segunda-feira, 8 de julho de 2013

MUDANÇA

JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 22 DE MAIO DE 1979

Sou um homem preocupado em mudar. Sim, preocupado em mudar para na medida do possível poder fazer algo de novo e melhor. É uma obsessão que carrego comigo e que felizmente tem norteado a minha vida profissional.
Procuro fazer as coisas da melhor maneira, embora não consiga todas às vezes, evidente.
Agora é hora de mudar o nome desta coluna, que há mais de um ano venho fazendo com o título Artes Plásticas, e, hoje, é apresentada pela primeira vez como Artes Visuais. Escolhi este nome por ser mais abrangente e principalmente pelo desenvolvimento que se vem verificando no campo artístico. Visual refere-se a visão, a vista, permitindo deste forma que trate aqui de problemas de outros setores artístico. Vamos lá.

             O TELEFONE NERVOSO DE ANA CAROLINA

O nervosismo que geralmente o homem moderno esconde por traz do telefone, os problemas resolvidos e insolúveis, a comunicação a serviço do homem, o encurtamento das distâncias entre as pessoas, todos estes aspectos podem ser traduzidos nas 20 xilogravuras, expostas em série e denominada de Sorry Graham Bell, que a artista Ana Carolina está apresentando no Centro de Pesquisa de Arte no Rio de Janeiro.
Quatro gravuras de telefones de Ana Carolina
Acabo de receber de Geraldo Edson de Andrade, algumas fotos reproduzindo as gravuras de Ana Carolina o que atestam o seu alto nível técnico. Fico duplamente satisfeito quando vejo novas investidas em prol do desenvolvimento da gravura brasileira. Esta nova artista foi aluna de José Altino, Abelardo Zaluar, Orlando Dasilva e Maria Lúcia Luz, e somente a partir de 1975 começou a participar de exposições coletivas e de salões de arte em vários Estados.
Já realizou uma individual na Galeria da Oficina de Arte da Barra Mansa e de uma coletiva no Museu de Arte Moderna de Resende; sua temática o telefone foi escolhida oportunamente no momento em que se comemora esta grande invenção, que hoje está escravizando pessoas. Este aparelhinho que toca sua campanha deixando muita gente alegre  ou triste. Esta maquininha de fazer loucos que envenena, escraviza e muitas vezes serve para levar pessoas ao desespero através da transmissão e recepção de mensagens desagradáveis, serviu de tema para o seu trabalho.
Um detalhe interessante é que as gravuras são impressas em papel onde estão inscritos os números e endereços dos assinantes de uma lista de telefônica. Enfim, o trabalho é uma critica ou mesmo uma tomada de posição, um alerta para que as pessoas utilizem o telefone, mas não deixem ser escravizadas por este aparelhinho que pode mudar de cor: preto, vermelho, cinza e mesmo outras mais sofisticadas. O formato varia, como variam os problemas que ele proporciona resolver com facilidade e os que ele cria com a mesma facilidade.

             FALTA DE RESPEITO PARA COM ARTISTAS

Noticiei a realização de um II Concurso Nacional de Literatura e Artes Plásticas que estava programado para Goiás. Agora fui surpreendido com a notícia que não posso deixar passar em branco. Trata-se da suspensão pela promotora Caixa Econômica Estadual de Goiás por falta de dinheiro ou melhor por medida de economia. Ora, não havia dinheiro porque programaram o tal concurso? O pior é que começaram a receber os trabalhos de artistas de vários estados e agora os artistas estão recebendo-os de volta. Nada menos de 250 trabalhos já haviam sido enviados para o tal II Concurso Nacional de Literatura e Artes Plásticas. Uma vergonha para o estado de Goiás, pois o seu Governo poderia ao menos subvencionar o tal concurso pára evitar uma imagem negativa e o prejuízo dos artistas. Este exemplo no entanto é de grande valor. O artista brasileiro participa de muitos concursos por aí afora enfrenta jogos de cartas marcadas e ainda por cima a falta de estrutura e responsabilidade. O que houve em Goiás, estado do qual tenho imensa admiração, certamente não foi apoiado pela imprensa de lá e pela população, que tenho conhecimento, prestigia as manifestações artísticas. Culpo apenas os seus organizadores e o próprio Governo do Estado, que poderia ter tomado algumas providências através de seus órgãos culturais que evitasse a derrocada do concurso.
Quero finalizar chamando atenção dos artistas baianos para examinarem com certo cuidado as promoções que são feitas com o objetivo de evitar prejuízos e decepções. Este concurso que acaba de ser suspenso em Goiás, é um exemplo do jeitinho e da improvisação que impera neste país em vários setores de sua atividade.

             IDENTIDADE DO SENHOR BARDI

Lendo o Jornal do Brasil encontrei uma nota no Informe JB, que vou transcrevê-la pela sua importância e para conhecimento daqueles que não tiveram oportunidade de ler, e também para alertar outras tantas pessoas que militam nas artes plásticas. Eis a nota na Integra:

"Pound, Mussolini e Bardi
Acaba de ser publicada nos Estados Unidos a coleção de cartas escritas pelo poeta Ezra Pound ao Duce Benito Mussolini.
Numa, de fevereiro de 1934, diz Pound : -  O Belvedere da Arquitetura de Bardi, que eu recebi ontem, aumenta ainda mais minha admiração por tudo o que tem sido feito.Com o conceito de crédito para o consumidor, a construção pode ser aumentada de maneira surpreendente.
O autor, Pietro Maria Bardi, era na época diretor e fundador da Galeria de Arte Bardi, de Milão. O Belvedere é um longo trabalho de exaltação da arquitetura funcional de Mussolini, a quem elogia longamente.
O Sr. Bardi dirige atualmente o Museu de Arte de São Paulo.
Não é preciso dizer mais nada. Está identificado.''

            CONTINUAM AS FLORES PARA ALFREDO VOLPI

Acaba de ser inaugurada mais uma galeria no Rio de Janeiro, com uma exposição que garante a qualidade dos trabalhos que serão ale expostos durante a sua existência. Trata-se da Maison Des Arts, que foi inaugurada com uma exposição individual de Alfredo Volpi, que esteve presente. O artista foi homenageado com uma placa comemorativa e denominada a sala principal da galeria de Sala Volpi. A nova galeria fica localizada na rua Voluntários da Pátria 455, no Rio de Janeiro.
Como sabemos, Volpi é um dos maiores artistas brasileiros da atualidade. Embora tenha nascido na Itália, sua verdadeira arte veio brotar em Cambuci, um bucólico bairro paulista. Já falei detalhadamente mesmo antes deste artista ser capa da revista Veja sobre o seu trabalho, sua vida e principalmente sobre o desenvolvimento de sua pintura. Foi na época da comemoração dos seus 80 anos de vida, dos quais a maioria dedicada a arte brasileira. Falar novamente da importância de Volpi não seria perda de tempo, mas certamente aqueles que acompanham esta coluna lembram-se de tudo ou quase tudo que falamos sobre ele.

             GUINLE NA QUADRANTE GALERIA DE ARTE

















Como peles macias os quadros de J. Guinle estão expostos na Galeria Quadrante no Rio de Janeiro e são tocados por todos aqueles que tem oportunidade de observá-los. Eles cedem a pressões das mãos e o colorido atraente agrada em cheio. É um novo artista que atira-se à pintura com o entusiasmo de todos àqueles que começam, cheios de planos e que muitas vezes ignoram alguns preceitos básicos das técnicas. O importante em seu trabalho é que ele leva a sério e vive constantemente buscando novas texturas que dão

beleza as suas telas.São quadros para ser e encher os olhos de tintas,jogadas as vezes desprentenciosamente sobre as telas e que no final dão uma composição digna de registro.
É uma pintura acima de tudo forte, primitiva no sentido de gritar, de chamar a atenção para sua existência e que se identifica em determinados momentos com o desabafo de qualquer individuo. É a pintura pela pintura. Sua pintura poderíamos ainda dizer reflete a necessidade de comunicação que J.C. Guinle tem vontade de gritar loucamente para esquecer os tormentos da vida moderna. Talvez ela sirva como terapia para este artista que agora pinta sem parar.

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