sexta-feira, 19 de outubro de 2012

CATÁLOGO COMPLETA O CICLO DO SALÃO METANOR / COPENOR - 23 DE MARÇO DE 1987


JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 1987.

            CATÁLOGO COMPLETA O CICLO DO SALÃO  METANOR / COPENOR

Está sendo distribuído o catálogo do I Salão Metanor / Copenor de Artes Visuais do qual fui o curador. Na foto, a capa do catálogo e público abaixo o texto que escrevi:
“Desde o instante em que tomei conhecimento da idéia da Metanor/ Copenor em promover um evento na área das artes visuais, decidi apoiá-la. E, na medida em que esta idéia foi amadurecendo, nas várias reuniões das quais participaram figuras as mais destacadas da cultura baiana, aumentava o meu envolvimento, com um único objetivo de proporcionar aos artistas mais uma possibilidade de mostrar suas produções.
Finalmente, fixou-se que fariam um salão dedicado aos iniciantes. Não poderia surgir idéia melhor, isto porque sei das dificuldades de quem começa a dar os primeiros passos no difícil caminho da profissionalização. Abracei a idéia e, para surpresa de todos nós 287 artistas se inscreveram,130 foram selecionados, sendo quatro premiados com a aquisição de suas obras, além das 30 menções honrosas.
O Salão foi uma festa de juventude e de alegria pela presença, entre os expositores, de artistas até então desconhecidos, mas com muito talento. O Salão foi uma explosão de cores e formas, que impressionou até os experientes críticos Frederico de Moraes, de “O Globo” do Rio de Janeiro, e Olney Krüze, do “Jornal da Tarde”, de São Paulo.
O Salão Metanor/Copenor proporcionou ainda uma participação do público através de um júri popular, que escolheu seus favoritos.
As obras foram expostas no Museu de Arte da Bahia e depois numa ala do “Shopping Center Iguatemi”, quando foram vistas por mais de três mil pessoas.
Neste momento, de realização, quando já estamos sentido alguns frutos deste evento, proporcionado por essas duas empresas do nosso Pólo Petroquímico, não podemos esquecer da presença marcante dos professores da Escola de Belas Artes, Ivo Vellame, Juarez Paraíso, Aílton Lima, Graça Ramos, Márcia Magno e Carmen Carvalho, e, também, de sua diretora Ana Maria Villar. Enalteço a disposição de alguns deles e mais ainda dos artistas Antoneto, Capelotti, Renato Viana, Juraci Dórea e Andréa, em participar da Passarela de Arte, quando pintaram 10 belos painéis e que também ficaram instalados ao longo da Avenida Garibaldi.
Para que isso se transformasse em realidade, foi vital o apoio do diretor superintendente da Metanor/Copenor, Aldo Carneiro Júnior, e seu diretor financeiro, Dirceu Sampaio Eloy, e principalmente do gerente de marketing, José Francisco Presser, que, juntamente com Fiorella Fatio, da Inform, funcionou como verdadeiro esteio este evento. Essas duas pessoas viveram todas as etapas do Salão e agora, ao término de minha participação, desejo que fique aqui registrado o meu mais sincero agradecimento pelo profissionalismo de ambos.
Quanto aos artistas, mesmo aqueles que não foram selecionados, é hora de agradecer a presença da empresa privada num evento plástico. “Vamos continuar trabalhando e até um próximo Salão”. 

LEONEL MATTOS EXPÕE NO RIO E A PARTIR DO  DIA 23 
Obra Liberte-se,Meu País!

Duas exposições de trabalhos recentes do baiano de Coaraci, Leonel Mattos. Uma no Rio de janeiro, que vai até o dia 6 de abril na Galeria Artemaior e a segunda que está na O Cavalete, aqui em Salvador, de 23 de abril a 2 de maio.
Isto demonstra a atividade profissional deste artista, que está radicado em São Paulo enfrentando todas as possíveis e imagináveis dificuldades de alguém que sai da sua terra para vencer lá fora. Tenho certeza que Leonel será um vencedor. Não apenas por sua disposição de luta, mais aliadas a elas estão a sua capacidade criativa e sua inquietação. O homem é o centro desta inquietação e como um observador consciente ele vai colhendo detalhes de situações vividas nas grandes metrópoles.
O catálogo de sua exposição tem um texto escrito por mim, que traduz exatamente como sinto e vejo a arte de Leonel Mattos o desfilar de signos, que traduzidos são mensagens do inconsciente de um jovem artista inquieto, que explode em criatividade. 


A obra Pesadelo de um Artista 
é a capa do catálogo das mostras.
Sua arte reflete exatamente uma personalidade que está sempre perscrutando, sempre com os olhos abertos em busca de novas formas de expressão. Agora o homem é o centro das suas atenções, resultado de sua permanência numa grande metrópole, onde enfrenta a escravização imposta pela modernidade. O buzinar dos carros, o som das portas do metrô fechando e abrindo sem parar, no atravessar do sinal luminoso e nas letras de neon ou eletrônicas que anunciam os produtos mais variados. Até mesmo o aluguel de corpos que se desnudam e se dão por alguns instantes estão refletidos na arte de Leonel Mattos. E sua forma de expressão beira a arte chamada “Bruit” onde é preciso traduzir toda uma linguagem simbólica que sobressai da própria linguagem do cotidiano.
 
O vigor das cores e da própria ocupação dos espaços vem ao encontro de seu lado emocional, impulsivo. Sim, por que aí é o lado irracional do artista, que em determinado momento se deixa dominar pelo impulso moderno. Sua arte traz a marca inconfundível deste Brasil, explorado e espoliado, mas principalmente deste Nordeste quente e forte. Só que a sua linguagem, embora respaldada numa cultura brasileira, é entendida por todos aqueles que têm oportunidade de examinar com atenção a sua obra, sim porque é uma linguagem que tem elementos da universilidade. E um dado importante é que ele não de fecha em si mesmo.Deseja que todos participem de sua obra.
Lembro que certa vez, colocou nas ruas de Salvador algumas placas de compensado e deixou que os que passavam dessem algumas pinceladas. Fez isso em locais diferentes. No Sanatório, no Campo Grande, no Bairro da Liberdade, Instituto dos Cegos, na Detenção, no Porto da Barra, e em seguida fez uma exposição desses trabalhos. Na rua dialogava com o povo, ouvindo os mais variados comentários, inclusive foi tachado de louco por alguns transeuntes menos avisados. Leonel procurava exatamente sentir as reações, mesmo aquelas que poderiam lhe incomodar. O fruto desta experiência foi o surgimento de elementos que passaram a compor novos trabalhos do artista. Uma experiência rica em manifestações das mais variadas. Cada traço, cada desenho aparentemente desconexo foram importantes no desenvolvimento do trabalho e de Leonel Mattos.
Recentemente participou de exposições importantes, e foi premiado em vários salões oficiais.É um artista que tem fôlego para enfrentar adversidades que se apresentam, fundamentado no seu forte talento.

TRABALHOS RECENTES DE WAGNER SERÃO MOSTRADOS

Richard Wagner, o nome já indica alguma relação com a arte. Não com a música, como a princípio pode parecer, a qual deve ter inspirado seus pais a batizá-lo com este nome. Só que ele tem dentro de si aquela mesma excitação de um compositor que dedilha nervosamente a tecla de um piano. Porém, em vez de sentar-se diante de um piano de cauda utiliza outros instrumentos como o pincel, a brocha , a broca, enfim, todo o material que considera necessário para conceber seus grandes painéis de madeira ou de murais de cimento. A sua arte é quase fisiológica, na media que explode diante de nossos olhos.
Em Itabuna, todos conhecem a sua arte. No Itaigara, lá está a sua obra, em forma de grandes painéis de madeira. Ele disse que “como artista tem uma responsabilidade básica com a história, com quem estou comprometido seriamente. Pois, toda a historia do homem, foi escrita pela arte, pois a própria letra é um desenho simbólico que a arte nos ofereceu como método de linguagem. Os painéis são, talvez, a mais forte impressão da arte para a história do homem. Gosto de concebê-los”. E, realmente Wagner tem uma necessidade muito grande de realizar os seus painéis. Todos trazem elementos da antiguidade misturados com outros mais voltados para a tecnologia moderna, mas como um ele de ligação, que é a expressão do próprio homem. Wagner está com 38 anos de idade, mais de 50 exposições e agora está empenhado em realizar uma grande mostra em Salvador, talvez na Teresa Galeria de Arte.


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