SETEMBRO DE 1986.

A LIÇÃO DE VITALIDADE NAS ESCULTURAS DE MÁRIO CRAVO
Mais uma exposição do escultor Mário Cravo Júnior, sendo que desta vez é composta de dois grupos de esculturas. No primeiro grupo ele apresenta trabalhos realizados ao longo da década de 70 e no segundo, o que produziu no ano passado.
   Ovulante IV , de resina poliester e madeira
Lembra Mário que “embora anos separem os dois grupos de peças, existem identidades entre a forma de tratamento dos materiais, das tramas e da temática. No primeiro grupo, as formas orgânicas têm inserções de materiais como madeira, fragmentos de resina, assim como a pigmentação carregada de tons escuros na massa de talco fundido. O segundo grupo apresenta a pedra-sabão em contraponto com áreas luminosas em resina pigmentada, que penetra como estranha estratificação no corpo da forma”.                                                                                         
E, assim, vai o mestre Mário Cravo falando da sua obra, aliás, mais uma de suas qualidades é que ele é capaz de falar e falar muito sobre sua própria obra. Algumas esculturas que Mário apresenta são de pedra-talco, oriundas de várias regiões da Bahia em tons verdes e cremes.
De repente, quando a gente abre o catálogo de sua exposição, depara-se com uma escultura em forma oval, onde a luminosidade dirigida para que fosse fotografada nos dá uma sensação de vida!
O translúcido da cor amarelada bate forte em nossa sensibilidade como se estivéssemos diante de um ser prestes a partir em busca de novos horizontes. Na página seguinte, uma pomba repousa suavemente na esperança que terminem estes conflitos, que se iniciam em nossos lares e desaguam nos gabinetes refrigerados dos beligerantes chefes de Estado. Vai mudando de materiais, da pedra-talco para a madeira, a resina de poliéster e na mistura de materiais surge o “Ovulante IV”
Aí á a presença da vida, que vai despertando com o “Germinante”, com a “Fecundação”, até o “Recém-Nascido”. Mais uma vez Mário Cravo nos dá uma lição de vida, um homem capaz de transformar uma pedra inerte num ser que desperta emoções em nossos sentidos.
“Envolvo, pego, seguro e corro/Trago, levo, troco, tiro/ Balanço falo enquanto furo/Olho, cheiro, toco, mordo/Sinto a cor, o corpo, a forma/E danço, acaricio e corto/Penetro, arranco, boto e miro/ E suo../E resfolego e ando.../Vejo!... Olho, meto e viro/Esfrego, lixo e acaricio/Choro.../Renasce o corpo e alma/No espaço de novo giro./”Este poema de Mário Cravo é suficiente para a gente entender este seu envolvimento mágico de transformar a resina, a madeira ou uma fria pedra num ser que vive para nos ofertar momentos de beleza.
Mário mistura e sua, corta e arranca, mas ao contrário do que mutila ele cria novas formas que nos envolve de magia. Com seu temperamento extrovertido e sua simplicidade que choca os mais refinados, ele curte este seu mundo misturando suor com poeira e os transformando numa arte forte, nova e eterna.
Participei de um jantar no Bistrô do Luís, quando várias pessoas ligadas ao jornalismo foram convidadas pela empresa que patrocina a sua exposição, a Ciquine, na Galeria Época, a partir do próximo dia 4, e lá estava Mário falando de sua arte. Parabéns também para esta empresa, que passa a incentivar a arte. Peço a seus dirigentes que também lembrem-se nos novos artistas que precisam de incentivo, como forma de renovação do próprio movimento artístico baiano.

                              HIPERREALISMO DE MASO NO MUSEU DE ARTE DA BAHIA

Maso enaltece as formas e plasticidade da mulher.
Estava envolvido com minha função de editor quando chega Maso trazendo alguns quadros para que pudesse apreciá-los e evidente divulgar a sua exposição.
Quando dei por conta a redação estava praticamente parada e todos, principalmente os homens, estavam concentrados diante de seus quadros. Não precisa dizer que os quadros de Maso tinham como temática a mulher que era apresentada em detalhes em belos e sensuais recortes. De repete surgem as opiniões, divergentes, fora da realidade, mas sinceras, das pessoas que estavam entusiasmadas com suas telas. Que perfeição! Isto é fotografia? Que mulher boa! Enfim, cada uma dava a sua opinião de acordo com seu universo de conhecimento que permitia a leitura das obras. 
 Lembro que um dos colegas chegou a colocar uma dose de erotismo e sensualidade em suas observações e ficou muito constrangido quando alguém em tom de brincadeira disse que a modelo era parente, próxima do artista. Daí todos voltaram à sua rotina e pude conversar com Maso.
Este fato que conto acima reflete exatamente o que pode ocorrer quando uma pessoa desavisada está diante de uma tela deste artista que cada vez mais se aproxima da realidade. Suas mulheres assemelham-se àquelas das fotografias que vemos nas revistas em circulação, especialmente as voltadas para o público masculino.
Esta semelhança demonstra exatamente a influência marcante da figuração e do realismo que nos cerca no nosso dia-a-dia. “A fotografia, cada vez mais presente, marcou profundamente o surgimento de um novo realismo virtuosístico, tipicamente americano, o hiperrealismo”, estas palavras de Maso são suficientes para a gente entender a presença da fotografia em sua arte. Hoje, nós que trabalhamos no jornalismo diário estamos impregnados desta influência das imagens que são captadas imediatamente e que ficam, encarregadas de documentar para a posterioridade flagrantes de uma vida que passa rapidamente e que vai atropelando os mais fracos. Nesta confusão de imagens Maso capta o que existe de mais belo e transporta para suas telas num clima de sensualidade.
As cores suaves funcionam como um elemento envolvente deixando sobressair em primeiro plano as formas de sensualidade feminina. Diria que Maso enaltece a mulher, porque coloca a mulher num plano de sensualidade que foge do grosseiro de algumas revistas masculinas. A sua intenção é exatamente enaltecer o lado estético feminino e não simplesmente o lado erótico. Aqui a arte se apresenta como catalizadora, resgatando esta essência para que possamos ver suas figuras dentro de uma visão estética plástica.
Quero aproveitar para aplaudir a presença de mais uma empresa no setor de arte que é o Lloyds Bank, que já patrocinou outras mostras, e agora, esta no Maso que será aberta a partir de amanhã às 20 horas no Museu de Arte da Bahia.

             AS GARÇAS DE GIL MÁRIO VÃO POUSAR NA NOGUEIROL
Gil Mário expõe na Galeria Nogueirol.

A temática é variada e vai desde a figura humana á natureza morta conservando os elementos básicos de sua personalidade pictórica. Agora, Gil nos apresenta a exuberância da nossa flora e fauna com suas cores inconfundíveis. É verdade que embora nesta mostra predomine uma temática ligada à natureza propriamente dita, nem sempre é preocupação perene na obra deste artista. No momento da criação, Gil percorre caminhos inimagináveis, estradas desconhecidas em busca de novas emoções que são expressas através de suas obras.

É verdade também que Gil tem conhecimento do desenho e sabe jogar com as cores. Não é um artista de vanguarda, mas nem por isto seus trabalhos deixam de ser qualitativos. Gil tem uma produção qualitativa regular e as figuras que concebe vão ao encontro do gosto dos apreciadores da arte. Podemos afirmar que suas telas, não tem apenas aqueles elementos que normalmente levam os leigos a classificar de “bonito”. Seus quadros podem figurar em qualquer coleção, convivendo com trabalhos de vanguarda e até servindo de parâmetro entre estes dois momentos de criação. Gil brinca com as cores criando situações que poderíamos classificar de o imaginário moderno. Tanto as florestas os animais obedecem a se posicionam de acordo com o gosto do seu pincel. “Estas palavras estão inseridas no catálogo da exposição que Gil Mário abre a partir do próximo dia 18, na Nogueirol Galeria de Arte, que fica numa das lojas do Salvador Praia Hotel.
Gil já realizou várias exposições e sua atividade principal é na Faculdade de Feira de Santana. Inclusive é um artista que sempre está procurando incentivar as artes, inclusive os novos talentos. É uma pessoa aberta ao diálogo e profissional no seu ofício. Lembro o cuidado em desenhar o próprio catálogo de sua exposição, na escolha da melhor tela para integrar a capa do catálogo, e as demais que foram dispostas em outras páginas.
Ele nasceu em Salvador, formou-se em Licenciatura de Desenho e Plástica pela Escola de Belas Artes da Bahia em 1979.Atualmente reside em Feira de Santana onde é professor titular da Universidade estadual de Feira de Santana.

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