terça-feira, 2 de julho de 2013

LIBER FRIDMAN NA POUSADA DO CARMO

JORNAL A TARDE,SALVADOR,  SÁBADO 11 DE OUTUBRO DE 1975

Liber Fridman ao lado de uma obra 
Descansa na Pousada do Carmo os trabalhos de um dos mais conceituados artistas latino-americanos. Trata-se dos trabalhos do argentino Líber Fridman, que utilizando de uma técnica mista-óleo sobre telas e colagens consegue expressar detalhes de uma cultura pré-colombiana. A falta de divulgação desta exposição por parte de seus organizadores é um ponto negativo, que não posso deixar de registrar, por mais admiração que tenha por algumas pessoas envolvidas com a presença de Líber Fridman em Salvador.
Mas, Fridman, embora um pintor maduro, despoja-se de seu prestígio de profissional conceituado e me procura na redação de A Tarde para falar de sua mensagem e de seus trabalhos. Já esteve em Salvador na década de quarenta, e mostrou-se admirado com as transformações porque passou Salvador de lá para cá. Ele que gosta do passado, que gosta de remover a poeira do tempo, retirando dão os elementos necessários para uma concepção recriadora, talvez tenha sentido mais essa transformação.
Seu trabalho é inspirado em rituais, mitos e costumes do Peru e de outros países latino-americanos. Suas experiências plásticas com a cultura pré-colombiana nos proporciona o conhecimento da importância desta  cultura e de sua significação artística. Utiliza a pedra, gravetos e o próprio tecido que podem também ser encontrados nos túmulos centenários dos incas que constantemente são descobertos pelos arqueólogos em suas minuciosas pesquisas.
Uma tela de Liber Fridman

Fridman é um apaixonado também pelo Brasil, onde viveu alguns anos na Amazônia, entusiasmando-se pelo trabalho dos seringueiros, esses homens  desbravadores de nossas riquezas naturais.
Esteve em 1946 em Salvador, onde realizou uma exposição nos amplos salões da antiga Biblioteca Pública, que ficava situada na Praça Municipal e que cedeu lugar a uma triste construção conhecida por Cemitério de Sucupira. Daqui Fridman partiu para o Peru, onde está a cerca de 14 anos pesquisando a cultura pré-colombiana. Seu atual trabalho mostra exatamente a preocupação com o homem que nos antecedeu, com às raízes desta cultura latino-americana tão rica em detalhes, ornamentos e principalmente tão rica em vibrações humanas. A busca de uma temática nas fontes da americanidade lhe garante um lugar de destaque no cenário artístico deste continente. Ao olhar as figuras traçadas por Líber Fridman tive a sensação de ver renascidos os personagens de Gabriel Marques.
O que não posso deixar de salientar é que seu trabalho não caiu na singeleza do folclores, mas tem uma força de expressão paralela, embora seja muito mais vibrante e até mesmo importante.
É fruto acima de tudo de uma busca, de uma aventura indagadora, onde as interrogações passam a ser respondidas em cada um de seus quadros, que vistos em conjunto formam um xadrez de uma cultura tão importante para o conhecimento de americanidade.
Fridman já realizou exposições nos Estados Unidos, Venezuela, Argentina, Dinamarca, Peru, Alemanha, Suécia, Israel, Holanda e Paraguai e alguns no Brasil. Seu trabalho é o próprio renascer, onde figuras lendárias parece surgir dos túmulos, iluminados com o propósito de nos mostrar um novo caminho a trilhar.
Seus trabalhos são significativos não apenas por retratar, lembrar e documentar uma cultura pré-colombiana, mas, também, por sua originalidade e pó nos conduzir às nossas raízes.

             MORREU EULER PEREIRA CARDOSO

Quero registrar uma notícia triste. Morreu Euler Pereira Cardoso, um homem que viveu dedicado à arte.
Veio para formar e moldar valores em sua Galeria Panorama, que do Largo Dois de Julho partiu para o bairro da Barra. Os conhecimentos adquiridos com suor durante sua vida terrena não desaparecerão, Porque Euler soube transmiti-los a dezenas de seus alunos que lhe cercavam de admiração.
Morreu, mas deixou também, uma artista sua filha Ana Georgina, que na flor da idade já criou muita coisa bonita e outras serão criadas. O trabalho de Euler certamente será continuado, será cada vez mais fortalecido.

           SALÃO DA CRIANÇA EM SÃO PAULO

Foi aberto, ontem, o Salão da Criança, em São Paulo, com o patrocínio da Federação das Indústrias de São Paulo e com participação de unidades das forças armadas. Com exposições, distribuição de brindes e principalmente com locais destinados a educação da crianças, onde tintas e  pincéis estarão disponíveis para fazer suas garatujas.

                   ARTISTAS MÉDICOS

Será realizada no próximo dia 19, no Clube Espanhol, quando da abertura do 22º Congresso Brasileiro de Anestesiologia, uma exposição de médicos-artistas. Cerca de 15 profissionais da medicina apresentarão seus trabalhos em pintura, escultura e tapeçaria. É a outra face do médico, este profissional que labuta diariamente com doentes, e ao se recolher em sua casa necessita também de uma terapia.
Uns escolhem a pesca, a caça e outros a pintura. Esta exposição deverá revelar ao público baiano alguns valores.

                               QUALIDADE

Os artistas integrantes do Grupo Etsedron já estão em São Paulo ultimando os preparativos para sua apresentação quando da abertura da Bienal Internacional de São Paulo.(XIII). Antes de viajar, o grupo, aproveitando uma idéia de Carlos Ramon lançou um álbum reunindo gravuras de Edson da Luz, Lígia Milton e Joel Estácio.
O álbum é muito importante para aqueles que acompanham de perto o desenvolvimento das artes plásticas na Bahia pois este trabalho que certamente ficará registrado nos anais da nossa História da Arte.

                            FERNANDO COELHO

Eis que de repente as fendas que protegiam as figuras criadas por Fernando Coelho, deram lugar às caixas que protegem  melhor essas figuras frágeis. Elas foram jogadas num mundo hostil, onde o homem vive em constante concorrência, onde o diálogo foi interrompido por um aparelho que invade as casas com som e imagem.
Figuras frágeis, mas acima de tudo móveis dentro de uma perspectiva ou mesmo limitação. Seus movimentos estão limitados aos espaços reservados dos trapézios e das caixas. Movem-se, mas com certo cuidado para não pisar em falso ou mesmo escorregar. Fernando é um cronista do nosso tempo e sua pintura tem mais força pelo que nos comunica.
 Agora os paulistas estão tendo a oportunidade de ver os trabalhos de Fernando Coelho na Galeria ,localizada na Rua Hadodck Lobo, 1111 São Paulo.

                          EXPERIÊNCIA DO VÍDEO ARTS USA

Os brasileiros terão oportunidade de conhecer a partir do próximo dia 17, quando da abertura da Bienal Internacional de São Paulo, uma nova experiência artística, a Vídeo Arts Usa.
Esta mostra apresenta os melhores artistas norte-americanos que trabalham no setor de tecnologia do vídeo nas artes, e percorrerá outros países latino americanos após o encerramento da Bienal. Ela foi organizada e coordenada pelo Centro de Artes Contemporâneas de Cincinnati, e pelo Instituto de Artes Contemporâneas da Universidade da Pensilvânia. Jack Boulton, diretor do Centro de Cincinnati, é o responsável pela exposição.
São trabalhos de artistas, que utilizam o videotape como uma continuação do pioneirismo histórico da cidade nos setores comercial e econômico da televisão e representa um importante movimento artístico.
Com introdução da câmara de vídeo portátil e a profusão de equipamentos de vídeo menos dispendiosos, artistas de vários setores: pintura, escultura, dança, teatro e cinema voltaram-se, em número cada vez maior para esta nova modalidade artística. É verdade que esta modalidade de expressão encontra-se ainda em seus estágios iniciais, mas vem despertando a atenção de artistas de outros setores.
A mostra Vídeo Arts Usa. Consta um trabalho escultural, um peça participatória, e áreas equipadas com monitores de vídeo onde a maioria dos artistas apresentará seus trabalhos
Foto Google
Nam June Paik, já falecido,criador da Video Art
O trabalho escultural é de Nam June Paik, considerado o avô da arte do vídeo.Intitulado Jardim do Vídeo, a obra consiste em 20 aparelhos de televisão, sendo 15 em cores, e 5 em preto e branco, circundados por plantas e arbustos, colocado em baixo de um estarão voltadas para cima, e os visitantes olharão de cima do poço para contemplarem a apresentação do videotape.
A peça participatória foi criada por Peter Campus, e procura transformar o espectador numa força atuante do trabalho. O visitante ingressará numa sala onde se encontram instalados vários aparelhos de televisão.
Sua própria imagem será projetada na tela por uma outra câmara que o fotografa por trás. Desta forma, é o próprio espectador que se transforma na forma artística.
Ainda serão mostradas obras de artistas tais como: Doug Davis, Linda Benglis e William Wegnam. Serão apresentados também criações em arte do vídeo do falecido cinematográfo Ernie Kovacs, este considerado um pioneiro nesta modalidade de arte com trabalhos realizados nas décadas de 1950 e 1960. Algumas apresentações empregarão computadores e sintetizadores para mostrar a poesia visual eletrônica, e outras utilização fotografias com polaróide.
Com apenas 30 anos, Jack Boult é considerado um dos mais importantes nomes da arte contemporânea nos Estados Unidos. Há três anos ocupa o cargo de Diretor do Centro de artes de Cincinnatti. Anteriormente, colaborou em um projeto intitulado Paredes Urbanas, pelo qual artistas profissionais foram contratados para pintarem gigantescos murais nas laterais externas dos edifícios da cidade.

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