sábado, 8 de dezembro de 2012

AMÉRIS PAOLINI LEVA PARA SÃO PAULO CORES DA BAHIA - 31 DE DEZEMBRO DE 1984.


JORNAL A TARDE, SALVADOR, 31 DE DEZEMBRO DE 1984. 

AMÉRIS PAOLINI LEVA PARA SÃO PAULO CORES DA BAHIA

A magia das cores vivas das fitinhas do Senhor do Bonfim
Ao chegar a Salvador para passar uma temporada tive o privilégio de conhecê-la. Trazia consigo muitas fotos de qualidades em tons suaves onde enfoca alguns aspectos e tipos da vida brasileira. Tão suaves quanto seu próprio jeito sereno de ser e ver as coisas. Lembrava, no primeiro contato uma certa frieza se comparada com a vida na Bahia que pulsa e explode em cores fortes.
Pensei comigo mesmo que a Bahia deveria mostrar a Améris Paolini a grandiosidade do colorido tropical e a influência que certamente exerceria sobre o seu trabalho. Pouco tempo depois ela estava encantada com as cores de Salvador e também de Itaparica e começaram a surgir os primeiros trabalhos com cores fortes, os trabalhos suaves em cor sépia foram guardados por algum tempo e o resultado foi uma série de fotos de alta qualificação e expressividade.
A influência aconteceu muito rapidamente porque bastava olhar do seu apartamento na Graça que surgia as cores fortes sensibilizando sua criatividade.Agora Améris Paolini realiza exposições . Uma no Bar Cristal, na Rua Professor Arthur Ramos, 551 e outra na Galeria Arco Contemporânea, ambas em São Paulo.
Améris é paulista de nascimento, mas tem uma ligação muito grande com a Bahia. Gostaria de ter ficado mais tempo aqui, porém, como o mercado fotográfico ainda é insipiente, principalmente para aqueles artistas que realizam um trabalho voltado para a arte fotográfica , teve que retornar ao sul do país.
Améris M. Paolini iniciou seus estudos na Fundação Álvares Penteado. Começou a fotografar em 1968.Expõe pela primeira vez profissionalmente em 1975 – MASP - .
Atualmente tem trabalhos e ensaios autônomos em vários países da Europa além de Estados Unidos e Canadá. Os objetos fotografados escolhidos por Améris transformam-se  em símbolos da sua quietude, da tristeza que sente pela condição humana, pela miséria quase aquém da capacidade de suportar.
Outra foto de Améris das lonas das barracas de festas
Muito influenciada pela fotografia de imprensa, Améris não fotografa simplesmente pessoas, cenas ou objetos, mas os usa para transmitir uma mensagem profunda, onde há sempre um elemento perturbador, que interrompe a serenidade da obra. Parte da premissa que a realidade é sempre ambivalente, portanto impossível de ser fixada num instantâneo, nos comunica assim suas idéias e sentimentos, sua própria visão e interpretação da realidade oculta.
Sua cor predileta é a sépia, que dá aos trabalhos um toque mágico de irrealidade. Nesta exposição Améris mostra uma continuidade do trabalho dos tamboretes de barracas das festas de largo – religiosas – da Bahia. As dimensões são de 30 X 40 cm.
Participam da exposição da Arco além de Améris Paolini, mais três fotógrafos: Anna Helena Mariani, Esther Chigner e Cândido José Mendes de Almeida.
Anna Helena Mariani nasceu no Rio de Janeiro e teve sua formação fotográfica em São Paulo. Além de várias exposições no Brasil, já mostrou seus trabalhos em Berlin e Zurich.
Seu trabalho é essencialmente documental, histórico e geográfico. Há 15 anos Anna Helena vem fotografando diversos aspectos do sertão nordestino, paisagens, as cidades, gente, trabalho, vegetações, e objetos.As exposições anteriores, todas em preto e branco, tratavam de alguns temas desta documentação Trabalho de Mulheres, Paisagem Árida, Margem do Rio São Francisco.No presente ensaio em fotos a cores, é da uma atenção especial a luminosidade que envolve a região da caatinga:lugares que tanto variam do nascer do dia ao entardecer, nas chuvas e nas secas. É quase surpreendente a suavidade cromática que a caatinga revela em certas ocasiões.Os trabalhos têm dimensões de 20 X 25cm.
Esther Chigner nasceu em São Paulo mas vive radicada em Lausanne , Suíça,. Além dos estudos no Brasil, estudou também na França e nos Estados Unidos.Esther dedica-se à fotografias, ao desenho, à litografia e a xilogravura.Em 1980 expôs fotos no Carpenter Center, em Havard , Canbridge, nos Estados Unidos.O mundo fotográfico de Esther é gráfico, bidimensional, fragmentado em superfícies intercaladas brancas e pretas , na proporção justa: beleza geométrica, beleza  feita de equilíbrio luminoso; um perfeito com as sensações; reflexão visual sobre a paisagem urbana, sem a presença humana, transformada portanto numa abstração.Procura a forma , o volume, a composição em si. Seus trabalhos tem dimensões de: 48 X 61cm. Além de exposições no Brasil já expôs em Paris na Galerie Sofitel.
Para Cândido Almeida, a fotografia encontra-se ligado a um processo de revelação, de descoberta, de investigação, o que interessa é universo discreto e surpreendente dos detalhes, cortes e enquadramentos. A uma opção clara pelo micro como instrumento condutor de uma outra realidade macroscópica. Ao mesmo tempo a uma tentativa de buscar uma geometria capaz de sugerir uma plasticidade indissociável do veículo. A cor, o corte, o traço são elementos que compõem o perfil básico da fotografia que Cândido José procura.Suas fotos tem dimensão de 30 X 45 cm.

       JOAQUIM FRANCO VALORIZA A NATUREZA

Existe alguma discordância contra o regionalismo. É claro que qualquer exacerbação é sempre mal recebida e qualquer radicalismo provoca cegueira e posições altamente prejudiciais. Mas, só podemos apoiar um artista que retira do seu mundo, da terra onde nasceu a inspiração para sua obra. Só podemos aplaudir e enaltecer as raízes culturais que ficam marcadas em sua consciência. Exatamente ai está centrada a preocupação do artista Joaquim Franco que retirou das roças e das feitas livres as cabaças.
Cabaças: privilégio ao elemento natural na obra de Franco
 Sendo um homem do interior tive através dos anos um contato muito grande com este elemento integrante da utilitária doméstica rural. Usada como vasilhame para os mais variados destinos a cabaça não pode faltar numa casa de fazenda. Foi exatamente esta intimidade que Franco resolveu eleger como elementos significativo de sua obra.
Recentemente ele foi premiado no II Salão de Artes Plásticas de Feira de Santana com sua tela Cabaças. É arquiteto pela Universidade Federal da Bahia e quanto ao seu trabalho é figurativo, onde através do seu traço transporta para as telas vários elementos integrantes da zona rural.
Sua obra tem a marca da contemporaneidade tão necessária para que possamos compreende-la dentro de uma visão de atualidade. É um trabalho de conteúdo social e antropológico na medida em que destaca elementos utilizados por determinada camada da sociedade brasileira.


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