sábado, 2 de junho de 2012

AS RAÍZES AFRO NA OBRA DE MANOEL DO BONFIM

Jornal A Tarde 28 de janeiro de 2003.
Texto de Reynivaldo Brito
Foto Geraldo Ataíde

TALENTO - Manoel do Bonfim  expõe esculturas,talhas e pinturas em mostra na galeria da Casa do Comércio


Tudo gira em torno das manifestações da religiosidade do povo, dos espíritos e deuses que povoam o imaginário dos africanos e afro-descendentes.
Ele está comemorando 50 anos de arte.Nasceu em Salvador em 25 de maio de 1928. Basta isso para criar uma curiosidade natural :saber o que fez este artista durante cinco décadas. A resposta é fácil: fez arte. Uma arte forte, que sai das suas entranhas africanas e do seu compromisso com o candomblé.
Antecedeu-lhe o escultor Agnaldo Silva, já falecido, que deixou uma marca indelével de seu talento. Agora,Bonfim continua esculpindo orixás e símbolos do candomblé com a naturalidade de sua convivência com a religião afro-brasileira.

                                                        PRAÇAS PÚBLICAS

Negro, cabelos alvos e o corpanzil que lembra um pai-de-santo, o velho Bonfim, como o chamamos carinhosamente, é uma dessas figuras baianas que marcam sua presença pelo trato, pelo trabalho ligado às coisas da terra.
Tem obras em praças públicas, a exemplo da Iemanjá que todos veneram no dia 2 de fevereiro na Casa do Peso, no bairro do Rio Vermelho. Também tem esculturas em coleções da Alemanha,Estados Unidos, França,Inglaterra, Israel, México, Itália e Espanha.
A arte com forte influência africana tem um caráter religioso deliberado. Tudo gira em torno das manifestações da religiosidade do povo, dos espíritos e deuses que povoam o imaginário dos africanos e afro-descendentes.

                                                          TRAJETÓRIA

O velho Bonfim começou sua trajetória na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, na qualidade de funcionário, onde ingressou em 1950. Este contato dia a dia com a arte terminou por transformá-lo num artista profissional. Coube ao mestre Mendonça Filho a primeira influência direta, ao lado de Alberto Valença, Adolf Buck, Jair Brandão, Réscala, Mário Cravo e Carybé. Este time de primeira fez brotar o que existia latente na alma desde artista do povo.
Desta convivênccia nasceu o escultor que hoje mostra o seu talento na exposição Raízes da Alma, na galeria da Casa do Comércio, onde se podem examinar as esculturas, talhas e pinturas com forte influência de suas raízes africanas.
Afinal, Bonfim é um integrante do candomblé e um negro que cultua a sua origem com uma simplicidade singular. Tem dois filhos que, também, se dedicam às artes. Um deles até se formou na Escola de Belas Artes e, hoje, retrata os casarios, as igrejas e outros monumentos históricos . O outro pinta paisagens.
Escreveu o saudoso Jorge Amado que “ Manoel do Bonfim é um filho do povo da Bahia, cuja arte ingênua, porém verdadeira, nasce diretamente das fontes da cultura popular e se mantém fiel às origens em sua criação despida de artificialismos, de modismo, integrada nas tradições e na vida.
O caminho do artista Bonfim foi traçado por ele próprio, com seus próprios meios, com obstinação.
Aprendeu com o povo, nas rodas de samba, nos candomblés, nas escolas de capoeira, nos carurus de Cosme e Damião, na rampa do Mercado , ao lado dos pescadores, da gente pobre, aprendeu com os orixás”.

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