Jornal A Tarde quinta-feira, 30 de dezembro de 1976
OBRAS RARAS COMPÕEM A MOSTRA ABERTA NO UNHÃO
Cento e setenta e seis obras das mais significativas estão
expostas, desde ontem, no Museu de Arte Moderna da Bahia. São obras do acervo que
estavam amontoadas em rústicos armários de madeira completamente empoeiradas e
sujas. Passaram mais de dez anos empilhadas e muitos jovens não conhecem ou
nunca ouviram falar das telas, gravuras, esculturas, tapetes e pastéis, agora
expostos, alguns integrantes de antologias. O valioso acervo do Museu foi
organizado por Lina Bo Bardi, que em 1960 dinamizou o setor na Bahia, dando ao
museu uma característica de vanguarda, participando ativamente e promovendo
atividades culturais integradas.
Os atuais dirigentes do Museu tiveram pouco trabalho, mas
conseguiram uma importante mostra, retirando-as dos armários, restaurando-as
algumas e fazendo limpeza de outras.
O Diretor do Mamb, Sílvio Robatto, está entusiasmado com o
acervo e promete realizar uma segunda exposição, onde estarão presentes
trabalhos dos mais expressivos artistas baianos. Muitos já prometeram doar
trabalhos para o acervo do Mamb.
POLÊMICA
O crítico Roberto Pontual, convidado pelos dirigentes do
Mamb para fazer uma avaliação crítica sobre o acervo declarou: “Creio que só se
tomou consciência no Brasil do duplo desafio que representa hoje em dia o
problema do acervo de muitos museus e de como obter peças significativas e de
como utilizá-las interessantemente. Um desafio de sempre, mas agravado ao
extremo na atualidade e nas circunstâncias locais”.
Um aspecto que deve ser considerado é que não existe
dinheiro para dinamizar o Mamb. Basta dizer que o catálogo de sua exposição foi
doado por um grupo econômico, e, que seus atuais dirigentes pretendem aumentar
o acervo com doações de artista. Ora, o artista vive do que pinta e não pode
estar doando trabalhos para entidades culturais. Estas sim, é que devem
adquirir peças importantes e representativas, visando a enriquecer o acervo dos
museus e incentivar as artes.
ABANDONADOS
Segundo o Diretor do Mamb, arquiteto Silvio Robatto, não
existia um tombamento do acervo, apenas uma listagem, que foi feita pelo antigo
diretor Renato Ferraz e está devidamente rubricada. Diante disto ele pretende
realizar o tombamento inclusive com uma documentação fotográfica que está em
fase final de execução. Assim as obras pertencentes ao Mamb estarão mais
seguras catalogadas e identificadas os seus autores.
-Esta exposição representa uma etapa de trabalho iniciada em
abril do presente ano, tempo necessário para a listagem das peças com vistas à
sua identificação, perícia, avaliação crítica, limpeza e restauração, além dos
trabalhos já iniciados de adaptação de uma das áreas do conjunto arquitetônico
do Unhão para a guarda do acervo do Mamb com condições técnicas no tocante a
segurança e conservação de suas peças. Contamos com a colaboração da
Coordenação de Museus da Fundação Cultural do Estado, do professor Edson Motta,
de Roberto Pontual e de Réscala.
AVALIAÇÃO E OBRAS
Na avaliação crítica feita por Roberto Pontual ele fez
algumas considerações que entram em choque com as palavras de Silvio Robatto,
que credita a arquiteta Lina Bardi a criação e organização do Mamb dando-lhe
inclusive uma função participante na vida cultural do Estado. Esta discordância
é considerada natural, tendo em vista que o crítico Roberto Pontual reside no
sul do país e não acompanha de perto a criação e funcionamento do Mamb, embora
seja um crítico responsável e respeitado em todo o país.
Mas, o que interessa é o conjunto significativo de obras
exposto entre as quais: seis de autoria de Di Cavalcanti, uma de Portinari, uma
de Djanira, duas de Flávio Carvalho, uma de Tarsila do Amaral, uma de Antônio
Bandeira, esculturas de Agnaldo dos Santos, seis de Admir Martins e assim por
diante. No apagar das luzes de 1976 esta exposição do Mamb vem revitalizar o
setor na Bahia.
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