sábado, 21 de junho de 2025

FORY E SUAS ESCULTURAS ESTILOSAS DE MULHERES E ORIXÁS

Fory em seu ateliê esculpindo  entidade 
de matriz africana.
O escultor Fory é um artista autodidata da cidade de Cachoeira, Bahia, que tem se destacado no cenário das artes visuais com suas esculturas em madeira de mulheres e orixás. Na conversa que tivemos por telefone lembrou que seu pai Wandercock do Nascimento era um ex-combatente das Forças Expedicionárias Brasileiras e por ter sofrido com os horrores da guerra não queria que nenhum dos nove filhos seguisse a carreira militar. Foi então que ia colocando cada filho numa tenda ou oficina para que aprendesse uma profissão. O Fory inicialmente ainda criança foi para uma pequena marcenaria de um vizinho onde realizava pequenos serviços como varrer a tenda, pegar ferramentas para o mestre e até mesmo comprar ou levar alguma coisa para um cliente. Lá também aprendeu a fazer miniaturas de móveis. Quando tinha por volta de quinze anos certo dia no início dos anos 70 surgiu na rua onde morava uma barbearia-ateliê de Boaventura da Silva Filho, famoso escultor da cidade conhecido por Louco, e seu irmão Clovis Cardoso Silva que também esculpia quando não estavam cortando cabelo ou fazendo a barba de algum cliente. 

Bela escultura Bocas. Vemos
que aproveitou as formas 
de uma árvore
.
Procurou se aproximar e assim começou lixando as obras dos escultores, e aos poucos observando o modo deles esculpirem até que surgiram suas primeiras incursões pela arte da escultura. Disse que seus primeiros trabalhos foram entalhes de placas, e à medida que ia dominando as ferramentas apareceram naturalmente as primeiras peças tridimensionais ou sejam as esculturas. Uma de suas características herdadas do seu mestre Louco é de aproveitar as formas, os veios, as reentrâncias e saliências das madeiras que adquire para fazer a sua arte. Até mesmo a maneira de assinar as peças inicialmente ele se inspirou no Louco que assinava Louco B.S.F, ou seja, o nome artístico e as primeiras letras do nome e sobrenome. O Fory passou a assinar Fory C.A.N. Com o passar do tempo abandonou esta forma de assinar as suas obras e passou a grafar somente Fory, que é um apelido que foi criado por seus irmãos.

Começou a vender as suas peças através de Louco na barraca Iansã de Oxóssi, do seu Carlinhos, que ficava no Mercado Modelo, local de grande afluência de turistas. 

Esculturas Ela, Yayá, Deusa e Dançarinas.
Disse Fory que este senhor por muitos anos trabalhava vendendo com exclusividade as esculturas de Louco e quando completou dezoito anos ele mesmo levava as suas esculturas para o seu Carlinhos vender. As esculturas eram de ceias de Cristo e os vários Orixás que esculpia. Naquela época o Mercado Modelo tinha um bom movimento de público e suas peças eram facilmente comercializadas. Com o passar do tempo adquiriu mais informações, conheceu outros escultores e foi mudando à sua maneira de esculpir até chegar nas mulheres curvilíneas e estilosas que esculpe atualmente, e  os Orixás que faz procurando manter  o seu estilo próprio. Desde os anos 80 que seu ateliê funciona na Rua 13 de Maio, no Centro Histórico da cidade de Cachoeira, Bahia, onde faz suas esculturas. Atualmente reside num sítio nas redondezas da cidade, e disse que também lá tem um ateliê, e quando não está na cidade costuma esculpir também no sítio.

                                             TRAJETÓRIA

Os Remanescentes onde  destacamos  
as formas e o acabamento das obras.
Seu nome de batismo é Carlos Alberto Dias do Nascimento, filho do ex-combatente Wandercock do Nascimento e Zélia Dias do Nascimento. Fez o primário na Escola Ana Nery e o ensino médio no Colégio Estadual de Cachoeira, ambas instituições públicas. Com o término da Guerra seu pai retornou à Cachoeira, e foi nomeado para trabalhar como ferroviário da Leste Brasileira  passando a se preocupar em colocar cada filho para aprender uma atividade profissional.

Hoje Fory é um artista conhecido e envolvido com seus colegas “brasileiros e afro-americanos que lutam por seus direitos e espaços na sociedade e na arte”, escreveu sua esposa a jornalista Alzira Costa. Diz ainda que “suas obras carregam personalidades e identidade, distinguidas pelas formas rebuscadas e fino acabamento. São obras inspiradas em divindades do panteão africano, figuras femininas, nas manifestações populares do Recôncavo e livres criações seguindo as linhas do formato da madeira. A arte de Fory dialoga com o contemporâneo e a tradição sem perder as suas raízes.”

Cabeça do Guerreiro Celestial.
Ele tem um filho que reside na cidade de  Los Angeles, nos Estados Unidos onde trabalha numa grande casa de espetáculos. Revelou que quase todos os anos vai para lá onde costuma passar até seis meses e que  já mantém um bom relacionamento principalmente com a comunidade afro-americana . Sempre está comercializando suas esculturas, especialmente àquelas que representam Orixás e outras manifestações religiosas e culturais de raiz africana. Já expôs inclusive em Nova Iorque em 1986, juntamente com outros artistas baianos.

Quanto ao seu apelido inicialmente dado por seus irmãos era Forifa,  depois passou para Fori, e ele  adotou o nome artístico de Fory com o y. Contam uma versão, que não é verdadeira, que o apelido teria sido inspirado num famoso lutador chamado de Forforifa. Acontece que fui pesquisar e nada encontrei sobre esse enigmático lutador. Voltei ao Fory para saber. Inicialmente, ele não lembrava, e terminou por dizer que esta estória teria sido cunhada  por uma pesquisadora dinamarquesa. Quando indaguei a razão ele não soube explicar. Portanto, é mais correto afirmar que o apelido surgiu em casa entre seus irmãos.

Escultura de Xangô Jovem.
Escreveu a professora Suzane Pinho Pêpe que em 1986 ele “participou da III Conferência Mundial dos Orixás, Tradição e Cultura, em Nova Iorque, que reuniu representantes do mundo “Atlântico Negro” – Caribe, Brasil, África e EUA – lugares das “diásporas negras” e lhe proporcionou a troca de experiência com artistas de outros países. Essa exposição de arte, que integrou o grande evento, aconteceu no Aaron Davis Hall, da Universidade no Halley. Na mesma ocasião, Fory proferiu uma palestra sobre os orixás, no Caribe Cultural Centre “.

Entre suas obras mais significativas estão a escultura Rastafari datada de 1983 homenageando o famoso cantor de reggae Bob Marley e o  Ferreiro Celestial que foi feita utilizando pregos, correntes, formões, chaves de fenda e outras ferramentas inspirada nos seus ancestrais ferreiros que se manifestam nos terreiros da região como Ogum (Iorubá) e Gun (Fon.). Ligado às suas tradições ele frequenta o terreiro de Yiê Oyó Mecê Alaketu Axé Ogum ,na cidade de Governador Mangabeira, que é dirigido pelo babalorixá Leopoldo Silvério da Rocha desde 1963. Voltando às suas esculturas vemos que  estiliza a figura humana e mesmo nas representações  como das mulheres  da Irmandade da Boa Morte, dos tocadores de atabaques e de outros instrumentos, e até das entidades religiosas de matriz africana ele sempre está esculpindo-os de forma elegante e apresentam algum erotismo em suas formas. 

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS

Em 1984 – Cachoeira-BA – Individual, Exposição de Fory, na Galeria da Sphan/Pró-Memória; 1986 – Cachoeira-BA – Individual, Exposição de Fory. Sobrado na Rua Ana Néry, n. 23; 1988 – Cachoeira-BA – Individual, Omo-Ebora no Ateliê de Fory Nascimento; Morro de São Paulo-BA – Individual, no Hotel Villegaignon; 2010 – Morro de São Paulo-BA – Individual, na Galeria do Hotel Portaló.

Participações em Salões, Bienais e coletivas:

O Orixá Oluadé,  obra de Fory.
Em 1978 – Salvador-BA. Mostra de Arte Popular na Aliança Francesa da Bahia – 1 – Cachoeira-BA, na Aliança Francesa; 1984 – Cachoeira-BA. Exposição Coletiva, no SPHAN; Salvador-BA – Pré-Bienal de Cultura Afro, no Museu Afro-Brasileiro (UFBA); 1984/1985  –  Salvador-BA – Bienal de Cultura Afro, no Museu Afro-Brasileiro (UFBA); 1986  –  Salvador-BA – Cachoeira e seus Artistas, no Solar do Ferrão; Nova Iorque-EUA – Exposição na III Conferência Mundial dos Orixás, Tradição e Cultura, no Aaron Davis Hall;  1987  –  Cachoeira-BA – Exposição em Homenagem a Tamba e Bolão, no SPHAN; Salvador, BA – I Bienal de Arte Negra, no Museu de Arte da Bahia (promovido pelo Núcleo Cultura Afro-Brasileiro ; 1991  –  Cachoeira-BA – Exposição Coletiva, na I Semana de Arte e Cultura, na Galeria do IPAC- Organização: AAACC e Casa do Benin; São Félix-BA – I Bienal do Recôncavo, na Fundação Dannemann; 1992  –  Cachoeira-BA – II Bienal de Cultura e Arte Negra, realizada em Salvador, com extensão em Cachoeira, Organização: Núcleo Cultural Afro-Brasileiro, AAACC e IPAC, na Galeria do IPAC; 1995  –  Cachoeira- BA – Exposição Coletiva de Artes Plásticas, promovida pela AAACC, na Sede do IPHAN; 2000  –  Salvador-BA – Exposição Coletiva de Artistas Regionais, na Galeria SEBRAE; 2002  –  Cachoeira-BA – Cachoeira na Ótica dos Artistas Plásticos Cachoeiranos, na Câmara Municipal; 2005  –  Cachoeira-BA – Exposição Coletiva, na Galeria do IPAC; 2006/2007  –  São Félix-BA – VIII Bienal do Recôncavo, na Fundação Dannemann; 2009  –  Salvador-BA – “Cidade Histórica, uma Cachoeira de Emoções”, no Instituto Mauá, no Pelourinho; 2012  –  Cachoeira-BA – Exposição Coletiva Escultores de Cachoeira, no Espaço Cultural Fundação Hansen Bahia.


sábado, 14 de junho de 2025

MARCO BULHÕES FAZ INTERVENÇÕES URBANAS COM ANIMAIS MARINHOS

O artista Marco Bulhões com obras de 
sua autoria .
C
ertamente você que mora em Salvador já deve ter visto uma obra de autoria do artista visual Marco Bulhões ao transitar pela Avenida Bonocô e Ogunjá , frequentar ou passar pelo trecho do Porto da Barra ao Farol da Barra. Seus mosaicos estão espalhados por esses lugares e chamam a atenção porque sempre são representações de animais marinhos. Também, os que já estiveram participando do carnaval de Maragogipe conhecem as famosas máscaras criadas pelos moradores e foliões. Coube ao artista Marco Bulhões ajudar na fundação do Memorial das Máscaras, na Casa da Cultura, onde o visitante pode apreciar várias máscaras e as histórias que as envolvem. Ele doou vinte e oito telas e objetos com as máscaras e mascarados para o memorial.  O carnaval da cidade tem mais de cem anos, e foi o avô de Bartolomeu Conceição dos Anjos, conhecido por mestre Barbudo, que começou esta tradição e hoje seu neto é o principal artesão que confecciona as máscaras de papel, as cabeçorras coloridas, que são utilizadas pelos brincantes do carnaval da cidade de Maragojipe.

Marco Bulhões fez mosaicos na área do 
Farol da Barra,Ogunjá e Av. Bonocô.
Em parceria com o grupo de mergulhadores do Projeto Fundo Limpo, que há vários anos vem retirando lixo do fundo do mar, especialmente no trecho do Porto da Barra, em Salvador, Bahia, o artista Marco Bulhões criou alguns painéis móveis utilizando materiais recicláveis. Só resta uma baleia que ele fez escondido no quebra mar do forte de Santa Maria. Foram utilizados latas, sapatos, roupas e vários outros materiais descartados inadequadamente no mar. Este trabalho do artista objetivou chamar a atenção que o mar não é lixeira. Também através de um projeto aprovado pelos Banco do Nordeste e o BNDES rebocou e fez mosaicos nas fachadas de várias casas numa encosta da Avenida Bonocô embelezando e melhorando as condições de habitabilidade dos seus moradores. Ele contou que enquanto fazia sua obra certo dia passou um grupo de assaltantes armados e roubaram seu notebook que estava sendo usado na projeção do desenho. Disse que os criminosos vieram pela passarela e atravessaram com destino ao bairro de Cosme de Farias. Ele estava usando o notebook para fazer os mosaicos. Atualmente está fazendo outro mosaico na Avenida  Ogunjá pelo programa do Faz Cultura. Propôs criar doze mosaicos, inclusive um golfinho de três metros de comprimento, fez polvo, estrela do mar, dentre outros. Ele sempre procura participar desses editais para concretizar seus objetivos.

Além dessas intervenções urbanas o Marco Bulhões é graduado em Licenciatura de Desenho e Plástica, desde 2009, e mestre em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia e teve como orientadora a artista visual e professora Graça Ramos. Sua tese foi aprovada em 2016 intitulada Rostos Ocultos - Processos Criativos Inspirados nas Máscaras do Carnaval de Maragojipe na Bahia.

                                         O ARTISTA

Vemos quatro telas com representações 
de caretas meninas,palhaços e adultos.

O nome de batismo do artista Marco Bulhões é Antônio Marcos Souza da Silva, é natural de Salvador onde nasceu em treze de janeiro de 1970 no Hospital Manoel Vitorino, no bairro de Nazaré. Filho de Antônio Bulhões da Silva e Matildes Souza da Silva. Seu pai era da marinha mercante, e ele inclusive quando jovem fez um curso e chegou a tirar sua carteira de marinheiro. Daí o seu amor pelo mar, embora não tenha seguido a carreira de marinheiro.  Seus pais foram para a cidade de Maragojipe onde passaram uma temporada e depois retornaram a Salvador. Estudou o primário na Escola Teresa Conceição Menezes, no Curuzu, bairro da Liberdade e o ensino médio onde fez Desenho Arquitetônico no Colégio Anísio Teixeira, na Ladeira do Paiva. Desde criança que tinha o gosto pelo desenho e o seu desejo era estudar artes visuais. Trabalhou quando jovem em projetos de móveis e desenhando letras para uma empresa de publicidade que confeccionava balões de plástico de publicidade e também letreiros em neon. Durante uns dois anos foi Free Lancer desta empresa de publicidade que funcionava na Cidade Baixa, na área chamada de Comércio. Fez concurso público para a polícia militar e chegou à patente de sargento. Casou em 2001, e em 2006 fez vestibular para Licenciatura em Desenho e Plástica. Lembra das provas que fez para ingressar na Escola de Belas Artes que foram desenho de observação e outra de criação. Trocou a PM para ser escrivão na polícia civil onde está até hoje. É o chamado plano b, já que é difícil viver e sustentar a família só com a arte que faz.

Paisagens Fantasmagóricas  feitas 
 em acrilica sobre tela , de 2021.
Graduou-se em 2009, e em 2014 resolveu encarar o mestrado tendo como orientadora a professora Graça Ramos. Sua tese foi intitulada Rostos Ocultos: Processos Criativos Inspirados nas Máscaras do Carnaval de Maragojipe-Bahia. Disse que pesquisou a bibliografia e foi várias vezes in loco para ver e conversar com as pessoas envolvidas no processo de confecção e também com os brincantes que utilizam as máscaras durante os festejos momescos. Neste processo experimentou vários materiais incentivado por sua orientadora.  Ele descobriu que as máscaras de Maragojipe devem ter sido inspiradas no carnaval de Veneza e de outras cidades europeias. Foi então que o artista Marco Bulhões decidiu conhecer de perto o tradicional Carnaval de Veneza que se caracteriza pela riqueza, detalhes de suas fantasias e máscaras delicadas, além de bailes luxuosos e dos desfiles em gôndolas pelos canais da cidade.  Dizem que se iniciou por volta de 1094 no mesmo ano da consagração 
O artista Marco Bulhões mostra  obra 
feita na sua visita a Veneza, em 2015.
da Basílica de São Marcos. Já em 1026 o Senado veneziano através de um decreto criou o carnaval e determinou que seria no último dia antes do início da quaresma. Lembram os historiadores que nesta época já existiam as escolas ou confrarias dos mascareri, que eram os artesãos que produziam as máscaras e fantasias para os brincantes. Com a queda de Veneza Napoleão proibiu as máscaras no carnaval e permitiu bailes em apenas três lugares:  Murano, Burano e Torcello. Em 1979 o carnaval voltou e hoje é uma das atrações turísticas de Veneza.

Aqui existem vários grupos importantes de mascarados inclusive no interior da Bahia a exemplo de  Saubara, que fica no recôncavo baiano e tem grupos de caretas . Lembro que no povoado de Barrocão, município de Ribeira do Pombal tem grupos organizados de caretas que saem às ruas com seus trajes e máscaras há mais de sessenta anos. Muitas delas fabricadas ali mesmo e outras até importadas principalmente do México. Esta importação vem acontecendo depois da facilidade da internet que nos contacta com o mundo. Eles costumam desfilar em grupos e durante o desfile jogam farinha de trigo, cinzas e outros produtos nos assistentes. O objetivo é que todos participem da festa.

                                      PRINCIPAIS EXPOSIÇÕES

Mosaico Social na encosta da Av. Bonocô 
de autoria de Marco Bulhões, de 2014.
E2025 – Exposição Eurarts Madrid – Nilzgallery Madrid /Espanha; 2022 – Exposição Fronteiras - Lisboa/Portugal ; 2018 – Caballeros de Santiago - Exposição individual; 2016 - Museu Náutico - Salão Marinhas XIV Edição; Exposição no Aeroporto Internacional de Salvador – Exposição individual; Tribunal de Justiça da Bahia - Exposição individual; Fundação do Memorial Das Máscaras - Maragojipe/BA; 2015 - Museu Náutico-Salão Bahia Marinhas/pintura; 2014 - Fórum Ruy Barbosa da Bahia – individual; Mosaico de Lixo Marinho” - Shopping Barra/Salvador – fotografia; 2013 “Mosaico III” - Shopping da Bahia/Salvador – fotografia; Museu Eugênio Teixeira Leal – Salvador/BA – Exposição individual;  Cine Teatro Solar Boa Vista Salvador/BA (oficina de mosaico ; Projeto “Revestimento Mosaico” - Banco do Nordeste/BNDES - Salvador Shopping - exposição  de Fotografia;
 
Aquarela de Marco Bulhões , feita em
São Paulo, de 2020.  
2012 - Museu Náutico-Salão Marinhas X Edição/pintura; Bienal da Bahia – Pintura; 2011- Museu Náutico - Salão Marinhas/pintura; 2010 -Museu Náutico-Salão Marinhas-pintura; Museu Náutico - Salão fotografia do Mar; 2009- Museu de Arte Sacra - Exposição coletiva de pinturas; 2008 – Bienal Escola de Belas Artes – Exposição coletiva de pinturas;  2005 - Academia de Polícia Civil-BA – Caricaturas. 

         PRÉMIOS

E2024 - Projeto Pinte no Morro!  - Fazcultura; Projeto “Revestimento Mosaico” - Banco do Nordeste/BNDES; Mosaico – Portas Abertas para as Artes - Secretaria de Cultura da Bahia Mosaico Social – Portas Abertas para as Artes - Secretaria de Cultura da Bahia; Mosaico de Lixo Marinho - Secretaria de Cultura da Bahia.

sábado, 7 de junho de 2025

SONIA RANGEL E O POÉTICO PROCESSO CRIATIVO DE SUA ARTE

A artista Sonia Rangel fala de sua arte.

A
artista visual Sonia Lúcia Rangel desde os anos setenta que escolheu Salvador para morar. Aqui continuou seus estudos e vem tendo uma participação ativa na vida cultural da Cidade como professora, escritora, poeta, artista visual e atriz. A partir de 1980 passou a lecionar nas escolas de Belas Artes e de Teatro, da Universidade Federal da Bahia, tendo posteriormente conquistado os títulos de Mestre em Artes Visuais, em 1995, e de Doutora em Artes Cênicas, em 2002. Atualmente é orientadora de doutorandos, continua pintando, atuando como atriz, cenógrafa, além de escrever poemas e textos sobre arte, teatro e outros assuntos pertinentes à existência do homem no Planeta.

Portanto, transita com a linguagem, pintura  e a cenografia. No seu terceiro livro datado de 2009, chamado Olho Desarmado – Objeto Poético e Trajeto Criativo incluiu esta frase de Claude Levi Strauss “O poeta está diante da linguagem como o pintor diante do objeto”. O referido livro é composto de duas partes. Na primeira parte estão reunidos poemas e desenhos ilustrativos, e na segunda um ensaio sobre o processo criativo. A artista  Sonia Rangel nos transporta para o ambiente da reflexão em cada frase e verso que escreve, e cada traço que faz no papel ou na tela precisam ser vistos e sentidos. Num de seus poemas Os Cegos diz: Crianças e poetas cospem luz por suas bocas:/ Verdades que nos cegam/ Navalha fina esquecida em ninho/ Chocando seus cortes aduncos/ Nós apenas tateamos/ Com muito cuidado/ Para não sangrar.

                                         Trajetória

Sonia Rangel mostrando um álbum com
fotos de  sua trajetória .
A artista Sonia Lúcia Rangel ou Sonia Rangel nasceu no bairro de Bangu, no então Estado da Guanabara, em doze de outubro de 1948. Filha de Waldir Rangel e d. Antonieta da Silva Rangel. Seu pai trabalhava na Marinha do Brasil no setor de comunicações, era rádio amador e tinha uma loja que comercializava vitrolas. Estudou o primário em escolas públicas do bairro, e registrou no seu quarto livro Imagem e Pensamento Criador os nomes das professoras Yolanda e Alaidir. Certo dia a professora Yolanda mandou chamar sua mãe para conversar, naquela época quando a diretoria da escola ou a professora mandavam chamar a mãe ou o pai era quase sempre para se queixar que a criança não estava acompanhando a classe ou por indisciplina. Sonia Rangel ficou apreensiva, mas o chamado era para
Sonia arrumando boneca
que fez parte da mostra na
capela do Solar do Unhão.
aconselhar sua mãe a tirar a filha daquela escola porque estava sendo prejudicada em seu desenvolvimento escolar. A professora certamente enxergou as potencialidades da criança Sonia Lúcia Rangel e decidira tomar aquela atitude. Porém, sua mãe depois da conversa com a professora decidiu que ela continuaria na escola. Conta no seu livro que tinham aulas a partir das dez e trinta da manhã com uma professora e às doze horas com uma segunda professora que dava aulas até às treze e trinta. Era um ensino precário por falta de professores , pelas condições materiais da escola e alunos de turmas diferentes estudavam na mesma sala. Ao término do primário na Escola Getúlio Vargas fez o curso Clássico no Colégio Estadual Daltro Santos. Já naquela época tinha interesse em decoração de interiores e cenografia. Foi então que decidiu fazer o Curso de Arte Decorativa, na Escola Nacional de Belas Artes. Este curso tinha a disciplina Cenografia na sua grade curricular. Lembra que foi muito especial para ela porque o curso de Arte Decorativa  era inspirado na escola alemã Bauhaus . Esta escola  surgiu em 1919, quando Walter Gropius a fundou com o objetivo de fazer uma conexão entre a arte e a indústria. Era como afirmou  Sonia Rangel “uma arte colaborativa,” e a Bauhaus influenciou muito a decoração de interiores no pós guerra em todo o mundo. A Bauhaus terminou em 1933 por pressão dos nazistas, mas continua influenciando até os dias de hoje.

Quatro pinturas do seu acervo particular.
A jovem  Sonia Rangel entrou para a faculdade em 1964 exatamente no ano do golpe militar, e o Rio de Janeiro era o centro das grandes manifestações de rua lideradas por Wladimir Palmeira nos anos de 1965 a 1967. Aconteceu que em 1968 os problemas políticos se agravaram no país, e o seu pai veio a falecer. Disse que morava em Bangu e as coisas foram ficando difíceis e teve que trabalhar. 
No curso de Arte Decorativa ensinavam a fazer projetos para tapeçaria, azulejos, cobogós cerâmicos, móveis, cartazes, ou seja, projetos para sistema industrial que ainda era embrionário no Brasil. Estudou até metade do quinto ano. Ficou faltando um ano e meio para concluir. Veio a reforma curricular e o curso Arte Decorativa foi desmembrado em vários outros cursos. Lembrou de Fernando Pamplona  era seu professor e fazia as decorações do carnaval carioca e depois das escolas de samba. Já a Rosa Magalhães, também  famosa carnavalesca,  foi sua contemporânea na escola, que ainda tinha os cursos de Pintura, Gravura e um curso que se chamava Professorado de Desenho, com duração de quatro anos  e os alunos faziam uma parte na Faculdade de Educação.

Livros de autoria de Sonia Rangel onde ela 
publica poesias, desenhos ilustrativos e
ensaios sobre o processo criativo.
Confessa  que não se imaginava  artista plástica e professora. Depois quando conheceu a gravura surgiu uma vontade de  fazer gravura e a Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, tinha um ateliê maravilhoso. “Eu subia para olhar as pessoas fazendo as gravuras, mas como as aulas de gravura eram no mesmo horário das matérias básicas do  meu curso não dava para fazer gravura porque ainda tinha que trabalhar para me sustentar”.  
Certo dia do ano de 1966 foi organizada uma excursão dos alunos da Escola Nacional de Belas Artes  para visitar a I Bienal Nacional Baiana de Artes Plásticas da Bahia ou I Bienal da Bahia, que foi relizada no Convento do Carmo. Sonia Rangel veio  com seus colegas de faculdade.  Aqui chegando confessa que sentiu um encantamento pela Cidade, que ainda respirava àquele ambiente de uma cidade
Sonia Rangel autogra um de seus
 livros, e na mesa os livros de Zuenir
Ventura e o de Mário Magalhães
que disse estar sempre relendo.
acolhedora com muitos vendedores de vários produtos nas ruas, o povo andando e prosando sem pressa  . Este seu sentimento e visão diferenciada do Rio de Janeiro, que já era uma cidade cosmopolita, lhe atraiu e tocou profundamente. Meses depois retornou à Salvador, ficou uma temporada e teve que voltar para a cidade onde nasceu. Mas, a vontade de morar aqui não saía da sua mente. No Rio de Janeiro 
 conheceu  um baiano. Namoraram e meses depois resolveram casar. Então sua mãe concordou que viajassem e decidiram vir para Salvador. O casamento durou pouco tempo. 
Chegou a voltar para o Rio de Janeiro onde permaneceu por um curto período cuidando da documentação e trancou a matrícula no curso de Arte Decorativa. A situação política no Rio de Janeiro no governo Médici estava pior. Retornou para Salvador “porque meu casamento verdadeiro era com esta Cidade”. Começou a conversar com o pessoal da Escola de Belas Artes que oferecia os cursos de Licenciatura em Desenho e o de Artes Plásticas. Como não tinha nenhuma base pedagógica teve que fazer quatro anos com disciplinas em Belas Artes e na Faculdade de Educação. Portanto, estudou cinco anos e meio na Arte Decorativa no Rio de Janeiro e mais quatro anos na EBA e na Faculdade de Educação para obter um diploma de graduação. 

Desenhos da série Passageiros , 1993.
A presença na Escola de Belas Artes da UFBA foi marcada por episódios interessantes porque a base do ensino aqui era o desenho geométrico e o copismo.  A Sonia Rangel tinha frequentado cursos no Escolinha de Arte do Brasil, conheceu a metodologia Arte-Educação de ensino do pernambucano Augusto Rodrigues que usava a arte para educar as crianças. Chegou a ensinar no Rio de Janeiro numa escolinha que usava esta metodologia. Ao fazer uma disciplina na Faculdade de Educação ela preparou uma aula que foi muito apreciada pela professora. Adiantou Sonia Rangel  que “não era uma neófita, e o seu diferencial em relação aos colegas era porque já tinha alguma experiência principalmente devido ao seu aprendizado na Arte Decorativa, no Rio de Janeiro, além de ter frequentado cursos paralelos em outras instituições cariocas. As coisas foram dando certo e ela foi chamada para trabalhar num projeto novo no departamento a Secretaria de Educação que objetivava trocar o ensino do Desenho Geométrico nas escolas pelo Desenho Artístico. Em 1974 foi graduada em Licenciatura em Desenho pela Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia – EBA. Foi contratada para ministrar aulas na Escola de Belas Artes e para sua surpresa a professora de Metodologia na Faculdade de Educação foi ser sua aluna no curso que passou a dar.

Catálogo da mostra Circumnavigare  
no MAM-Ba, 1995.
 Fez sua primeira exposição individual em 1973 no Instituto Cultural Brasil- Alemanha, o ICBA que funcionava no Corredor da Vitória, e foi transformado no Instituto Goethe. Aconteceu que aqui reencontrou seu ex-colega de escola e amigo o artista gráfico e pintor Pedro Hélio Lobianco, que veio fazer um trabalho para a empresa de publicidade Propeg, e passou também a ensinar gravura na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia. Perguntou se podia frequentar suas aulas e ele concordou. “Foi como um renascer porque a gravura estava guardada em mim e reapareceu com muita pujança, lembrou Sonia Rangel.”

Quando lhe perguntei sobre seu relacionamento com o mercado de arte respondeu que “o mercado não me atrai. As obras que vendi até me arrependo de ter vendido algumas delas ”. Sonia Rangel produz pouco, mas sempre está pintando, devagar. Tudo é meticulosamente pensado. Como sua atividade no magistério lhe garantia a sobrevivência lhe permitiu  escrever poemas, textos e pintar, sem o compromisso ou a necessidade de vender.

Obra ainda em execução no seu ateliê do 
bairro do Canela, onde reside.
Falando sobre as técnicas que utiliza para criar as suas obras Sonia Rangel declarou que tudo começa com o encantamento por um lugar que visitou, que pode ser  uma feira livre, uma floresta, uma pessoa vendendo algo na rua ou seja algo que lhe tocou de perto. Gosta de transgredir as técnicas colocando fotografias, objetos diversos, mas tudo com a preocupação em criar um todo harmônico. É como se a própria existência precisa de organizar esses conflitos, esses contrastes, e as técnicas que usa espelham muito isto. “Raramente você vê um trabalho meu que é só pintura. Mesmo quando a pintura é predominante tem algo de colagem ou outra interferência, mas tem uma unidade. Que é algo de uma tradição de olhar a arte moderna. Na verdade, o pós-moderno quebrou com isto, porém, eu tenho meus pés nesses dois lugares. Quanto ao encantamento tanto pode acontecer por certos indivíduos, pelo imaginário ou nas pessoas de verdade que transitam nas ruas e nas feiras. Esses temas me permitem transgredir nas técnicas que utilizo. Já fiz até algumas performances, trabalhos mais precários.”

Formação
D
e 1964 a 1968- Escola de Belas Artes – UFRJ;1971 a 1975 - Escola de Belas Artes – UFBA ;1978 a 1979 - Escola de Dança – UFBA e 1995- Mestrado em Artes, Escola de Belas Artes, da UFBA

Funções Profissionais

Professora - desde 1980 nos departamentos de Fundamentos do Teatro, Escola de Teatro da UFBA e História da Arte e Pintura, Escola de Belas Artes da UFBA; Artista Plástica - Atriz - Cenógrafa – Figurinista.

Principais Individuais

Em 1991- Retrospectiva e Obras Recentes- Galeria Cañizares – Salvador-Ba; 1987 - Pinturas-desenhos - Cimeira Artes Galeria - Rio de janeiro-RJ;1982- Flâmulas - Galeria Cañizares – Salvador-Ba; 1978- Sonia Rangel, Guaches , Galeria Funarte Macunaíma - Rio de Janeiro-RJ; Sala Especial - Centenário da Escola de Belas Artes - Museu de Arte Moderna – Salvador-Ba; 1973 - Sonia Rangel, Gravuras e Desenhos- Instituto Cultural Brasil Alemanha – Salvador-Ba.

Participação em Bienais

Em 1993 - Il Bienal do Recôncavo, artista selecionada – São Félix-Ba; 1988- I Bienal Foto Bahia , artista selecionada – Salvador-Ba; 1987- I Bienal de Cultura e Arte Negra, artista convidada – Salvador-Ba;1986 - Pré-Bienal de Cultura e Arte Negra, artista convidada – Salvador-BA ;1978- Bienal Latino Americana. Fundação Bienal de São Paulo, artista convidada,

Participação em Salões

Visitantes apreciam a exposição de Sonia
 Rangel no Museu de Arte Moderna -BA.
Em 1989 - II Salão Baiano de Artes Plásticas, artista selecionada; 1988 - I Salão Baiano Salão Baiano de Artes Plásticas", artista selecionada, Salvador-Ba ; 1984 - XXXVII Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, artista selecionada, Recife-Pe; 1981 - IV Salão Nacional de Artes Plásticas, artista selecionada, Rio de Janeiro-Rj; 1979 - I Salão Brasileiro de Artes, artista selecionada. Rio de Janeiro-RJ; 1971- Salão do Paraná, artista convidada, Curitiba-PR.


Premiações
Em 1994 - Melhor Cenografia e Melhor Figurino no IV VT Bahia (ABAP) no documentário Merlin,  de Mônica Simões;  Cenário e Figurino - Grupo Intercena Merlin ou Terra Deserta, direção de Carmen Paternostro - Troféu Bahia Aplaude, Indicação como destaque do I semestre de 1993 e Prêmio Melhor Espetáculo do Ano de 1993; Instalação Planeta Raiz, Prêmio Especial do Juri, II Bienal do Recôncavo, São Félix-Ba; 1989- Pintura - Referência Especial do Júri, II Salão Baiano de Artes Plásticas; 1983- Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Espetáculo e Indicação de Melhor Cenografia, Troféu Martim Gonçalves, Salvador-Ba, espetáculo Caixa de Sombras, direção de Harildo Déda; 1979- Esculturas Lúdicas, Prêmio Melhor Mostra do Ano, Associação Paulista de Críticos de Arte, Mostra de Escultura Lúdica, MASP, São Paulo-SP, Como integrante do Grupo Posição;1972- Desenhos – 3º Lugar Premiação da Exposição Bahia Década 70- ICBA – Salvador-BA; Cartaz - 1° Lugar Concurso para a Divulgação da Exposição Bahia Década 70 - ICBA – Salvador-BA; 1971- Água Forte – 2º Lugar Exposição Didática de Gravura - EBA- Salvador-BA. 

sábado, 31 de maio de 2025

ALCEU LISBOA E SEU CONSTRUTIVISMO SINGULAR

O artista Alceu Lisboa trabalhando numa
nova obra, onde podemos ver o
surgimento de algumas manchas .
Tendo trabalhado durante mais de trinta anos como professor de Física e diretor do Colégio Nobel, em Salvador, o artista Alceu Lisboa mantinha viva sua sensibilidade de gostar, colecionar e presentear obras de arte. Sendo um profissional que durante grande parte de sua vida esteve trabalhando e envolvido com números e conceitos rígidos da racionalidade não deixou que sua sensibilidade fosse anulada ou diminuída. Ao contrário, este seu gosto pela   arte desaguou na sua incrível capacidade de criar formas geométricas, em que se expressa com naturalidade e apresenta uma paleta de cores que nos deixa surpresos por sua beleza e apurada técnica. Foi assim que desde o ano de 2007 passou a pintar quase diariamente, e hoje já nos apresenta sua arte consolidada e cada dia mais plural na forma, no conteúdo e no uso das cores. Está se preparando para fazer em julho sua primeira exposição fora daqui na Canvas Galeria de Arte, no Rio de Janeiro, onde vai expor dezesseis obras.

Nove obras agrupadas  atestam 
a qualidade de sua arte.
Ao apreciar um conjunto de obras do artista Alceu Lisboa em seu ateliê localizado no bairro do Horto Florestal, em Salvador, pude constatar que a sua formação nos campos da Física e da Matemática contribuiu para que sua arte   tenha o estilo construtivista, sem a rigidez dos algoritmos, das fórmulas e conceitos racionais que regem estes campos da Ciência.  Sua arte contemporânea certamente percorre caminhos semelhantes aos do saudoso artista baiano Jamison Pedra, que era arquiteto, e fazia uma arte geométrica delicada, suave e limpa. Também podemos lembrar da arte de Eduardo Sued que sempre gostou de experimentar e buscar soluções para suas obras. O artista Alceu Lisboa é ainda admirador do trabalho   da pintora de nacionalidade húngara, que reside no Rio de Janeiro, Yuli Getzi, além dos artistas o holandês Piet Mondrian e dos americanos Sol LeWitt, Kenneth Noland e Frank Stella. Atualmente vem introduzindo na sua pintura algumas manchas e texturas saindo da limpidez quase minimalista de suas obras anteriores talvez com uma leve influência de Tomie Ohtake, pintora japonesa, naturalizada brasileira e uma das representante do abstracionismo informal.

                                  LEITURAS E PESQUISAS

Alceu Lisboa pintando envolvido 
em oito obras de sua autoria.
Afirmou que desde os anos 2000 vinha pintando sem alguma regularidade porque estava envolvido na administração do seu Colégio Nobel, que funcionava, no bairro do Itaigara em Salvador e lhe consumia boa parte do seu tempo. Em 2014 fez sua primeira e única exposição individual na Galeria ACBEU, no Corredor da Vitória, em Salvador. Seguiu sua trajetória pintando silenciosamente e procurando pesquisar e ler muito sobre as técnicas de pintura. Foi algumas vezes a São Paulo e numa dessas conheceu o pintor Newton Mesquita. Frequentou o seu ateliê durante uma semana sempre procurando aprender e observar seu processo de produção. Ficaram amigos, e continuam trocando informações. Guarda com orgulho sete telas em pequenos formatos de autoria de Newton Mesquita, e uma tela que ele pintou de seu neto. Conheceu outros artistas entre eles o Claudio Tozzi sempre procurando ouvir considerações sobre a arte que estava fazendo.  Porém, em 2007 quando decidiu vender o colégio, seu tempo passou a ser preenchido totalmente pela pintura. Tem em seu apartamento cerca de trezentas obras de várias fases, muitas em grandes formatos. Na conversa que tivemos ressaltou que durante a pandemia pintou freneticamente e àquelas notícias de mortes pelo mundo afora, e também as discussões em torno das vacinas lhe afetaram emocionalmente. Isto aconteceu com milhões de pessoas em todo o Planeta , e ressaltou que "a pintura foi uma importante válvula de escape para expressar seus sentimentos e continuar levando sua vida."

                                               O ARTISTA

Além de uma bela paleta de cores e formas
variadas Alceu cria obras que agradam
os olhos do espectador.
O pintor Alceu Lisboa Filho nasceu em catorze de novembro de 1949 na cidade de Itambé, interior da Bahia, é filho de Alceu Lisboa Freire e d. Maria Lopes Lisboa. O casal teve seis filhos e seu pai era juiz de Direito da comarca de Itambé quando ele nasceu, porém, a família residiu em Camacã, Jacobina  e em outras cidades. Fez o primário em Itambé e quando os filhos do casal concluíram o primário vieram com a sua mãe para Salvador para dar prosseguimento aos estudos. Foi assim que Alceu Lisboa  estudou no Colégio Antônio Vieira, no bairro do Garcia, onde fez o ginásio e o primeiro ano científico. Depois se transferiu  para o Colégio de Aplicação, localizado na Avenida Joana Angélica. Ao término fez vestibular para Engenharia Civil na Universidade Federal da Bahia . Com vinte anos de idade iniciou sua carreira no magistério ensinando Física no Colégio Antônio Vieira e no Curso Águia, que preparava os jovens para enfrentar o vestibular. Várias gerações foram alunos do professor Alceu Lisboa a exemplo do empresário e banqueiro Daniel Dantas, o político Jutahy Magalhães Júnior, os cantores Bel Marques e Ivete Sangalo, o jogador de futebol Bebeto, e muitos outros.

Fase das  figuras geométricas
 circulares.

Lá juntamente com outros professores decidiram em 1972 criar o curso de vestibular Nobel que funcionou inicialmente num casarão na Mouraria e depois  no Corredor da Vitória, próximo à sede da ACBEU. Em seguida abriram outra unidade na Avenida Leovigildo Filgueiras, no bairro do Garcia. O professor José Nilton ensinava Português, Alceu Lisboa a disciplina Física, Antônio Pádua a Matemática e Antônio Pedreira a Biologia.   Posteriormente em 1977 fundaram o Colégio Nobel. A primeira unidade funcionou  no bairro do Rio Vermelho. O colégio teve excelente aceitação e   abriram as unidades da Pituba, Itaigara e Vilas do Atlântico. A sociedade foi desfeita anos depois, e cada um ficou com uma unidade. O professor Zé Nilton é o único que ainda continua no segmento da educação com seu Colégio Apoio, em Vilas do Atlântico, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. O professor Antônio Pádua transformou na Faculdade Rui Barbosa, que funcionou no bairro do Rio Vermelho. A faculdade foi vendida , e hoje funciona na Avenida Paralela. Já Antônio Pedreira ficou com a unidade da Pituba, também  se desfez do colégio , e atualmente exerce a profissão de psiquiatra. Alceu Lisboa ficou com a unidade do Colégio Nobel localizada no bairro do Itaigara e com a marca  Colégio Nobel. Em 2017 vendeu  abraçando a pintura em tempo integral.

Seu primeiro professor de pintura foi o artista Waldo Robatto e depois Sérgio Fingermann e Newton Mesquita. Adquiriu muitos livros de arte em livrarias daqui, nas viagens que fez no exterior e também através da internet sempre procurando observar e ler sobre as técnicas de pintura. Depois decidiu doar anonimamente cerca de setecentos desses livros de arte à Biblioteca da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia. As leituras, pesquisas e visitas a museus em vários países  lhe deram um bom conhecimento técnico e facilitou no seu dia a dia pela busca de soluções para execução de suas pinturas.

Capa do Catálogo da exposição
na ACBEU.
O artista Alceu Lisboa disse também que os estudos de ótica que fez durante os anos que estava no magistério ensinando Física  também o ajuda na sua arte para  entender a combinação de cores, embora ele tenha no seu ateliê uma grande quantidade de tubos de tintas importadas de várias matizes de cores. Dificilmente usa uma cor crua ou primária em suas obras, sempre procura misturar para encontrar uma cor diferenciada que lhe agrade. Também possui uma grande quantidade de pincéis, e o curioso é que tudo está disponível , separados e identificados em caixas. Toda esta organização deve-se à professora  Arlinda Lisboa, com quem está casado há décadas, que funciona como sua assistente. Ela também foi professora da disciplina Biologia, no Colégio Nobel, do bairro do Itaigara.