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O artista Jorge Galeano pintando em seu ateliê na cidade de Feira de Santana. |
O pintor argentino Jorge Abel Galeano chegou em Salvador em 1980 e foi para Feira de Santana no ano
de 1986 com trinta e três anos de idade depois de andar por várias cidades do
continente latino -americano. Se adaptou tanto que terminou por escolher a
Princesa do Sertão como sua moradia e lá passou a desenvolver com intensidade a sua arte e a participar dos eventos culturais da cidade. Passados
todos estes anos podemos dizer que ele incorporou vários elementos culturais da
região e que está plenamente integrado com os costumes, valores e a cultura
local. “Foi aqui em Feira de Santana que pintei meu primeiro
quadro”, diz com ênfase o Jorge Galeano. Sua primeira exposição foi
realizada em 1982 na Galeria O Cavalete, em Salvador, juntamente com Ligia
Aguiar. Todos os trabalhos eram desenhos e foram convidados pela sempre saudosa
Jacy Brito, que lançou muitos artistas no mercado de arte baiano. Atualmente sua arte tem um lirismo que encanta pelas cores e elementos das composições que cria inspirado na natureza que lhes cerca. Tem uma pintura solta, com cores vibrantes e cada obra apresenta algo para o deleite daqueles que gostam de arte onde as composições sugerem sonhos e contos oníricos. Pinta como tivesse aquarelando e poetizando com camadas superpostas onde os elementos vão povoando o seu universo pictórico.
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Foto 1 - Encontros e Despedidas. Foto 2 - s/ título. Foto 3- Paisagem na Chapada . Foto 4- São Jorge |
Seu
nome completo é Jorge Abel Galeano, nasceu em 14 de setembro de 1953, na cidade
de Concórdia, Argentina. Filho do veterinário e fazendeiro Jorge Alberto
Galeano e d. Maria Esther Sanguinetti. Seu avô paterno foi prefeito da cidade e
a família tinha um status social e político importante em Concórdia. Com um ano de idade seus pais
romperam o casamento e ele com sua mãe foram morar com seus avós maternos na cidade de Villaguay, província de Entre Rios, “que era uma espécie de aldeia com menos de
trinta mil habitantes. Anos depois ele retornou para a cidade onde viveu sua
infância e notou que a mesma não se desenvolveu como esperava , e hoje tem cerca de quarenta
mil habitantes. A maioria dos habitantes é de descendência italiana e belga,
que vieram na época da guerra e se estabeleceram por lá. Da infância lembra que
tinha muitas festas como as da Primavera, Natal e das datas históricas. Antes
da Guerra do Paraguai contou Galeano “essas terras pertenciam ao Uruguai”. Estudou
o primário na Escola Bartolomeu Mitre, nome do presidente da Argentina que
governou de 1862 a 1868.
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Esta obra foi exposta no Centro Cultural da CEF, em Salvador, e lembra de longe as criadas por Siron Franco. |
Sua mãe casou novamente e eles foram morar na
cidade de Tandil, que fica a trezentos e trinta Km de Mar Del Plata, que é um importante
centro turístico da Argentina. Seu padrasto administrava um cinema e fora
transferido para lá. Quando Jorge
Galeano já estava com dezoito anos decidiu ir morar em Buenos Aires, que fica a
350 Km de Tandil. Disse que foi um choque grande e que enfrentou muitas
dificuldades de adaptação e de sobrevivência. Como fazia artesanato desde que
morava no interior chegou a comprar uma moto com o dinheiro das vendas, e foi trabalhar de ajudante de
pintor de paredes. Mas, o mestre de obras e um engenheiro notaram que ele não
dava para aquele serviço. Foi então que o contrataram como uma espécie de motorista,
e com sua moto transportava os chefes para outras obras e locais diversos na
capital portenha. Disse que conhece muito bem a cidade de Buenos Aires devido
principalmente a esta época em que levava os chefes e outras pessoas da empresa
em sua moto.
BELAS ARTES
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Foto 1 - Morro . Foto 2- Bumba Meu Boi. Foto 3-Acrobatas com Pássaros. Foto 4. Cavaleiros Noturnos |
Terminou o terceiro ano colegial e foi fazer
vestibular para o Escola Nacional de Belas Artes, hoje chamada de Universidade
Nacional de Belas Artes – UNA. Aí o choque foi bem maior, lembra Jorge Galeano,
porque os colegas andavam com roupas rasgadas, bolsas imensas e falavam em
nomes que ele nunca tinha visto ou ouvido falar. Conversavam sobre os filmes do
francês Jean-Luc Godard, dos italianos Federico Fellini e Píer Paolo
Pasolini, dos livros do escritor argentino Jorge Luís Borges e do francês Jean Pual Sartre e outros papos
deste nível. Ele estava completamente fora deste ambiente, onde inclusive a
maconha corria solta. Tinha uma falsa ideia na sua cabeça que seus colegas eram
ainda mais pobres do que ele devido às roupas surradas e descontraídas que
vestiam. Certo dia foi convidado para uma festa e quando chegou achou que
estava no endereço errado porque a casa era uma mansão localizada num bairro
nobre de Buenos Aires. Ao entrar se deparou com muito luxo e até mordomo tinha para servir aos
convidados. Disse que foi a primeira vez que ouviu músicas da banda Pink Floyd
e que até hoje lembra da festa e da animação da rapaziada. “Inesquecível. Foram tempos felizes, nunca
namorei tantas meninas ricas e bonitas como naquela época. Eu que morava num
quartinho no centro de Buenos Aires, filho de uma família de classe média , mesmo assim curti muito,” relembra Jorge
Galeano.
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Obra Jogando a Rede, acrílica sobre tela. |
Como já tinha expertise de trabalhar com a
mãos no artesanato que fazia para sobreviver foi fácil se adaptar ao curso de
Belas Artes. Disse que fazia inicialmente umas bolsas de couro, que eram muito
usadas pelos jovens, naquela época. Depois passou a vender pulseiras de madeira.
Mandava um marceneiro fazer as peças em madeira num torno, armava e pintava, e
foi assim que conseguiu comprar a moto. Quando começou a cursar Belas Artes
teve oportunidade de trabalhar com seus professores em serviços de escultura, muralista,
restauro, pintura de afrescos, dentre outros. Tudo ia evoluindo, mas em 1978 a
ditadura militar na Argentina recrudesceu e ele resolveu viajar com um grupo de
músicos. Eles tocavam músicas latinas e seu instrumento era o charango, que é de origem andina. Segundo a Wikipedia “é
um pequeno instrumento de
cordas, de origem sul-americana, mais propriamente andina, que pertence à família
do alaúde e que tem aproximadamente 66 cm de comprimento. Tradicionalmente era feito
com a carapaça das costas de um tatu, se bem que, hodiernamente, já costuma ser feito
de madeira, dispondo, ainda, de um braço de madeira, traçado por 5 cordas
duplas." Aqui chegando foram tocar no Bar Vagão, ficava na Rua Almirante Barroso,
no bairro do Rio Vermelho. Este bar era muito frequentado nos anos 70/80 pela
turma universitária e cult. Ali eram apresentados shows variados com músicas
latinas, de forró e até de jazz. Hoje o Vagão está abandonado e totalmente
enferrujado.
FEIRA DE SANTANA
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Obra Canários da Terra, personagens do seu jardim. |
O artista Jorge Galeano tomou conhecimento que
a recém criada TV Subaé, em Feira de Santana, estava precisando de alguém de
arte para fazer cenários e outros serviços relacionados. Foi assim que foi para
Feira de Santana e permaneceu durante três anos na Tv Subaé. Disse que foi um
grande aprendizado. Resolveu viver de sua arte e passou a pintar. Não cansa de
repetir que “Foi aqui onde pintei meu primeiro quadro”, relembra o consagrado
pintor Jorge Galeano. Atualmente vive numa casa no bairro de Pampalona, em
Feira de Santana. Lembrou que logo que comprou o terreno iniciou a construção de sua casa e passou a
replantar espécies do sertão como aroeira, cajueiro, além de mangueira, jaqueira e fez um jardim. Depois o local virou um condomínio fechado. Ele
costuma chamar o local de sua ilha particular porque vive cercado de pássaros,
saguis, sariguês e outros animais que frequentam e vivem na sua propriedade.
Sua arte tem uma mistura deste mundo do sertão e também de elementos da cultura
de seu país.
COMO MUDOU
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Jorge Galeano e seu ambiente de trabalho,inclusive tintas e pincéis. |
Durante nossa conversa lembramos que ele
pintava com alguma influência dos artistas o goiano Siron Franco e do gaúcho
Iberê Camargo. Era uma pintura figurativa, mas faltava sua identidade
pictórica. Em sua casa sempre chamava um rapaz chamado Jair Santos para podar
as árvores e ajeitar o seu jardim. Certo dia no ano de 2007 o Jair virou-se
para ele e disse: “Seu Galeano, por que o senhor não pinta o seu jardim?”. Aquela
frase foi suficiente para provocar uma mudança substancial na sua arte. Disse
Galeano que ficou pensando no que disse o jardineiro Jair e daquele dia passou
a pintar o jardim como estivesse aquarelando com várias camadas e introduzindo
nas suas obras elementos dos seu jardim ou seja as plantas, os pássaros, as
pessoas que aparecem por lá. Foi como um estalo e assim encontrou sua
identidade pictórica graças a um simples jardineiro. "Teve um dia, conta rindo,
que peguei a paleta toda suja de tintas e encostei na tela, e dali fui pintando
uma casinha, um pássaro, a vegetação. Me senti bem mais livre “.
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Detalhes do jardim com vegetação que circunda sua casa. |
Em 1996 o amigo eprofessor de Letras Rubens
Pereira, da Universidade Local, o convidou para dar aulas de arte, e ele passou
a utilizar um pequeno porão que vivia fechado transformando num ateliê, onde
pinta até hoje trabalhos de formatos menores. Quando precisa pintar uma obra em
formato maior faz em sua casa no bairro de Pampalona onde também tem um ateliê.
Quanto às aulas passou muitos anos ministrando através de contratos que eram renovados de seis em seis meses. Atualmente não ministra mais aulas, e vive
totalmente voltado para sua arte, e é muito conhecido e procurado por colecionadores.
“Sou cidadão Feirense e muita gente me conhece. Outro dia caí da moto e chegaram
várias pessoas, inclusive uns meninos de rua me chamando de “ seu Gaiano”,
preocupados comigo, mas, felizmente, nada de grave aconteceu.
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Obra Manguezais . Vemos a alegria da natureza expressa em cores vibrantes. |
Chegou a trabalhar numa agência de propaganda local,
e não gostou da experiência. Foi então que bolou uma forma criativa de
comercializar suas obras. Ele juntava dez pessoas interessadas em comprar as obras,
fazia uma relação,as pessoas assinavam se comprometendo e em seguida organizava uma pequena mostra. Eles escolhiam
seus quadros, e lhes pagavam através de dez cheques pré-datados. Fez isto
inúmeras vezes, e assim conseguia sobreviver com dignidade. Disse que nunca
nenhum desses cheques estava sem fundos. Também, trocou muitas obras por serviços.
Quando sua filha o estudava trocava as mensalidades da escola por obras, e o
mesmo fez até uma vez com um restaurante onde passou a almoçar durante um ano.
Chegou um momento que nem aguentava passar em frente ao restaurante porque enjoou
da comida, por se repetir muito. Com um engenheiro trocou a construção da
piscina de sua casa por obras pintadas por ele. Vive em sua casa cercado de
árvores e animais silvestres que aparecem no seu jardim e de seu cachorro, que é
uma mistura da raça doberman com vira-lata chamado Jack.
Em 11 de março de 2020 a Organização |Mundial de Saúde declarou a Covid-19 pandemia . Foi uma tragédia em todo o mundo e a exemplo de outros profissionais alguns entraram em depressão, outros pararam de trabalhar. Porém, Jorge Galeano encontrou uma forma de continuar produzindo. Anunciou através as redes sociais que continuava trabalhando e passou a fazer retratos em quarela. As pessoas enviavam as fotos através as redes sociais ele fazia o retrato e quando estava pronto viam buscar. Cobrava preços mais acessíveis para atrair a clientela. Já no final da pandemia recebeu uma encomenda para pintar cem pequenos caqueiros para uma agência de publicidade que queria presentear seus clientes. Portanto, não enfrentou dificuldades maiores naquele período de manipulação que o mundo viveu patrocinado pela globalização.
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O Jorge Galeano é o do meio,aí ao lado de dois colegas da banda. |
Outro fato interessante na trajetória de Jorge
Galeano é quando algum turista estrangeiro o procurava queria comprar uma obra que
tivesse o mar presente. Aquela cobrança o incentivou a adquirir um pequeno
terreno na localidade de Pedras Altas, que fica defronte a ilha dos Frades, e
pertence ao município de Saubara. Lá construiu uma pequena casa e tem lhe
despertado para pintar as coisas do mar, inclusive fica perto de um pedaço de Mata
Atlântica. Disse que o local é maravilhoso, e que levou dois anos para
construir a casa. “É pequena, mas aconchegante. Do terraço tenho uma visão
inesquecível.” Hoje a casa ele doou para sua única filha a Aloma, a qual já lhe
deu três netos. Porém, disse que sempre está por lá “porque é um local de
inspiração com a presença do mar e da Mata Atlântica”.
PRINCIPAIS EXPOSIÇÕES
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Folder da primeira exposição de Jorge Galeano . |
Em 1982 - Galeria 0 Cavalete -
Salvador – Bahia; 1985 - Salão de Artistas Latinoamericanos -
Caracas -Venezuela; 1990 - Museu Regional - Feira de Santana – Bahia; 1991
- Salão Nacional Mokiti Okada - São Paulo – SP; 1995 –
Individual na Galeria
Prova do Artista - Salvador – Bahia; Galeria da Telemig - Belo Horizonte – MG; 1996
–
Individual Hotel
Sofitel - Prova do Artista - Salvador -Bahia; 1997 - Galeria Valeria
Vidigal - Vitória da Conquista – Bahia; Individual
na Galeria do ACBEU - Salvador
– Bahia ; 1998 - Bienal do Recôncavo -
São Felix –
Bahia; 1999 - 100 Artistas da Bahia -
Salvador – Bahia; Individual Galeria Casa 26 - Porto
Alegre – RS; 2004 - Hotel Sofitel - Prova do Artista - Costa do
Sauipe -
Bahia; 2005 – Individual Conjunto
Cultural da Caixa - Salvador – Bahia; 2008 – Individual Museo Provincial de Bellas
Artes, Santa fé, Argentina; 2010- Individual Corredor Cultural Del
Bicentenário Argentino, Paraná/Argentina; Individual Fundación de Estúdios
Brasileros, Buenos Aires/Argentina; Individual no Museu de Arte Contemporânea
de Feira de Santana, Bahia,Brasil; 2014 – Individual no Salon Del
Pueblo, Cuenca,Eguador; 2016 – Individual no Museu Regional de
Arte de Feira de Santana, Bahia, Brasil.
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