terça-feira, 24 de outubro de 2023

TROCARAM SEIS POR MEIA DÚZIA - Museu Rodin pelo Mac

O MAC, ex-Museu Rodin, com sua nova 
 pintura
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Estive visitando o Museu de Arte Contemporânea – MAC que veio substituir o Museu Rodin numa troca que na realidade até agora nada acrescentou.  Foram gastos R$ 2 milhões com a pintura, corte de uma mangueira centenária, colocação de algumas placas de gramas, a construção de uma pista de skate de madeirite, e outras coisinhas mais, e um muro grafitado. Se a intenção é a tal de diversidade faltou um palco para apresentação de shows de pagodeiros e funkeiros com suas músicas desrespeitosas com as mulheres e repletas de palavrões. É a “cultura” da bunda que a Bahia é muito pródiga. O resultado disto é que perdemos mais um museu. A Prefeitura se encarregou que acabar com o Museu da Cidade, no Pelourinho, e o Governo do Estado com o Museu Rodin, no bairro da Graça.  A Bahia merece um Museu de Arte Contemporânea num prédio apropriado, com linhas arquitetônicas arrojadas e com espaços dentro e fora que possam receber obras contemporâneas para serem apreciadas num ambiente adequado e com prazer. Mas, estamos num momento crítico onde o país passa por um processo de desconstrução, e a Bahia é um dos carros chefes deste processo. Assim inventaram um museu de arte contemporânea num velho e histórico prédio centenário, inapropriado por falta de espaços adequados para comportar até mesmo estas obras contemporâneas datadas da segunda metade do século passado.

Instalação O Casamento, 
Marepe, premiada no III
Salão do MAM-Ba ,1996.
As obras estão amontoadas no velho e histórico prédio do Palacete Catharino, no bairro da Graça, em Salvador, em salas apertadas e com seu piso apresentando muitos arranhões. No início da administração do Museu Rodin as pessoas usavam protetores nos pés para proteger o histórico piso. Agora não. Também o prédio não suporta um grande fluxo de pessoas e vi por lá caibros sendo improvisados para sustentar parte das escadarias. Como os espaços eram antes usados como quartos e outras utilidades domésticas pelos construtores do imóvel histórico datado de 1912 é claro que o casarão é inadequado para expor obras que precisam de espaço e distância para serem mais bem visualizadas e apreciadas. A obra do Marepe não está fotografada em sua inteireza devido o pouco espaço onde foi colocada. Sabemos que a arte contemporânea dá importância ao conceito, as atitudes e as ideias que levaram o artista a concepção daquela obra. Muitas vezes o resultado pode ser o almejado pelo artista e nem sempre agrada a críticos e mesmo a apreciadores sem um conhecimento tão embasado em conceitos e experiências. Títulos de doutores, mestres não me impressionam. Artistas que não têm esses títulos muitas vezes produzem obras bem mais instigantes e de qualidade superior.A exposição em si nada acrescenta. Pegaram algumas obras do acervo do Museu de Arte Moderna da Bahia, premiadas em salões da segunda metade do século passado, e improvisaram este museu. Os salões foram suspensos nos últimos três governos. 

                                           EXPOSIÇÃO NO PAVILHÃO

Uma das esculturas
expostas no MAC
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O correto teria sido expor também outras obras que ainda estão no acervo do MAM-Ba utilizando o pavilhão de arquitetura moderna que existe no local. Ao contrário, montaram uma exposição de fotos já conhecidas e de temática batida, e algumas esculturas que foram expostas numa feira de arte em São Paulo. Soube que o custo da montagem chegou a um milhão para a realização desta mostra. Confesso que ainda não pude apurar, portanto cito aí como conjectura no meio artístico. Se alguém provar posso acrescentar aqui o documento oficial. Também não tem sentido esta exposição permanecer seis meses neste pavilhão. Deveriam estar ali as obras contemporâneas do acervo e não essas fotos e esculturas que lembram muito as esculturas feitas pelo mestre Didi com cipós, contas e outros materiais ligados ao candomblé. As esculturas em aço estão bem resolvidas tecnicamente, mas não trazem nada de novo.

Quanto às fotografias sou mais apreciador da foto instantânea, daquela que na essência registra um momento fugaz. Não apenas a foto jornalística, mas também a foto artística com sua plasticidade, ambiência, sombra, as cores, o claro e o escuro, e foco no objeto principal e nos detalhes. O registro de um momento que não volta mais. Fotos produzidas não me agradam muito porque trazem algo de superficialidade, e podem ser repetidas digitalmente milhares de vezes, essas não me emocionam. Podem ser bonitas, mas lembram as selfs de mulheres com os filtros que os celulares oferecem. Este é o meu olhar, evidentemente existem outros olhares e opiniões. Acho isto salutar.

                                                        MUSEU RODIN

Escultura de Rodin que foi removida  
e não sabemos onde foi parar.
O Museu Rodin foi resultado de uma iniciativa do artista Emanoel Araújo,
recentemente falecido, que em parceria com o diretor do Museu Rodin Paris, Jacques Vilain, visavam mostrar as obras do grande escultor francês e coube aos arquitetos Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci o restauro do palacete e o projeto de construção do pavilhão anexo. Foi inaugurado em 2006 e agora fechado numa troca muito discutível e porque não dizer imprópria.

Foram adquiridas quatro obras de Rodin em bronze por R$3,30 milhões: “O Homem que Anda Sobre a Coluna”, “Jean de Fiènnes Nu”, “A Mártir” e “Torso de Sombra”, que ficavam expostas no jardim do Palácio Catharino e agora não sabemos onde foram parar. Também, o Museu recebeu 62 obras em regime de comodato e o prazo inicial era até julho de 2009. Este prazo teria sido prorrogado, e com a mudança as obras foram devolvidas.

 

 


11 comentários:

  1. Luiz Folgueira
    Perfeitas colocações.Sugeri ao diretor do IPAC, na gestão passada, busquei interlocução com a Prefeitura, ambos sem sucesso. Existe um terreno em frente à igreja Rosário dos Pretos, antiga praça do reggae, que está vazio acumulando lixo. Dizem que há alguns resgates históricos e nada poderá ser feito. Sugeri um piso elevado de vidro, num prédio de estrutura metálica e fachada frontal espelhada, com formato de igreja. Dessa forma, durante o dia ,a igreja seria refletida nessa fachada. Assim seria o nosso MACBa. Nem respostas houve. "Assim Caminha a Humanidade" e também os poderes públicos.

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  2. Leonel Brayner
    Parabéns Reynivaldo . É isso mesmo . Vou mais além : Porque Museu de Arte Contemporânea ? A Arte é abrangente e atemporal . Então , esse enquadramento significa que a boa Arte Contemporânea de hoje será o clichê de amanhã ? Claro que não ! Essa segmentação da arte , a meu ver , nada mais é que uma invenção do mercado para agitar vendas . Daqui a pouco vai aparecer a Arte Pós- Contemporânea que irá privilegiar e estimular " criações ousadas de uma nova vanguarda " . Até pouco tempo, o conceito era : tudo é arte ! Agora é : Todo mundo é artista . Bobagem pura e contorcionismos mercadológicos que nada acrescentam . Arte não tem época e nem idade . Representa a mais pura criação humana , livre , soberana e rebelde .

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  3. Salomão Zalcbergas
    Maravilha seu olhar sobre a incapacidade gestora de nossos governantes incluindo aí o secretário de cultura , q amputar programas com aprovação da sociedade onde a distribuição dos editais ,ainda q nas panelinhas, ocorreram, sobraram asas ao vento, em detrenimento de algumas tetas, para justificar o desvio de recursos tão caro ao povo bahiano,...e a miséria, criminalidade, e a falta de assistência do estado e de direito às comunidades menos assistidas só aumentam na população!!!

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  4. Antônio Rebouças
    Bom dia Reynivaldo,parabéns pelo texto lúcido, nos que estamos no meio das artes é quem mais anseia por um Museu de Arte Contemporânea adequado.

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  5. Leonel R. Mattos
    Mais um absurdo, um prédio que por se só é uma obra de arte, tombado , é pra ser contemplado sem intervenção nenhuma. Sacrificam com exposições contemporâneas levando uma multidão sem estrutura . Um casarão inadequado para mostras contemporânea. Esses cargos partidários coloca gente incompetentes para o cargo o resultado é este. Quem perde são os artistas e a sociedade. Eu não piso os meus pés lá para não ficar com tristeza como você ficou Reynivaldo. Parabéns pelo texto.

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  6. Ainda não fui conferir, até por falta de um estímulo maior e por discordar da ideia de transformar o Palacete da Graça -- preservado da ameaça de venda para abrigar um supermercado pela pronta intervenção de Antonio Carlos Magalhães, o velho ACM -- em espaço para a arte contemporânea.

    Confiando nas observações de Reynivaldo Brito, uma de minhas referências quando se trata do universo das artes plásticas na Bahia desde que fixei residência aqui, vejo que tal visita seria motivo de desgosto. A começar pela majestosa mangueira, que conferia um ar de acolhimento e introspecção ao local, coisas tão preciosas em espaços de arte e principalmente em museus.

    Também não vejo como apropriados ao local a pista de skate e o muro grafitados. Felizmente não instalaram palco para os shows, sejam de qualidade comprovada ou duvidosa, como os que vêm acontecendo em outro espaço de cultura, este multicentenário, o MAM -- Solar do Unhão. Um espaço de preservação histórica onde, atualmente, milhares de pessoas se aglomeram em shows dançantes com risco de comprometer as antigas estruturas, sob a benevolência de IPAC e IPHAN.

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  7. O maior absurdo. Falta de respeito com a arte, com a obra de Rodin. O que será da nossa se quem tem que cuidar dela, destroça? Vejam que estamos falando de um grande mestre da Arte Universal, a sua escultura jogada ao chão sem um amparo, sem os devidos cuidados com a peça tão valiosa, no chão do MAB, para onde foram transferidas. No jardim do Palacete era tão lindo vê-la confortável entre a vegetação, sobre uma base de granito. O local ideal para uma obra a céu aberto. O Palacete da Arte já nasceu com a vocação de receber a Arte Contemporânea e foi muito bem adequado para tal fim, com a construção de um belo Pavilhão. Era somente complementar ao nome. Será que as esculturas saíram de lá para dar espaço a uma pista de skate? Será, será? Não sou contra a pista, mas não em um espaço reduzido, imposto, que não é ideal devido a sua pequena dimensão para tal construção... Entre outras tomadas de decisões polêmicas...

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  8. Excelente pauta, Reynivaldo, precisamos de leituras críticas, para serem alvos de bons debates, afinal estamos numa sociedade dita democrática.

    As esculturas de Rodin, estão agora em mãos da gestão do Museu de Arte da Bahia (MAB). Foram transferidas por não fazerem parte do novo MAC. São peças datadas do início do século XX, mesmo sendo de autoria de um artista como Rodin, as quais são atemporais. Mas ficarem confinadas entre quatro paredes, escondidas, pode!!

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  9. Graça Gama
    Você sempre diz tudo exato. É Bahia amigo, TRISTE BAHIA.

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  10. E assim vão destruindo o Estado. La nave va...

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