sábado, 16 de março de 2013

O TRABALHO DE CELSO CUNHA - 24 DE FEVEREIRO DE 1979


JORNAL A TARDE,  SALVADOR, 24 DE FEVEREIRO DE 1979

                O TRABALHO DE CELSO CUNHA

Celso Cunha é um dos jovens artistas plásticos da Geração dos Anos 70 sobre a qual venho insistindo, há uma necessidade premente de ser escrito um trabalho sério, de pesquisa, de grande fôlego mesmo.
No mínimo duas dezenas de jovens artistas baianos deverão figurar na obra a ser elaborada sobre esta geração que terá como principal objetivo enfocar a contribuição indiscutível destes artistas emergentes ao cenário plástico visual baiano. Trata-se, acredito, de uma contribuição significativamente nova, criadora, a destes artistas, que pensada pelos nossos pouquíssimos críticos de artes visuais, servirá de ponto de apoio para uma avaliação das possibilidades da Bahia em termos de Artes Contemporânea nos últimos anos da próxima década. Em resumo, no que diz respeito às artes plásticas na Bahia, deparamos com um público pobremente informado por falta de estudos mais sérios, de trabalhos sistemáticos, fundamentados em pesquisas.
Não fosse a contribuição dos críticos que semanalmente escrevem em dois dos jornais que circulam em Salvador, a coisa se reduziria a zero em matéria de informação.
O criador dos três imponentes painéis para o Centro de Convenções da Bahia, o jovem artista Celso Cunha, com diversos trabalhos realizados para casas de crédito da capital e do interior do Estado é um desses valores pessimamente divulgados e, não fosse o interesse do responsável por esta permanente coluna de Artes Visuais não teria o público baiano informações sobre o importante e sério trabalho do artista.
A técnica utilizada por Celso Cunha na elaboração dos seus painéis é o entalhe em madeira, o cedro, onde o artista fez o desenho definitivo, usando lápis cera e pincel atômico e valendo-se de formões, goivas e outras ferramentas, fixa definitivamente sua linguagem altamente intelectualizada da nossa Bahia. Com um acabamento de alto nível técnico, feito a fogo com maçarico a gás, pintura, cera de carnaúba, aplicando uma variedade de conchas marinhas. O entalhe dos painéis variou de 0,00 à 0,05 de profundidade, já que as pranchas utilizadas possuem 0,07m de espessura. Usando texturas várias, cortes, planos e tensões harmônicas, transmite grande beleza plástica. É realmente uma obra soberba e grandiosa, causando um efeito emocional sobre o observador.
Os painéis que serão colocados no Centro de Convenções totalizam uma dimensão de quase 40m2. Vale dizer que todos os trabalhos de Celso Cunha são caracterizados por grandes dimensões. É certo afirmar sobre o artista, valendo-me do grande critico de arte americano Clement Greenberg, trata-se de um artista envolvido desde cedo pela concepção da parede em oposição ao cavalete, algo característico da revolucionária arte contemporânea. Assim os trabalhos do jovem artista Celso Cunha com seus dominadores sóis no painel central, com estilizados peixes, cavalos marinhos, conchas espessas de moluscos gastrópodes branquiados e generalizada Yemanjá no painel a ser posicionada à esquerda, e, finalmente,oferece o painel fixado à direita, figuras extraordinariamente estilizadas de baianas, além de figurarem peixes recortados por uma vibrante faixa diagonal a evitar equivalentes visuais realistas, misteriosos signos de estranha beleza.
É assim a obra de Celso Cunha artista consciente, a sacudir critérios tradicionais da arte muralista, com novas soluções formais, algo que nos faz acreditar que os meios artísticos baianos seria no futuro sem esperança, sem respeitável teor criativo se não contássemos com a força dos jovens e determinados valores da Geração dos Anos 70.


PROGRAMAÇÃO EM BRASÍLIA MARCA DOIS ANOS E MEIO
DE ATIVIDADES DA FUNARTE

Foi inauruada no dia 14 de fevereiro, no Núcleo da Funarte em Brasília, com a presença do presidente da República, a exposição Vida, Trabalho e Produto da Funarte.A programação que inclui uma mostra dos objetos da Funarte em fotos, painéis e mapas, se inicia no dia 8 de fevereiro, com a estréia do Verão Funarte, com o espetáculo de música popular.
Também no dia 14, foi lançado o livro Artesanato Brasileiro, produzido pelo Instituto Nacional do Folclore, e editado pela Funarte, e que é o produto final do PAB – Projeto Artesanato Brasileiro. Iniciado em fevereiro de 1978 e terminado em novembro, este projeto abordou coleções e acervos voltados ao patrimônio da cultural popular, com destaque para o artesanato e uso e a função social. Com a introdução do crítico Clarival  do Prado Valadares, o livro reúne grande quantidade de fotografias, com análise de conteúdo e qualidade gráfica.
Já o Verão Funarte apresentou uma série de shows de 8 a 16 de fevereiro, reunindo alguns artistas que participaram do Projeto Pixinguinha, em duas sessões, às 19 horas e às 21 horas, sempre na Sala Funarte Brasília.
A EXPOSIÇÃO
Reunindo documentação desde 1976 até o início de 1979 a Exposição apresenta um balanço das atividades da Funarte em dois anos e meio de atuação, através de fotos , textos e mapas explicativos, cartazes de promoções, publicações, discos e apresentação ilustrada dos seguintes projetos em quatro áreas:
Artes Plásticas: Educação Artística / Verde Funarte, Arco-Íris, I Salão Nacional de Artes Plásticas, Museu Imaginário.
Folclore: Festa do Folclore Brasileiro, Recuperação de Grupos Folclóricos, Cursos, Edições, Exposições e Museus, Concurso e Atlas Folclórico
Música: Bandas, Rede Nacional de Música, Luteria, Música Sacra Mineira, Apoio a Criação Musical Brasileira, Concertos para a Juventude, Projeto Espiral, Disco, Melhoria do Instrumento Nacional.
Diversos: Pixinguinha, Vitrine,Núcleo de Cinema, Centro de Documentação e Pesquisa, Multimeios, Festivais de Arte, Projeto Universidade, Salas Funarte e Restauração e Conservação de Prédios Históricos.

                           BONECAS DE LOUÇA NO MUSEU

Se você curte bonecas antigas de porcelana como a velha Europa fabricava antes da última Guerra, o Museu Francês da Fotografia está patrocinando umas das mais belas e estranhas exposições jamais vista na Cidade Luz. O único modelo que posou foi uma dessas bonecas  da Coleção Sapène e o que vemos é a sua história , a sua reação diante  da vida e dos homens , suas paixões, dúvidas, sonhos e sofrimentos, tudo vista através do talento de Annie Fontanilles , jovem fotógrafa francesa, já com trabalhos nos arquivos da Biblioteca Nacional, como sua colega a premiada fotógrafa Danny Cotton.


                        GERARD BELIN, UM FOTÓGRAFO DIFERENTE

Paris, fevereiro , 1979Gerard Belin tem 31 anos, é francês católico, autor de uma exposição de fotos que tem abalado Paris pela força, originalidade e drama contido em cada uma delas. O tema da exposição: A Paixão de Cristo. Os que posaram foram escolhidos pelo fotógrafo por serem surdos- mudos.
Recusando a banalidade do retrato superficial onde cada um pode se reconhecer Gerard Belin visa situar o ser profundo além da simples aparência, numa espécie de conhecimento interior. Fotografia que se torna linguagem. Trabalhando um rosto durante meses ele incita este rosto a se reduzir a si próprio. A ser sincero consigo mesmo. O trabalho com cada modelo dura de cinco a oito meses, às vezes anos. As poses duraram de três a oito horas. Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses. A chave será ser ou não ser este fantasiado que se apresenta no mundo e em face de si mesmo. Para Gerard Belin o objetivo do fotógrafo é de fotografar o rosto original. O homem se contemplado dentro de si mesmo. A fotografia para ele é uma necessidade de redenção e mortalidade. É a separação da alma e do corpo - dualidade-, a arte sagrada.
Gerard Belin teve dificuldade em encontrar os modelos ideais que seriam os personagens da Via Sacra diante da sua máquina fotográfica. A sua escolha para o papel de Jesus recaiu num jovem surdo-mudo, o que no caso verificou-se de ser uma ideia de gênio. O jovem foi um Cristo inesquecível. Maria foi revivida com muita intensidade pela atriz Agnes Morghen.
Todos os outros eram de uma autenticidade notável. O resultado foi uma exposição impressionante que se via enquanto se ouvia cânticos gregorianos na Galeria Univers, Place  des Vosges.
O inesperado aconteceu : Belin foi convidado por ordens religiosas a vir a expor suas obras em igrejas, por toda a França, o que o nosso fotógrafo tem feito com fervor.
Este é o Gerard Belin, o poeta místico da fotografia. Psicologia e Alquimia. Paixão, humildade e fé ( Mara Guimarães)






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