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Nen procurando materiais em estaleiro para criação de suas esculturas. |
Vou
falar hoje de outro artista do interior da Bahia desta vez de Nen Cardim, da
cidade de Valença, que dista 255 Km de Salvador, considerada a Capital do Baixo
Sul. Foi lá que o artista passou maior parte de sua vida e reside até hoje.
Lembra que acompanhava o seu tio Elói Cardim para trabalhar na construção naval
e o pai embarcando para pescar no Rio Una e no mar. O município tem uma rica
tradição de construção de embarcações de pequeno e médio portes e foi
observando as sobras de madeiras, resultado dos cortes para a construção das
embarcações e mesmo pedaços de embarcações substituídos durante os reparos e
reformas que eram jogados fora que aguçaram a criatividade de Nen Cardim. Ele
já participou de vários salões regionais e foi premiado na VI Bienal do
Recôncavo quando ganhou o prêmio viagem com a série Articulações e foi expor na
galeria do Instituto Cultural Brasileiro na Alemanha - Icbra, em Berlin, e na Suíça,
no Centro Cultural Dannemann. Participou de uma coletiva em Portugal,
no Museu de Comporta e Melides juntamente com escultores do Senegal, Benin e
brasileiros de Minas Gerais e Bahia. Foi premiado também na XXVI Edição dos
Salões de Artes Visuais da Bahia, promovido pela Fundação Cultural da Bahia, em
2022.
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Nen com escultura de sua autoria. |
Desde
1992 que vem desenvolvendo o seu trabalho escultórico e posso afirmar que suas
obras têm uma significação forte, ligação com as tradições da construção naval
e da luta dos pescadores em se lançar diariamente ao amanhecer ao rio e o mar
em busca da sobrevivência. Sua obra tem uma identidade própria. Ele usa este
material reciclado e dá nova vida ressignificando os pedaços de madeiras, boias
e outras ferramentas usadas na construção naval e na pescaria, antes
abandonados e os transformando em obras de arte. É um autodidata que vem
vencendo todas as dificuldades como a distância entre seu local de produção e
os grandes centros urbanos que concentram o consumo de obras de arte, de divulgação e locais para expor os seus trabalhos. Mostra
preocupação com o meio ambiente e disse que sua busca por materiais para
trabalhar acontece nas margens do Rio Una onde ficam localizados os estaleiros
e também nas praias, como a de Guaibim, em Valença. Locais apropriados para garimpar os pedaços de
madeiras abandonados e até mesmo outros objetos usados por pescadores e grandes embarcações. Ele adianta que a busca por esses materiais e a sua
reutilização serve de alerta mostrando a necessidade de preservar e proteger o
meio ambiente para que “possamos conviver num Planeta mais digno, mais cidadão
e mais humano”.
QUEM É
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Nen mostrando materiais que usar em sua arte escultórica. |
O seu nome de batismo é Florisvaldo Cardim do
Nascimento Filho, nasceu no dia 25 de novembro de 1973, na cidade de Valença,
Bahia. É filho de Florisvaldo Cardim no Nascimento e de d. Claudina Matos Malta.
O casal teve sete filhos e desde os treze anos de idade que Nen Cardim começou
a fazer algumas peças de artesanato para vender e ajudar no sustento da
família. Transformou um prego de ripa numa ferramenta para esculpir suas peças em cerâmica e assim comercializava no bairro onde morava e nos arredores.
Depois em 1992 passou a pintar e fazer suas primeiras esculturas em madeira
reciclada. Disse que não teve escola de arte, mas que os salões regionais
serviram de inspiração e aprendizado, pois teve oportunidade de conhecer obras
em pintura e escultura de vários artistas e isto abriu seu horizonte. Em 1997
participou do XXVI Salão Regional de Artes Plásticas, em Valença, com três
esculturas feitas de madeira e boias de vidro, de fabricação chinesa, que na
época os pescadores de sua cidade usavam. Ressaltou que hoje essas boias de
vidro usadas por pescadores e que atualmente foram substituídas por boias de isopor e plástico. Foi premiado em
primeiro lugar neste salão. Em 1999 recebeu a Medalha de Menção Honrosa no
XXVII Salão Regional de Artes Plásticas de Alagoinhas. Em 2002 conquistou o
Grande Prêmio Viagem à Europa com duas esculturas chamadas de Articulação I e
Articulação II que expôs na Bienal do Recôncavo promovida pelo Centro Cultural
Dannemann, São Félix, Bahia, quando foi passar um mês em Berlin, na Alemanha e
expôs na Galeria do ICBRA – Instituto Cultural Brasileiro -Alemão, o qual foi
fundado em 1995.
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Quatro esculturas feitas com materiais reciclados. |
Ele
lembrou de um pequeno acidente que ocorreu quando foi desmontar sua exposição
chamada Relíquias do Terceiro Extrato, no Centro Cultural dos Correios, em
Salvador, e uma de suas esculturas que estava exposta tem uma arcada da boca de
um tubarão e que uma pessoa que o ajudava a desmontar se distraiu e terminou
recebendo uns cortes no braço ao se chocar com os dentes do peixe. Brincando
disse “o tubarão mordeu o rapaz depois de morto”. Podemos imaginar o perigo que
representam os tubarões para o ser humano nos mares que são os seus habitats
naturais. Também esta viagem para a Alemanha não foi tão tranquila porque teve
problemas na Alfândega para liberação de suas obras e por isto teve que
retornar antes. Também não observou que suas obras estavam avaliadas em 5 mil
euros e quando foi conversar para vende-las pediu cinco mil reais, portanto
deixou de receber aos valores de hoje mais de vinte e cinco mil reais. Tinha
gasto na viagem com seus próprios recursos cerca de quatro mil e poucos reais.
Mas, ele considerou muito importante a sua ida pois teve contato com a arte
feita num dos maiores polos produtores da arte contemporânea do mundo.
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Esta obra foi premiada no MAB. |
Disse
que sua origem indígena vem de sua avó materna chamada Umbelina que era do
povoado de Barcelos do Sul, distante 25 Km da cidade de Camamu, e hoje tem uma
população de pouco mais de dois mil habitantes. Os índios nativos que
habitavam a região da baía de Camamu, no sul da Bahia, eram os Macamamus , e a
sua aldeia era conhecida por Camamu. Possivelmente a avó de Nen Cardim é
descendente desta tribo. Você olhando pra ele vemos logo os traços indígenas da
mistura de sua mãe filha de Umbelina e de seu pai um caboclo natural de
Valença. Também esta sua habilidade com as mãos vem de sua avó que era uma
exímia na feitura de redes de pesca e de sua mãe uma artesã nata que pintava as
vestimentas das caretas nos festejos do carnaval e em outras manifestações
populares, além de fraldas de bebês, que na época que não eram descartáveis, e
também outros panos de utilidade doméstica.
Estudou o primário da Escola Monsenhor André Costa até a terceira série, localizada no bairro do Tempo, e depois foi para a Escola Eraldo Tinoco, no
bairro da Bolívia, ambas em Valença, onde concluiu o primário. Em seguida foi
estudar no Ginásio Gentil Paraíso Martins e aí cursou até a oitava série. Depois foi para o Colégio Estadual de Valença – Coesva cursando até o segundo
ano. Vinte anos depois resolveu se inscrever no Exame
Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos – Encceja, logo após a pandemia e
concluiu o curso colegial. É um programa do Governo Federal que “foi realizado pela primeira vez em 2002 para
aferir competências, habilidades e saberes de jovens e adultos que não
concluíram o Ensino Fundamental ou Ensino Médio na idade adequada.”
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Escultura em madeira, boia de vidro e corrente. |
PRÊMIOS -Em 2022 - Premiado no Salão de Artes Visuais da Bahia - 64° Edição, 30 anos; 2009 - Contemplado no
edital Matilde Mattos, Curadoria e montagem de exposição ; Medalha Ouro em
Londres na II Mostra Internacional de Arte Brasileira - Centro Cultural
Lauderdale House-London; 2008
; Menção Honrosa Bronze na II Mostra Internacional de Artes Visuais Salão Nobre
do Estádio de Pacaembu ; 2006 - 1º Lugar Prêmio Oficial da
Fundação Cultural do Estado da Bahia ; Menção Honrosa Salão de Artes Plásticas de Juazeiro ; Grande Prêmio Viagem à Europa na Bienal
do Recôncavo - Centro de Cultura Dannemann – Bahia; 2º Lugar I Salão de Arte
Contemporânea do Consulado da Holanda na Bahia e Sergipe ;1999-2000
-1º Lugar no XXVII Salão Regional de Artes Plásticas - Centro de Cultura –
Valença e no Júri Popular no XXVII Salão
Regional de Artes Plásticas - Centro de Cultura de Valença; 1977
- Menção Honrosa no XXVII Salão Regional de Artes Plásticas - Alagoinhas -
Bahia .
OBRAS EM ACERVOS - No Museu Afro - Brasil - São Paulo;
Centro Cultural dos Correios – Bahia; Instituto Cultural Brasileiro na Alemanha
– Berlin; Centro Cultural Dannemann –Suíça; Centro Cultural Dannemann - São
Felix – Ba; AMBA - Arte e Música do Brasil e África; Fundação Cultural do
Estado da Bahia; Galeria da Aliança Francesa Salvador – BA; Galeria Maré Alta
Morro de São Paulo – Ba e na Galeria Ponto de Encontro Morro de São Paulo - Ba.
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS - Em 2013 - Exposição individual Relíquias do Terceiro Extrato, Ministério da Cultura e Correios; 2004 - Exposição
Individual - Centro de Cultura de Valença – BA; Exposição no Centro Cultural
Dannemann - Suíça; Exposição no Instituto Cultural Brasileiro na Alemanha; 2003
- ICBRA - Berlin - Alemanha, Obras da série “Articulações”.
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Cartaz da exposição em Londres. |
COLETIVAS - Em 2009 - II Mostra Internacional de Arte Brasileira -
Centro Cultural Lauderdale House Arts Centre & ICSA ; 2008 - II
Salão Internacional de Artes Visuais realizado pelo ICSA - Instituto Cultural
Século e Arte São Paulo Brasil ; Participação DA VI Bienal do Recôncavo – BA ; Participação
na mostra Paralela à Bienal Internacional de São Paulo, no Museu Afro-Brasil ; Selecionado
para Primeira Bienal Internacional no México (Universidade Chapingo); 2000
-Exposição de Artistas premiados no Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia
Galeria: Solar do Ferrão / Pelourinho – Salvador – Bahia ; 1992-2006
- Participações nos Salões Regionais de Artes Plásticas da Bahia entre as Cidades Participantes: Valença, Alagoinhas,
Juazeiro, Itabuna, Feira de Santana, Itaparica, São Felix, e Jequié; Consulado
da Holanda – Salvador; l Salão de Arte Contemporânea ; 2004 - Participação na VII Bienal do Recôncavo - São
Félix ; 2006 – Participação da Mostra Contemporaneidade no
Conjunto Cultural dos Correios, Salvador – Ba; Participação na Exposição 50 anos de
Arte na Bahia ; Exposição Contemporaneidade - Correios ; 2009 - Exposição
O Brasil e o Mundo, os Melhores da Arte Brasileira ; 2002 – 2003 -Vl Bienal do Recôncavo - Centro Cultural Dannemann e da Exposição 50 anos de Arte
na Bahia - Uma Homenagem a Matilde Mattos.
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