segunda-feira, 15 de abril de 2013

GILSON PINTA BANANEIRAS DRIBLANDO A BANALIDADE - 28 DE AGOSTO DE 1989.


JORNAL A TARDE,SALVADOR,  SEGUNDA-FEIRA, 28 DE AGOSTO DE 1989.

GILSON PINTA BANANEIRAS DRIBLANDO A BANALIDADE

Gilson Rodrigues com uma das telas que
estão na Galeria Época
São múltiplos e diversos os fatores que impressionam na pintura de Gilson Rodrigues. Um deles é a sensibilidade de perceber e reproduzir o que está próximo, redimensionando-o, porém, através de uma rara percepção capaz de lançar esses elementos de estímulo para além das fronteiras do meramente imediato. Assim os tópicos tropicais de suas bananeiras não estacionam no banal das estampas, como torsos de Carmem Miranda exaltando o País dos papagaios. Essas palavras são do poeta Béu Machado que fala em sensibilidade de Gilson e, ele mesmo irradia sua sensibilidade poética quando enfoca as bananeiras extraordinárias concebidas por este artista batalhador.
Escrevi no catálogo de sua exposição que está aberta ao público na Galeria Época que uma forte trama envolve o observador de sua arte. As estrelas de Janaína transformam-se num símbolo forte e quase indecifrável. As folhas verdes das bananeiras são transpostas para as telas e ganham beleza em outras tonalidades, uma demonstração da capacidade criativa do artista. Um paciente trabalho, que lembra os monges que habitam os silenciosos conventos e que não tem compromisso com o tempo. Eles não tem compromisso com o tempo. Eles não tem pressa. Assim é a arte que ora Gilson desenvolve com uma trama intrigante, onde cada tracinho necessita de um bom tempo para que sua função seja ressaltada.
Gilson fica embaraçado quando lhe peço para falar um pouco da sua arte. Ele diz que falar da intuição fica difícil. Realmente, o seu trabalho é intuitivo e artista tem mais é que pintar. Falar da obra, para ele, é um verdadeiro trauma, uma dificuldade quase intransponível. Mas, basta olhar suas telas que elas falam muito por Gilson. Sua relação com as folhas e até com os cachos das bananeiras nos faz lembrar de um país tropical onde esta planta é um símbolo presente, inclusive das nossas mazelas continentais.
República de bananas, expressão que basta para designar um país do Terceiro Mundo que vive enfrentando dificuldades e golpes em cima de golpes. Gilson resgata este símbolo e dá grandiosidade pictórica.
Na sua obra o símbolo ganha ou recupera a grandeza de sua majestosa plasticidade. O verde intenso e a própria forma da folha de bananeira têm realmente uma plasticidade significativa. Gilson percebeu o ato e, assim, vem desenvolvendo esta temática com criatividade e competência.

                                      GUIA DAS ARTES FAZ TRÊS ANOS

A Revista Guia das Artes está completando três anos de vida. Recebi um convite de Rita Câmara, na Art Nata Galeria de Arte, para o lançamento da edição comemorativa, que ocorreu no último dia 22. Infelizmente fiquei impossibilitado de comparecer, devido às minhas atribuições à noite no jornal, sempre sujeitas às imprevisões dos fatos jornalísticos. Quero apena salientar a qualidade da publicação especialmente a presença de galerias baianas, e também aproveitar para lembrar que é necessário também inclui artistas daqui com entrevistas de qualidade. O Guia de Artes começou a circular em setembro de 1986 com o objetivo de  dar cobertura ao mercado de arte no Brasil, que até então não contava com uma publicação especializada. O evento da Art Nata conta ainda com uma coletiva reunindo obras de Vauluizio Bezerra, Murilo, Leonardo Celuque, Leonel Mattos, Mário Cravo Neto, Carlos Rodrigues, dentre outros. A tiragem da revista é de 15 mil exemplares,  sendo que 2,5 são enviados a executivos, empresários, críticos e galerias por mala-direta.

    JORGE GAMA EXPÕE DEPOIS DE CINCO ANOS AUSENTE

Delicadeza, uma palavra capaz de expressar no primeiro contato com o dublê de publicitário e artista plástico Jorge Gama. Nem lembra de perto, que esta figura aparentemente serena possa estar envolvida com layouts , mídia, espaços, faturamentos e outros assuntos que contribuem para neurotizar muita gente.
Embora esteja dirigindo o setor de criação da Propeg sabemos que a publicidade envolve outras áreas, quer queira ou não o criador, que tenta de todas as formas ficar envolvido em sua área de sensível e intocável. Porém, as pessoas de outros setores sempre estão ao seu redor, todas buscando atender melhor a sua clientela. Os prazos são fatais. E o tempo corre célere no relógio e nas veias e nervos das pessoas envolvidas com uma campanha publicitária qualquer,. E o nosso Jorge Gama já foi até morar em São Paulo quando a agência resolveu abrir uma filial na capital paulista, mesmo lá não perdeu a tranquilidade, e vez por outra surgia uma obra, chegando até a fazer algumas exposições. Sua última exposição foi na Galeria Rubayat, em São Paulo, em 1984.
Olhando as obras que estão estampadas em seu catálogo , sentimos que a gente da Bahia, como diz o nosso querido Jorge Amado, está presente em todas elas. É a gente simples que é retratada no cuidadoso desenho e depois transporta para a tela. Formado pela Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, Jorge Gama é um desses artistas que a vida profissional carregou para outras paragens , mas que a sua força intuitiva não permitiu que esquecesse a pintura. O curioso é que este carioca de 60 anos continua disposto a pintar. Sua exposição está na Galeria Arte Viva, que funciona no Farol Praia Center, na Barra.


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