domingo, 26 de maio de 2013

O RETRATO DO VERNISSAGE

JORNAL A TARDE, SALVADOR , 11 DE DEZEMBRO DE 1976

Muita gente não sabe a origem desta palavra. Outros simplesmente não estão interessados em saber o seu real significado, pois o que realmente interessa são as datas e os locais onde vão ser realizadas novas vernissages. Mas, para os que estão interessados, a palavra francesa vernissage tinha antigamente outro significado ou seja, às vésperas da inauguração de uma exposição o artista convidava  seus amigos e juntos iam envernizar os quadros que seriam mostrados com um bom acompanhamento de bebidas e bate-papos.
Dizem os registros históricos que em exibições oficiais, como  as  que aconteciam durante o verão na Inglaterra, especialmente as da Academia Real de Arte da Grã-Bretanha, os artistas davam os retoques finais nos seus trabalhos, envernizando-os e, que Turner ficou conhecido por fazer mudanças significantes em seus trabalhos no dia do vernissage. 
O tempo passou e a palavra vernissage passou a significar ou melhor a ser confundida com inauguração de exposição. Para os artistas especialmente os jovens a palavra vernissage cheira a crucificação, a via crucis ou a sofrimento. Às vésperas em vez de chamar seus amigos para envernizar seus trabalhos o pobre do artista está nervoso e endividado. Se, já é um artista famoso está também sofrendo e preocupado virando e remexendo o seu arquivo de nomes para certificar-se se todos foram convidados.

Tem que estar bem vestido e com um sorriso nos lábios para distribuir a todos os frequentadores dos vernissages. Existem no entanto tipos que são eternos frequentadores de vernissages. Lembro de alguns que merecem destaque. Para que o vernissage seja chic é necessário a presença de um escritor famoso, de um diretor de um órgão cultural, de um crítico barroco, de um decorador, e muitas senhoras de longos e extravagantes vestidos. No centro das atenções estão as doses de whisky e os canapés distribuídos por nervosos garçons. Os quadros estão às moscas. Também é o vernissage, e não é ora de olhar os quadros. Isto eles fazem depois. Mas como o negócio é marcar a presença alguns reservam quadros e ali colocam seus cartões de visita.

Dá prestígio, embora o coitado do artista tenha que procurá-los ao término da exposição solicitando que venham buscar a tela e pagá-la. Para o dono da galeria é um dia de glória porque suas salas empoeiradas ficam repletas de gente. Normalmente as salas estão vazias no silêncio sepulcral dos velhos casarões da Bahia, e o vernissage acaba com aquela monotonia e em cada visitante está escondida a capacidade de compra de um trabalho.
Estive recentemente visitando uma exposição no dia de sua inauguração ou seja no dia do vernissage. Lá encontrei muita gente sentada do lado de fora em estratégicas cadeirinhas colocadas pelos donos da galeria. Enquanto isto tive a felicidade de visitar e olhar tranquilamente os barcos e os peixes expostos sem a perturbação da multidão, que lá fora continuava bebericando e conversando bobagens.

                         KANTOR VIVE INTENSAMENTE

Está em Salvador o pintor argentino Manuel Kantor, que em 1948 esteve aqui durante alguns meses pintando os recantos baianos.É um homem inquieto por natureza que gosta de andar e conhecer gente. Um temperamento latino, amigueiro e brincalhão. Agora com mais de sessenta anos de idade tem uma grande ansiedade em produzir, em manter novos contatos.


Kantor trabalhando em seu atelier  em Salvador
Quando falo de um pintor de 60 anos, não penso num velho quieto em sua cadeira de rodas. Penso num homem maduro e com grande capacidade de produção, mas consciente de que os anos que existem pela frente devem ser aproveitados ao máximo. A mentalidade consciente de Kantor é tão grande, que muitas vezes você é pegado de surpresa por uma interpretação que não imaginara. Como uma lebre, altiva e vigilante, o Kantor fala de sua obra e quer situar-se na Bahia.
Seus olhos não param de cintilar e suas mãos firmes estão prontas para pegar no pincel e produzir um belo quadro.
Conheço o trabalho do Kantor há algum tempo, mas sua personalidade sua pessoa, vim conhecer agora, quando esteve na redação de A Tarde. Em 1952 ele edita pela Melhoramentos um livro Kantor-Bahia, que ao que tudo indica teria sido o primeiro livro de arte em cores editado sobre a Bahia. Este artista esteve ligado á Bahia e no ano seguinte demora-se algumas semanas em Salvador e cidade do Recôncavo. Depois viajou e dividiu seu tempo entre Buenos Aires, Rio de Janeiro e Europa. No ano passado o Museu de Arte Moderna de Buenos Aires organizou uma retrospectiva de sua obra abrangendo 35 anos de pintura, a qual foi filmada e em breve este filme será projetado para os baianos.
Poderíamos dizer que a intimidade deste artista com o Brasil é tão grande que sua obra passa a ser dividida em etapas, sendo que a fase brasileira tem talvez mais maturidade. Sua trajetória de retratista, caracturista, ilustrador e pintor lhe permitiu um amadurecimento na escolha dos temas e das cores. Tem exposições realizadas em vários museus de renomes internacionais e esteve ligado por relações de amizade e grande nomes da pintura como Portinari ao escritor José Lins do Rego, dentre outros. Seus murais são igualmente famosos.

Obra de Kantor onde ele pintou o seu atelier na
Argentina
Em 1972 foi editado em Milão o seu livro Disegni, por Luigi Maestri, famoso artesão bibliófilo. Este livro abrange toda sua obra de 1927 a 1971.
O arquiteto Oscar Niemayer falando sobre o artista disse Kantor apresenta uma fase dedicada ao porto de La Boca, em Buenos Aires. Período que me agrada particularmente pela sua simplicidade, pelos aspectos severos, quase ciclópicos, com que trata a arquitetura, num clima de poesia e surrealismo. Mas não é apenas sua pintura que me comove e a vocês recomendo, mas o amigo fraterno que tantas vezes encontrei pela vida afora, abraçado ás suas telas, otimista e generoso com o mundo e os homens.
Como todo homem que gosta de viajar é um encantado pelo mar e pelas coisas que dizem respeito aos oceanos. Os barcos são uma presença constante em seus trabalhos, especialmente áqueles ligados ao bairro de La Boca, pequeno porto em Buenos Aires onde vive grande número de artistas. Enamorado os barcos e do mar Kantor retrata-os com uma pureza e uma leveza sem igual. Parecem sobrenaturais. Os mastros cortam os céus escurecidos e as casas paradas e cálidas, guardam os segredos dos séculos. A singeleza da pintura de Kantor é um traço de sua personalidade. Um tipo que se adapta ao temperamento sem preconceito do baiano.
Riso largo e algumas palavras de carinho para falar desta terra que agora será pintada por ele. Esta fase que ora se inicia certamente será um marco na pintura de Kantor e a Bahia figurará com seus casarões e suas praias. Ele está trancado em seu atelier no Hotel Vila Romana, na Barra pintando e fazendo seus estudos para uma exposição que fará em breve no Museu de Arte Moderna da Bahia. No Solar do Unhão.

                   ESTUDANTES NOS MUSEUS

Seguindo a diretriz de aprender fazendo, no oferecimento de orientação sobre a maneira mais objetiva de utilização do acervo do Museu de Arte Sacra da UFBa, para atividades de pesquisas escolares, será realizado o II Encontro de Professores do 1º Grau de Museológicos, nos próximos dias 15 a 17. As inscrições já se encontram abertas, para qualquer interessado, com taxa de trinta cruzeiros.
Este II Encontro de Professores do 1º Grau de Museólogos é em continuação ao que foi anteriormente realizado, e dará prosseguimento aos trabalhos iniciados por professores e museólogos. O objetivo é proporcionar aos participantes a oportunidade de determinar Novas maneiras de utilização do Museu de Arte Sacra da UFBa, para atividades de pesquisa dos currículos escolares. A coordenação do Encontro está a cargo das museólogas Neuza Borja e Valdete Paranhos.
No final, os participantes que apresentarem trabalhos receberão certificados como efetivos, e os demais terão certificados como ouvintes.
O programa do Encontro será o seguinte: dia 15, ás 10 horas, abertura; ás 10h, e 30m, palestra: A dinâmica no Museu de Arte Sacra, Valdete Paranhos; ás 14 horas, apresentação de um trabalho pela coordenação do Programa Museu/Escola da Fundação Cultural do Estado da Bahia; dia 16, apresentação da apostila Histórico do Museu de Arte Sacra, de autoria da estudante Marise Largo da Rocha; ás 14 horas, apresentação de trabalhos dos participantes inscritos; dia 17, ás 10 horas, debates sobre os trabalhos apresentados, tomando como base o currículo do 1º e 2º Graus, na parte de atividades que sugerem: Aprender fazendo, conscientizando os professores no sentido de que o Museu de Arte Sacra pode servir de laboratório para pesquisas extra-classe.

                            PAINEL

DESENVOLVIDO- Enquanto enchemos nossos estádios de famintos torcedores vinte e dois milhões de visitantes estiveram admirando as peças e objetos de arte expostos nos museus da Alemanha. Este número foi alcançado devido ao interesse dos diretores dos museus em realizar exposições que atraem grande público. Assim o Museu de Etnografia, em Munique inaugurou a África Central, composta de esculturas de madeira e farto material sobre a polêmica existente entre os modelos europeus e árabes. Na foto  cabeça de uma figura masculina, Baluba, Zaire.

SEMANA DA MARINHA- Uma coletiva de trabalhos de Joselito Duque, Antoneto, Benedito Barreto, Rescala, Juarez Paraíso, Calixto Sales, Alfonso Lafita, Edson da Luz, José Artur, Pedroso, Yuriko, Costa Lima, Ivan Lopes, Leonardo Alencar e Joel Estácio será realizada na Base Naval de Aratu em comemoração a Semana da Marinha. A mostra está sendo coordenada por Roberto Araújo da Galeria Rag, Boca do Rio.

SERTÓRIO- o artista Sertório está expondo na Galeria Dart, que fica na Siqueira Campos no Rio de Janeiro. São trabalhos executados desde 1954 que ele vinha guardando e agora devido a insistência dos amigos resolveu mostrá-los ao público carioca.

ARTE LATINA- Uma exposição de artes latino-americanas, inaugurada recentemente em Washington, vem demonstrar a riqueza de desenhos e do artesanato que havia no Hemisfério à época da Revolução Americana.
Cerca de 150 objetos e pinturas encontram-se em exposição na Galeria Renwick da Coleção Nacional de Belas Artes da Instituição Smithsoniana. A exposição intitulada Américas: As Artes Decorativas na América Latina à Época da Revolução permanecerá aberta até abril de 1977.
Inclui peças de prata, têxteis, mobiliário, cerâmica e couro criadas na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guatemala, México, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico e Venezuela.
Entre os itens figuram vestimentas litúrgicas uma taça de prata e palha, uma peça de cerâmica ricamente decorada, um tapete, bordado, uma mala de couro, uma moldura de madeira com ilustrações de ouro, uma sandália de prata para a imagem de um santo.
Mais de 1.000 pessoas, entre artistas, autoridades governamentais, membros da comunidade diplomática latino-americana e o público em geral compareceram á inauguração oficial.
O Dr. Joshua Taylor, diretor da Coleção de Belas Artes, referindo-se á exposição, disse que as artes decorativas, quer castamente funcionais ou em suas expressões mais exuberantes, foram partes das fantasias pelas quais os povos vivem.
Formas e adornos oferecem uma noção de valor bem além das de mercado, elevando a necessidade ao domínio da opção. Expressam, pois um sentido de vida, de expectativa, de realização.
Estudar as artes decorativas da América Latina do período da Revolução Americana é participar de uma visão complementar, um momento tão semelhante e ao mesmo tempo tão diferente do nosso.
Quando a Instituição Smithsoniana decidiu reunir os mais belos exemplares disponíveis da arte decorativa latino-americanas, como parte das comemorações do Bicentenário dos Estados Unidos, solicitou á escritora e consultora Mildred Constantine para coordenar a exposição. Miss Constantine tomou as providências necessárias para conseguir sob empréstimos das peças de vários museus e coleções particulares, principalmente na América Latina.


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