quinta-feira, 15 de abril de 2021

CINQUENTA ANOS DA GALERIA CAÑIZARES

A Galeria Cañizares completou cinquenta anos  em novembro do ano passado, pois ela foi fundada em 1970 para ser um espaço de exposições da Escola de Belas Artes , da Universidade Federal da Bahia, durante o reitorado do professor Roberto Santos. Foi criada antes da  transferência da Escola de Belas Artes, que funcionava na rua 28 de setembro, no Centro Histórico de Salvador,  e veio ocupar o casarão onde até hoje se encontra na rua Araújo Pinho, 212. Na década de 70  o número era 15, no bairro do Canela. Na época era diretor da escola o professor Evandro Schneiter ,  e o nome Cañizares é uma homenagem ao fundador da Escola de Belas Artes ,em 1877, o mestre Miguel Navarro Y Cañizares. Ele era natural de Valencia,na Espanha, e aportou aqui não podendo seguir viagem para o Rio de Janeiro devido uma epidemia de peste .Ele foi convidado a dar aulas no Liceu de Artes e Ofícios. Depois se desentendeu com a direção da instituição,  e junto com colegas e alunos criou a Academia de Belas Artes que funcionava em sua própria casa. Para isto  
contou com a  colaboração dos artistas João Francisco Lopes Rodrigues e dos seus filhos João Francisco Lopes Rodrigues Filho e Manuel Silvestre Lopes. Rodrigues, além de   Manoel Raymundo Querino ,dentre outros A Galeria Cañizares ocupa quatro salas de um prédio em estilo  neoclássico , ao lado da Escola de Belas Artes , e é uma ferramenta importante para os alunos, que além de apreciar obras de vários artistas, podem expor os seus trabalhos . Portanto, ali se inicia  uma carreira profissional. Muitos já realizaram suas primeiras exposições, antes de enfrentar o mercado de arte fora dos muros da academia. Vejo a Cañizares como um local privilegiado , onde o graduado pode expor seus trabalhos e iniciar sua trajetória em busca de mercado para suas futuras produções. Além de proporcionar a aproximção deste novo artista com a comunidade ligada à produção de arte, como também a todos os que gostam de arte.

É  a galeria mais antiga em funcionamento em Salvador. Ocorre um fenômeno com as galerias de arte da Cidade  . Muitas delas abrem e têm um breve período de funcionamento. Já inclusive escrevi   alguns artigos sobre importantes galerias que foram responsáveis por grandes exposições e lançamentos de artistas, hoje, consagrados nos mercados de arte brasileiro e até internacional. 

Miguel Navarro y Cañizares,
auto-retrato de 1887.
Na Galeria Cañizares são realizadas exposições individuais e coletivas através de edital publicado anualmente , e são expostos projetos de professores da Escola de Beas Artes e artistas de modo geral. É um espaço muito interessante  que dá uma boa visitação e vizualização às obras ali mostradas. 
Os projetos de professores ocupam a pauta da Galeria Cañizares, além do Salão da Escola de Belas Artes, Docentes em Pauta, É tudo Design, Mostra de Performance e exposições comemorativas têm também  lugar na .galeria.   São organizados ainda encontros sobre as exposições, e publicações  dos eventos concretizados ao longo do ano. Todas as exposições são abertas para que possam ser vistas pela comunidade acadêmica, e também pelos amantes das artes residentes aqui ou não.
A diretora da EBA, professora Nanci Novaes
Para a atual diretora da Escola de Belas Artes a professora Nanci Novaes "o conhecimento em arte é um aprendizado que começa na observação de uma obra de arte , da sua leitura e da prática artística, entendendo que o estudante de arte precisa ser informado sobre fatos e ações contidos na produção artística para uma exposição e, inclusive numa montagem de exposição e que tipo de ordenação pode-se vivenciar de uma visita. Desde que   assumi a Direção da Escola de Belas Artes em 2013, venho  priorizando e valorizando a Galeria Cañizares como um importante laboratório na formação dos profissionais das artes visuais e do design, pois possibilita ao estudante não apenas ampliar o seu conhecimento sobre a profissão, mas enriquecer sua formação cultural e melhorar a sua capacidade de expressão, além de proporcionar  aos estudantes uma melhor interação com o meio social em que vivem.
Nesse sentido, a importância da criação de uma Galeria arte Arte no âmbito universitário, dentro de uma Escola de Arte é o que faz a diferença na sua função,a Galeria cumpre seu papel de intermediar,o conhecimento sócio-artístico-cultural entre a comunidade interna da Ufba e externa, contribuindo também para a formação de público,produção cultural e a arte na efervescente Capital da Bahia".

Para o professor Juarez Paraíso "a Galeria Cañizares tem como principal objetivo proporcionar exposições de artistas profissionais , da arte moderna e pós-moderna , assim como da vanguarda local e nacional. Os melhores exemplos da produção artística comtemporânea é o que se busca apresentar à comunidade baiana em em particular, à comunidade universitária e aos alunos da Escola de Belas Artes.  Também tem havido exposições em homenagem aos grandes mestres do passado, professores da Escola, assim como exposições de alunos concluintes , já em fase de franco amadurecimento artístico".

No rápido depoimento que Juarez me enviou ele diz: " fiz melhorias na galeria e realizei importantes exposições. Márcia Magno criou na sua gestão o Salão Nacional de Fotografia. Foi muito importante , pois Salvador era um deserto neste setor   Na minha gestão , dei prosseguimento ao Salão e,  contamos com a colaboração de uma comissão que fizemos, com nomes como Aristides Alves, Maria Sampaio e outros .Nesta comissão tinha um nome importante, o Wilson  Besnosik,fotógrafo do jornal A Tarde um dos pioneiros da fotografia digital em Salvador .
A galeria era a moeda de troca mais importante para a saída da Escola da 28 de setembro para o Canela, pois lá a EBA teria uma galeria muito bem localizada para suas exposições. Lá fizemos exposições memoráveis, como a que Márcia Magno organizou , “Mulheres em Movimento 1 e 2 ”. Muita coisa importante para a Cidade , para a UFBA e principalmente para os alunos , muitos , atualmente, artistas consagrados e que tiveram também a sua valiosa ajuda crítica . Lá fizemos exposições de trabalhos de gêneros e técnicas avançadas". 

É bom saber que antes, em 1964,  foi criada  a Galeria Permanente de Artistas Baianos na Escola de Belas Artes com uma exposição de obras dos artistas Hélio Oliveira, Ângelo Roberto,Maria Ângela, Luiz Gonzaga, Eurico Luiz, Oriosvaldo Lima, Liana Bloisi, Elizabeth Roters, Edísio Coelho, Edison da Luz,Humberto Rocha,Edvaldo Araújo ( Gato) , Sônia Sacramento, Gilberto Oliveira e Edsoleda com a coordenação do Diretório Acadêmico  da Escola de Belas Artes . Ai ao lado alguns dos artistas que participaram . Da direita pra esquerda Gato,Edison da Luz, Sônia Sacramento e Oriosvaldo Moura Lima, presidente do Diretório .

ALGUMAS EXPOSIÇÕES DA CAÑIZARES 

RESGATE DA II BIENAL - 1968

Esta  exposição  gerou polêmica  a " 68+40: O Resgate da II Bienal de Artes Plásticas da
Bahia" - o projeto foi idealizado visando "retomar  o fato histórico da II Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia inaugurada em 20 de dezembro de 1968 e fechada de forma violenta e desastrosa naquele mesmo ano ..." Participaram da mostra vários artistas que integraram a II Bienal  que contou com  65, e neste novo projeto apenas 56 deles  foram contactados, devido às dificuldades de encontrá-los. Portanto, foram expostas uma obra de cada artista  . Dizia ainda o manifesto que " A exposição atual trará para o grande público, que não presenciou o fato, obras recentes destes artistas como forma de descrever o percurso das Artes no Brasil e, em particular , na Bahia,desde o ocorrido em dezembro de 1968". Juarez Paraíso foi o cordenador juntamente com a então diretoria da Galeria Cañizares. Os artistas participantes foram:Alberico Mota, Ana Lúcia, Ana Pinto, Ângelo Roberto, Anísio de Carvalho,Áureo Abílio,Caetano Liberato Lima,Carlos Augusto D.L.de V. Bandeira, Carlos Estivalete, Chico Liberato, David Freire, Dilze Mendonça da Silva, Domingos Terciliano Jr., Edsoleda Maria Maciel Santos, Edison Benício da Luz, Edvaldo Gato, Fernando Coelho, Gilson Rodrigues, Gley Freire Cabral de Mello, Hilda de Oliveira, Yedamaria, Juarez Paraíso, Jamison Pedra, João Carlos Assunção Pita, Joaquim Pedroso G. Oliveira, José Antônio Cunha, José Carlos Augustio Jatobá, José Tiago de Carvalho Filho, Lázaro Torres, Leonardo Alencar, Liana Bloise, Lucídio Lopes, Ligia Milton, Lizete Mattos Ventura, Luciano Figueiredo, Luis Fernandes Martins, Luis Fernando Pinto,Luzíades Duarte Belfort,Maria Regina Pedreira, Marisa Gusmão Fernandes, Marlene Cardoso, Mercedes Kauark Kruschewsky, Mimi Fonseca, Moreno, Norma Athay de Couto, Paulo Guimarães,Pedro Amado de Souza, Reinaldo Eckenberger, Renato da Silveira, Rogério José Brito de Carvalho, Sante Scaldaferri, Sílvio Robatto, Sônia Castro, Tânia Vita, Vera Lima e Zu Campos.

EXPOSIÇÃO DIDÁTICA DE GRAVURA  - 1971 
 Outra exposição interessante foi realizada de 13 a 31 de agosto de 1971 chamada Exposição Diática de Gravura, cuja matriz em xilogravura do cartaz foi feita por Edvaldo Gato. Não sei so nomes de todos os participantes porque não foi feito catálogo por total falta de dinheiro. Disse Gato "que enfrentamos dificuldades até para imprimir as gravuras e o próprio cartaz". O professor era o Lobianco , e ao sair Gato ficou como monitor porque Hansen Bahia tinha ido para a Alemanha. Quando Hansen retornou reassumiu e passou a ministrar o curso de gravura. Gato venceu em primeiro lugar o concurso desta exposição, e os certificados  foram entregues pela então diretora Mercedes Kruschewsky a Gato, primeiro lugar; em segundo,  Sônia Lúcia Rangel com a obra "Canção para Astronautas", e em terceiro lugar a Elizabeth da Silva com uma xilo abstrata.
O Edvaldo Araújo, hoje conhecido por Edvaldo Gato, participou de várias exposições da Cañizares como a realizada de 10 a 30 de julho de 1981 intitulada "35 Anos de Gravura na Escola de Belas Artes",comemorativa dos 35 anos da federalização da Universidade Federal da Bahia. Além de ser um mestre na arte da gravura Gato integrou as equipes que decoraram vários  carnavais de Salvador. Também, fez parte  do grupo de artistas do 1º Leilão de Arte da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia.

SEIS MULHERES NA CAÑIZARES - 1976

Em 23 de outubro de 1976 seis artistas mostraram suas obras mais recentes na Galeria Cañizares e também publiquei na coluna .Vejamos: " Seis artistas estão expondo na Galeria Cañizares, na Escola de Belas Artes ,da Universidade Federal da Bahia.Umas são professoras e outras alunas. No final um trabalho integrado e de qualidade. Carmem Carvalho com suas estamparias abstratas, Zélia Maria com suas cerâmicas, Terezinha Dumet Hilda Oliveira com as xilos, Rosa Alice com bico de pena e Graça Ramos com uma técnica mista de colagem e desenho. Assim, o visitante tem a possibilidade de observar trabalhos com várias técnicas concebidos por artistas que venceram a tão criticada barreira da academia. Estudar Belas Artes para alguns é considerado um sacrilégio."
 Esta foto de Carmen Carvalho é de 2018. Gostaria de conseguir uma foto reunindo todas as seis artistas.


A PRIMEIRA MOSTRA - 1976                                         

Centenas de alunos tiveram sensações semelhantes  ao expor pela primeira vez numa galeria de arte, e ali seus trabalhos serem vistos e comentados por convidados, visitantes e professores. Uma sensação indescritível. Entre eles, o hoje consagrado artista plástico Zivé Giudice, experimentou esta sensação em novembro de  1976, quando fez sua primeira exposição numa galeria.  No convite da mostra ele conversa com o professor Juarez Paraiso que lhe faz algumas colocações sobre a temática escolhida  que foca na solidão e nas angústias do homem frente à sociedade competitiva que vivemos deste muito tempo. Zivé disse que através da pintura de algumas figuras isoladas apresenta a total impossibilidade de comunicação,e nas desintegradas procura mostrar a angústia em que muitos vivem. Quanto à escolha de uma cor para realizar seu trabalho disse que não é pensada, apenas intuitiva, emocional. A exposição ficou em cartaz de 19 a 30 de novembro de 1976. 

"Durante o tempo que estive na Eba-Ufba , vi a Cañizares , através da sua atuação e articulação com alunos e professores , constribuir substancialmente com a formação de alunos. Salve o Galeria Cañizares nos seus 50 anos ! "  Na foto:  Oswaldo e Leonardo Alencar, pintores sergipanos; Ivo Vellame, o poeta Ildásio Tavares , Zivé e visitantes .

MÉDICOS PINTORES  - 1978

Lembro que existia um movimento interessante de médicos que também gostavam de pintar. Eles organizaram várias exposições, e  sempre era procurado por Affonso Roberto Martins Garrido, uma pessoa  de temperamento afável que além de médico, pintava e gostava de frequentar as exposições da Cidade. Em 1978 eles fizeram uma exposição na Cañizares e uns alunos mais rebeldes não gostaram.  Daí se vestiram de jalecos e com estetoscópios pendurados no pescoço fizeram um protesto no dia da exposição. Coisa de estudantes cheios de energia. Mas, devemos apoiar todos àqueles que pintam e gostam de arte, independente da profissão que exercem. Na época apoiei os estudantes na defesa do mercado. Acontece que a maioria dos médicos pintava por prazer, diletantismo, não queria se transformar em pintor profissional. Desses lembro apenas que Mirabeau Sampaio ( falecido) e César Romero  pintavam profissionalmente.

Eu publiquei na coluna em 21 de outubro de 1978 o manifesto dos estudantes, e também divulguei a exposição dos médicos pintores e escultores .Vejam ai:

"Nós artistas plásticos, estudantes, diante de um mercado cada vez mais difícil e restrito ao artista plástico, onde a sua profissão ainda não encontra-se regulamentada, vimos nos posicionar contra a convivência das galerias de arte, que possibilitam e permitem a interferência de profissionais de outras áreas, no mercado do profissional Artista Plástico, o que constitui por um lado num cerceamento do mercado e por outro, numa falta de ética e respeito profissional, a partir do momento em que a interferência de um profissional de uma área, na do outro. Observando-se porém que a recíproca poderia ser verdadeira.
Não questionamos aqui a validade artística do trabalho de quem quer que seja, apenas indagamos:
a)      Estariam agindo corretamente as galerias em abrir o mercado a outros profissionais?
b)      Estariam agindo corretamente estes profissionais em interferir, no nosso mercado?
c)      Como esses profissionais agiriam diante da possibilidade de uma interferência recíproca?
d)     Isso não contribuiria para um enfraquecimento à organização de classes?
                      Pela regulamentação da profissão do Artista Plástico 
      Diretórios Setoriais de Artes Plásticas e Licenciatura em Desenho e Plástica

Abaixo  os médicos que participaram da exposição que provocou o movimento de artistas  e estudantes preocupados com o precário mercado de arte de então.

MÉDICOS PINTORES- na Galeria Cañizares estão expondo Affonso Roberto Martins Garrido, Artur Ventura de Matos, Carlos Gilberto Widmer, Carlos Lopes Bittencourt, César Romero, Dulce Serrano Schaeppi, Eduardo Araújo Filho, Fernando Fortuna Guimarães, Flanklin Witz Leite Neto, Geraldo Bastos Guimarães, Gilberto Apê, Gilberto Carvalhal ,França Gomes, Humberto R. V. Peixoto, Italvar Cruz Rios, Jaime Nunes da Silva, Jessé Acioly; José Mirabeau Sampaio, José Pedreira Carrera, José Stanchi Correia, Lourival Burgos Muccini, Nancy Carvalho Cruz, Nelson Hart Madureira, Osvaldo Leal e Rodolfo Dantas Júnior. Expondo esculturas: Luís Fernando Pinto e Luís Carlos Medrado Sampaio. 

- 1981

De 10 a 31 de julho de 1981 coordenando a Galeria Cañizares, a artista  Ana Lúcia Uchoa Peixoto  organizou a exposição " 35 Anos de Gravura na Escola de Belas Artes" em comemoração aos 35 anos de federalização da Universidade Federal da Bahia. Esta exposição contou com as presenças de artistas-professores como Mário Cravo Jr., Hansen Bahia e Henrique Oswald . Dos primeiros gravadores : Carlos Sepúlveda, Calasans Neto, José Maria, Hélio Oliveira, Sônia Castro, Juarez Paraíso , Leonardo Alencar, Edísio Coelho, Edison da Luz, Gilberto Oliveira, Emanoel Araújo, Gley Mello, Yedamaria e Gisélia Figueiredo. Tambem, os gravadores das décadas de 70 e 80 : Vera Lima, Hilda Oliveira, Edvaldo Gato, Terezinha Dumet , Sônia Rangel, Paulo Rufino, Márcia Magno, Graça Ramos, Ana Lúcia Uchoa, Guache, Maria Adair, Fátima Hanack, Wilson Besnosik, Milton Menezes, Didier Hubert, Edsoleda Santos e Marta Gross.
O professor Juarez Paraíso apresentou os expositores lembrando que "os cursos de gravura implantados da Escola de Belas Artes a partir de 1953 constituem a maior referência para o estudo da implantação e desenvolvimento da produção da gravura na Bahia.".

O curioso é que houve uma clara preferência dos alunos pela xilogravura,  e Juarez atribui  isto pela novidade e também pela simplicidade do uso desta técnica , além do baixos custos dos materiais e facilidade em serem comercializadas as cópías. Ele afirma ainda que a mais importante produção da gravura em nosso Estado aconteceu de 1953 até os finais da década de 60,talvez porque a Eba detinha a única prensa de gravura. É bom saber que esta prensa foi adquirida em 1951, de uma antiga gráfica que funcionava no Maciel,  para o curso de gravura ministrado por Poty Lazaroto, sendo que  o uso do  compensado para as matrizes  foi introiduzido por Calasans Neto.

ASTRAIS BANANAIS ETC E TAIS - 1986

No verão do ano de 1986 Maria Adair decidiu trabalhar com um grupo de alunos da Escola de Belas Artes , tendo como proposta criar  juntos preservando a individualidade e a independência de cada um dos participantes. Inicialmente, onze alunos da EBA, um de  Arquitetura e outro de Física se apresentaram com vontade de pintar e desenhar. Mas, apenas cinco deles, conseguiram organizar um horário para entregar suas obras . Confessa Adair que "foi um trabalho gostoso e integrado de produção e companheirismo." Tinham encontros não apenas na EBA como também nas festas do Rio Vermelho,no Bonfim ou atrás do trio elétrico, e até na casa dela. Era pleno verão de 1986 e eles aproveitaram para fruir e receber inspiração da Cidade e de seu povo. O resultado foi uma exposição na Galeria Cañizares com a participação de pinturas e desenhos dos artistas Emília , Márcia Abreu, Paulo Carvalho, Hedi Lamar e Saulo. A exposição permaneceu aberta à visitação pública de 12 às 24 de março.

EXPOSIÇÃO DO BICENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO FRANCESA - 1980


Durante o Bicentenário da Revolução Francesa comemorada em julho de1989  foi realizada uma exposição comemoratva  - Arte,França e Bahia, com a participação dos professores da Escola de Belas Artes com obras de Maria Vrginia Gordilho,Maria Bernadete Capelo. Mercedes Kruchewsky,José Milton Menezes, Sonia Rangel,Ana Maria Vilar, Augusto da Silva, Yêda Maria, C.de Oliveira, Iza guimarães, Graça Ramos, Ailton Lima, Marlene Cardoso, Norma de Athayde,Terezinha Dumet, Edson de Oliveira Barbosa, Herbert Magalhães,Adele Goes, Denise Pitágoras, Juarez Paraíso, Márcia Magno, Gisélia Figueiredo, Humberto Rocha, Odete Magalhães, Onias Camardelli, Roberval Marinho, Maria Adair, Carmem Cavalho, Ana Lúcia Uchoa, Zélia Maria, Manoelito Damasceno e Roberio Marcelo Ribeiro. A exposição permaneceu aberta ao público de 14 a 30 de julho de 1989. Ao lado alguns dos artitas-professores que participaram da exposição.


CENTENÁRIO DE ALBERTO VALENÇA - 1991

Outra  exposição importante ali realizada foi no centenário do mestre Alberto Valença (1890-1983)  de 7 de junho a 7 de julho de 1991 na realidade a exposição foi realizada com um ano de atraso, pois Alberto Valença completara 100 anos em 7 de junho de 1990. Relembra Vera Spinola que "olhando para o passado, pois assim tive a oportunidade de chegar à família Valença num momento de celebração, que teve a Galeria Cañizares como porta de entrada. Até então, conhecia muito pouco a obra do pintor.No vernissage , lembro da presença do discípulo dileto de Valença, Juarez Paraíso; de Márcia Magno, então diretora da Escola de Belas Artes (EBA) ; dos artistas Mário Cravo Junior e Carybé, além de estudantes, personagens do mundo das artes, familiares e amigos."

A exposição contou com pinturas do acervo da EBA, do Museu Costa Pinto, do Museu de Arte da Bahia, e de colecionadores particulares. Um dos quadros que chamou sua atenção foi este ao lado de nome  "Ladeira da Montanha", do acervo do Museu Costa Pinto .datado da década de 1910, onde se vê a lateral do Teatro São joão, destruído por incêndio em 1923".

1º LEILÃO DE ARTE DA ESCOLA DE BELAS ARTES DA UFBA - 1991

A Escola de Belas Artes estava vivendo uma grande crise financeira e a então Diretora Márcia Magno resolveu fazer um leilão de arte para arrecadar fundos, e passou a solicitar de artistas da comunidade, professores e alunos obras para serem leiloadas. Isto foi novembro de 1991 . Foram doadas dezenas de obras, inclusive algumas de valor inestimável dos velhos mestres da EBA , e de artistas consagrados no mercado de arte brasileira, e até uma cópia da escultura Vênus de Milo foi leloada.
 O leilão foi realizado no Salão Aratu, do então Hotel Meridien, e as obras expostas à visitação pública ficaram na Galeria Cañizares de 25 a 30 de novembro de 1991. Foram arrecadados mais de 30 milhões de cruzeiros.
A escultura Vênus de Milo original foi esculpida em mármore pariano e mede 204 cm de altura, de autor anônimo.Foi encontrada em 1820, e encontra-se no Museu do Louvre , em Paris. Já a cópia da EBA foi adquirida em 1897, e para o Brasil vieram duas cópias ,sendo que a outra está na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Esta cópia leiloada foi realizada por Juarez Paraiso e Nanci Uchoa em resina poliester marmorizada e  fibra de vidro, tirada exatamente da pertencente à EBA.


MULHERES EM MOVIMENTO - 1 e 2 - 2007 e 2009

Com a curadoria de Márcia Magno, que também já dirigiu a EBA, foram realizadas duas exposições Mulheres em Movimento 1 e 2 com o objetivo de mostrar a atuação de todas as mulheres artistas relacionadas com a vida docente e discente da Escola de Belas Artes , de sua fundação em 1877 até a década de 1990. 
Disse   Márcia que diante do número de artistas  ser grande decidimos realizar duas exposições : Mulheres em Movimento 1 de  5 de setembro de 2007, com artistas relacionadas de 40 até a década de 1970, e Mulheres em Movimento 2 com mulheres até a década de 1990.

Veja as artistas das décadas de 40,50,60 e 70  que participaram da mostra Mulheres em Movimento 1 : ( De cima para baixo,da esquerda para a direita) Denise Pitágoras, Carmen Carvalho, Hilda Oliveira, Lizia Rocha,Edsoleda Santos,Terezinha Dumet,Norma Courp ,Malie Matsuda ( texto) ,Celia Azevedo, Ana Maria Vilar, Márcia Magno, Rosalice França, Grace Gradin, Iza Guimarães, Bernadete Campelo, Vera Lima, Margaritta Lamegho, Graça Ramos, Suza Machado ( revisora do texto),Célia Aguiar, Sônia Castro ,Lygia Sampaio, Maria Carrano, Iza Moniz, Lygia Milton, Haydée Valente, Mercedes Kruschewsky,. Artistas ausentes na foto: Maria Célia Calmon, Jacyra Oswald, Mariza Fernandes Correa, Adele Balazs, Dagmar Pessoa, Liana Bloise, Zelia Maria, Yedamaria, Ângela Cunha, Hilda Salomão, Liane Katsuky, Maria Adair , Sônia Rangel, Sofia Olszwski e Célia Gomes. 

Participaram da mostra Mulheres em Movimento 2 realizada  de 8 a 28 de outubro de 2009 - as artistas Aruane Garzedin, Beth Souza, Bia Santos, Betânia Vargas, Carmem Penido,Célia Mallett, Claudia Moraes, Conceição Fernandes, Elizabete Actis, Eneida Sanches, Giovana Dantas, Gleciara , Goya Lopes, Ieda Oliveira, Inês Melgaço, Inha Bastos, Jane Lídia, Jani Sault, Ledna Barbeitos, Márcia Abreu, Maria Luedy, Maristela Ribeiro, Nanci Novaes, Rosemarian, Tinna Pimentel, Therezinha Lima, Valéria Simões , Viga Gordilho, Zau Pimentel e Zilmar Souza.  Elas são oriundas das décadas de 80 e 90 na Escola de Belas Artes.
Segundo escreveu Márcia Magno no catálogo da exposição estamos " diante de um número de artistas mulheres , algumas egressas da arte moderna,mas todas presentes com a mesma relevância na arte pós-moderna e contemporânea. Desde a primeira mostra ficou demonstrado a superação de muitas limitações, tendo as artistas mulheres praticado todas as correntes e gêneros artísticos, todas as técnicas disponíveis, e muitas delas inventando outras, por meio da pesquisa de novos meios de expressão artística. Diversas destas artistas, já com mestrado e doutorado, vêm desempenhando funções de coordenação pedagógica e administrativa, na própria EBA, em museus e galerias de Arte da Bahia. A sua presença tem sido constante nas galerias, salões e bienais,com premiações , com a consagração do público e da crítica

especializada". 
Na foto aolado  algumas das participantes Claudia Moraes,Valéria Simões, Rosemarian, Ledna Barbeitos, Elizabete Actis, Márcia Magno, Nanci Novaes,Beth Souza , Celia Mallett  e Ignês Melgaço. 
Durante a gestão de Márcia Magno à frente da direção da Escola de Belas Artes , de 1988 à 1992 ela nomeou Ana Lúcia Uchoa como coordenadora da Galeria Cañizares  a qual fez um trabalho relevante, mantendo ativa este importante espaço das artes plásticas. Já na gestão de Juarez Paraíso de 1992 à 1996  foi a própria Márcia Magno quem coordenou a galeria, periodo em que se destacou com as exposições Mulheres em Movimento 1 e 2.




 







 

9 comentários:

  1. Foi um orgulho poder particiones exposición. Eu era uma jovem artista

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  2. O jornalista e crítico de artes visuais de volta! Bravo professor! Abraços do seu aluno e sempre grato.

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  3. Beleza de matéria . Parabéns Reynivaldo.

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  4. Gostei muito da reportagem. A história da Cañizares se confunde com a história das Belas Artes na Bahia. O texto é muito gostoso de ser lido, com casos pitorescos como a exposição de obras dos médicos/pintores. Pude reencontrar diversos artistas e até algumas conhecidas cujo talento eu desconhecia. Obrigada pelo destaque dado à exposição comemorativa do centenário do sogro que não conheci, Alberto Valença

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  5. Esses são os verdadeiros Jornalistas que em.suas enriquecedoras reportagem nos transmitem uma bagagem de conhecimentos emanando cultura. Parabéns, excelente conteúdo.

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  6. Esses são os verdadeiros Jornalistas que em.suas enriquecedoras reportagem nos transmitem uma bagagem de conhecimentos emanando cultura. Parabéns, excelente conteúdo.

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  7. excelente matéria sobre um fragmento da história das artes plásticas na Bahia. Muitos passaram pela GALERIA CAÑIZARES. Valeu Reynivaldo por este resgate.

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  8. Minha querida tia Hilda Oliveira fez parte dessa linda história.

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