terça-feira, 2 de julho de 2013

UMA PINTURA FORTE FEITA POR ANTONETO

JORNAL A TARDE,SALVADOR, SÁBADO, 06 DE SETEMBRO DE 1975

Casamento na Roça, obra do artista Antoneto
A busca constante de formas e cores resultou na descoberta de uma pintura forte como a gente do Nordeste. É o jovem Antoneto que depois de nove anos deixa definitivamente a temática casario para retratar a gente simples. Uma mudança resultante de uma procura contínua. Esta descoberta foi depois de uma viagem que fez ao estado do Piauí onde encontrou nas pequenas cidades uma cultura popular ingênua e quase pura. A festa de batizado, de casamento, os reisados e outras manifestações. Aquilo lhe impressionou e sua sensibilidade artística falou mais alto. Ao retornar já estava retratando aquilo que tinha visto e que tanto lhe impressionara, pela força, e sobretudo pela espontaneidade.
Antoneto tornou-se conhecido por pintar casarios, por retratar, aquela época dos senhores de engenho, das mocinhas que ficavam todas as tardes debruçadas nos peitoris das janelas.Hoje, ele está mais preocupado com o homem, com a gente do Nordeste que tornou-se o centro de sua arte.
É uma pintura sem influências de cultura alienígenas. Uma pintura que cheira a Brasil, a Nordeste, embora a arte não tenha limites geográficos. Porém, não podemos deixar de reconhecer as influências das coisas, da gente e dos costumes onde esta arte é trabalhada.Tenho diante de mim alguns quadros de Antoneto.Um dos quais, um típico quadro nordestino: um casamento na roça. Os nativos estão ao centro ladeados pelos padrinhos. Suas expressões mostram a esperança e de seus corpos ressaem os braços e suas cabeças chatas.Ao fundo aparece uma paisagem como back ground fomando uma composição plástica que reflete a atmosfera da região.
Agora Antoneto vai para a cidade de Valença a convite da Prefeitura Municipal daquela cidade do Recôncavo baiano e de Roberto, da Galeria Rag onde fará uma exposição e retratará a gente e a terra. Levará alguns quadros mais segundo informa o artista "pretendo desenvolver um trabalho que marque a minha presença em Valença. Lá existem lindos recantos, os quais pretendo levar para as telas. Tudo dentro de uma nova concepção de formas e cores as quais estou perfeitamente identificado. Prefiro não falar de uma nova fase. Isto porque acredito que o que estou fazendo agora seja resultado de um trabalho que venho desenvolvendo há nove anos. Já pintei muito casario e agora quero trabalhar inspirado na gente e coisas de nossa terra. No homem no campo rude e ingênuo, mas acima de tudo honesto e trabalhador centralizei o trabalho que pretendo desenvolver a partir deste momento."

OS ENTALHES DE RAMOS MELO

Natural do Rio Grande do Norte e tendo morado vários anos em Olinda, Pernambuco, e agora em Salvador, o entalhador Ramos Melo traz consigo as raízes do Nordeste. A seca, a fome e a miséria que enfrenta o nordestino ganha um colorido especial nas figuras entalhadas por este artista. Os frutos brotam exuberantes na madeira com sulcos profundos.
Dois belos entalhes de autoria de Ramos Melo
Os animais sofridos, rápidos e felinos surgem com expressões de esperança.São animais que carregam expressão de pureza, como que foram selecionados por Ramos Melo para serem salvos de uma catástrofe.
Noé pegou casais dos mais variados tipos de animais, de todos os locais. Já o Ramos Melo selecionou animais que habitam as terras secas do Nordeste e assim entalhou-os na madeira deixando para a eternidade alí retratados.
Os homens e as mulheres aparecem com seus olhos profundos e cabeças achatadas, com feições de gente sofrida mas principalmente esperançosa. O nordestino nunca perde a esperança de dias melhores, que são traduzidos por dias de chuva. Toda esta atmosfera é captada por Ramos Melo através de uma transposição para a madeira.
Atualmente está trabalhando com outros materiais como ferro, resinas e cobre.Prefiro, no entanto, o trabalho que faz com a madeira, pela intimidade deste material com a temática utilizada por este artista.
Tive a oportunidade de ver duas grandes portas entalhadas por Ramos Melo e numa das almofadas verifiquei um detalhe curioso: a presença de um pé, de duas flexas cruzadas e uma mulher com expressão mística.
É a opressão que sofre o homem da região, as armas primitivas de que dispõe para lutar e ao lado a mulher símbolo da pureza e do amor. Ramos Melo tem um compromisso consigo mesmo de fazer uma arte acima de tudo participante, acima de tudo uma arte que reflita a realidade que  conhece e na qual está inserida.
No próximo dia 26 de setembro a 10 de outubro teremos a oportunidade de ver os trabalhos deste entalhador Ramos Melo na Galeria do Praiamar Hotel, na Barra. Com apenas 25 anos de idade, onze dos quais dedicados ao entalhe este artista é um dos representantes de uma cultura a Cultura Popular do Nordeste que merece ser preservada e principalmente amada por todos aqueles que gostam das artes.

             ARLINDO GOMES NA GALERIA CAÑIZARES

Detalhe de uma escultura de Arlindo
Já escrevi sobre a arte de Arlindo Gomes, um artista que identifica-se e está completamente envolvido com a madeira, material que  elegeu para expressar aquilo que sente. É uma busca constante nas praias, nos leitos dos rios, nas matas e nos campos dos destroços de madeira, restos de alguma embarcação. Objetos que são testemunhas mudas no labor, do bater e correr das águas, da ação do vento e dos homens.
Nesses materiais que são recriados e acrescentados, toda uma força de um artista capaz de criar e executar belas esculturas de destroços que passariam despercebidos por qualquer um de nós.
Sabemos que a natureza sempre será a principal fonte de inspiração para a arte.A criação está perfeitamente ligada à natureza e mostrar aos olhos dos homens coisas belas e sugestivas.
Assim, Arlindo Gomes vai observando e trabalhando, trabalhando, duro e principalmente trabalhando com amor à arte.

COMUNICAÇÃO MARGINAL E ARTE SOCIOLÓGICA

Inicialmente apresentadas no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, Arte e Comunicação Marginal e Coletiva de Arte Sociológica, organizadas e trazidas ao Brasil pelo artista francês Hervé Fischer, estão sendo agora apresentadas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
A primeira exposição Arte e Comunicação Marginal, compõe-se de trabalhos de cerca de 200 artistas de diversos países que utilizam um instrumento de uso burocrático, o carimbo, como forma de comunicação.
Figuram entre os participantes: Ângelo de Aquino, Arman, Eugênio Barbieri, Robert Fillion, On Kawara, Antônio Vigo, o próprio Hervé Fischer, organizador das duas exposições encontram-se no Brasil por iniciativa do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo.

                  BOM LANÇAMENTO NO MAM DO RIO

O MAM, do Rio de Janeiro, lançará no próximo dia 9, o Álbum de 10 Serigrafias/Artistas Premiados/Salão de Verão, contendo 10 trabalhos de artistas premiados durante os anos de 1969 a 1975 em todos os salões de verão realizados neste período.
As obras trazem as assinaturas de: Carlos Eduardo Zimmermann, Luiz Carlos Lindemberg, Luiz Gonzaga Beltrame, Marcos Concílio, Margareth Maciel, Marieta Ramos, Osmar Dilon, Roberto Feitoza, Tereza Brunnet e Wanda Pimentel, todos com apreciações do crítico Roberto Pontual.
O Álbum terá uma tiragem de 100 exemplares.



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