domingo, 19 de maio de 2013

AS GERAÇÕES


 JORNAL A TARDE 17 DE DEZEMBRO DE 1977

As lutas brancas entre as gerações não aparecem apenas como um fato biológico aos olhos do que enxergam o amanhã. Isto porque, vemos esta luta sempre engrandecida com as coisas boas que as gerações que precedem presenteiam às comunidades. É assim que vejo neste final de 1977, o aparecimento de novos artistas no cenário das artes plásticas baianas. Vejo a chegada triunfante de um Luís Brito, com uma pintura forte calcada em sua visão do Nordeste. Vejo o Antoneto com suas figuras de cabeças chatas e grande lirismo. Vejo o Zivé com sua agressividade. O Mário Cravo Neto com sua arte carregada de vanguardismo e o Murilo com seu trabalho consciente. Enfim vejo gravadores novos e artistas que burilam o pincel e o buril. Artistas que certamente estão subindo os degraus difíceis da fama em busca de um reconhecimento da qualidade de seus trabalhos. Artistas que estão dispersos, porém trabalhando cada um com toda a força criadora da juventude, procuram uma afirmação maior. Seria enfandonho citar outros nomes, tão criativos e sérios, como estes que acabo de citar, mas, que no fundo formam uma constelação que começa a brilhar neste céu tão escasso de estrelas verdadeiras.
As gerações são substituídas. A vida prossegue e outros novos artistas chegarão com suas bandeiras em busca de um lugar para instalar seus estúdios. Os mais velhos, já feitos, já togados e imaculados não desaparecerão, porque muitos souberam construir uma obra que serve de exemplo para todos nós. Outros, desaparecerão e não mais deles ninguém vai falar.
Isto é triste e talvez alguns considerem uma posição pessimista. Pode ser. Mas é verdadeira. Não falaremos mais deles porque já morreram em vida. Suas obras outrora badaladas em determinados locais reservados às futilidades serão substituídas por outras mais sérias. Elas deixarão as paredes das casas aburguesadas e serão deslocadas para os porões ou recinto dos empregados. Isto porque não souberam em tempo, elaborar uma obra capaz de sobreviver a chegada de uma nova geração. Muitas dessas pessoas estão por aí. Riem por qualquer coisa, porque são incapazes de entender a projeção de um trabalho artístico no decorrer dos anos. Riem de si mesmos, porque são incapazes de sentir que gente jovem está chegando e que vieram para ficar ou melhor para ocupar seus lugares de acordo com a determinação biológica. Esta luta de gerações, universal, é realmente a grande arma daqueles que sabem construir o futuro e não acreditam em falsos valores, porque não sobrevivem a uma década.

                   TRABALHA POR UM MUNDO MELHOR

Operários trabalhando na escultura O Meteoro, de
Bruno Giorgi,quando Brasília ainda era uma criança
"Trabalho para fazer o mundo melhor." Esta frase lapidar de Oscar Niemeyer traduz a grandeza deste homem que revolucionou a arquitetura nacional.Aos setenta anos, completados no último dia 15, Niemeyer é uma legenda e uma presença necessária em qualquer compêndio de arquitetura em todo o mundo. É um homem que criou e continua criando e permanece indiferente aos tropeços daqueles que não souberam avaliar a grandiosidade de sua obra. Projetos seus foram rejeitados e alguns reformulados.
Mas outras pessoas souberam reconhecer o seu talento e por isto suas obras também podem ser encontradas na Europa e África.
Ele diz que o brasileiro nunca aprendeu a fazer arquitetura lá fora, mas aqui mesmo, sempre suando, lutando. Temos uma arquitetura livre, corajosa, sensual; temos até um engenheiro, o Joaquim Cardozo, que senta numa prancha e faz poesia.
Falando sobre Brasília, na sabedoria dos seus setenta anos Oscar afirma que desde o primeiro rabisco, sentia que estava diante de algo profundamente importante para a nação. Mas foram os operários os verdadeiros heróis dessa empreitada. Havia naquela época, adianta, uma forma de engajamento entre os chefes e subordinados, operários e engenheiros. Um denominador comum que gerava igualdade e uma afinidade natural inconcebível em outras circunstâncias devido a intensa diferença de classes.
E no Planalto, antes quase inaccessível, ele viveu três anos o sonho de toda a sua existência, hoje, carregada de glórias. Mas deixou uma obra imortal, e as gerações que virão jamais o esquecerão.

             INÉDITOS DE  CÂNDIDO PORTINARI NO MNBA

A exposição de 71 desenhos de Portinari, 66 dos quais inéditos, montada no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio, " ilumina o ano artístico, comentou seu organizador, Ralph Camargo. E os críticos de arte que já estavam preparando o balanço anual do movimento artístico, descrevendo-o com palavras sombrias, apesar de inúmeros quadros berrantes terem ocupado as paredes das principais galerias, reescreverão com novas cores suas opiniões, apesar da maioria dos desenhos ser em preto e branco",  acrescentou Camargo.
Há três anos reunindo os desenhos de Portinari, muitos deles guardados pelo pintor no seu apartamento o bairro carioca do Leme, Ralph Camargo pretende fazer mais do que uma simples exposição. Quer mostrar para o público a História da Vida e a Obra do Pintor, de 1913 a 1977, apesar de sua morte ter ocorrido em 1962," porque mesmo depois de morto ", ressalva Camargo," Portinari não deixou de ser notícia".
A exposição não tem finalidade lucrativa e dá ênfase ao caráter didático, histórico e cultural do pintor que foi chamado pelo diretor do Museu do Louvre de  o Michelangelo Brasileiro.
Por tudo isso e também por ser a primeira exposição dos últimos 15 anos, nenhum detalhe foi negligenciado.

Os desenhos expostos estão acompanhados de vinhetas explicativas e os focos de luz foram colocados da maneira mais adequada para ressaltar a mensagem e a sensibilidade do pintor.
Dentre as obras exibidas, destacam-se vários estudos dos painéis de Guerra e a Paz feito para a ONU. O da Chegada de D. João VI pertencente ao Banco da Bahia. O dia da A Primeira Missa no Brasil, do acervo do Banco Boavista, além da série encomendada para o saguão do Ministério da Educação, no Rio.
Também as ilustrações de Brás Cubas e o Alienitas e os estudos intitulados Carnaval para um painel que ocuparia toda a parede de primeiro andar da TV Tupi que se perdeu no incêndio, estão enriquecendo esta série de trabalhos de maior importância artística revela Camargo.
Enquanto coletava o material para a exposição, auxiliado pelo professor Edson Motta, grande amigo d Portinari, e com a colaboração da família do pintor, Ralph Camargo teve outra ideia. Transformar o que seria apenas um catálogo da exposição num livro completo sobre o pintor, Já que nada existia nesse sentido em português. A ideia tomou proporções gigantescas e ele contratou quatro auxiliares que coletaram todas as notícias publicadas em jornais e revistas nacionais e estrangeiras. Foram acrescentados 50 depoimentos de personalidades da geração do artista que serão publicados na íntegra. Raul por exemplo, escreveu sobre o Enigma de Brodowski!, Gilberto Freire, O Portinari Épico, Menotti Del Picchia, Meu Amigo Portinari e Oscar Niemeyer, Para a Pintura Apenas o Conceberam. Camargo explica que cada um dos amigos que se dispuseram a falar sobre o pintor aborcaram os ângulos que mais os fascinavam.Raul, destacou o lado mais humanista, lembrando seus encontros quase diários com Portinari.

O mesmo aconteceu com Caymmi que descreve suas lembranças em formas de poemas musicados enquanto Gilberto Freire traçou um paralelo entre os santos louros pintados por Portinari e os trabalhos dos negros de mãos pesadas e fortes que se destacam em suas telas.
Camargo está confiante em seu trabalho. Tem certeza de que nenhum detalhe foi esquecido e nem poderia deixar de ser assim, porque nada na obra e na figura de Portinari é desprezível ele só não conseguiu foi que a editora entregasse o livro para o dia da inauguração. Mas garante que bem antes de seu término, já estará nas mãos dos incontáveis admiradores de Cândido Portinari que, apesar dessa admiração, desconhecem facetas e particularidades de sua vida e personalidade. Fazer um pouco de suspense, até que a editora entregasse os exemplares, onde está incluído o poema Grunewald, escrito no fim de sua vida, falando de suas decepções e angústias. O público terá o dia 30 de janeiro para conhecer Cândido Portinari na sua intimidade. Depois, será a vez dos paulistas, onde a exposição já tem data e local marcados no MASP a partir do início de março.

          ADELSON DO PRADO NA GALERIA GROSSMAN
Trinta mini-quadros de Adelson do Prado fazem parte da exposição organizada por Ethel, na sua galeria que fica no Orixás Center. São trabalhos ricos em plasticidade, todos invocando temas sacros ou nossa gente. Podemos afirmar que este artista vem sofrendo conscientemente um grande processo de desenvolvimento de suapintura.
Conheço Adelson há mais de dez anos, quando chegava à Salvador vindo de Vitória da Conquista para realizar suas primeiras exposições.
Veio e venceu, partindo para o sul do país onde existe um mercado de arte mais consistente.
Mas sua ligação com  Bahia é muito grande e de quando em vez o Adelson volta orgulhoso para mostrar suas novas criações.
Neste fim de ano ele não podia dar melhor presente aos baianos: uma exposição de 30 miniquadros na Galeria Grossman.




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