sábado, 18 de maio de 2013

VEDETISMO NA TROPICÁLIA


JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 22 DE OUTUBRO DE 1977


O artista Franz Krajberg vive em contato
 com a natureza mas ainda não
encontrou a paz desejada
Mais uma vez o artista Franz Krajcberg demonstra de público seu temperamento violento retirando as esculturas que estavam expostas na XIV Bienal de São Paulo. Uma atitude grosseira, inadmissível e um péssimo exemplo para os jovens artistas deste País. Acho que um artista inscrito num concurso ou qualquer outra competição como um salão ou uma bienal deve aceitar as regras do jogo. Aliás, todos eles conhecem no momento da inscrição o regulamento desses eventos, mais invariavelmente surgem àqueles que não ficam conformados com os resultados da premiação. Já faz até parte da própria vida desses eventos as atitudes de protestos e insubordinação. Mas até aí tudo bem. O que não posso concordar é que o artista meta a mão e destrua os trabalhos expostos. Isto demonstra um desrespeito a todo público brasileiro, e principalmente, àquelas pessoas responsáveis pelo convite ao expositor.
As cenas mostradas pela televisão deixam assim patenteada a capacidade de agressão do Sr. Krajcberg. Já conhecia seu temperamento. Há pouco tempo ele foi envolvido com uma ação semelhante. Um marginal carioca conseguiu reunir algumas telas ditas de autoria de Krajcberg feitas quando ainda não tinha mercado. A exposição foi montada num hotel e o artista foi lá e declarou que tudo era falso. A briga ainda continua no tribunal, mas segundo as últimas informações que li num jornal de circulação nacional tudo indica que as telas foram realmente pintadas por ele. Verdade ou não, o que estou analisando no momento é a atitude inconsequente do Sr. Krajcberg na bienal paulista.
Lembro ainda que ele trabalha no município baiano de Nova Viçosa, que fica no extremo-sul. Foi levado para lá pelo seu ex-companheiro e ex-amigo Zanini com o qual terminou se desentendendo. O Júri da Bienal paulista escolheu os trabalhos para premiação e entre eles encontravam-se os do Sr. Krajcberg que queria o primeiro prêmio. Ora, isto é uma pretensão fora de qualquer limite. A artista Maria Bonomi, membro do Conselho de Arte e Cultura da Bienal, amiga do artista afirmou que ele não tinha o direito de criar esta situação, porque as cartas não estavam marcadas para premiação. Exatamente o que buscava o Sr. Krajcberg, a julgar por sua estúpida atitude era o vedetismo. É o caso de não mais convidar este senhor para participar da Bienal porque da próxima vez será capaz de tomar atitudes ainda mais inconsequentes.
Quero lembrar a título de esclarecimento que essa atitude é constante na vida profissional deste artista. Lembra o Prof. Clarival Prado Valadares que em 1966, na Bienal realizada em Salvador ele concorria junto com 14 outros. Quando soube que o principal prêmio cabia a Lygia Clark, entrou no local da exposição conversou o vigilante e levou todas as suas obras. Portanto, uma atitude ensaiada, só que desta vez teve mais público porque foi exposta na televisão e aconteceu no sul do País.
 Quanto a seus defensores que afirmam que Krajcberg estava reclamando o prêmio para outro grupo brasileiro em defesa da arte nacional é uma discriminação também, condenável porque trata-se de uma bienal internacional.

MAIS UM REBELDE EM MOSCOU

O Reacionário, obra de Ylia Glazunov
Ilya Glazunov, a Ovelha Negra do cenário artístico soviético, parece ter emergido são e salvo de seu pior e último conflito com as autoridades de Moscou, depois de uma viagem à Sibéria.
Há três meses Glazunov desafiava todos os movimentos culturais soviéticos, quando tentou exibir um quadro controvertido, banido em seu próprio país, qualificado de Caricatura Anti-Soviética.
Glazunov chama a enorme tela que, toma praticamente uma parede inteira de seu Studio, o mistério do século vinte.
A obra é descrita pelo seu autor como um trabalho de realismo filosófico que tenta resumir a História Contemporânea, da mesma forma que Dante Alighieri fez há 600 anos com a Divina Comédia.
As autoridades soviéticas criticaram o quadro porque, entre as várias personalidades representativas da História Moderna, estão incluídos alguns considerados párias para a Civilização Russa, como por exemplo Trotsky, Stalin, Mao TSE-Tung e Solzhenitsyn.
Salientando que este trabalho e sua primeira obra de arte, o artista de 47 anos preferiu cancelar sua primeira exibição em Moscou em 13 anos a abrir mão quanto as exigências das autoridades soviéticas para retirar o quadro da mostra.

O artista Ilya Glasunov
Foto recente
No entanto, não resta dúvida que esta atitude do Governo Soviético mudou o comportamento de Glazunov
Durante sua estada de um mês na Sibéria Ocidental, Glazunov trabalhou das oito da manhã até ás 11 da noite e produziu 50 quadros e desenhos, que serão apresentados para publicações.
O pintor disse que uma Editora Soviética convidou-o a fazer esta viagem há um ano, mas ele recusara o convite porque na época estava se preparando para e estava programada para exposição cuja abertura junho passado.
Os inimigos de Glazunov disseram que em agosto o pintor estava implorando as autoridades para ir para a Sibéria sua única via de reabilitação com as autoridades governamentais de Moscou.
Por seu turno, Glazunov diz que está andando numa verdadeira corda bamba, pois se de um lado é criticado por se afastar do realismo socialista, de outro é acusado de agente da Polícia Secreta Soviética (KGB) os dois lados o chamam de oportunista, acusações que ele obviamente refuta. Contudo, Glazunov admite seu contentamento pela viagem a Sibéria.

Outra obra  genial do artista soviético
Para mim foi muito interessante ver as florestas de Taiga, o solo fértil, com as pessoas trabalhando não somente pelo dinheiro mais por romantismo, como Jack London. Eu amo Jack London.
Duas coisas ficaram patentes: Giazunov realmente produziu assustadoramente neste curto espaço de tempo e fez muitas amizades na Sibéria, inclusive com o gerente de construção, o secretário do Partido, o presidente sindical e o secretário da Komsomol da área que ele visitou.
No ano passado, foi um dos vários artistas soviéticos solicitados a pintar os retratos oficiais do septuagésimo aniversário de Leonid Brezhnev.
O trabalho feito por Glazunov, mostrando Brezhnev sem suas medalhas e as cúpulas das igrejas do Kremelin sem as cruzes foi reproduzido pela revista Ogonyok.
Os resultados deste trabalho foram fantásticos. De repente, Ilya Glazunov estava sendo descrito como um proeminente pintor soviético e o Pravda começou a reproduzir suas obras.
Os jovens construtores da ferrovia convidaram-no a comparecer a um festival de arte do final de setembro, na cidade de Yst-Tsilma, e um outro no dia 22 de outubro, como convidado do primeiro trem que percorrera os 200 quilômetros que ligam Magistralnyi e yulkan.
Parece agora que as coisas se estabilizaram disse Glazunov, que já não teme a perda do seu estúdio nem do seu apartamento, localizado bem perto do Kremelin.
Dizem que Ilya Glazunov, o maior pintor russo do século XX foi o único cidadão soviético que nunca precisou de autorização especial para sair do país. Entrava e saía da ex URSS para pintar os grandes estadistas do mundo, desde João Paulo II a Indira Gandhi, passando pelo Rei Gustavo da Suécia e Juan Carlos de Espanha sem que ninguém se atrevesse a questioná-lo sobre os seus itinerários.

                      DUZENTOS ARTISTAS EXPÕEM EM SÃO PAULO

Com a participação dos 200 artistas no Brasil e de vários outros países da Europa e da América Latina, do Leste europeu e dos Estados Unidos etc. o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo inaugurou a grande  exposição Poética Visuais.
A mostra, destinada a artistas que trabalham alternada ou simultaneamente com a imagem e a palavra foi estruturada no início de 1976, tendo a sua abertura sido adiada das datas inicialmente previstas.
Um grande número de participantes, diretamente convidados pelo MAC ou escolhidos pelos artistas selecionados, enviou obras. Os mais variados media são utilizados: do livro-de-artista á fotografia, do Xerox e off-set ao VT etc. A presença de objetos é rara. Entre os escritos na exposição Poéticas Visuais acham-se figuras renomadas como as de John Cage, Vostell, Janos Urban, Adriano Spatola, Koste anetz, Muntadas, Clemente Padin, Dick Higgins, Mallander, Klaus Groh, Michele Perfetti, Tom Ulrichs, Matsuzawa, Antonio Miralda, Júlio Plaza, Regina Silveira, Gabriel Borba, Barrio, Regina Valter, Anna Bella Geiger, Sonia Andrade, Jonier Marin, Letícia Parente, Joaquim Branco, José Paulo Paes, Fernando Cocchiarale e outros.

             GRAVURAS NACIONAIS ESTÃO NO MAC

O Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo acaba de adquirir uma série de gravuras, em várias técnicas, de artistas nacionais, enriquecendo seu acervo especializado nessa área de expressão As novas obras que  entram para as coleções do MAC geralmente cobrem fase recentes de artistas. Já representados na coleção, o que torna mais complexa sua documentação no acervo.
São os seguintes os artistas que tiveram seus trabalhos adquiridos: Fayga Ostrower, Edith Behring, Regina Silveira, Júlio Plaza, Tereza Miranda, Odetto Guersoni e Luis Fernando Voges Barth.

COSTIGLIOLO

O Museu de Arte Contemporânea adquiriu  também a pintura Rectangulos Y Cuadrados LXXVI, datada de 1976, do artista José Pedro Costigliolo, um dos pioneiros da arte construtivista no Uruguai.
O Museu já possuía de Costigliolo a obra Composição n.88, de 1953. Rectangulos Y Cuadrados LXXVI já se encontra em exposição nas salas das coleções internacionais do MAC.

                       PAINEL

CARLO BARBOSA- Está expondo na galeria brasiliense Eucatexpo. Ele pinta temas e imagens na vida do povo, registrando a poesia, o sonho, a fantasia e a resistência de seu testemunho.

SAULO DE COL- Desde ontem que Saulo de Col está mostrando seus trabalhos na Galeria O Cavalete, no Rio vermelho.

JOSILTON TON- Na minigaleria Acbeu está expondo Josilton Ton, de quem falei há duas semanas sobre suas esculturas. Um jovem de talento.

QUEM VEM LÁ?- É o Edmilson Ribeiro com seus entalhes  de anjos que voam com asas compridas em frente ao casario da Bahia. É o Edmilson Ribeiro, de Vitória da Conquista, que chega e conquista a Rua do Sodré, com seus entalhes místicos e sua própria figura. Ele está expondo na galeria da ESAF, no Ministério da Fazenda.

FAROLEO- está expondo na Galeria da Alliance Française. Por ser um primitivo de qualidade tem boa aceitação na França onde seus quadros estão em várias coleções.


OURO DO PERU- Enquanto o Museu Romer-Pelizaeus ,de Hildeshein conseguiu atrair ano passado quase 400.000 visitantes para sua exposição Echnaton-Nefretite Tutankamun.    Neste verão oferece novamente uma atração cultural de nível internacional: na ampla exibição de Ouro do Peru o museu mostra não apenas sua rica coleção de cerâmica peruana antiga, mas também 250 peças emprestadas pelo Museo Oro Del Peu que só muito raramente podem ser apreciadas na Europa.

Os objetos da exposição deste país latino-americano não procedem das riquezas dos conquistadores espanhóis. Trata-se, isto sim, de objetos de arte de diferentes épocas da cultura pré-colombiana, começando pela cultura Chavin a partir do ano 1000 a.C. aproximadamente ,até a época do Império Inca. Foto.
DE FIORI- O professor alemão Dierk Engelken, da Universidade de Colônia, encontra-se em São Paulo onde vem efetuando pesquisas visando o levantamento da obra de Ernesto de Fiori realizada no Brasil.
Ernesto de Fiori, de origem ítalo-alemã 1884-1945, viveu no Brasil entre 1936 e 1945 e aqui produziu inúmeras esculturas além de retomar a pintura, arte pela qual começou sua carreira.
Dierk Engelken já conseguiu realizar grande parte do levantamento da obra do escultor nos museus europeus. Sua pesquisa em São Paulo vem sendo ultimada junto aos colecionadores e particularmente junto ao Centro de Documentação do MAC, que, em 1975. apresentou uma mostra retrospectiva do artista.
Concluídos seus estudos, o pesquisador visitante apresentará uma tese de doutorado junto á Universidade de Bonn.
REMBRANDT- Vândalos jogaram ácidos em três quadros de Rembrandt e um de Willian Drost que estavam em exposição na Galeria de Arte do Castelo Wilhelmshohe.
Um porta-voz da polícia disse que ficaram seriamente, danificados os quadros Apóstolo Tomes, Selbstbildnis (auto-retrato) e Der Segen Jacobs ( Benção de Jacó) , pintados por Rembrandt.
O outro quadro também seriamente danificado foi Christus Erscheint Magdalena Als Gaertner, ( Cristo Aparece a Madalena como Jardineiro), de Drost.A polícia informou que está buscando um homem alto de idade entre 40 e 45 anos.



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