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Henrique Passos com suas últimas obras em ost. |
O artista Carlos Henrique de
Oliveira Passos que assina suas obras Henrique Passos é um profissional
reconhecido, experimentado e requisitado por sua capacidade de reproduzir
sítios antigos de nossas cidades, de retratar as pessoas e de criar cenografias
para o teatro com uma habilidade ímpar. Com a paciência de um monge consegue
não só reproduzir em telas ou em outros suportes as paisagens urbanas e rurais
com ambientação de épocas passadas o que ganha maior importância servindo de
referência documentária. As cores que emprega nos remete aos séculos
anteriores quando as pessoas andavam de carruagens, bondes e mesmo a pé
ostentando suas cartolas e bengalas elegantes, enquanto as mulheres com seus
vestidos longos e chapéus desfilavam pelas ruas para realizar seus afazeres ou
mesmo em busca de entretenimento quer seja tomar um chá ou fazer compras. Toda
esta movimentação das ruas ressurge nas suas obras que parecem fotografias de
outrora. Aliás, muitas dessas telas de Henrique Passos são baseadas em
fotografias antigas, e certamente em cada uma delas tem a sua contribuição
pessoal. Tenho um fascínio especial por estas paisagens antigas e a
nostalgia faz bem aos olhos e ao espírito porque podemos ver e sentir como as cidades e seus habitantes mudaram. Nesta mudança muita coisa para melhor e
outras para pior. Quantos prédios importantes como o Teatro São João, as
igrejas da Sé e de São Pedro, a Biblioteca Pública, a Imprensa Oficial, o Hotel
Meridional e outros foram demolidos pela sanha de prefeitos e construtores que
não tinham compromisso com o nosso patrimônio histórico e cultural.
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Salvador de outrora. A Praça Castro Alves e Rua Chile. |
Portanto, este artista vindo da
cidade de Ubaitaba nos traz de volta estas paisagens urbanas como registros
instantâneos de uma máquina fotográfica para perpetuar como documentos. Sabemos
que as cidades se transformam com novas avenidas, viadutos, prédios, outros
elementos que são acrescentados, retirados e substituídos. Atento a esta
transformação Henrique Passos pinta as paisagens urbanas de hoje com a mesma
maestria transferindo através de suas obras a atmosfera e as imagens que se
apresentam. Vi numa das telas a presença de alguns espigões nos morros que a
contornam agredindo a paisagem da velha Salvador. Numa de suas exposições
registrou também paisagens marinhas e especialmente os saveiros que eram
abundantes nas águas da Baia de Todos os Santos, e hoje encontram-se em
extinção. Estas embarcações tiveram um papel fundamental no transporte de
mercadorias produzidas no Recôncavo baiano que eram consumidas em Salvador e
daqui levavam produtos manufaturados para essas cidades. Ao visitar o seu amplo
ateliê no bairro do IAPI o encontrei envolvido com a reforma de sua casa que
fica numa pequena e calma rua sem saída como se fosse uma ilha rodeada de
favelas que hoje chamam de comunidades. Passaram-se os anos e o Estado não se
fez presente em centenas desses locais espalhados por toda a cidade do Salvador
e hoje são áreas deflagradas e dominadas pelos narcotraficantes.
SUA HISTÓRIA
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Visão atual de parte de Salvador vista do mar. |
O artista Carlos Henrique
Oliveira Passos é natural da cidade baiana de Ubaitaba que fica na região sul
da Bahia, portanto na zona do cacau, e é também conhecida porque muitos de seus
habitantes praticam a canoagem. De lá surgiram alguns atletas de destaque até
para os cenários nacional e internacional. O nome Ubaitaba significa a terra
das canoas que são muito presentes no rio de Contas que corta a cidade ligada
através uma ponte com sua vizinha a cidade de Aurelino Leal. O Henrique Passos
nasceu em 25 de agosto de 1954, filho do comerciante e político Walter de
Oliveira Passos e da dona de casa Célia de Oliveira Passos. Seus pais tiveram
sete filhos e o Henrique lembra com alegria de sua infância nadando e pescando
no rio de Contas. “Quando adolescente a gente atravessava o rio nadando para a
cidade de Aurelino Leal, que era chamada na época de Poeri. Íamos à procura de
aventuras, ver as meninas se banhando no rio, encontrar novos amigos, enfim era
uma alegria. Também gostava de visitar as fazendas de cacau dos pais de meus
amigos onde a gente comia jaca e outras frutas que existiam em muita quantidade
nas terras onde se plantava cacau. Meu pai não tinha fazenda. Era um
comerciante e político, inclusive foi prefeito de Ubaitaba."
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Henrique Passos com seu troféu Martim Gonçalves . |
Fez o primário nas escolas das
professoras Zizinha e Haidê Fernandes dona da Escola Pequeno Polegar. Esta
professora tinha sido bandeirante no Rio de Janeiro e ao retornar abriu a
escola. Ao terminar o primário prestou admissão no Ginásio Municipal Ubaitabense,
e pouco depois veio morar em Salvador no bairro de Nazaré e foi estudar no
Colégio Severino Vieira, que na época era dirigido pela professora Amália
Paranhos Magalhães. Ao terminar o colegial resolveu fazer vestibular para
Arquitetura, mas foi eliminado na prova de Matemática. Então foi fazer o curso
de Mecânica na Escola Técnica Federal pensando em usar seus conhecimentos para
fazer esculturas. Não era o que queria e foi estudar Administração de Empresas
onde chegou a cursar três semestres. Seu primeiro emprego foi como auxiliar de
secretaria no Colégio Anísio Teixeira, localizado na Ladeira do Paiva, em
Salvador. Tentou trabalhar no Polo
Petroquímico, mas devido a sua hipermetropia ocular foi rejeitado pelo serviço
médico da Dow Química, que era muito rigoroso. Finalmente em 1978 prestou
vestibular para a Escola de Belas Artes de onde saiu diplomado em Artes
Plásticas em 1982. Chegou a ensinar Geometria Descritiva por dois anos no
Colégio Maristas, porém desistiu de ser professor e continuou sua trajetória de
buscar expressar sua arte. Enquanto estudou na Escola de Belas Artes foi
monitor dos professores titulares Riolan Coutinho, Juarez Paraiso e Márcia
Magno. Participou durante três anos das equipes que fizeram a decoração do
Carnaval de Salvador lideradas por Juarez Paraíso, Edvaldo Gatto, Tati Moreno e
Renato Viana.
EXPOSIÇÕES E PRÊMIOS
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Foto da abertura da exposição na AL de São Paulo.Vemos à esquerda Francisco Senna, dois deputados e Henrique Passos. |
Sua primeira exposição
individual foi no Museu da Cidade do Salvador na década de 1970. Este museu era
um importante ponto turístico e ficava no prédio ao lado de onde funcionava a
Fundação Jorge Amado e foi criado por d. Eliete Magalhães infelizmente na
administração de Antônio Imbassay o museu foi desativado e suas peças
espalhadas em outros locais. Ninguém sabe ao certo quantas foram alocadas em
outros espaços culturais e onde outras foram parar. Uma boa pauta para um
repórter investigativo. Voltando ao Henrique Passos duas exposições marcaram
sua trajetória a realizada no Salão Negro da Assembleia Legislativa de São
Paulo, chamada Gloriosa São Paulo, comemorativa dos seus 450 anos, em outubro
de 2004.
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Obra Largo do Tesouro , São Paulo, em ost. |
Ele pintou em trinta telas de linho as paisagens urbanas antigas da
capital paulista.
Durante os festejos dos 454 anos da Cidade do Salvador em
março de 2003 com o nome de Caminho da Vila Velha imortalizou com
sua obra os monumentos históricos no trecho que compreende o Porto da Barra até
o Terreiro de Jesus. Manuseando o catálogo vemos retratados o Forte de Santa
Maria, Saveiros no Porto da Barra, Praça Castro Alves, Entrada da Rua Chile,
Rua da Misericórdia, Praça Municipal, Vista do Mercado Modelo, dentre outros. A
exposição foi realizada na Galeria da Cidade, no Teatro Gregório de Matos, no
centro histórico da capital baiana.
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"Saveiros no Porto da Barra com Igreja de Santo Antônio ao Fundo", ost de 2013. |
Na década de 90 expôs na ADA
Galeria de Arte em Salvador; 1997- MCR Galeria de Arte, Salvador; 1999 – no Museu
da Cidade – Mostra Salvador 450 anos -Eternamente Linda; 2001 MCR Galeria de
Arte, exposição Novas Paisagens, Salvador; 2003 – Galeria da Cidade, exposição
Caminhos da Vila Velha ; 2004 – No Salão Negro da Assembleia Legislativa de São
Paulo exposição Gloriosa São Paulo 450 anos; 2006 – Inauguração do Forte de São
Marcelo exposição Baia do Forte do Mar, em Salvador; 2012 – no Salão Nobre da
Associação Comercial da Bahia, exposição Amada Bahia de Jorge, Salvador; 2012 –
Praça Central do Shopping Barra, exposição Amada Bahia de Jorge, em homenagem
ao escritor Jorge Amado; 2013 – Exposição Saveiro Arte – Saveiros do Mar da
Bahia p- na Zeca Fernandes Escritório de4 Arte.
EXPOSIÇÕES COLETIVAS – Salão da Congregação Mariana, Salvador; Galeria Panorama,
Salvador; 1999 – Museu de Arte Moderna da Bahia, Museu da Cidade do Rio de
Janeiro e Museu Metropolitano de Arte, em Curitiba; Exposição Coletiva Itinerante
Arte Salvador 450 Anos; Coletiva de Inauguração do Teatro Patamares –
Empreendimentos Educacionais, Salvador; Exposição Comemoração dos 500 Anos do
Descobrimento do Brasil, em Curitiba, no Paraná; 2005 e 2006 - Exposição
Artistas Brasileiros , Salão Negro do Senado Federal, em Brasília;2012 –
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Aquarelas de uma série que vem criando. |
Exposição
Construtores do Brasil -Homens e Mulheres que ajudaram a fazer Um Grande País,
Brasília; Exposição Padrão dos Descobrimentos , Lisboa, Portugal; Exposição
Museu de Arte Primitiva Moderna, Guimarães, Portugal; Exposição Centro Cultural
de Macau, na China.Tem obras em vários acervos entre
eles no Museu da Cidade de Salvador, obras a Sé Primacial e Mapas da Cidade;
Biblioteca do Campus Universitário da Ufba, em Salvador; Câmara Municipal de
Salvador, obra o Paço Municipal (1660 e 1888); Assembleia Legislativa do Estado
de São Paulo, obra Pátio do Colégio, São Paulo; Fiesta Convention Center,
Salvador; Edifício Baía de Todos os Santos, Salvador; Motorola do Brasil, painel,
em São Paulo; Acervo do Hospital São Rafael. Já pintor vários retratos para os memoriais
dos governadores da Bahia e da Faculdade de Medicina, UFBA, dentre outros.
Como cenógrafo fez cenografias
para várias peças de teatro e outros espetáculos e com a peça Saci, baseada na
obra de Monteiro Lobato e montada por Heckel Reis e Angélica Lopes Pontes ele
recebeu o troféu Martim Gonçalves que exibe com muito orgulho. Muitos não sabem
quem foi Eros Martim Gonçalves. Ele era pernambucano e nasceu em 1919 e faleceu
em 1973. Era homem de teatro e fazia crítica teatral no jornal O Globo, no Rio
de Janeiro, e foi o fundador da Escola de Teatro da Universidade Federal da
Bahia, em 1958. O teatro fica no bairro do Canela, em Salvador. Sua permanência
na Bahia foi curta, porém deixou importante contribuição na formação
profissional de atores e influenciou a criação de outras importantes instituições
culturais.
REFERÊNCIAS
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Visão da Rua Chile com o Hotel Meridional substituído por prédio. |
Entre vários críticos e
escritores que apreciam e escreveram sobre a obra de Henrique Passos estão o
arquiteto Fernando Peixoto e o professor Francisco Senna. Vejamos: Para o
arquiteto “A documentação da paisagem urbana é onde a obra de Henrique Passos
alcança maior significado. A adequação da técnica ao tema fortalece a qualidade
documental dos quatros tornando-os registros valiosos. Ainda que possamos
encontrar em outros artistas elementos arquitetônicos e paisagísticos de nossa
Cidade, esta vertente da obra de Henrique Passos só tem paralelo no trabalho de
Diógenes Rebouças, onde a intenção de reconstrução pictórica é a razão de ser. “...
Já o professor Francisco Senna escreveu que “Henrique Passos é o grande artista contemporâneo das paisagens da Bahia,
o pintor que se debruça com olhar apaixonado sobre os recantos de sua terra e
se expressa plasticamente com o encantamento de eterno namorado, revelando-nos
a beleza de seu patrimônio natural e edificado, a riqueza intangível de suas
manifestações culturais, a magia sagrada do sincretismo religioso de seu povo e
o mistério atemporal de suas tradições e história.” E continua dizendo que
Henrique Passos “ é senhor absoluto de sua arte em estilo impressionista, com
extenso currículo, privilegiado talento e magistral domínio da técnica da
pintura a óleo de cavalete. Registrando com sentimento cenas e paisagens
congeladas no tempo e na nossa memória...”