Quem disse isso ousou a
revolucionar a arte fotográfica, gerando uma rica discussão em nosso meio
cultural. E para quem perdeu as exposições realizadas pela Funarte, a obra de
José Oiticica Filho (1906-1964), estará agora presente em A Ruptura da Fotografia
nos anos 50. Com textos de Paulo Herkenhoff e dos filhos de Oiticica, César e
Hélio Oiticica, que acompanham mais de 70 fotografias, da passagem do
fotoclubismo ao Projeto Construtivo, o livro desse importante artista plástico,
fruto de uma pesquisa do Projeto Exposições do Núcleo de Fotografia da Funarte,
foi lançado dia 3 de maio.
Para o etnólogo, pesquisador,
matemático e fotógrafo que inovou, teorizando e definindo questões plásticas,
demarcando uma linguagem fotográfica para sua arte, o artista Paulo Herkenhoff
escreveu: “A opção construtiva de José Oiticica Filho estabeleceu um embate em
dois níveis: Imagem e processo. A primeira questão, a crítica da fotografia
figurativa, se aprofundaria. Oiticica, que sempre lhe atribuíra uma função
mimética, mesmo se o fotógrafo buscasse a câmara para interpretar a realidade,
apresentava agora um argumento estético: as possibilidades de composição
(realismo-figurativismo) dentro do retângulo já foram praticamente esgotadas”.
Filho de um conhecido escritor
anarquista e pai de Hélio Oiticica, nome representativo na arte brasileira,
ligado ao movimento neoconcretista e a tropicália, José Oiticica Filho é um elo
cultural entre essas duas gerações que afirmava em 1955, quando perdia o apoio
dos fotoclubes e entrava na sua fase abstrata: “É pesquisando, portanto que a
arte evolui. Vejam bem, conscientemente. Liberdade consciente significa
conhecer bem o assunto, tê-lo aprendido. Significa desviar-se do aprendido,
conhecendo bem o antigo caminho e procurando o novo caminho com conhecimento de
causa. Significa libertar-se de líderes, principalmente em se tratando de Arte,
com A maiúsculo”.
Talvez a frase sintetize o
momento de mais alta reflexão do fotógrafo Luís Humberto, 21 anos de profissão,
sendo 15 dos quais dedicados à produção teórica e que agora surge em seu livro
Fotografia, Universos e Arrabaldes, cujo lançamento foi dia 18, segunda-feira,
às 18 horas, na Galeria de Fotografia n Funarte (Rua Araújo Porto Alegre, 80,
Centro).
Foto de Luís Humberto no Palácio do Planalto.A obra desse fotógrafo inicia a Coleção Luz e Reflexão, do Núcleo de Fotografia da Funarte que pretende sistematizar a consciência sobre a fotografia no Brasil, evitando os aspectos técnicos, para definir e analisar a especificidade da linguagem fotográfica e seu papel no contexto geral das artes plásticas. Para dar vida a essa teoria, Luís Humberto, no dia do lançamento do livro, fez uma palestra acompanhada de slides, e falou da sua vida profissional dedicada à câmara e ao pensamento teórico.
Acontecerá, certamente, num clima de muita emoção o lançamento de Fotografia, Universo e Arrabaldes, pois o autor reconhece a importância de suas palavras sobre uma platéia repleta de fotógrafos. Para os iniciantes, Humberto dará conselhos que estão no último capítulo do livro. Em Aos que Começam, o fotógrafo saberá que deve “estar preparado para conviver com situações penosas e extremamente sofridas, atentar para a renovação, mesmo que isso destrone os donos da verdade da véspera, saber usar o prestígio em favor de causas justas e nunca desprezar as coisas simples e aparentemente banais”. E para mais tarde quando vier o sucesso e os mais novos lhe procurarem, Humberto recomenda “manter-se recatado, mas receptivo e lembrar-se que cada um de nós é apenas um elo na cadeia do conhecimento e que o trabalho de cada um deve ter um sentido maior, além de suprir unicamente nosso próprio egoísmo”. Os livros podem ser adquiridos na loja Funarte (Rua México, 101, Centro, Rio de Janeiro, CEP 20.030) ou pelo reembolso postal:
Luiz Ernesto nasceu no Rio de
janeiro em 1955. Estudou, quando criança, com Misabel Pedrosa e,
posteriormente, na Escola de Artes Visuais, com Rubens Gerchman, Roberto
Magalhães e Antônio Grosso. Formado em Engenharia Mecânica
pela Pontifícia Universidade Católica de Petrópolis, em 1978, não chegou,
todavia a exercer a profissão, optando pelo desenho.
A partir de 1978, começou a
mostrar seus trabalhos de litografia no I Salão Nacional de Artes Plásticas, em
outras mostras coletivas no Rio de Janeiro e em diversas cidades brasileiras,
bem como no exterior- Buenos Aires, New York e Maryland. Em 1980, conquistou o
I Prêmio de Desenho no IV Salão Carioca de Arte, promovido pela prefeitura da
cidade do Rio de Janeiro e, no mesmo ano, o Prêmio Acervo da “Casa de Gravura”
na III Mostra Anual de Gravura de Curitiba.
Desenhista que alia fértil
imaginação a uma temática irreprensível, vê o mundo ao seu redor com olhos de
prestidigitados, transformando certos elementos usuais da paisagem urbana ou da
vida doméstica, caixa de correio, orelhões, telefone público, liquidificador,
ferro elétrico, panelas, etc..., em animais de variadas espécies, não pelo seu
lado agressivo, que não é a sua proposta, mas justamente pela poética de cada
situação exposta”, diz dele Geraldo Edson de Andrade.
Obra São Jorge e o Dragão. |
Obteve Menção Honrosa no concurso
para o mural do novo edifício da Caixa Econômica Federal do Rio de Janeiro.
A respeito dele, Paschoal Carlos
Magno, em 1968, escreveu: “Visitando o último Salão nacional de Belas Artes,
encontrei a presença de um excelente pintor, de arte luminosamente incisiva,
sem hesitação na escolha de temas e no
manejo das cores, com densidade emocional, alargando a imaginação dos que lhe
admiravam os quadros, com sua desabusada imaginação criadora.
Tratava-se do brasileiro Luiz
Nelson Ganem, recém-chegado de longas e demoradas andanças por este mundão de
Deus, cujo aprendizado artístico se fizera em Paris, Roma, sob a vigilância de
sua própria sensibilidade e cultura, não querendo de maneira alguma perder o
melhor de si mesmo, em virar papel carbono dos mestres, cujos cursos
freqüentara. Encontrei-o mais tarde como um dos professores do Instituto de
belas Artes, cercado de alunos de todas as idades, orientando-os sem
deformá-los, não os perturbando na sua espontaneidade, como fazem tantos
professores, mais interessados em satisfazer seu narcisismo na repetição de
seus processos técnicos e na aceitação de seus princípios estéticos.
“É a maneira simples da gente,
ver as coisas e agente através de tintas fortes, tão fortes como essa gente que
habita locais quase inacessíveis”.
Guiga que também é poeta escreveu
alguns versos que considero interessantes: “Quantas matas desmatadas- Quantas
aves em revoadas/ em busca de suas pousadas/Que se exterminam, enfim/Homem,
animal destruidor...”/Portanto, mostra que embora tenha deixado sua terra
Quixadá, e emigrando para a Bahia, continua preso as suas raízes, preocupado
com a devastação da flora e da fauna, já pobres, no Norte e Nordeste. O
problema de falta d’água, nas terras ressequidas, tem uma resposta paliativa
quando observa as águas salgadas nas lindas praias de Fortaleza ou na Bahia. E,
o mar é também uma presença em sua obra. A luz, através das cores fortes que
derrama em suas telas, é uma demonstração da própria luminosidade desta terra
tropical com suas praias de águas ainda límpidas e coqueiros a balançar
preguiçosamente suas palhas, dando água boa e sombra aos que passam.Ele já fez dezenas de exposições
individuais e coletivas e seus quadros figuram em coleções de alguns países.
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