segunda-feira, 23 de agosto de 2021

VAVÁ FOTOGRAFOU A SOCIEDADE E A CIDADE

Vavá com o pai seu Jonas,  com Clélia sua
 companheira e colega, e ele em pé com seu
instrumento de trabalho de uma vida inteira
.
A maioria das pessoas  o conhecia por Vavá   fotógrafo da elite da sociedade . Poucos sabiam e ainda  sabem o seu   nome verdadeiro, que ele mesmo não gostava de   revelar. Chamava-se Albervaldo Silveira Tavares   dos Santos , e era filho Vivaldo Tavares dos   Santos, também fotógrafo,  e sua mãe Albertina   Maria da Silveira Tavares. Daí este nome estranho   da combinação de Alber da mãe Albertina e Valdo   do pai Vivaldo, e que também ele deixou um trabalho iconográfico através de suas fotos de grande qualidade dos recantos de nosssa Salvador. Eu também sofro deste mal porque   meu nome Reynivaldo vem Rey de Reynaldo,   meu   pai, e Nivaldo de minha mãe Nivalda.   Muitos não acertam escrever ou falar. Sou   chamado de Reinaldo, Renivaldo, Ronaldo,  e por   ai vai. Voltando ao nosso personagem ele nasceu   em 27 de maio de 1929, portanto, se vivo estivesse   estaria hoje com 92 anos de idade.Este geminiano marcou sua presença documentando diariamente tudo de importante que acontecia na sociedade baiana, e sempre olhava adiante para registrar a Cidade. Sabia entrar e sair com a sutileza necessária para estar presente em eventos fechados. Passou sua adolescência no bairro do Rio Vermelho , morando na Rua Fonte do Boi," numa enorme casa 
Esta foto ele fez do alto de um prédio na
Avenida Estados Unidos e Rufiniano dos
Santos o ajudou.
junto ao Morro do Conselho, na época livre de construções. Só existia o Hospital da Criança, que funcionava no Morro de Menino Jesus juntamente com a maternidade  Nita Costa, ( abandonados há mais de 30 anos)  e alguns campos de golfe e de futebol. O bonito prédio abandonado fica em frente a praia do Buracão, hoje muito frequentada pelos jovens. Tenho uma foto rara datada de 1907, que meu amigo o artista Washington Salles me presenteou, o Vitória jogando contra o Santos Dumond num campo no Rio Vermelho.  

Lembra sua irmã Teresinha Tavares, que gosta de fazer poesias , e me prestou estas informações sobre Vavá , que ele gostava quando criança de subir e descer os morros, andar de bicicleta pedalando até o Primeiro Arco, que ficava onde hoje está a Avenida Garibaldi, e também até o Farol da Barra para ver o andamento das obras do conhecido edifício Oceania, onde ele depois teve um studio.

 
Barcos em Alagados 
Começou a fotografar a partir dos 13 anos de  idade após  seu pai Vivaldo adquirir a Foto Royal, na década de 40. Esta Foto ficava na Rua da Misericórdia. Ele era muito curioso e foi assim que aprendeu a fotografar, revelar e imprimir as fotografias que fazia. Alguns anos depois o pai comprou a Foto Jonas, que ficava no  edificio de número 51, na Avenida Sete de Setembro,  no primeiro andar, e aí funcionava também o atelier do pintor Jaime Hora, o J. Hora. A Foto Jonas tinha como slogan a "A fotografia  da elite baiana" a qual  foi consumida por um incêndio, que destruiu todos os equipamentos e fotografias . Daí seu Jonas foi se estabelecer no primeiro andar onde funcionava a Farmácia Luz, na Rua  Carlos Gomes, próximo ao Mercado das Flores. Não consegui encontrar registro deste incêndio.

Já profissional trabalhava com uma máquina de fole e o flash era de magnésio e quando disparado dava uma pequena explosão e deixava uma nuvem de fumaça no salão. Às vezes as fagulhas provocavam pequenos incêndios em cortinas e outros objetos de fácil combustão. Numa entrevista que ele deu à jornalista Cyntia Nogueira disse que mesmo com estas limitações técnicas a "coluna social naquela época tinha muito mais glamour. A gente só fotografava as pessoas da sociedade, as famílias tradicionais,tinha muita gente importante". Ele trabalhou durante 20 anos para as colunistas do Diário de Notícias, que pertencia ao grupo Diários Associados, de Assis Chateaubriand.

Bela foto vendo o antigo Mercado
Modelo, destruído por  incêndio.
O seu pai Vivaldo ficou conhecido por seu Jonas e era um bamba na fotografia de stúdio , e assim conquistou o mercado  de álbuns de formatura e casamentos.  Por muitos e muitos anos fez álbuns de formatura de professoras do Instituto  Central de Educação Isaias Alves, ICEIA que fica no bairro do Barbalho, e foi abandonado por este Governo do Estado. Fez também álbuns de médicos, dentistas, advogados, engenheiros, arquitetos, farmacêuticos e contadores . Enfim, de muitos profissionais que se formavam. Também, registrou muitos casamentos de gente rica . Foi neste ambiente que o nosso Vavá cresceu.

É importante dizer que Vavá não fotografou apenas a sociedade baiana e celebridades . Fez centenas de
fotos de nossas igrejas, do casario colonial, de praças, ruas , monumentos ,de paisagens marinhas, de nossa orla marítima, inclusive fotos aéreas e painéis de até cinco  metros quadrados. Lembra Rufiniano dos Santos, conhecido por Rufino, que trabalhou 18 anos no Foto Jonas que Vavá foi contratado pelo professor e etnógrafo Vivaldo Costa Lima para fotografar todo o Centro Histórico , antes da recuperação. Ele com sua equipe trabalhavam nas manhãs dos domingos. Lembra Rufino "a gente ia de casarão em casarão carregando escadas  fotografando tudo desde a 

Segundo Roberto Macedo trata-se de
 Marta Vasconcelos desfilando
em carro aberto.
 a fachada e as ruas pegando os nomes para identificar para o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia - Ipac-Ba." Eles devem ter este acervo conservado até hoje. Este levantamento ajudou em todo o processo de recuperação do Centro Histórico que foi promovido pelo governador Antônio Carlos Magalhães."

Como acontece com muitos acervos de artistas plásticos e fotógrafos com a sua morte em 6 de julho de 2003 muitas de suas fotos e negativos se perderam e algumas estão em caixas na residência de uma sobrinha de sua companheira Clélia Matos  , que também era fotógrafa, e muitas vezes ia ao seu lado trabalhando. Ele está sepultado no Cemitério do Campo Santo. Antes Clélia fora casada com o deputado federal João Alves de Almeida, e teve um filho, o Roosevelt Almeida, que chegou a expor na Panorama Galeria de Arte, já falecido. Ela foi uma cantora das noites baianas, e ajudou muito a Vavá quando passaram a conviver. 

Dr. Jorge Calmon ao lado de
Anna Georgina numa exposição
.
Existiam e existem fotógrafos que documentaram e documentam os principais eventos da Cidade   entre eles  Waltério Pacheco Silva , o chinês Sun-Sun So e outros, mas Vavá era o preferido. Ele fornecia fotos para as colunistas Isolda Menezes, Regina Coeli, Sylvia Borges, já falecidas, e  principalmente para Terezinha Muricy ( de Mayo),    July e Janete Freitas. Todos sabem que muitas vezes era July quem recebia em primeira mão as fotos , e ela exigia  exclusividade, porque sua coluna era publicada diariamente em A Tarde, o jornal de maior circulação do Norte e Nordeste , no que era atendida. A propósito vejam o depoimento de Janete Freitas, que há 25 anos escreve a coluna social do no jornal a Tribuna da Bahia :

"Vavá Tavares, ou somente Vavá, foi o fotógrafo que dominou a cena social de Salvador nas década de 80 até os meados de 90. Meu relacionamento com ele começou como cliente fotografada aos quinze anos, dançando com o namoradinho, cinturinha bem fina, anáguas na saia rodada, sorriso caprichado para o registro de Vavá, caminho garantido para a publicação nas colunas sociais importantes da época. Mais tarde nos tornamos parceiros eu  colunista social inteiramente dependente de suas fotos para
O Pelourinho onde vemos uma
carroça com seu condutor.
tornar minha página bonita e bem informada. Estou me referindo à época em que cronista social que se prezasse levava para as festas um caderninho onde anotava quem estava acontecendo e tinha que esperar ansiosa as fotografias para ilustrar seus textos. As que eram tiradas por ele chegavam primeiro que as dos outros, atestando seu senso de profissionalismo. Isso sem alarde, calmo e tranquilo. Só deixou boas lembranças eternizadas nos seus preciosos e disputados cliques."

Fazendo uma busca nas edições do Jornal A Tarde meu ex-colega Rubem O. Coelho   , do Departamento de Pesquisa, encontrou alguns registros. No domingo dia 18 de   setembro de 1983 Therezinha de Mayo em sua coluna Sete Dias anuncia uma exposição de posters que ele iria fazer na quarta-feira seguinte, portanto dia 21, no edifício Portela Lima, na Rua Marquês de Leão, na Barra. Vavá, segundo a colunista, "torna-se a cada dia um homem de bem através de um fotógrafo sonhador e sem ambições materiais". Foram posters de mulheres da sociedade baiana.

No 30 de junho de 2003 o jornal A Tarde publica nota de outra exposição dele desta vez na Praça Jorge Amado, do shopping Iguatemi.  "Vavá expõe 100 fotos e mostra técnica pioneira que batizou de Tela Print e diz que vai tentar vender para a Kodak e Fuji. Utilizando uma fina tela de acrílico ele prensa com verniz na película da foto, conseguindo um efeito próximo de uma pintura, ficando impermeável e aumentando a durabilidade " Também, expôs fotos com 180 graus tiradas de máquinas japonesas e russas, embora quase sempre estava com uma máquina Rollieflex  nas mãos. 

Foi a despedida de Vavá porque ele veio a falecer no dia 6 de julho de 2003 e a mesma Therezinha  Cardoso  fez o registro de sua morte no domingo seguinte, dia 13 de julho, escrevendo "Trabalhando por arte mais que por dinheiro, Vavá viveu pobre. Não teve casa nem carro próprios porque não sabia vender seu trabalho. Mas, sabia fazer amigos, tornar seu nome respeitado, circular em sociedade sem se infiltrar na intimidade das pessoas, enfim, tornar-se o fotógrafo de duas gerações".

Quero ainda registrar que antes dos governos de esquerda as famílias pobres e de classe média costumavam enviar seus filhos por volta dos 14 a 15 anos de idade para aprender uma profissão em alguma oficina mecânica, num stúdio de fotografia, numa alfaiataria, carpintaria , barbearia etc. Portanto, quando saíam da escola iam aprender uma profissão. Foi assim que se formaram muitos fotógrafos, alguns tive a oportunidade de trabalhar no jornal A Tarde, e eles aprenderam a profissão no Foto Jonas : Antônio Queirós, Rufiniano dos Santos, Guilherme Oliveira, João Marinho ( hoje contador), Paulo Cavalcanti, Abmael Silva, Geraldo Ataíde, Antônio Carlos Santana  e Oduvaldo ( falecido).




                                   

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

JAYME HORA DEIXOU OBRA INESQUECÍVEL

Registro raro de Jayme Hora pintando .Fotos cedidas por Anna Georgina.
Vou falar hoje de um grande artista, aluno de Presciliano Silva, e que tem uma produção considerável com uma técnica de desenho e pintura de qualidade. Trata-se de Jayme Hora , o J. Hora, que pintou e desenhou  as igrejas, mosteiros, conventos, ruas, praças e a orla de Salvador, além de outros recantos escolhidos por ele para retratar . 
Muitas de suas obras são tão perfeitas que lembram fotografias, outras feitas de espátulas são mais densas, mas sempre mostrando sua alta capacidade em trabalhar com as nuances do claro-escuro. Ele não apenas retratava como acrescentava algo que enxergava  com sua sensibilidade artística. Deixou aí uma obra iconográfica de grande valor cultural e histórico. Foi premiado em vários salões daqui e do eixo Rio-São Paulo . Um excelente desenhista, condição essencial para se tornar um grande pintor . Mesmo assim nunca perdeu a sua simplicidade de encarar a vida. Era um simplório por natureza, gostava de uma bebida quente, tinha um temperamento dócil e explosivo em determinados momentos. Sua arte pode ser vista nos museus, galerias e em leilões virtuais de arte. Portanto, é um artista que embora tenha falecido em 1977,  há 44 anos, suas obras continuam sendo comercializadas com certa frequência e têm uma valorização razoável no mercado de arte.

Jayme Hora com Fernando Alves, Ismael de Barros,
e o pintor Cardoso e Silva, em 1967, na Panorama
Galeria de Arte.
Existem poucos registros sobre a trajetória de vida e pictórica do artista Jayme Hora, que assinava J.Hora, embora ele tenha sido  premiado muitas vezes aqui , no Rio de Janeiro e em  São Paulo. Não consegui ainda apurar com certeza  se realmente nasceu em  Nazaré das Farinhas , onde ele confessa que chegou à cidade aos seis anos de idade, mas não especifica exatamente de onde viera. O que importa é que  Nazaré das Farinhas ele adotou como sua cidade  de nascimento. Fui ao site da Cidade e só encontrei informações do jogador Vampeta, e nada sobre o grande artista que hora escrevo. Portanto, está na hora do pessoal ligado à cultura resgatar e fazer a devida homenagem a este grande artista. Ele nasceu no ano de 1911 e morreu  aos 66 anos de idade, em 1977.  Sua esposa Mariá faleceu em março deste ano aos 110 anos. Disse Maria José a viúva do pintor José Arthur que foi Jayme Hora  o incentivador para seu ele pintar, inclusive era o padrinho do seu filho Leonardo. Mariá Hora  , a viúva do artista , rasgou as fotos e doou obras e outros pertences antes de morrer. Não deixaram herdeiros. 
Esta é a maior tela a óleo que já vi de Jayme
Hora .Tem 3 ms x 2,1 ms, de 1949. É uma vista
do Carmo . Fica na sede da antiga Companhia 
 Progresso. Ele pintou aos 38 anos de idade.
Graças a amigos e  ex-colegas pude fazer um levantamento das atividades deste artista .Sua primeira mostra foi realizada no Clube Comercial , localizado até hoje na Avenida Sete de Setembro, no ano de 1938.Após sua morte obras de sua autoria integraram a exposição intitulada 100 Artistas Plásticos da Bahia  realizada no Museu de Arte Sacra, no ano de 1999. O primeiro registro que encontrei data da edição do jornal A Tarde de 15 de agosto de 1951 numa pequena nota falando da sua exposição do Belvedere da Sé, local onde hoje está a Cruz Caída, de autoria de Mário Cravo Jr. . Nesta sua exposição  apresentou 61 obras entre óleos sobre tela e desenhos feitos com crayon  , a qual ficou aberta ao público até o dia 18 do mesmo mês.

 
Capa do catálogo de sua  individual na
Panorama Galeria de Arte, em 1967
.
No ano seguinte surge uma revelação interessante é que o jornalista Ethel Moreira o encontrou subindo a Rua Chile carregando seus apetrechos de pintura, e na conversa que mantiveram registrou e publicou na edição do jornal A Tarde do dia 24 de agosto de 1952. Disse o Jayme Hora que " a pintura vai mais ou menos. Precisa antes de tudo  da ajuda de todos nós, principalmente do Poder Público, que deve incentivar a rapaziada nova por meio de prêmios". Ele se referia a realização de salões e outras formas de premiação para incentivá-los. Declarou ainda Jayme Hora  "a mocidade que gosta do pincel não vem recebendo estímulo. Por isso, devemos levantar-lhe o ânimo por meio de prêmios, pois os jovens artistas  de hoje serão fatalmente grandes mestre de amanhã". Mas, a revelação principal é que o artista Jayme Hora fazia seleção de jovens que queriam ser artistas e gostavam de pintar, e   mensalmente promovia excursões em locais de nossa Cidade e periferia para juntos pintarem. Ele conseguia até materiais de pintura para distribuir com os que não podiam comprar. Na reportagem de Ethel Moreira ele fala sobre estas excursões que sempre ocorriam aos
Obra "Alfândega Velha", onde hoje está  o
Mercado Modelo, tem 1,31 m x 0,81cm.
domingos . Ao ser questionado se havia acabado com as excursões domingueiras ele fez um gesto com a cabeça como a dizer que estava sem realizá-las. Depois de alguns segundos respondeu que "seu jornal tem me auxiliado muito, e  trabalhei com afinco para selecionar o pessoal e arranjar material de pintura. Gastei muitas energias e dinheiro também, com o intuito de fazer , como se faz no Rio de Janeiro".

Falou ainda que foram realizadas muitas excursões , coroadas de êxitos, "coisa sem precedente em nossa Capital". Para em seguida se queixar da falta de ajuda: Ninguém me ajudou , ou melhor fui até criticado, mas não dei importância às críticas dos que não sabiam o que estavam falando". As minhas excursões não morreram. Vou reorganizar o pessoal para no próximo mês metermos mãos à obra a fim de que a Bahia possa se igualar com os outros centros mais adiantados do Brasil".

Em janeiro de 1953 conquistou a Medalha de Ouro,  no Salão da Sociedade dos Artistas Nacionais - SAN, realizado no Rio de Janeiro com um desenho . O registro no jornal não especifica qual o desenho e se foi feito em crayon sobre papel ou tecido, como ele costumava realizar. Depois  recebe outro prêmio no Salão Nacional de Belas Artes, também no Rio de Janeiro, com a obra "Dunas de Itapoan", que segundo comentários da época a obra é tão perfeita que parece uma fotografia. Em seguida uma exposição foi realizada no Palácio Rio Branco e este registro foi feito na coluna Artes & Artistas, na edição  do jornal a Tarde de 1º de março de 1953, onde o autor diz que " toda sua obra exposta é digna de aplausos, porque  reflete o talento do seu autor". Quem assina é Yoroastral, um pseudônimo de algum crítico ou jornalista.

Em outubro de 1953 recebe outra Medalha de Bronze,  no Salão de Belas Artes, em São Paulo com a obra "Interior do Convento de São Francisco,Bahia" onde podemos ver o claustro do convento , cuja obra foi muito apreciada e elogiada. Neste salão  apresentou algumas obras a óleo sobre tela e desenhos em crayon, concorrendo com artistas de todo o país. 

Obra sem título. Óleo sobre tela com 
72 cm x 80 cm.
No ano de 1956 , exatamente no dia 3 de abril o jornal registrou que Jayme Hora havia arrebatado dois prêmios. No 7º Salão Nacional de Belas Artes, prêmio este oferecido pela Casa Cavalier, no Rio de Janeiro, e o segundo no 20º Salão Paulista de Belas Artes onde conquistou a Medalha de Prata . O jornalista que escreveu a nota disse que "são prêmios muitos justos contemplando o mérito e o trabalho artístico do pintor patrício cuja vocação para as Belas Artes se revelou entre nós desde a mocidade".

Outra exposição foi realizada no Belvedere da Sé ,onde outrora funcionava a Sutursa , que era a Superintendência do Turismo de Salvador, da qual o escritor Vasconcelos Maia, foi seu superintendente por vários anos. A exposição foi aberta no dia 3 de agosto de 1957 onde Jayme Hora apresentou 16 óleos sobre telas e vários desenhos . Naquela ocasião ele já tinha ganho cerca de 10 prêmios em salões e mostras realizadas aqui e no sul do país. 

Finalmente, o último registro que encontrei data de 28 de agosto de 1957 de um encontro casual com o jornalista Alexandre Lopes Bittencourt. Ele fala da mostra realizada no Belvedere da Sé , quando destacou os desenhos feitos em crayon sobre tecido, sem uma mancha sequer. Lembrou que o próprio mestre Presciliano Silva disse a Jayme Hora "Você possui bastante talento!". Sabe-se que o artista acompanhava seu mestre nas suas idas às igrejas, conventos e outros locais ajudando no que fosse possível. Obras grandiosas do mestre ele presenciou sua execução. Era também muito amigo do pintor e professor Raymundo Aguiar.

Óleo sobre tela , de 95 cm x 75 cm

Nesta sua entrevista  revela que foi para Nazaré das Farinhas com seis anos de idade. "Frequentei o Colégio do jornalista Ferreira Cunha. Logo aprendi a carutujar como caixeiro da loja Nova Itália, que ficava defronte dos Arcos, hoje Praça Coronel José Bittencourt.Dono de um lápis amarelo no papel rabisquei cavalos, barracos e a locomotiva que passava beirando o rio."

 Observando seus desenhos Alexandre Torres o convidou para fazer em letras garrafais os cartazes dos filmes que seriam exibidos no Cine Fênix.  O jornalista termina falando da simplicidade do artista que é refletida em suas obras quando ele retratava as paisagens, as igrejas, os mosteiros e conventos, o casario, a orla marítima e cenas do cotidiano da Cidade. Chama Jayme Hora de "o Príncipe do Desenho", não comete sortilégios de curvas nem exibe planos com traços ziguezagueantes .Segurança de técnica no executar tons coloniais, no difícil efeito claro-escuro, nos ambientes evocativos. Compõe massas de notas suaves".

Colhi também alguns depoimentos de pessoas que conheceram de perto o pintor Jayme Hora para  que possamos deixar para as futuras gerações informações colhidas de fontes primárias sobre este grande artista. Portanto ,  além de apreciar suas belas e importantes  obras iconográficas passamos conhecer mais sobre este homem singular franzino, baixinho e feio, que gostava de uma pinga. Vou começar com minha amiga Anna Georgina , dona da  Panorama Galeria de Arte que é  uma das fontes primárias mais importantes sobre o movimento de arte nas últimas décadas na nossa Bahia. 

Certa vez ela foi com seu pai Euler Cardoso ao atelier de Jayme Hora que criava um gato de estimação.
 O artista  estava pintando em seu cavalete com a palheta de tintas do lado quando o gato chega e faz xixi
 em cima das tintas.
Ele mistura as tintas com o mijo do gato e continuou pintando . Virou para Euler e Anna e disse mais ou menos
 assim em tom de brincadeira : Foi bom que meu quadro vai ficar mais valorizado. 
Outro que teve muito contato com ele foi o pintor Edvaldo Assis, que tem seu atelier no bairro da Saúde. Lembra Edvaldo que trabalhava na época no jornal o Diário de Notícias, o qual funcionava na Rua Carlos Gomes,  próximo do atelier de Jayme Hora que era localizado no prédio na Avenida Sete ,número 51 ,onde funcionava a Foto Jonas, no térreo tinha as vitrines com velhas fotos, e o studio ficava no primeiro andar. No segundo andar era o atelier de Jayme Hora. "O Jayme era um pouco temperamental , e quando estava bebendo variava  seu humor. Ele passava sempre  na Galeria Sue, que ficava nas imediações, e era tratado muito bem por sua proprietária . Mesmo assim quando ficava aborrecido a chamava de " maldita". Noutra ocasião revela Edvaldo chegou uma cliente para buscar uma obra, que tinha encomendado e adiantado 50% do valor. Parece que ele prometera entregar tal dia. Como não havia ainda concluindo a obra  a senhora reclamou . Ele prontamente devolveu o dinheiro que havia recebido.

Obra  Figura e Barcos, com 46 cm x 38 cm, óleo 
sobre placa.
Falei também com uma figura icônica do mercado de arte o ex-galerista e marchand Francisco Miguez que era o braço direito de Sue Krutmam , já falecida, que foi dona da Galeria Sue, localizada no primeiro andar ,  no edifício Basbaum ,na Ladeira de São Bento, em cima da Loja Lobrás, mais conhecida por 4.400. Francisco conviveu  com Jayme Hora e lembra da dificuldade na época em comercializar obras de pintores acadêmicos porque a arte moderna dominava tudo.  Ele revelou que Jayme passou alguns anos na Escola de Belas Artes,  e não conseguia ser aprovado. Lembrou ainda quando ele ganhava algum dinheiro costumava ir para o Rio de Janeiro, e já comprava as passagens de ida e volta. Quando o dinheiro acabava vinha embora. Algumas vezes telefonava para a esposa  Mariá Hora mandar pegá-lo no aeroporto porque estava sem um tostão nos bolsos. Disse que Jayme era  educado, brincalhão, e gostava de uma pinga ,além de fumar muito. De vez em quando sumia, e quando aparecia sempre vinha com algumas obras que eram adquiridas por d. Sue.  Em 1987 Sue Krutmam foi embora para São Paulo, porque seu esposo que era gerente da Lobrás adoeceu, e passou a galeria para Francisco Miguez que ficou até 1991 , quando fechou diante das dificuldades criadas pelo Governo Collor de Mello.